DILMA NO TÚMULO DE TANCREDO: FINALMENTE, O LOBO EM PELE DE CORDEIRO

Publicado em 07/04/2010 18:24



A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, tenta desesperadamente chamar a atenção. A iniciativa mais recente, de fato, é de lascar. Em seu périplo mineiro, decidiu botar flores no túmulo de Tancredo Neves. Segundo ela, o presidente Lula realizou o sonho do mineiro eleito presidente, mas que não chegou a tomar posse. Pouco importa de que lado se esteja da peleja, pouco importa a torcida, o fato é que o gesto é de uma impostura fabulosa.

A oposição divulgou uma nota em que acusou Dilma de “encenação” e “prática eleitoreira”. É um pouco mais: trata-se de uma farsa, porém exercida com método.

O PT combateu ferozmente Tancredo Neves e se negou a participar da votação no Colégio Eleitoral, que era, àquela altura, o único caminho possível para evitar a eleição de um presidente ainda indicado pelo Regime Militar. Sem a união do PMDB com o grupo de dissidentes do PDS — Frente Liberal, que seria o núcleo do futuro Partido da Frente Liberal (PFL) —, Paulo Maluf teria sido eleito presidente da República.

ATENÇÃO! Não é que o PT tenha apenas de oposto oficialmente à participação no Colégio e pronto! Ele expulsou 3 de seus então 8 deputados que contrariaram a orientação e decidiram votar em Tancredo: Beth Mendes, José Eudes e Airton Soares. Isto mesmo: expulsou, botou na rua, não quis mais saber, jogo-os aos leões. Foram tachados de “traidores”. Por quê? Porque, segundo os petistas, tudo não teria passado de uma tramóia para fazer a transição negociada. Tramóia? A emenda das Diretas tinha sido derrotada pelo Congresso.

Este é o PT. Construiu-se depredando reputações, dizendo um “não” sistemático a todas as tentativas honestas — as atrapalhadas e as boas, tanto fazia — de melhorar o Brasil que não estivessem sob o seu controle e sob o seu comando.

E vejam que coisa fabulosa: José Sarney, indicado pela Frente Liberal para ser o vice de Tancredo, acabou assumindo a Presidência. Os petistas lhe fizeram oposição ferrenha — num momento em que, vá lá, ele estava do lado que fazia avançar a democracia. O PT só se uniu a Sarney em 2002, quando ele estava de volta a seu nicho original, o coronelismo mais atrasado, ecoando o patrimonialismo mais primitivo.

Não foi só o Colégio Eleitoral que o PT sabotou não:
- tachou a Constituinte e a Constituição de tramóia das elites; o partido se negou a homologar o texto numa solenidade simbólica de adesão do Congresso á Carta Magna. Lula esteve entre os parlamentares constituintes mais relapsos. Dizia abertamente que aquilo não servia pra nada; que era a Casa dos 300 picaretas;
- quando Collor renunciou, e Itamar Franco assumiu a Presidência, o país chegara a uma espécie de grau zero da legalidade. O PT se negou a participar do governo porque as pesquisas indicavam que Lula era o favorito para sucedê-lo. Cumpria, pois, ficar na oposição, malhando o governo;
- o PT expulsou Luíza Erundina, que aceitou ser ministra do presidente Itamar Franco;
- o PT se opôs ferrenhamente ao Plano Real e sustentava que ele era contra os trabalhadores;
- o PT se opôs ao programa de reestruturação de bancos —  para o partido, nada além de mamata para banqueiros. O Proer é a base da solidez do sistema bancário brasileiro, que resistiu muito bem à crise global;
- o PT se opôs ao programa de reestruturação dos bancos estaduais, fonte permanente de desastres para os estados;
- o PT se opôs às privatizações, que retiraram o país da taba;
- o PT se opôs às reformas constitucionais, parte delas apresentada pelo próprio partido em 2003;
- o PT recorreu ao Supremo contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, que Palocci passou a considerar “inegociável ” e “intocável” só a partir de 1º de janeiro de 2003;
- hoje, o PT sabota o programa de reestruturação da educação e da saúde em São Paulo.

Volto a Tancredo
A homenagem a Tancredo, com 25 anos de atraso, é a expressão de um método, além de ser ato do mais rasteiro eleitoralismo. O partido, costumo dizer, instituiu o presente eterno na política. Pouco importa o que tenha feito, sempre estará a defender o seu ato mais recente, como se a história não existisse. Sim, partidos podem mudar de rumo. O Trabalhista, da Inglaterra, dizia-se marxista e socializante. Antes da ascensão de Tony Blair, houve por bem rever os seus conceitos. Não chegou a ser um mea-culpa. Foi uma revisão: “Estamos errados; não podemos mais pensar isso”. E mudaram seus estatutos e sua prática.

O PT não revê coisa nenhuma. Sua teoria é outra e já foi exemplarmente exposta por Lula. Trata-se, como ele revelou numa entrevista concedida ainda em 2003, da Teoria da Bravata. Ele acha normal que um partido defenda uma coisa quando está na oposição e o seu oposto quando está na situação.

Essa postura é de tal sorte escandalosa que, no debate sobre a reforma da Previdência que Lula decidiu fazer em 2003 (depois de tê-la atacado severamente no governo FHC), os deputados federais do partido defendiam a proposta para os servidores da Unhião, mas os deputados estaduais de São Paulo se opunham a texto idêntico para os funcionários do Estado. Afinal, o partido era governo no Brasil, mas era oposição em São Paulo.

Para ficar na zoologia dilmística, vemos agora a petista posar (Emir Sader escreveria “pousar”) de cordeiro no túmulo de Tancredo, embora o partido tenha sido o lobo de todos os que lutaram, antes dele, para fazer um país melhor.

CORROSÃO DO CARÁTER


O post abaixo dá conta da estupenda eficiência do governo Lula. Façam uma coisa: entrem no Google ou mesmo no arquivo do blog e procurem a associação de palavras “baianinho, Lula, Deus” (sem as aspas). Vocês vão ver quantas vezes “O Cara” chamou para si eventos positivos para o país, posando (Emir Sader escreveria “pousando”) como uma espécie de ungido. Segundo diz, Deus decidiu “ajudar aquele baianinho”. Vale dizer: Lula se coloca como uma espécie de intercessor entre o Altíssimo e os homens.

É freqüente ele associar a sua própria figura à do Cristo — sem o sacrifício, naturalmente. Lula quer mesmo é vida boa e mansa, nada de cruz. Por causa de 30 dias na cadeia — onde, felizmente, foi tratado de modo digno —, recebe uma pensão mensal de R$ 6 mil. Nota: no tempo em que passou preso, jamais deixou de receber salário. Mas volto.

As coisas boas são obras que Deus concedeu a Lula. E as más? Bem, aí é Deus irado com os homens, né? Especialmente com aqueles que moram em áreas de risco, de onde, segundo o presidente e o governador Sérgio Cabral, insistem em não sair.

Esses dois discursos, postos lado a lado, evidenciam uma abordagem asquerosa da política e da vida pública. É o que se chama “corrosão do caráter”.

O QUE DIZ O CARA E O QUE DIZEM OS NÚMEROS DO GOVERNO DO CARA


A tragédia do Rio seria chocante em qualquer tempo, claro. Um único morto por causa das chuvas já nos diminuiria. Nada menos de 105 mortes confirmadas e 56 desaparecidos num só dia são uma estupidez inaceitável no Rio, em São Paulo e em qualquer lugar. O desastre também desafia o entendimento porque mesmo aqueles que desconfiamos da propaganda oficial por dever de ofício nos deixamos contaminar bastante por ela. Mas não é o Rio, afinal, o grande canteiro de obras do tal PAC? Como pode?

Não, leitor! Nada de fazer tabula rasa: “É tudo mentira! Não há obra nenhuma! Eles estão nos enganando!” Há obras, sim. Não anunciam o paraíso, como faz crer a propaganda oficial. Também não respondem a urgências, que apelam a outras áreas do governo. Texto publicado no Estadão de hoje ilustra bem esse debate. Na prática, ele nos informa a diferença entre o que diz o cara e o que dizem alguns números do governo do cara. Querem ver?

Por Diego Zanchetta:
O Estado do Rio recebeu apenas 1% das verbas do Ministério da Integração Nacional destinadas ao Programa de Prevenção e Preparação para Desastres, em 2009, um ano antes de ser castigado pela chuva de ontem, a maior em 44 anos.

O valor transferido da União, R$ 1,6 milhão, não é suficiente para intervenções públicas relevantes. Um plano de remoção preventivo de cem barracos em área de risco em um morro custaria hoje pelo menos R$ 4 milhões, segundo autoridades da Defesa Civil do Rio.

O orçamento da União tinha no ano passado dotação de R$ 646,6 milhões para ser repassada a municípios com programas de combates a enchentes. Desse total, somente 22%, ou R$ 143,7 milhões, foram transferidos pelo governo federal aos Estados.

Apenas cinco prefeituras do Estado do Rio (Campos dos Goytacazes, Niterói, Angra dos Reis, Rio e Resende) foram contempladas.

Beneficiados. Na Bahia, terra do ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima (PMDB), que deixou na semana passada o cargo para concorrer ao governo estadual, 58 cidades receberam 48% das verbas do programa (R$ 69,4 milhões).

São Paulo e Rio, os dois Estados que contabilizam quase 200 mortos pelas chuvas desde setembro do ano passado, receberam R$ 6,6 milhões em verbas da União para prevenir desastres.

O dinheiro não é suficiente sequer para construir um piscinão. Cada reservatório da capital paulista custa, em média, R$ 30 milhões. Uma campanha educativa para as pessoas colocarem o lixo de casa na rua em horários predeterminados, por exemplo, custa R$ 5 milhões na cidade de São Paulo.

Em ofício encaminhado ao Tribunal de Contas da União (TCU), a organização não-governamental (ONG) Contas Abertas questiona os repasses maiores para municípios baianos. “Paralelamente, vimos que R$ 1,3 bilhão foi pago pela União aos Estados no programa de resposta aos desastres em 2009, ou seja, quase dez vezes mais do que os valores aplicados na prevenção, que seria a melhor solução para evitar as tragédias como a de ontem”, argumenta Gil Castelo Branco, coordenador da ONG.

O governo federal, por sua vez, argumenta que não houve favorecimento político na distribuição das verbas.

Pós-tragédia. Após as chuvas que atingiram Angra dos Reis no início deste ano, com 57 mortes, o Palácio do Planalto editou uma Medida Provisória para enviar em caráter emergencial cerca de R$ 130 milhões a cidades fluminenses afetadas pelas chuvas.

Ontem, as autoridades do Estado já falavam em pedir novo auxílio ao governo federal, mas evitaram críticas a Lula.

Encerro
Esses números não farão parte da propaganda oficial. 

PF prende um dos “aloprados” do PT, agora envolvido em nova tramóia


Dia desses, Alexandre Padrilha, o ministro das Relações Institucionais — esta pasta de nome fabuloso porque faz supor que o governo tenha também relações “não-institucionais” — , afirmou que o PT não tem receio do debate ético ou de seu passado. No entusiasmo, ele até soltou um “muito pelo contrário”. Ou seja: o partido, na verdade, tem é orgulho de tudo o que fez. Estaria a ação dos aloprados entre as práticas virtuosas que qualificam a legenda? Pois é… A tramóia dos petistas contra os tucanos, que reuniu um monte de figurões, todos do entorno de Lula, está até hoje sem explicação.

No auge da picaretagem, o partido ainda posou (Emir Sader escreveria “pousou”) de vítima e afirmou que a exibição das imagens da dinheirama ilegal apreendida era parte de uma conspiração para derrotar Lula nas eleições. Todo o subjornalismo de aluguel sustentou e sustenta a mesma coisa. Sigamos…

Impunes, os aloprados estão por aí. Um deles, Hamilton Lacerda, então braço direito de Aloizio Mercadante, virou até fazendeiro!!! Pois não é que um outro voltou a ser notícia e está preso de novo? Leiam:
*

Por Rodrigo Vargas, na Folha Online:
A Polícia Federal deflagrou hoje em Mato Grosso e outros quatro Estados uma operação para desmontar três esquemas de fraude em licitações e obras que podem ter desviado até R$ 200 milhões dos cofres públicos.

Ao todo, foram expedidos 76 mandados de busca e apreensão e 35 de prisão temporária –sendo 17 deles contra servidores públicos.

Um dos detidos é o ‘aloprado’ Valdebran Padilha, que é dono de uma empreiteira no interior de Mato Grosso. Valdebran ficou conhecido nacionalmente em 2006, quando foi detido pela PF num quarto de hotel com o então assessor da campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gedimar Passos. Na ocasião, eles disseram que se encontraram para negociar um dossiê contra tucanos.

Segundo a PF, as quadrilhas atuavam em núcleos independentes dentro de prefeituras e também na superintendência da Funasa (Fundação Nacional de Saúde).

As fraudes –que vão de obras de engenharia ao atendimento à saúde indígena– foram detectadas por auditorias da CGU (Controladoria Geral da União). Até o final desta manhã, 22 pessoas já haviam sido presas.

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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