Pecuaristas pedem antecipação de pagamento para JBS por temor com operação da PF
Em um intervalo de menos de dois meses, o setor de proteína animal se viu no centro de duas grandes investigações da Polícia Federal. Embora haja uma gigantesca diferença entre a Carne Fraca e a Bullish, ambos os casos preocupam o setor produtivo.
Na sexta-feira (12), dois sócios do grupo JBS, os irmãos Joesley e Wesley Batista, estiveram novamente na mira da PF, desta vez na Operação Bullish, que aponta prejuízo aos cofres públicos de R$ 1,2 bilhão, por supostas fraudes em aportes do BNDES.
Além do desgaste da imagem - com conduções coercitivas e afastamento de executivos -, os bloqueios de bens e outras medidas cautelares podem afetar a liberação de recursos de bancos públicos e privados, entre outros pontos.
Uma fonte ligada a pecuária nacional contou ao Notícias Agrícolas que há grande preocupação dos produtores com relação a saúde financeira da empresa. No Mato Grosso, por exemplo, a JBS corresponde a mais de 50% do abate total do estado. "Há um temor sobre os desdobramentos da operação e de que forma isso poderia afetar a liquidez do mercado", diz.
O pecuarista Paulo José Mano afirma que aproximadamente 70% dos produtores que possuem vendas a prazo com a JBS, no Mato Grosso, estão solicitando a troca de operação para pagamento à vista, pagando juros de 3,1% ao mês. "Aqui no Mato Grosso, também em São Paulo e Goiás, todos os contatos que tenho já falaram que vão pagar os juros e resgatar o dinheiro imediatamente."
Mano teve prejuízo aproximado de 8 mil reais para trocar pelo pagamento à vista, mas afirma que preferiu fazer a operação com receio em relação aos desdobramentos da operação Bullish, nos próximos dias.
Segundo ele, há um forte movimento nesse sentido em todo o país. "O que não sabemos é se o Banco Original - que realiza essas operações da JBS - tem todo esse dinheiro disponível", acrescenta o pecuarista.
"Não sabemos se a empresa está preparada para um grande volume de retiradas", acrescenta o pecuarista Oswaldo Furlan, o coordenador do grupo Pecuária Bauru (GPB). Segundo ele, algumas unidades de abate não fazem contratos à vista, mas os produtores estão vendendo as boiadas a prazo, para posteriomente solicitar a antecipação do pagamento.
A empresa - que se tornou líder mundial no processamento de proteína animal -, se defende e nega irregularidades nas operações com o BNDES. Em nota, a JBS afirma que "não comenta suas políticas comerciais por questões estratégicas. A Companhia informa ainda que suas operações seguem dentro da normalidade dos negócios”. Mas, o fato é que, a depender do resultado dessa operação, o mercado de carnes poderá sacudir novamente.
Delação
Após ter seu nome citado em pelo menos seis operações da Polícia Federal, no último ano, a J&F, dona da empresa JBS, iniciou processo de negociação de acordo de delação e leniência com o Ministério Público.
Segundo jornal Folha de S.Paulo, já ocorreram ao menos dois encontros entre os investigadores e representantes da empresa. As conversas, no entanto, estariam em estágio preliminar.
Um acordo de delação poderia envolver também o pagamento de parte do montante apurado pela PF. No caso das empreiteiras investigadas pela Lava Jato, a AGU (Advocacia-Geral da União), solicitou que devolvessem aos cofres públicos o montante de R$ 11,3 bilhões.
Receita
A JBS anunciou nesta segunda (15) que encerrou o primeiro trimestre de 2017 com lucro líquido de R$ 422,3 milhões. A empresa teve uma receita líquida de R$ 37,6 bilhões.
O lucro líquido consolidado foi de R$ 486,2 milhões, revertendo resultado negativo de R$ 2,64 bilhões apurado um ano antes. O lucro bruto da JBS S.A. foi de R$ 4,4 bilhões, com margem bruta crescendo de 10,8% no primeiro trimestre de 2016, para 11,8%.