A candidata quer ser presidente sem sequer saber ser candidata

Publicado em 09/05/2010 03:35
Blogs Augusto Nunes e Reinaldo Azevedo

O 27º Congresso Mineiro de Municípios, realizado em Belo Horizonte, conseguiu a proeza de reunir pela primeira vez, numa mesma tribuna, os três presidenciáveis que dividirão o voto do eleitorado em outubro: sobre o palco, com certeza matemática, estava o futuro presidente da República ─ primazia de um estado que tinha 853 municípios até as 9 da manhã de hoje. 

Debate? Ainda não. A legislação proíbe, até agosto. Ótimo para Dilma ─ que hoje seria triturada pela viúva do 23 B numa reunião de condomínio.

Mas, de qualquer forma, foi a primeira chance de cotejo. Os três responderam às mesmas perguntas, sem interagir. E o site da Dilma faz hoje uma compilação dos melhores momentos da candidata. Selecionei dois ─ mas poderiam ser 853, um para cada município de Minas.

“Nós jamais olhamos filiação partidária, jamais olhamos a adesão do prefeito ou da prefeita àquele ou àqueloutro partido, aqueloutro proposta de governo”.

Pus as devidas crases por minha conta ─ mas “aqueloutro proposta” é por conta da Dilma. Que os incréus confiram no vídeo: é realmente uma aqueleoutro proposta indecente.

“O Brasil tem duas palavras que tá na ordem do dia. E eu concluo com elas. Uma é transformação: nós fomos capazes de transformá o Brasil. E a outra é esperança: nós vamos continuá transformando o Brasil”.

O slogan que os marqueteiros pediram para ela decorar tem duas palavras ─ essas que “tá na ordem do dia”. Dilma já conseguiu decorar as duas. Mas ainda tem alguma dificuldade em explicar a segunda ─ daí ter explicado a primeira duas vezes.

Voltei para insistir numa evidência: a cruel amputação de esses e erres, o extermínio das sílabas iniciais, o convívio promíscuo do singular e do plural ─ esses e outros distúrbios informam que a candidata do PT é incapaz de completar uma frase sem erros. Essa é a primeira de duas constatações aflitivas. A segunda é mais inquietante: a sucessora que Lula inventou não consegue raciocinar logicamente. Dilma Rousseff não sabe pensar.

Num trecho do vídeo, a locutora previne que a candidata vai dizer o que pensa da divisão dos royalties do petróleo. Com cara de órfã recente, o olhar oscilando entre as anotações no papel e a plateia, braços enrijecidos na tentativa de camuflar tremores, voz à caça de palavras que não vêm, a voz insegura diz o seguinte:

“A grande questão do pré-sal é o fato de que são recursos que nós sabemos onde estão. São de alta qualidade”.

O que significa isso? Por que os recursos são a “grande questão”? “Onde estão” o quê? “São de alta qualidade o quê? Os recursos ou as jazidas de petróleo? O enigma se torna mais espesso na frase seguinte, que promete explicar como será a partilha do petróleo:

“Ele é parcialmente de quem descobriu e a maior parte fica com o povo brasileiro e a nação”.

“Ele” é o petróleo, pode-se deduzir. Mas e o resto?  Uma parte pertence a quem descobriu o quê? O pré-sal já não foi descoberto? O que está por descobrir não ficará por conta da Petrobras? E qual é o tamanho da “maior parte”? E como será dividida entre “o povo e a nação”. E qual é a diferença entre povo e nação?

Como não se tratava de um debate, José Serra e Marina Silva foram dispensados de perguntas, cobranças e reparos. Terão de fazê-los, com energia e sem acanhamento, nos confrontos de verdade. Candidatos à presidência podem e devem tratar-se com civilidade, mas não se ganha uma eleição tratando gentilmente um adversário como o PT.

No ensaio em Belo Horizonte, comprovou-se que nunca antes neste país houve um candidato à presidência tão vulnerável,despreparado, inconsistente e desprovido de neurônios quanto Dilma Rousseff. Um Jânio Quadros liquidaria o combate por nocaute no primeiro bloco. Marina é suave demais, e a estratégia adotada por Serra talvez recomende uma linha de combate menos agressivo. Seja ela qual for, terá de mostrar com todas as letras, e já no começo do duelo, que uma candidata quer ser presidente sem sequer saber ser candidata.

Um calhambeque avariado no acostamento da história


Entrevista de capa com Dilma na Istoé que saiu hoje. Foi uma sabatina ─ até o Boechat, colunista da revista, fez parte da banca, que, em foto na carta do editor, parece reunião de Ministério.

O resultado? Desastre, lógico. O texto final deve ter sido bastante copidescado, porque Dilma em estado bruto é impublicável ─ a não ser que se queira destruí-la ou expô-la ao ridículo, o que não era o caso, pois o tom da entrevista é o clássico levantamento de bola.

Em nenhum momento ─ nota-se pelas perguntas ─ Dilma foi tirada de sua zona de conforto. Mas a camaradagem da equipe e a revisão formal da entrevista não foi suficiente para tirar as ideias de Dilma das grutas primitivas do pensamento humano. Por isso, sobram respostas estarrecedoras. Amostras:

Sobre ser presidente:

“É um momento alto da minha vida, talvez o maior.”

Preparada para a presidência?

“Tenho clareza, hoje, de que conheço bem o Brasil e os escaninhos do governo federal. Então, sem falsa modéstia, me acho extremamente capacitada para o exercício desse cargo.”

No fundo, ela é incapaz de ter clareza sobre sua extrema falta de capacidade para exercer esse “cargo”.

Pretende casar no meio do mandato (perguntinha mais colegial….)?

“A vida não é assim, tem que se confluírem os astros…Eu não sou uma pessoa carente propriamente dita, tive uma vida afetiva muito boa, muito rica. Mas nos relacionamentos há uma variável que é estratégica, que é com quem eu vou casar. Essa variável estratégica eu tenho que saber, porque assim, no genérico, isso não existe.”

Uma pessoa não-carente propriamente dita não saberia dizer isso com alguma propriedade? Mas Dilma, convenhamos, é conscienciosa: para casar, além da confluência dos astros, precisa saber com quem. Nada desses casamentos genéricos arranjados ─ com o Chávez ou ou o Morales, por exemplo.

É a favor do aborto?

“O aborto é uma agressão ao corpo. Além de ser uma agressão, dói. Imagino que a pessoa saia de lá baqueada”.

Outra resposta reveladora de quem conhece bem os meandros da alma feminina. Mas faltou apontar a agressão que não dói. E a “pessoa” que sai de lá baqueada seria a mulher?

Sobre sua experiência com o câncer:

“A gente dá mais valor a coisas que costumam passar despercebidas. Você olha para o sol e fica pensando se você vai poder continuar vendo esta coisa bonita. Você fica mais alerta. Só combate isso se tiver força interna.”

Olhar para o sol talvez impeça a pessoa de continuar vendo essa coisa bonita, porque isso cega. E a força interna que combateu o câncer de Dilma é composta pelos oncologistas do Hospital Sirio-Libanês.

O Lula é um bom chefe?

“O Lula é uma pessoa extremamente afetiva. Ele não te olha como se você fosse um instrumento dele. Te olha como uma pessoa, te leva em consideração, te valoriza, brinca. Ele tem uma imensa qualidade: ele ri, ri de si mesmo.”

Resposta que mereceria uma junta médica maior do que a equipe que entrevistou Dilma. Mas, de cara, o fato de que Lula não te olha como instrumento, mas como uma pessoa, já impressiona favoravelmente ─ é um estadista. Agora, o fato de ele rir de si mesmo não é vantagem – nós também rimos dele o tempo todo.

Até sobre futebol Dilma discorreu com propriedade:

“Quero o Neymar e o Ganso na Seleção. Tenho muita simpatia pelo Ganso, aquele jeito meio desconcertado de falar. Mas gosto dos dois.”

Vocês também reivindicam a convocação do Ganso pelo jeito desconcertado de ele falar? Aquele grasnar descompassado, de passes mágicos? Se for pelo jeito desconcertado de falar, a seleção é Dilma e mais 10.

Sobre as longas reuniões do ministério com Lula:

“A busca de um consenso é um jeito que criamos no governo. Algumas vezes o presidente chamava isto de toyotismo. Não é a linha de montagem da Ford, onde cada um vai olhando só uma parte. É aquele método de ilha da Toyota, porque você faz tudo em conjunto.”

Essa o pessoal da Istoé deixou passar, sem revisão, só de sacanagem. Nem Taiichi Ohno, muito menos Henry Ford conseguiriam explicar melhor a diferença entre toyotismo e fordismo.

Istoé: Dilma é um calhambeque avariado que vai ficar no acostamento da história. De que linha de montagem saiu esse troço?


MINHA NOSSA SENHORA DE FORMA GERAL!!!


Três perguntas e três respostas da entrevista da pré-candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff à revista IstoÉ

A sra. é católica?
Sou. Quer dizer, sou antes de tudo cristã. Num segundo momento sou católica. Tive minha formação no Colégio Sion.
(…)
A sra. cederia a possibilidade de uma reeleição para o presidente Lula, no caso de ele querer se candidatar em 2014?
Ele já me disse para não responder a essa pergunta.

Até quando a sra. vai obedecer cegamente o que ele manda?
Lula não exige obediências cegas.

Comentario de Reinaldo Azevedo: 


Só mesmo apelando à Nossa Senhora de Forma Geral, padroeira dos que, não tendo nada a dizer, precisam afetar profundidade. Indagada dia desses se acreditava em Deus, Dilma tergiversou um pouco e disse crer numa “força superior”. Bem, eu também creio em forças superiores, especialmente aquelas alheias à minha vontade — e tenho a certeza de que não são Deus. Creio, por exemplo, na Lei da Gravidade. É ou não é “superior”? O quadrado da hipotenusa ser igual à soma dos quadrados dos catetos também está superiormente estabelecido.

Conhecem-se católicos de muitos tipos, ligados às mais diversas correntes. O “Catolicismo de Segundo Momento” é uma inovação ou um achado sócio-teológico que requer descrição e estudo. Talvez seja aquele que só existe em períodos pré-eleitorais, quando candidatos visitam igrejas, grupos religiosos, persignam-se…

Numa outra entrevista, Dilma já disse que reza quando o avião balança. Compreendo. “Primus in orbe deos fecit timor”. “Foi o medo que primeiro fez os deuses”, escreveu Estácio. Dada a relação estabelecida pela companheira, a progressiva segurança nos vôos tende a levar Deus à irrelevância.

Quanto às duas outras respostas, dizer o quê? Orar para a Santa da Retórica Desamparada. Lula faz até o elenco das perguntas que Dilma não deve responder. Se, como ela diz, o presidente não exige obediências cegas, então a cegueira lhe é oferecida de bom grado.

Que coisa espantosa! Nunca antes da história das eleições!

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Fonte: Veja.com

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