Produtores do MS vêem concorrentes da JBS saírem também das compras e correm para fechar lotes
Blefe ou chantagem do JBS ao anunciar a saída das compras do Mato Grosso Sul após a Justiça bloquear R$ 730 milhões da empresa por dívidas ao estado, não importou para o pecuarista Pedro Junqueira, assim como para outros. Ele negociava com relutância na tarde de ontem com um corretor a venda de um lote, mas ao saber da decisão do maior grupo frigorífico nacional ato contínuo ligou para o interlocutor e fechou a venda de 40 bois e 40 vacas.
“Fechei o lote com o Frigman de Amambai porque mesmo que a decisão da Justiça for revertida, não tenho bola de cristal para saber quanto tempo vai levar”, disse o produtor. Embora estivesse na dúvida quanto à negociação por conta do valor oferecido pela arroba, Junqueira argumentou que iria acabar precisando dos recursos mais dia menos dia e não poderia arriscar esperando quanto tempo a unidade da JBS de Naviraí, a mais próxima de sua propriedade no Sul, voltaria ao mercado como as outras seis paralisadas no estado. E quando voltasse, ofertando um preço menor. Além do que boi pronto não pode esperar. A @ saiu a R$ 136,00 e a da vaca a R$ 126,00, à vista.
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Como Pedro Junqueira, que “deu sorte”, a segunda acabou com muitos produtores correndo atrás de compradores, porque a maioria dos frigoríficos saiu do mercado. Marcos Garcia, presidente do Sindicato Rural de Três Lagoas, viu também as unidades menores parando as compras, apesar das escalas já curtas.
Ainda que falte boi de pasto, com a seca dos últimos meses – e só choveu duas vezes na região dele nos últimos dois meses – Garcia acredita que o boi de confinamento e, principalmente, o do semi tem que ser tirado do cocho. “Daí que os frigoríficos menores também saíram do mercado para pressionar mais o preço”.
JBS 40% do mercado
Marcos Garcia acredita que vão voltar escalando dois/três dias, depois saem novamente e voltam para mais 2/3 dias,”tirando até R$ 10,00 da @”.
Com 40% de participação nos abates do Mato Grosso do Sul, o mercado local está temendo se repetir a situação vivida no auge da crise da JBS, logo após a delação do Joesley Batista, quando o alto estoque de boi acelerou o governo estadual a reduzir o ICMS de 12% para 5%, ajudando a escoar a produção para outros estados.
“Se com a JBS estava faltando boi para abate, sem a JBS agora vai sobrar”, afirma o presidente do Sindicato de Três Lagoas, mostrando que esse é mais um fator de pressão.
O presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Jonatan Pereira Barbosa, acredita, no entanto, que não tem muito animal sobrando mesmo com os que devem sair dos currais. “Mesmo assim, não vamos permitir nenhuma chantagem”, falou ao Notícias Agrícolas ainda do aeroporto, chegando dos Estados Unidos. A entidade já pediu audiência com o governador do estado e com a Assembleia Legislativa, de onde partiu a petição, aceita pela Justiça, para bloqueio dos recursos da JBS nos bancos do Mato Grosso do Sul.
A saída imediata vista por Barbosa, enquanto se desenrola as ações políticas do governo estadual e dos deputados, além dos recursos que a JBS deve impetrar, é analisar a demanda pelo boi gordo local em unidades do Paraná e São Paulo.
Mas a pressão para que a situação seja revertida, liberando os recursos presos e fazendo com que as sete unidades da JBS voltem às compras, também vem dos funcionários, 15 mil no estado, que desde ontem estão mobilizados temendo pela perda do emprego.
E Marcos Garcia, lá de Três Lagoas, teme também que muitos produtores optem por apoiar a JBS se o caso se arrastar, na incerteza de que a demanda fique mais encurtada e com uma arroba lá no chão, voltando aos patamares que estava antes da recuperada dos últimos dois meses.