“Eu escolho morrer”, diz dissidente cubano Guillermo Fariñas

Publicado em 06/04/2010 19:51
Por Rodrigo Craveiro, no Correio Braziliense



Ele já tem em mente os preparativos para sua despedida. Deseja que o ex-presidente polonês Lech Walesa deposite flores sobre sua tumba. Também quer que Willy Chirino, músico cubano exilado em Miami, visite seu túmulo e cante Ya viene llegando la libertad (Já vem chegando a liberdade). “Hoje, que meu povo vive iludido, eu me sinto inspirado, e um som estou cantando, anunciando a todos os meus irmãos que nosso dia já vem chegando”, afirma a letra da música. O jornalista e dissidente político Guillermo Fariñas Hernández, 49 anos, sabe que sua morte está próxima.

Depois do discurso desafiador do presidente Raúl Castro, no domingo, o homem que completou hoje 42 dias em greve de fome já não se apega à vida. Atende ao telefone, na unidade de terapia intensiva do Hospital Provincial Arnaldo Millian Castro (em Santa Clara, a 268km de Havana), com a voz ainda incrivelmente forte. “Minha morte já está decretada”, afirmou Fariñas ao Correio, por telefone.

Raúl Castro disse anteontem que não cederá jamais a chantagens, de nenhum país ou conjunto de nações. “Está se fazendo o possível para salvar sua vida (de Fariñas), mas se não mudar sua atitude autodestrutiva, será responsável, junto com seus patrocinadores, pelo desenlace que tampouco desejamos”, declarou o presidente. Guillermo Fariñas anunciou que não mais fará qualquer contato com autoridades cubanas e mandou novo recado ao presidente brasileiro: “Se eu morrer, meu sangue também manchará as mãos de Lula”.

O presidente Raúl Castro afirmou que não cederá a chantagens de outros governos e que tem feito o possível para salvar sua vida. Como vê esse discurso?
Nós vemos essa declaração como ela é: um assassinato de Estado. Trata-se do próprio presidente dizendo que vai matar um cidadão que se opõe politicamente a ele. Depois do discurso de Raúl Castro, já não há nada a falar com as autoridades. Já decretaram minha morte e eu vou morrer. A partir desse momento, eu decidi não ter qualquer tipo de contato com autoridades políticas.

Quais são suas condições de saúde hoje?

Neste momento, tenho a pressão arterial em 100 por 60. Não temos febre, como tivemos na semana passada. Parece que a infecção foi debelada. Agora estamos enfrentando a hipoglicemia. Todavia, os médicos ainda não sabem explicar o porquê. Temos queda do nível de açúcar no sangue e suamos muito. Seguimos com a alimentação intravenosa. Completei ontem (domingo) 40 dias de greve de fome.

O senhor acredita que conseguirá resistir por muito tempo? Está com medo de morrer?

Como? Minha morte já está decretada pelo presidente da República. A única possibilidade dada pelo presidente da República é que eu me renda ou que eu morra. Eu escolho morrer.

Como vê o gesto de cubanos que iniciaram greve de fome, em solidariedade ao senhor?
Se estão começando a fazer greve de fome, têm nosso apoio. É uma causa comum, em resposta ao assassinato de Orlando Zapata Tamayo. Estamos demandando que ponham em liberdade os presos políticos mais doentes.

O Departamento de Estado americano alertou que o governo de Cuba tem “responsabilidades fundamentais” pelas condições de seus presos…
Alguém que assume o governo de um país é responsável por seus cidadãos. O governo de Raúl Castro se responsabiliza por tudo o que ocorrer com um grupo de cidadãos e por Orlando Zapata Tamayo, que foi assassinado. O governo cubano não cumpre com as normas mínimas de tratamento aos presos. Há uma ação coordenada das nações e dos parlamentos de governos democraticamente eleitos pressionando Cuba. Eles desejam que o caso de Zapata seja levado ao Conselho de Segurança da ONU como crime de lesa humanidade.

O presidente Lula mantém-se em silêncio diante de seu protesto. O que pensa sobre isso?
Lula tem as mãos manchadas de sangue, assim como Raúl Castro, pela morte de Orlando Zapata Tamayo. Se eu morrer, meu sangue também manchará as mãos de Lula. Isso o tempo é que vai mostrar… A cumplicidade…

Caso o senhor morra, pensa em receber que homenagens?
Sou admirador do ex-presidente Lech Walesa. Quando Cuba se tornar livre, quero ter garantias de que ele coloque flores sobre minha tumba. Peço ao músico cubano-americano Willy Chirino que, quando ele puder vir a Cuba, cante sobre meu túmulo a música Ya viene llegando la libertad.


A CANDIDATA DO PT É DIL-MA/DIL-MA”, E NÃO “LU-LA/LU-LA”

A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, não vai recorrer ao terrorismo na campanha eleitoral. De jeito nenhum! Ela só afirmou ontem que, caso a oposição vença as eleições, “vai acabar com tudo”: com o PAC (como acabar com o que não existe?), com o Bolsa Família e com o que houver de bom no Brasil. Mas ela promete não “baixar o nível”. Isso nunca!!!

Dilma decidiu fazer uma parceria com Esopo, recorrendo à zoologia para tentar extrair uma espécie sentido moral do jogo político. Em altíssimo nível, afirmou ela em visita ao Paraná, onde recebeu o apoio do mui ideológico PR (Partido da República), aquele do mensaleiro Valdemar Costa Neto: “[as oposições] são lobos em pele de cordeiro, fáceis de identificar. Muitas vezes, as mãozinhas de lobo aparecem debaixo da pele. Num dia, dizem que vão continuar o trabalho do presidente Lula; no outro, mostram as patinhas de lobo e aí ameaçam acabar com tudo”.

Nível elevadíssimo!

A fala, como se nota, é meio atrapalhada. Dilma é ainda neófita nesse terreno das metáforas. Não consegue criá-las com a naturalidade de um Lula, que não apela a nenhuma tentativa de sofisticação, como faz a sua “criatura eleitoral”. Ele teria recorrido a algo mais direto, corrente nas ruas. Lula ser quem é ajuda, claro, a popularizar uma candidatura. Mas também atrapalha um tanto. Ele é um fenômeno irrepetível. Tentar mimetizá-lo deixa sempre um rastro de ridículo. O presidente tem ao menos a memória real de como é o povo. Dilma o conhece dos manuais — alguns bem pouco recomendáveis, daí esse vôo ainda desajeitado. Vai encontrar o tom? Vamos ver.

Como vocês podem ver posts abaixo, um partido milionário chamado PT contratou nada menos do que a turma que cuidou da campanha de Obama na Internet. Não se sabe a que preço. Barato não foi. A tropa já está na ativa. E tudo isso por quê? Dilma deu uma resposta no Paraná: “Estamos juntos na luta para não deixar que aqueles que sempre governaram o país para os ricos voltem para excluir os pobres”.Ela não estava se referindo a aliados seus como os ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor ou o deputado Paulo Maluf (PP). Não! O inimigo do povo, no caso, era Serra. Dilma quer governar para os pobres com notórios “pobrófilos” como Renan Calheiros.

Elevação de tom
Por que essa elevação de tom? Porque, até agora, a despeito de certos setores da imprensa insistirem na polarização inexistente - FHC X Lula -, Serra não caiu na cilada de confrontar quem não vai disputar as eleições. E não cometeu o erro de ficar debatendo miudezas ou grandezas sobre o… passado!

O PT está irritado porque Serra está se candidatando a governar o Brasil do futuro, e Dilma, até agora, é candidata a governar a biografia — e a mitologia — de Lula. É como se a existência de um candidato de oposição fosse uma ofensa pessoal ao presidente. Daí ela ter insistido:“Muito antes de eles poderem encenar o enredo do pós-Lula, eles são e sempre foram anti-Lula”.

Errado! Em muitos aspectos, o governo Lula é que “anti-Lula”, já que boa parte das escolhas que fez estava na categoria dos anátemas do lulismo. Em muitos aspectos, caso Serra prometesse a continuidade, estaria apenas tomando de volta o software que os petistas roubaram dos tucanos. E o ex-ministro Antonio Palocci, um dos coordenadores da campanha de Dilma, sabe disso melhor do que ninguém.

Assim, há um movimento curioso em curso. Dilma não tem biografia para contrastar com a de Serra. Não sou eu a sustentar isso, mas os próprios petistas. Quem deixou isso claro, ainda que por meio de palavras oblíquas, foi a própria candidata naquele seu discurso de despedida de impressionante subserviência. A principal tarefa do PT é tentar esconder a trajetória política do adversário, maculá-la se possível — com a colaboração das Bebéis da vida e da rede suja da Internet — para que o confronto se dê entre dois mitos criados pelo PT: FHC e Lula. Um, evidentemente, apresentado como o demiurgo, e o outro, como o ogro. Parte da imprensa faz esse jogo.

O PT pretende esconder o óbvio: se eleita, quem vai governar é Dilma, não Lula. O presidencialismo brasileiro é forte e centralizador o bastante para impedir que ela seja mera funcionária do antecessor.  Dilma é a candidata, como deixaram claro os arruaceiros que tentaram provocar a polícia na semana passada. A candidata do PT é “Dil-ma/ Dil-ma”; não é “Lu-la/ Lu-la”.

Para encerrar: a petista responsabilizou ontem o “ministro do Planejamento” José Serra pela crise de energia de 2001. Ele foi titular do pasta entre janeiro de 1995 e maio de 1996…

DESCOBRIRAM QUE O RODOANEL É BOM, ACREDITEM!!! E O ESPECIALISTA QUE TALVEZ NÃO ARRUME A CAMA DE MANHÃ…


Vocês podem não acreditar, mas é verdade. A Folha de S. Paulo publicou hoje uma reportagem que se pode dizer, digamos, QUASE “positiva” sobre o Rodoanel.  E, porque positiva, não se toca no governo do Estado, naturalmente. Caso faltasse um placa  —ou o jornalista achasse que um placa iria bem em algum lugar —, imediatamente haveria a explicação: “A obra foi inaugurada pelo então governador José Serra…”

Informa a reportagem:
“A abertura do trecho sul do Rodoanel aliviou o trânsito de caminhões na avenida dos Bandeirantes, rota de motoristas rumo ao sistema Imigrantes/ Anchieta e ao porto de Santos. (…) A Folha constatou redução de 43% na Bandeirantes, entre as 16h e as 17h, horário que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) considera de pico. Ontem, circularam 816 caminhões [em uma hora] nos dois sentidos -Imigrantes e marginal Pinheiros. Duas semanas atrás, também uma segunda-feira (22 de março), foram 1.427. A medição ocorreu com um contador cedido pelo Datafolha.”

Ufa! Desde a inauguração deste trecho do Rodoanel, a minha impressão é que tinha sido a pior coisa jamais feita pelo então governador José Serra… Não acreditem em mim: pesquisem os arquivos dos jornais na Internet.

Mas vocês sabem: jornalismo tem de ser crítico, pluralista, apartidário etc e tal. Contrariando o então deputado Thales Ramalho, que dizia que “ninguém é a favor da paralisia infantil”, hoje em dia, é preciso encontrar, metaforicamente falando, as pessoas “favoráveis” à paralisia infantil…

Não dá para dizer que o Rodoanel é uma coisa boa sem ouvir um crítico, né? E a Folha encontrou o economista Ciro Biderman, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), para dizer, acreditem, que o efeito é temporário porque a frota de carros vai aumentar, e, um dia, o benefício desaparece.

Biderman dá plantão para atacar políticas públicas do governo do Estado.  Ele se coloca como um estudioso contra os carros. Até aí, vá lá… Precisamos incentivar o transporte público — como, aliás, se tem feito, e a expansão do Metrô é evidência disso —, mas, no caso do Rodoanel, a questão é outra, não? Ele foi feito basicamente para retirar uma parcela dos caminhões do centro da cidade. Vai vencer um dia? Pois é… Cidades precisam de constantes intervenções urbanas. Até que o transporte público não atenda a todas as necessidades dos cidadãos, será preciso oferecer infra-estrutura urbana compatível com a demanda.

Ou Biderman é do tipo que não arruma a cama ao acordar porque, afinal, ela terá de ser desarrumada quando ele for dormir? O desafio dos governos é justamente cuidar da expansão do transporte público, mas também melhorar a qualidade de vida dos cidadãos que vivem os efeitos das decisões econômicas, políticas e urbanas que vão sendo tomadas ao longo do tempo. É quase como uma zeladoria. Você limpa alguma coisa sabendo que a limpeza, de certo modo, é inútil. Vão sujar de novo…

A politização vagabunda do debate em São Paulo tomou tal dimensão que um debate de boçalidade idêntica foi feito no caso das nova pista da Marginal Tietê.  Os “especialistas” gritaram: “Oh, estão privilegiando os carros!” Muito bem! E o que fazer enquanto os carros estão aí? Deixar que as pessoas apodreçam nos congestionamentos? Trata-se de um debate intelectualmente vigarista.

A perspectiva é outra: o investimento no transporte público está sendo feito? Está. Ele diz respeito ao futuro. No presente, é preciso minorar as dificuldades dos homens… presentes!!! É básico, é elementar, mas tem de ser dito.

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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