Boi gordo: Condições das pastagens dita ritmo de preço nos estados

Publicado em 13/01/2017 14:40

A safra brasileira de boi gordo ocorre tradicional entre os meses de dezembro a maio. E como já é sabido as pastagens são a base da produção de carne bovina no Brasil. Portanto o regime de chuvas na primavera é fundamental para determinar o volume de produção no período.

Na safra 2016/17 - e também nas duas últimas temporadas - a irregularidade das precipitações, especialmente no Centro-Norte, promove condições diferentes de mercado entre as regiões produtoras.

Há locais onde a oferta de animais à pasto já começou aparecer e a pressão sobre a arroba se intensificou. Por outro lado, estados que ainda possuem um volume limitado de animais disponíveis conseguem manter as cotações estáveis.

Goiás

Em Goiás, onde a produção é predominantemente extensiva, a necessidade de forrageiras torna-se ainda mais evidente. Conforme destaca o presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Faeg, Mauricio Veloso, as pastagens já sofreram estresse hídrico nas duas últimas safras e, em 2016 o estado contou com o terceiro pior desempenho das chuvas nos últimos anos.

"Houve muita morte de capim devido à sucessão de estresse e como consequência a maioria dos pecuaristas não possui suporte suficiente para engorda", acrescenta.

A capacidade de apascentamento é melhor apenas nas propriedades com maior grau de investimento tecnológico. Segundo Veloso, o diferencial de unidade de animal por hectare é quase o triplo nas fazendas que utilizam tecnologia. "A produção média das atividades que ainda seguem a pecuária tradicional é de 0,5 a 1 UA/ha, já nos tecnificados o rendimento salta para 4,5 US/ha. É uma diferença considerável", diz.

Com a capacidade de suporte reduzida, o volume de animais disponíveis no estado ainda é limitado e tem diminuido a velocidade de queda nas cotações. A média dos negócios no estado varia entre R$ 136/@ a R$ 140/@, embora seja bastante inferior ao preço máximo praticado no primeiro semestre de 2016, em R$ 148/@.

"Só não temos cotações menores, porque a oferta restrita ajuda a segurar, mas se fossemos depender somente da demanda não é difícil imaginar um cenário ainda pior", destaca Veloso.

O presidente não descarta novas pressões baixistas ao longo do ano, especialmente em períodos concentrados de oferta de animais. Em 2017, a expectativa é de retomada gradativa nos níveis de consumo interno, mas que deve começar a acontecer somente no segundo semestre.

Vale ressaltar que a Faeg espera redução nos custos em 2017, visto o enfraquecimento nos preços da reposição e dos grãos. "Nossas pastagens estão com curto tempo de recuperação, por isso a projeção é de oferta restrita. Porém, com a redução nos preços do milho, os produtores podem intensificar a atividade de confinamento em 2017", pondera Veloso.

Mato Grosso

No Mato Grosso, que também tem 80% da produção engordada a pasto, a realidade é diferente. Após forte estiagem no ciclo passado, a safra 2016/17 apresenta boas condições de pastagem.

Segundo Francisco de Sales Manzi, superintendente da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), a oferta a pasto já é uma realidade no estado, sobretudo as fêmeas vazias da estação de monta.

"Por estarmos na safra, a oferta de animais é boa, por outro lado, os frigoríficos têm escalas alongadas e não intensificam as compras, pressionando as cotações" diz Manzi.

Na média das regiões a cotação é de R$ 131/@, apresentando queda real em relação à realidade de preço no ano passado.

Manzi destaca que a aposta do setor está no mercado externo e na estabilização da economia ao longo do ano. "Só haverá reação nos preços se tivermos uma retomada no consumo", diz.

Como fator positivo a cadeia deve contar com custos menores neste ciclo. Segundo levantamento de preço da Acrimat os animais de reposição sofreram recuo médio de R$ 200 por cabeça na região.

Mato Grosso do Sul

Após um regime de chuvas irregulares em novembro e dezembro, as precipitações voltaram a cair com mais frequência no Mato Grosso do Sul, colaborando para a formação das pastagens.

As boiadas a pasto começam aparecer gradativamente nas escalas de abate e ajudam a limitar o andamento dos preços

Na média das regiões, os negócios com a arroba variam entre R$ 133/@ a R$ 136/@. Conforme explica o presidente da Acrissul (Associação dos Criadores do Estado), Jonatan Pereira Barbosa, tanto pecuaristas, quanto indústrias aguardam melhores condições para negociar.

"Tradicionalmente temos uma orientação de como os preços se comportarão em leilões que ocorrem agora no início do ano. Por isso, acreditamos que ambas as partes estão aguardando esses acontecimentos para operar no mercado", diz Barbosa.

O presidente também destaca que caso a demanda não reaja como esperado, os pecuaristas tendem a se manter retraidos. Além disso, com a baixa disponibilidade de oferta em outros estados, é possível que as indústrias passem adquirir matéria prima no Mato Grosso do Sul.

São Paulo

As condições no mercado paulista se assemelham ao Goiás. As pastagens ainda não se recuperaram totalmente e a oferta de boiadas a pasto é limitada.

Embora a característica da pecuária em São Paulo seja intensiva, os animais engordados na forragem são importantes neste período de ano, especialmente por terem custos reduzidos.

A demanda, assim como em outras regiões, segue abaixo do esperado. Porém, a disponibilidade restrita de animais possibilita a manutenção nos preços, mesmo que o momento seja de baixo volume de negócios.

No entanto, o analista da FCStone, Caio Toledo Godoy, acrescenta que as indústrias estão bastante estocados de dianteiro", e sem reação nas vendas internas a tendência é de redução no ritmo de compras. Na praça paulista a média de preço é de R$ 149/@.

Outro ponto a ser observado é o diferencial de base. O analista da Scot Consultoria, Alex Santos Lopes, ressalta a possibilidade das indústrias paulistas, por exemplo, adquirirem matéria prima fora do estado, caso o preço da arroba continue declinando nos vizinhos. Mas, "por enquanto, ainda não observamos negócios nessas condições, já que os frigoríficos - com a demanda fraca - não tem intenção de elevar os estoques", explica.

Segundo eles a tendência é de mercado pressionado nas próximas semanas, conforme volume maiores de animais forem terminados. Dessa forma, o setor aguarda aquecimento da demanda interna e externa para sustentar os preços.

Por: Larissa Albuquerque
Fonte: Notícias Agrícolas

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