Mercado tem dúvidas se o 2º giro do confinamento vai ser compensado pela maior oferta

Publicado em 08/09/2017 10:27
Escalada de preços do boi magro e um mercado que poucos garantem um viés exportador firme como agora, menos ainda um consumo interno mais comprador, deixam em alerta sobre o valor da @ sustentado nos mesmos patamares de agora

A disparada para o confinamento de 2º giro, que limpou o boi magro da praça e agora disputa o erado, outro animal de engorda rápida, não pode ser vista como uma aposta máxima e garantida em uma rodada de poker. O mesmo mercado que está levando a aposta em uma arroba cheia para novembro, talvez ainda nos finalmente de outubro, não tem tanta certeza assim.

Desde começo de agosto, a escalada da arroba, depois de um outono e parte do inverno rigorosos para os pastos, não parou e já ao final do mês compensava as perdas dos pecuaristas, na opinião de Gustavo Figueiredo, da AgroAgility. Já rompeu os R$ 150,00 com folga em São Paulo para desconto, por exemplo, com a pressão das exportações (recorde de em torno 120 mil/t em agosto) e por um mercado interno longe de comprador, mas tendo que ser suprido no mínimo, da mão para a boca, já que as escalas curtíssimas dos frigoríficos impuseram escassez de estoques no varejo, avaliou o presidente do Sindicato Rural de Três Lagoas, Marco Garcia.

Em entrevista ao Notícias Agrícolas, há duas semanas, Garcia disse esperar que ao longo de setembro o preço do boi seguiria em ascensão, depois em outubro poderia haver algum acomodamento, com ligeiros repiques, mas em novembro ele já não fechava a aposta em mais altas.

Maior oferta

Então, a pergunta que Eurico Velasco, presidente da Associação Goiana de Nelore, faz é pertinente: “Com gente pagando R$ 1,7 mil pelo boi magro, com um aumento de até R$ 300 em dois meses, mesmo que comida no cocho esteja barata agora, quem vai pagar por esse bicho em novembro?”

A oferta vai voltar com tudo, não há garantia de que o consumo interno cresça – onde até agora não chegou o repasse cheio da alta, mas vai chegar, sem dúvida -, mesmo com parte do 13º entrando, e muito menos ninguém consegue manter apostas nas exportações. E aqui vale duas advertências da XP Investimentos notadas na véspera do feriadão.

Uma: depois de atingir a maior referência em 7 meses, a arroba do boi gordo, ao menos nos últimos dias, perdeu intensidade, com alta de R$ 0,16/dia sobre a média de R$ 145,53/@ à vista e livre de Funrural.

A outra: o dólar perdeu força (e poderá perder mais se o Supremo não acatar a segunda denúncia contra Michel Temer) e os frigos, portanto, vão apenas cumprir os contratos externos e não vão assumir outros compromissos.

Com as margens se estreitando, cada vez mais, já nos últimos dias tiveram que promover folgas, pulando dias de abate (verdade que o feriadão ajudou), apesar das escalas muito curtas, todavia.

Lá de Juara, Luiz Fernando Amado Conte, vice-presidente da Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat) para a região, é outro que coloca em dúvida a excessiva rentabilidade que está sendo esperada pelo confinamento. No início da semana passada, a @ do boi magro estava em R$ 128,00 e abriu esta semana em R$ 133,00.

“Nem o ganho de produtividade acho que vai compensar”, afirmou ele, lembrando que a entressafra dos grãos também vai dar uma puxada na ração a partir de outubro, no mínimo, sem falar que as indústrias já começam a perceber que a demanda por comida no curral pode dar espaço para reajustes antes da hora até.

Teto dos frigoríficos

O pecuarista mato-grossense vai mais longe. Está atento ao movimento dos frigoríficos – aliás, como Marco Garcia, de Três Lagoas - que se sentirem mais pressão sobre suas margens, podem repetir a costumeira estratégia de paralisar unidades para “manutenção”, mesmo que ainda ninguém saiba direito qual é o teto de risco das empresas.

“O número de um empresário do setor frigorífico aqui da região é R$ 140,00 a @”, alertou Amado Conte ao Notícias Agrícolas.

Nem todos, naturalmente, comungam das mesmas opiniões. Atentos estão, mas acreditam em uma boa mão quando novembro e dezembro chegarem. Tulio Roncalli, pecuarista de Pontes e Lacerda, lá do Mato Grosso, pensa que a oferta do confinamento que virá ainda não será tão absorvida pelo mercado, tamanha a escassez de agora.

Rogério Coan, da Coan Consultoria também. Ele enxerga nas exportações que devem continuar fluindo dentro da sazonalidade do segundo semestre, com o mercado internacional mais aberto depois da Operação Carne Fraca e do outro arranhão via Joesley Batista. "E tem regiões onde as escalas dos frigoríficos são de dois dias", completou.

Enquanto a rodada do mercado não se completa, e todas as cartas estiverem na mesa, aqueles que estão com o royal straight flush (mão mais alta do poker) são as empresas de confinamento. Na DC Confinamento, do interior de São Paulo, os currais estão lotados. Primeiro vieram os bois magros e na falta destes começaram a chegar os bois erados.

Pelas dúvidas, os bois do proprietário, Diogo Castilho, estão travados, um pouco a termo e um pouco em opções.

 

 

Por: Giovanni Lorenon
Fonte: Notícias Agrícolas

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