Vejam este vídeo:
Por que ele está aí? A história é um tantinho intrincada, mas, vocês verão, é bem fácil de entender. Trata-se do confronto entre os que prezam a liberdade de expressão e os que pretendem usar a lei para apagar a história. Começo reproduzindo um post de Ricardo Noblat e continuo depois:
“Blogueiro em Minas é perseguido por Hélio Costa
Chama-se Gabriel Sousa Azevedo, estudante de Direito na faculdade Milton Campos e de Jornalismo na PUC-MG.
Gabriel faz parte da Juventude do PSDB nacional e é presidente da Juventude do PSDB de Belo Horizonte. Criou o blog Amigos do Anastasia para ajudar o atual governador de Minas a se reeleger.
A internet está repleta de blogs como o dele - Amigos do presidente Lula, Amigos da presidente Dilma Rousseff, e por aí vai.
Hélio Costa entrou no Tribunal Regional Eleitoral no dia 03/07 com uma ação contra o YouTube. Pedia que fosse retirada do ar uma animação bem-humorada onde ele aparecia pilotando uma nave errante. A trilha sonora da animação dizia que ele não conhece Minas e erra dados sobre o Estado.
A ação movida por Hélio pedia a aplicação de uma multa contra o Gabriel por ter veiculado a animação no seu blog. O TRE suspendeu o vídeo no YouTube e, por isso, considerou que não havia mais crime que justificasse a multa.
Os advogados de Hélio pediam 100 dias/multa contra Gabriel. A conta poderia chegar a 100 mil. Até o meio-dia de 04/07, o vídeo tinha sido visto por quase 6.000 internautas. Postei, aqui, na última terça-feira, um vídeo do Youtube sobre um panfleto de 1990 assinado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) que criticava Hélio. Na época, ele era candidato ao governo de Minas com o apoio do então presidente Fernando Collor.
Gabriel evitou reproduzir o mesmo vídeo no seu blog. Mas deu link para o meu.
Hélio bateu novamente às portas da Justiça. Liminar retirou o vídeo do YouTube/Google.
Sobrou outra vez para Gabriel. O blog dele ficava hospedado no portal do
UOL. A hospedagem foi suspensa por decisão do UOL.
Hélio pediu à Justiça a interdição do conteúdo do twitter pessoal de Gabriel, onde ele é criticado.
Em tempo: Gabriel não é o autor da animação contra Hélio nem do vídeo (ver abaixo) sobre o panfleto da CUT.”
Voltei
Acho que está tudo claro, não? O segundo vídeo a que se refere Noblat é aquele que está lá no alto. Decisão da Justiça deve ser respeitada, claro!, o que não quer dizer que não possa ser discutida por cidadãos comuns. Se notam, cada vez mais, a Justiça Eleitoral se comporta, no Brasil, como um Tribunal de Exceção no que respeita à liberdade de expressão. Por que digo que é de “exceção”? Porque a Constituição assegura essa liberdade, e vem um tribunal eleitoral para dizer: “Assegura, sim, EXCETO nos casos em que…”
Costa não parou por aí. Quando moveu o novo processo contra Gabriel SÓ PORQUE ELE PUBLICOU UM LINK para o post de Noblat que trazia aquele vídeo lá do alto, o blogueiro deu a notícia em seu Twitter. Foi o que bastou para o candidato do PMDB pedir A PRISÃO do blogueiro. Isto mesmo: NADA MENOS DO QUE A PRISÃO! A ação está aqui.
Na raiz de tudo
O que está na raiz de tudo isso? Bem, em primeiro lugar, o fato de que Hélio Costa parece ter problemas com o seu passado. Ora, deveria levar em conta o que diz sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff. Em entrevista ao Jornal Nacional, ela afirmou que o PT só combatia gente como Collor, Sarney e Renan Calheiros por “falta de experiência”. Agora experiente, o partido se aliou àqueles patriotas. Como Hélio Costa foi, efetivamente, aliado do presidente impichado, deveria bater no peito com orgulho: “EU JÁ ERA EXPERIENTE DESDE AQUELE TEMPO E, POR ISSO, ERA ALIADO DE COLLOR”.
Mais: a candidata de Hélio Costa à Presidência vive dizendo que “o passado é importante”. Como costumo dizer aqui, concordo com ela. Sou a favor da exposição do passado de todos os políticos — inclusive do que foram aliados de Collor ou aderiram ao terrorismo. Viva o passado!
E, obviamente, na raiz da questão está, também, reitero, a sanha da Justiça Eleitoral de se comportar como bedel do debate político. Atribuir a alguém algo que não fez, especialmente um ato criminoso, é, obviamente, crime. Com ou sem eleição, tal prática deve ser punida. Mas qual é o crime em se atribuir a um indivíduo, político ou não, um ato que pertence a seu passado? Não era crime ser aliado de Collor, senhor Hélio Costa. Ou era?
Lamento, ademais, que um ex-jornalista se dê a esse desfrute. Espero que Hélio Costa não esteja com saudade da ditadura e da censura, que viveram seu auge no Brasil quando ele próprio vivia o auge de sua carreira. Devo considerar que, se eleito, é essa a relação que ele pretende manter com os seus “adversários”? Vai tentar botá-los em cana?
Embora não tenha qualquer vínculo com Gabriel, tenho especial apreço por ele porque é DE SUA AUTORIA O PRIMEIRO COMENTÁRIO NESTE BLOG. Publiquei o post inaugural às 18h57 do dia 24 de junho de 2006, intitulado “Voltei”. Como sabem, eu havia ficado “fora do ar” por quase um mês em razão de alguns “aliens” que haviam aparecido na minha cachola… Às 20h17 daquele dia, chegava o primeiro comentário, o de Gabriel. Ele tem muita coisa publicada na Internet. Não pensa isso ou aquilo em razão das eleições. Tem suas convicções e procura viver na prática o Antigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil.
A liberdade de expressão vive uma quadra delicada. “Autoridades” estão querendo usar a Justiça como uma espécie de borracha para apagar o seu passado. Helio Costa foi um collorido. Deve ter argumentos que explicam isso, não é? Ademais, Collor foi reabilitado pelo lulo-petismo, nau à qual Costa se juntou. Como diria Dilma, são todos muito “experientes”.
Será que Gabriel deve ir para a cadeia por ter, afinal de contas, informado ao público o conúbio que os nubentes celebram como prova de sua maturidade? Os meritíssimos Brasil afora que tomem tenência. Alguns podem até se sentir confortáveis no papel de censores da sociedade. Ocorre que esse modelo nunca acaba bem. Porque chega o dia em que aparecem os “juízes dos juízes” — e aí é a Justiça que vai se juntar ao ralo onde já tinha sido jogada a liberdade de expressão.
Lembram-se do siricutico de Franklin Martins quando o presidenciável José Serra apontou as iniciativas do governo Lula de censurar a imprensa? Pois é… O tucano fez uma intervenção realmente perfeita no seminário da ANJ (Associação Nacional de Jornais) ao apontar três frentes de ataque à liberdade de expressão:a) tentativa de censura legal; b) tentativa de asfixia econômica; c) patrulha e assédio moral por intermédio de entidades ligadas ao PT. Leiam o que vai na Folha. Volto em seguida:
Ao lado do presidente, Franklin critica mídia
Em discurso ao lado do presidente Lula, o ministro Franklin Martins (Comunicação Social) criticou a imprensa e disse que os jornais e emissoras de TV vão perder o controle sobre as notícias levadas à opinião pública.
Eles participaram ontem do lançamento da TVT, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A cerimônia reuniu cinco ministros em clima de campanha para a presidenciável Dilma Rousseff (PT), que não compareceu.
Franklin disse que o canal ajudará a internet a quebrar o poder dos “aquários”, jargão que identifica a chefia das redações dos grandes veículos nacionais. “Isso é uma revolução e incomoda muita gente que ficava no Olimpo. Mas é irreversível, e está apenas começando”.
O diretor do sindicato, Valter Sanches, disse ter planos ambiciosos para competir com as grandes redes: “Queremos fazer jornalismo investigativo de fato, sem atender interesses políticos”.
O sindicato é filiado à CUT (Central Única dos Trabalhadores), ligada ao PT.
A TVT estréia com uma hora e meia de produção própria no canal 46 UHF na Grande SP, em outros dez Estados e na internet.
Em discurso lido, Lula disse que a emissora evita que os trabalhadores “continuem impedidos de exercer a liberdade de expressão”. “O brasileiro sabe distinguir o que é informação e o que é distorção dos fatos”, disse.
Comento
A única boa notícia relativa a esse assunto, que não vai no texto, é esta: eles — petistas e governo — são incompetentes demais para fazer uma televisão que preste. Vejam a TV Brasil. Com uma estrutura infinitamente maior do que a do sindicato, só produziu mistificações. Como costumo dizer, fez-se uma televisão com a cara de Tereza Cruvinel e a alma de… Franklin Martins! Resultado: torrou-se uma montanha fabulosa de dinheiro e não se conseguiu sair do traço. É o que vai acontecer também com a tal TVT, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
O mais fascinante no discurso dos três valentes é a “aparente” suposição de que a TV sindical não teria viés nenhum. Escrevo que a suposição é só aparente porque idiotas eles não são. Sabem que o veículo será um mero braço do sindicato e, pois, do PT. Dinheiro não vai faltar. Afinal, o sindicato tem garantida a bufunfa do Imposto Sindical, que surrupia até mesmo dos trabalhadores não-sindicalizados. E pode gastar sem prestar contas a nenhum órgão público. Para esses bravos, o Estado tem legitimidade para bater o porrete na mesa e obrigar todo mundo a pagar o imposto, mas não a tem para verificar onde o dinheiro está sendo gasto.
A fala de Franklin é a evidência do acerto do discurso de Serra. Eis aí o terceiro item apontado pelo candidato tucano: assédio moral e patrulha, exercidos por intermédio de entidades ligadas ao PT. Nunca um partido e um governo contaram com tantas emissoras, jornais e revistas servis. Não em fase democrática ao menos. Mas Franklin ainda acha pouco. Os petistas precisam exercer permanentemente esse discurso da vítima para que possam fazer a “denúncia da manipulação”, na esperança de que os alvos da patrulha tentem provar que seus críticos estão errados — ao fazê-lo, atendem, então, à pauta do PT.
A gente sabe que Franklin é determinado no confronto com o “inimigo”. Quando lutava para implantar uma ditadura comunista no Brasil, seqüestrou um embaixador e ameaçou matá-lo caso algumas exigências não fossem atendidas. A ameaça está na carta que ele redigiu, de que tanto se orgulha. Tem em comum com Dilma o indisfarçável orgulho de ter pertencido a um grupo terrorista. Sua guerrilha, agora, é outra: quer minar o poder da “mídia”, dos “aquários”, com o apoio aos meios “independentes” de divulgação da notícia. O interessante é que essa “independência” é financiada com dinheiro público e é sempre favorável ao governo. O “sistema” aluga até blogueiros…
Dado o ânimo, caso Dilma vença a eleição, podem esperar uma penca de procedimentos oblíquos para minar a credibilidade dos grandes veículos de comunicação — não de todos; só daqueles que “atrapalharem” e insistirem em fazer jornalismo.
Nota final - A fala de Franklin acontece dois dias depois de o PT ter liderado, no Foro de São Paulo, uma verdadeira cruzada contra a imprensa livre.
Por Reinaldo Azevedo
Dilma agora posa (Emir Sader escreveria “pousa”) de conservadora. Este blog tem amor pelo pensamento e não teme textos longos. Então eu os convido a ler o que segue com atenção. Enquanto caminham, perguntem-se a si mesmos por que o PT está tomando até as bandeiras ditas “conservadoras”. No fim de tudo, uma surpresa (para alguns ao menos).
*
Muitos leitores me perguntam - alguns de boa fé; outros nem tanto: “Cadê a direita no Brasil? Onde está a direita?” Poderia me fazer de leso e escrever: “Não sei por que me perguntam isso”. Mas eu sei por que me perguntam isso. É que me identificam com esse pensamento, que alguns pretendem seja uma pecha. “Direitista” vira sinônimo, em certos casos, de pessoa com quem não vale a pena conversar. Seu nome fica maldito até para participar de debate de TV. O sujeito diz: “Ah, não! Com esse cara não dá para debater”. Por quê? Medo de que você enfie o dedo no olho dele? Não! Receio de ver exposta e desmascarada a demagogia. Mas não quero me desviar. Eu não fujo das palavras. Se querem me chamar de “direitista” num país em que até Gengis Khan se diria “de centro”, tudo bem por mim. Não dependo, nem íntima nem socialmente, do olhar do “outro”. Sou um freudiano da gota serena: o único olhar que importa, lá na infância, e decide “você será isso” é o da mãe. No meu caso, já está decidido, hehe. Tarde demais para mudar.
Prefiro perguntar: “Onde estão os conservadores?”, já que a outra palavra, que a mim não me incomoda, a tantos perturba. Com tempo, isso merece um ensaio longo e profundo sobre a formação das mentalidades no Brasil. Sem dúvida, o PT é um partido que traz consigo toda a tralha antidemocrática do bolchevismo. No que se modernizou, tornou-se uma mistura de organização gramsciana com a mais descarada pilantragem. Nos dois casos, a democracia continua a ser um valor tático apenas. Alguns tontos me atribuem a suposição - PORQUE INTERESSA TRATAR O OUTRO DE IDIOTA PARA ESCONDER A PRÓPRIA BURRICE - de que os petistas um dia dariam “o” golpe! Ora, vão plantar batatas!
O “golpe” está sendo dado todos os dias, um pouco por dia, minando e desmoralizando as instituições do estado; em alguns casos, substituindo-as por instrumentos partidários. O tal Programa Nacional-Socialista (by Vanguarda Popular) dos Direitos Humanos é o quê? Ali, Paulo Vannuchi, Dilma Rousseff e Tarso Genro propuseram nada menos do que a substituição da Justiça por uma espécie de tribunal popular para arbitrar invasões de terra - e o invasor opina e vota! Como está lá, a estrovenga não existe em lugar nenhum do mundo. Nem em Cuba - aliás, em Cuba, o estado não admite qualquer forma de contestação, não é?
Pedir a ex-terroristas - lamento por eles e pelas vítimas de suas respectivas organizações: dois deles são ex-terroristas - que elaborem um plano de direitos humanos é como pedir, tentarei ser delicado, a açougueiros que elaborem o cardápio do bom vegetariano. É “direitista” dizer isso? Eu considero apenas realista. E sempre se pode debater se as ações da VAR-Palmares (Dilma) e da ALN (Vannuchi) eram só “resistência à ditadura”. já que se supõe que quem combate a ditadura quer democracia… Mas continuo.
O PT, sem dúvida, no que concerne à política e a valores sociais - e também morais -, é “de esquerda”. A forma como aparelha o estado e mobiliza suas franjas nos movimentos sociais e nas ONGs para tornar influentes seus valores ecoa a mais cara tradição do AGITPROP comuna. E seus vogais estão espalhados em todos os lugares, muito especialmente nas universidades e na imprensa. Servem ao partido, muitas vezes, confundindo a própria ignorância com bom coração!
Mas o PT é “esquerdista” em economia? Ora, não me façam gargalhar!
Nesta segunda, o bilionário José Alencar recebe o título de petista honorário em Minas, no esforço do partido para atropelar Aécio Neves - que talvez tenha sonhado um dia ser poupado - e criar um palanque poderoso para Dilma no Estado. Só falta agora fazer o mesmo com o leninista Henrique Meirelles, presidente do Banco Central e candidato de Lula, ao menos de coração, a vice da candidata petista.
Afirmar que o PT é esquerdista em economia é de uma estupidez supina! E QUE SE DIGA: FELIZMENTE NÃO É!!! O que tem sido por muitos chamado de “esquerdização” - a crescente interferência do estado na economia - não tem nada de esquerda propriamente. Mais se parece com um “geiselismo” sob nova gerência. E a expansão estatal, como é notório, se dá em associação com grandes grupos privados. Isso, atenção!, só é “esquerdista” à medida que aumenta o poder do partido.
Esquerdista agora põe um banco público, como o BNDES, para financiar a formação de gigantes privadas no setor petroquímico ou elétrico? Ora, não me façam cair na gargalhada. E, por óbvio, isso também não é, assim, liberal, né? E o Bolsa Família? O que há de esquerdista nele? Se fosse executado sem a pilantragem populista, eu diria que se trata de um caro receituário “conservador”. “Conservador de quê?”, pergunta um comuna aflito. Da ordem econômica!!! O que resta de extrema esquerda no Brasil tem razão quando afirma, segundo o seu exclusivíssimo e vesguíssimo ponto de vista, que se trata de um “programa reacionário”.
Ora, no mundo contemporâneo, as divisões entre direita e esquerda não se dão mais no terreno da economia. O PT sabe que não fará a “revolução socialista”. Nesses quase oito anos, o partido compôs com uma boa fatia do PIB - em todos os setores - e também soube conceder, junto com o Bolsa Família, o Bolsa Empreiteira, o Bolsa Banqueiro, o Bolsa Supermercado, o Bolsa Indústria Automobilística, o Bolsa Linha Branca… Uma publicidade da Honda faz propaganda PESSOAL de Guido Mantega! O entusiasmo da, vou usar uma palavra antiga, “burguesia” com Dilma é grande. Ela promete manter esse, como posso escrever?, “regime”. Caso eleita, não vai conseguir. Mas promete.
A DISPUTA
Pode-se, claro, também nos marcos do capitalismo, construir um modelo diferente desse que aí está. Mas nada que sacuda o país e, pensando no tema deste texto, o eleitorado. Nos EUA, na velha Europa ou aqui, “direita” e “esquerda”, “conservadores” e “progressistas” vão para o confronto em matérias que dizem respeito a valores sociais, à cultura democrática, às instituições. Vejam o que aconteceu e o que está acontecendo com Obama. Falarei sobre o Tea Party, sim. Mas em outro texto.
Os leitores deste blog sabem que nada do que se dá nos EUA é surpreendente. Os conservadores, a direita e a “extrema direita religiosa”, como gosta de escrever a nossa imprensa, acusam Obama e seu governo de “socialistas”. A palavra serve de grito de guerra, mas, obviamente, o termo não encontra correspondência na realidade. Obama está começando a quebrar a cara é mesmo na guerra de valores. PORQUE, DE FATO, EXISTEM CONSERVADORES NOS EUA! COMO EXISTEM NO BRASIL! Mas, lá, a sua existência é considerada uma precondição da democracia. Na fatia da imprensa brasileira que está em decadência (embora alguns políticos ainda não tenham percebido), conservador - ou direitista - é sinônimo de cão sarnento.
O confronto de valores pode ser feito aqui também. Dia desses, um amigo - que considero “conservador” - me disse algo assim: “Você acha que, no Brasil, com a pobreza e as carências que há por aí, um discurso conservador poderia sem bem-sucedido? Duvido!” Pois é… Até nas melhores cabeças, o mal se insinua. Desde quando medidas de esquerda ajudam a combater a pobreza? Onde e quando, no mundo, a esquerda soube erradicar a miséria? Esquerdista não mobiliza ninguém. Para ficar no Brasil: o que Lula fez foi revestir medidas que seriam típicas de governos conservadores com um verniz POPULISTA. Mesmo desprezando, como desprezo, as teses de esquerda, é um desrespeito com a teoria chamar coisas como Bolsa Família e ProUni de “esquerdistas”. Esse equívoco conduz a outro: “conservadores” seriam incapazes de adotar medidas que pudessem diminuir a pobreza. Ora, foram conservadores da ordem que criaram o Bolsa Família - lá no governo FHC… Lula, fazendo então discurso genuinamente “de esquerda”, chamou o programa de “esmola” para comprar a consciência dos pobres…
A disputa se dá em outro terreno. Se eu não fosse só um senhor que escreve textos - sei que é quase nada e assim continuarei -, aceitaria o desafio: João Pedro Stedile iria para a televisão defender o seu MST, fartamente financiado pelo governo Lula, e eu também iria. Sem usar um só adjetivo para desqualificá-lo, eu mostraria a sua obra em detalhes e quanto ela tem nos custado. Ele exibiria os seus heróis e mártires; eu exibiria as suas vítimas. Vamos ver o que é que as ONGs, os movimentos sociais e outras polícias do pensamento poderiam fazer diante da evidência - não de um discurso meramente ideológico - do que é verdadeiramente o MST.
Lula meteu a descriminação do aborto no Programa Nacional-Socialista dos Direitos Humanos? Certamente os brasileiros têm uma opinião a respeito, não é? Taí outro debate que “progressistas” não aceitam fazer com “direitistas” na TV. Vocês sabem por quê. Porque, com dados e evidências, é impossível ganhar. Só isso. Cito dois casos. Há outros tantos no terreno da organização da sociedade, do comportamento e dos valores que reduziriam ao silêncio essa gritaria histérica de ONGs, movimentos sociais e organizações dos sem-isso e sem-aquilo. Até mesmo o debate sobre a liberdade de expressão, que parece mais distante da massa, pode render um bom confronto.
Mas, com efeito, onde estão os conservadores? Na economia, eu diria que estão em todos os lugares - muito especialmente, no PT. E só por isto o país não foi pra breca: porque o PT, nesse particular, não é petista. Mailson da Nóbrega escreveu na VEJA e está certíssimo: o PT não mudou o Brasil; o Brasil é que mudou o PT - na economia ao menos. Na política e nas instituições (agora já sou eu de novo, não Mailson), ele continua caudatário daquele mesmo esquerdismo xucro que pretende substituir a sociedade pelo partido. Ou se aceita fazer a guerra de valores contra essa gente, ou há o risco de assistirmos ao nascimento de um PRI com pandeiro.
E que se note: não estou me referindo a esta eleição que vem aí apenas. Estou falando de uma questão que é também de médio e longo prazo. No fim das contas, todos os partidos se tornam, vá lá, produtivistas, cheios de obras para mostrar, cada qual com seus corruptos etc. Mas quais valores os distinguem?
Entregue-se o resultado de uma pesquisa honesta sobre o que pensa os brasileiros a um especialista estrangeiro que saiba pouco sobre o país, e ele dirá: “É um povo conservador”. Não obstante, só temos “progressistas”. Políticos atuam com medo da imprensa, acreditando que a média do pensamento nas redações corresponde à média do que pensa a população. Faça-se um discurso organizado em defesa da lei, da ordem (já vejo petralhas com urticária), dos valores cristãos (sim, eles mesmos!!!), do trabalho honesto, do DIREITO À SEGURANÇA, DO DIREITO À VIDA (em todos os seus estágios), e vamos para o confronto. Vamos ver quem ganha. EU ESTOU FALANDO DA DEFESA, NA PRÁTICA, DA DEMOCRACIA! NADA ALÉM DISSO!!!
E saúde? E educação? E transporte? O que tem isso? Por acaso algum partido se diz contrário aos benefícios sociais? Supor que essas são questões particularmente caras à esquerda é nada menos do que já ter sido seduzido ou abduzido por ela. E nós não fomos. Talvez não já, mas daqui a pouco, preparemo-nos para o confronto. Em nome da democracia!
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A surpresa para alguns
Quem já era leitor do blog certamente se lembrou: este texto é de 8 de fevereiro deste ano. Dilma nem sonhava ainda em liderar as pesquisas de opinião. Este escriba tinha claro que a, digamos, batalha administrativo-gerencial não devia ser o cavalo-de-batalha da oposição. O que se vê agora? Dilma é que decidiu apelar aos “valores” na reta final. Antes, era preciso fazer de conta que essas coisas não existiam. Afinal, o confronto “administrativista” era de seu absoluto interesse, já que o governo federal detém “a máquina”.
Não estou entre aqueles que consideram a fatura liquidada, e vocês sabem disso muito bem, embora, obviamente, reconheça as enormes dificuldades da candidatura da oposição. Qualquer que seja o resultado, a história repete, em 2010, a lição que já fora dada em 2002 e em 2006: a guerra é de valores, não de obras. Minha análise, como se nota, nada tem de oportunista. Não esperei Dilma ultrapassar Serra nas pesquisas para escrever o texto. Em fevereiro, ele ainda vencia as eleições no primeiro turno.
O PT tem de ser enfrentado e confrontado no terreno da política — ou esse “PRI” de pandeiro na mão continuará a roubar até as bandeiras que seriam da oposição — depois de lhe ter roubado o passado.