Cadeia do boi de Norte a Sul para com o trancamento das estradas
O Frigorífico Verdi está com o curral vazio e também não sai com a carne processada desde ontem, o Três Marias não tem problema com boi, mas tem que pular abate para não esgotar capacidade de estoque, e o Nutritaurus não só tem animais retidos em caminhões como já está controlando a ração no confinamento e na fábrica.
O retrato da crise dos combustíveis no Brasil, que ganhou corpo nas estradas nesta quarta (23), muda a todo instante. E por enquanto para pior, no Brasil todo, com seus efeitos se multiplicando, apesar de contar com simpatia de muitos produtores rurais.
Frigoríficos
A unidade do Frigorífico Verdi, em Pouso Redondo, Santa Catarina, conseguiu abater ontem, mas até os caminhões vazios tiveram dificuldade de voltar para suas origens. Ariel Verdi, presidente da empresa especializada na comercialização de carne certificada de charolês e angus, nem fez força para buscar bois nesta quarta, ou seja, a fabrica parou com os 300 abates diários, “porque os caminhões com carne também não saem”. Também atuando na exportação, Verdi lembrou que Itajaí parou com os caminhões bloqueando as entradas de acesso ao porto, e tem contêiner da empresa – localizada na região centro-leste do estado - aguardando embarque.
Na planta paraense de Três Marias, a situação de acordo com empresário Roberto Paulinelli é mais sentida na comercialização. O Frigorífico Três Marias, que mata 550 animais/dia, vende mais para Nordeste, São Paulo e Rio, de modo que o retrato é mais complicado que até o no caso do Verdi, de Santa Catarina, que percorre distâncias menores.. A carne de Paulinelli tem que percorrer longas distâncias, ainda mais no complicado Sudeste, onde a paralisação de rodovias é maior. E seus caminhões rodam ainda longos trechos em estradas ruins e com poucos pontos urbanos de apoio.
“Eu vou parar o abate na sexta, mas outros frigoríficos com quem conversei já estão parando hoje”, disse Paulinelli, para quem a capacidade das câmaras frias de cada unidade é que dita as condições. Mas não deve passar dos próximos dias o lockout no Pará.
Em José Bonifácio, no Noroeste de São Paulo, há notícias de que a unidade do Minerva parou totalmente.
Confinadores
A capacidade estática de 12 mil animais de Paulo Queiroz, em Frutal (MG), já vem passando da metade, e ele, em entrevista ao Notícias Agrícolas, há algumas semanas, estava com boas expectativas de vendas com o avanço da entressafra. E Queiroz, que também é proprietário da Nutritaurus, via no seu planejamento de matéria-prima a chave para dar custos mais amigáveis caso a arroba não avançasse.
Mas agora está preocupado com a falta de alimentos, já que tanto para o confinamento quanto para a fábrica de ração, que precisa atender o mercado também, portanto com alto giro, ainda a empresa tem tido que comprar. “Mais cinco dias fico complicado”, adiantou Queiroz, reforçando, porém, seu apoio ao movimento dos caminhoneiros.
A empresa também tem várias cargas de bois presas em número que ainda estava sendo contabilizada. Não passa gaiola de Uberlândia, de Rio Verde (GO) e de Rondonópolis (MT). E também não sai animais do confinamento.
A situação do confinamento da Coplacana, em Piracicaba (SP), é menos complicada, mas ontem 400 animais que ficaram na estrada voltaram para a fazenda do proprietário, afirmou Evandro Nasato. Com milho e soja estocados na misturadora da cooperativa – e desse modo com alimento garantido – a programação de recebimentos dos animais pode ficar mais complicada.
Até sexta da outra semana havia agenda para fechar os 2 mil animais da capacidade estática e com a complicação das rodovias pode atrasar. A diferença mais atenuante da Coplacana é que a maioria dos bois vem das pequenas propriedades próximas a Piracicaba. As mais longes ficam no Vale do Ribeira, onde é preciso cortar grandes e importantes rodovias – justamente da onde o lote que voltou ontem era.
Pecuaristas
No momento em que muitos pecuaristas conseguem uma boa negociação, driblando a pressão deste início ofertado de entressafra, a greve dos caminhoneiros limitam as entregas. E têm que torcer para as indústrias compradoras não estarem com escalas incompletas e saírem repondo com outros fornecedores.
Para Marco Garcia, que está vendo os frigoríficos da região de Três Lagoas (MS) parados, menos mal. O ex-presidente do Sindicato Rural da cidade e membro da Comissão de Pecuária de Corte da Famasul está com dois lotes em suspenso, de 120 animais.
No Noroeste do Paraná, não é diferente para Lineu Gonçalves. O criador, recriador e invernista de Paranavaí deveria embarcar 432 animais que sairiam de seu confinamento nesta quarta. Nem subiram nos caminhões.
Gonçalves vê também as médias e pequenas unidades abatedouras da região paradas.
Voltando ao Mato Grosso do Sul, mais propriamente para Santa Rita do Pardo, a região ali não estava afetada, mas poderia ficar a partir desta tarde. Florindo Cavalli, presidente do Sindicato Rural, estava convocando um movimento para a rodovia 040, saída para Campo Grande, por criticar os aumentos e política da Petrobras.
A região, mais a sudeste de Três Lagoas, e também com rebanho considerável e frigoríficos próximos, como o JBS, pode vir a inchar o movimento.
Mato Grosso
No maior estado produtor, com mais de 30 milhões de cabeças, a situação estava tranqüila, pelo monitoramento da Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat).
A entidade garantiu que estão deixando passar cargas vivas e perecíveis, ao passo que com relação aos insumos, ainda não é um problema porque os pastos ainda estão dando suporte e o confinamento é reduzido.