Um Aiatolá do Petismo ataca Kátia Abreu (e a entrevista de Lula)

Publicado em 19/02/2010 17:14 e atualizado em 22/02/2010 12:36
A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) já tinha muitas razões para se orgulhar de seu mandato. Agora tem mais uma. Foi covardemente atacada por um aiatolá do petismo, o soi-disant jurista Dalmo de Abreu Dallari. O artigo do bruto foi  publicado no JB, e lá poderia continuar, quase ignorado. Mas decidi lhe dar visibilidade. Porque acho que se trata de uma guerra que vale a pena ser travada.

O pretexto para a baba esquerdopata de Dallari foi o convênio firmado entre a CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil) e o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em favor da segurança jurídica no campo. Vejam que coisa absurda, não!? Um órgão que representa um setor da economia — o único que produz os superávits que permitem a Dallari e a seu genro, Eduardo Suplicy, cantar as glórias de Lula  — firma um convênio com um órgão do Judiciário para garantir a… segurança jurídica!!! Onde já se viu um escândalo desse? Decente é sair por aí invadindo terras, incendiando casas, depredando laboratórios, como faz o MST, aliado da turma do suposto “jurista”.

No artigo, Dallari larga o braço no CNJ, uma forma, para quem conhece o riscado, de atacar o ministro Gilmar Mendes. Mendes tem a péssima mania de indagar: “Mas o que diz a lei?” Petista sempre acha que cumprir a lei é um ato de sabotagem contra os “oprimidos” que ele diz representar. Por isso Lula, conforme lembro  num post abaixo, já chegou a mudar uma lei só para permitir que a Oi comprasse a Brasil Telecom. O oprimido, no caso, era Sérgio Andrade, um dos donos da Oi e da empreiteira Andrade Gutierrez e maior financiador individual de suas campanhas eleitorais. A Oi (ex-telemar) também foi a empresa que injetou R$ 10 milhões na Gamecorp, a empresa do gênio Lulinha. Mas já me desviei. É que essa proteção dos petistas aos oprimidos sempre me encanta e me leva a devaneios poéticos.

No artigo, Dallari avança contra Kátia Abreu com incrível brutalidade. Leiam. Volto em seguida:
Na realidade, a senadora Kátia Abreu é lobista notória, usando as prerrogativas do mandato de senadora para a proteção e o benefício do agronegócio, o que ficou bem evidenciado quando, em companhia de três senadores, ela saiu de Brasília e foi ao estado do Pará com o objetivo exclusivo de impedir a continuação dos trabalhos do Grupo Móvel de Fiscalização do Trabalho Escravo que apurava denúncias da prática da escravidão em unidades do agronegócio situadas naquele estado. Assim, também, tem sido noticiada com grande ênfase sua intensa atividade visando impedir a imposição legal de índices razoáveis de produtividade para as unidades rurais, bem como a proibição do desmatamento irracional em prejuízo do meio ambiente. E jamais se teve notícia de qualquer palavra ou iniciativa da nobre senadora condenando o uso do trabalho escravo ou o desmatamento criminoso. Essa é a personagem que, junto com o ministro Gilmar Mendes, vai cuidar da segurança jurídica no campo.
Coincidentemente, nos Estados Unidos acaba de ser feita uma grave denúncia de corrupção, noticiando-se que um membro da Câmara de Representantes, Billy Tauzin, era lobista da indústria farmacêutica enquanto exercia o mandato, o que é proibido pelo Código de Ética do Legislativo. Por causa da denúncia e optando pelo que lhe traz maior proveito, ele desistiu do mandato para assumir a presidência da Pharma, instituição privada que comanda o lobby dos laboratórios. Será ética a acumulação do mandato de senadora com a presidência da Confederação Nacional da Agricultura ? Ao lado dessa questão, está presente e merece veemente condenação a corrupção institucional que se configura pela aliança de duas instituições, para agir contra disposições expressas da Constituição e em prejuízo do povo brasileiro.

Comento
Vai acima um conjunto de boçalidades e de preconceitos: contra o agronegócio, contra a atividade parlamentar e, o que não me surpreende neste caso em particular, CONTRA AS MULHERES. Isto mesm: o artigo de Dallari é escandalosamente misógino.

É mentira que os senadores tenham ido ao Pará tentar impedir qualquer fiscalização. Quem conhece o trabalho da CNA e de Kátia Abreu sabe que ela já disse mais de uma vez que não tem nenhum compromisso com proprietários que não sigam as leis trabalhistas.  Não se limita a dizer. Age assim. Desafio Dallari a provar o contrário. A Confederação tem hoje uma meta: desmatamento zero, mas está empenhada em proteger, sim, a agricultura e a pecuária dos ecologistas do miolo mole, que devem imaginar, como já escrevi aqui, que arroz, feijão, milho ou carne brotam nas prateleiras do Pão-de-Açúcar e do Carrefour…

Estudo de pesquisadores da Embrapa, que Dallari ignora ou finge ignorar, prova que, a se fazer tudo o que querem os que se intitulam “ecologistas”, sobrará 27% do território nacional para a produção de comida, para as obras de infra-estrutura e para as cidades. Alimentaremos o povo com a luz emanada da cachola do aiatolá do petismo Dalmo de Abreu Dallari.

Quanto à questão do lobby, a tese é vigarista e preconceituosa. Nunca li nenhum texto de Dallari atacando o deputado Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria desde 2002. Deve disputar o Senado pelo PTB. Antes, presidira a Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco por 12 anos. Sempre num partido aliado ao governo federal. Os pecados de Kátia Abreu, assim, são dois: é mulher liderando uma entidade e é de oposição.

Mas eu ainda não disse tudo. Quantos são os sindicalistas ligados ao PT ou a partidos aliados que estão na Câmara e no Senado? Não é o próprio presidente da República expressão de uma organização sindical? O Executivo está coalhado de representantes da CUT, que constitui, ela sim, o núcleo duro do governo Lula. E não se ouve, naturalmente, um pio de Dallari.

Sim, eu o brindarei com aquela descompostura passada pelo poeta Antero de Quental num adversário. Então é Reinaldão falando para Dallari:
Levanto-me quando os cabelos brancos de V. Exa. passam diante de mim. Mas o travesso cérebro que está debaixo e as garridas e pequeninas coisas que saem dele, confesso, não me merecem nem admiração nem respeito nem ainda estima. A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V.Exa. precisa menos cinquenta anos de idade ou, então, mais cinquenta de reflexão. É por esses motivos todos que lamento do fundo da alma não me poder confessar, como desejava, de V.Exa. nem admirador nem respeitador”.

É isto: é a futilidade, além do ranço ideológico e, suspeito, da misoginia, que leva Dallari a dirigir tal ataque a Kátia Abreu. Mas eu considero que a senadora está diante de um fato auspicioso. Ela realmente começou a incomodar. E se tornará, é bom se cuidar, alvo de ataques permanentes. Como, até agora, não vi ninguém vencê-la no argumento, restam o xingamento e a desqualificação, a exemplo de agressões já desferidas por Carlos Minc, aquele ministro que rebola no palco em homenagem a Jah, o deus dos regueiros (ou algo assim; não sei direito porque não me oriento por sinais de fumaça). O que entende Dallari de agricultura? Não saberia, perigosamente, distinguir um nabo de um rabanete. Mas de patrulha ideológica, ah, disso ele entende!

Essa gente não ataca quem não incomoda. E, definitivamente, Kátia Abreu incomoda os aiatolás do suposto “progressismo”. Eis a boa notícia! E eles tentarão de tudo para desconstruí-la. A esquerda só prospera, e a entrevista de Lula ao Estadão o prova, fazendo o jogo sujo, chamando de crimes as virtudes alheias e de virtudes os seus próprios crimes.

LULA E SEUS DITADORES E FACÍNORAS

E destaco o último momento iluminado da entrevista concedida por Lula a Vera Rosa, Tânia Monteiro, Rui Nogueira, João Bosco Rabello e Ricardo Gandour:

Por que é que o seu governo intercede em favor do governo do Irã?
Porque eu acho que essa coisa está mal resolvida. E o Irã não é o Iraque e todos nós sabemos que a guerra do Iraque foi uma mentira montada em cima de um país que não tinha as armas químicas que diziam que ele tinha. A gente se esqueceu que o cara que fiscalizava as armas químicas era um brasileiro, o embaixador Maurício Bustani, que foi decapitado a pedido do governo americano, para que não dissesse que não havia armas químicas no Iraque.
O sr. continua achando que a Venezuela é uma democracia?
Eu acho que a Venezuela é uma democracia.
E o seu governo aqui é o quê?
É uma hiper-democracia. O meu governo é a essência da democracia.

Comento
Comentar o quê?

LULA PASSA A MÃO NA CABEÇA DE SEUS CORRUPTOS; CRIMINOSOS SÃO OS OUTROS

Desde que estourou o caso do mensalão do Arruda, o que afirma este blog na pessoa deste escriba? Que fique preso! Que, politicamente, vá para o diabo que o carregue. Mas jamais deixei de indagar onde estão os mensaleiros do PT. E não vou parar. Leiam no trecho abaixo como Lula trata a corrupção de seus próprios aliados:

O governo depende do Sarney no Senado? O único punido até agora foi o Estado, que está sob censura.
O Sarney foi um homem de uma postura muito digna em todo esse episódio. Das acusações que vocês (o jornal) fizeram contra o Sarney, nenhuma se sustenta juridicamente e o tempo vai provar. O exercício da democracia não permite que a verdade seja absoluta para um lado e toda negativa para o outro lado. Perguntam: você é contra a censura? Eu nasci na política brigando contra a censura. Exerço um governo em que eu duvido que alguém tenha algum resquício de censura. Mas eu não posso censurar que os Poderes exerçam suas funções. Eu não posso censurar a imprensa por exercer a sua função de publicar as coisas, nem posso censurar um tribunal ou uma Justiça por dar uma decisão contrária. Deve ter instância superior, deve ter um órgão para recorrer.
O sr. e o PT lideraram o processo de impeachment de Collor e nada, então, se sustentou juridicamente porque o STF absolveu o ex-presidente. O sr. está dizendo que o jornal não deveria publicar as notícias porque não se sustentariam juridicamente? Os jornais publicam fatos…
Não quero que vocês deixem de publicar nada. Minha crítica é esta: uma coisa é publicar a informação, outra coisa é prejulgar. Muitas vezes as pessoas são prejulgadas. Todos os casos que eu vi do Sarney, de emprego para a neta, daquela coisa, eu ficava lendo e a gente percebia que eram coisas muito frágeis. Você vai tirar um presidente do Senado porque a neta dele ligou para ele pedindo um emprego?
O caso da neta é o corporativismo, o fisiologismo, os atos secretos…
O que eu acho é o seguinte: o DEM governou aquela Casa durante 14 anos e a maioria dos atos secretos era deles. E eles esconderam isso para pedir investigação do outro lado. É uma coisa inusitada na política.
O sr. acha que os fatos do “mensalão do DEM”, no Distrito Federal, são fatos inverídicos também?
No DEM tem um agravante: tem gravação, chegaram a gravar gente cheirando dinheiro.
No mensalão do PT tinha uma lista na porta do banco com o registro dos políticos indo pegar a mesada…
Vamos pegar aquela denúncia contra o companheiro Silas Rondeau, que foi ministro das Minas e Energia. De onde se sustenta aquela reportagem dizendo que tinha dinheiro dentro daquele envelope? Como se pode condenar um cara por uma coisa que não era possível provar?
O sr. tem dito, em conversas reservadas, que quando terminar o governo, vai passar a limpo a história do mensalão. O que o sr. quer dizer?
Não é que vou passar a limpo, é que eu acho que tem coisa que tem de investigar. E eu quero investigar. Eu só não vou fazer isso enquanto eu for presidente da República. Mas, quando eu deixar a Presidência, eu quero saber de algumas coisas que eu não sei e que me pareceram muito estranhas ao longo do todo o processo.
Quem o traiu?
Quando eu deixar a Presidência, eu posso falar.

Comento
A decisão não foi de Lula, é certo, mas é importante notar que o Estadão foi impedido de publicar uma reportagem, num caso escandaloso de censura prévia. Como saber se a matéria era passível de ação judicial se ela nem chegou a existir? É coisa de estado totalitário. Mas isso parece bem a Lula porque ele já decretou a inocência de Sarney. Afinal, como escrevi num dos posts abaixo, o velho senador passou pelo batismo…

Notem que a pergunta sobre o comportamento do PT no Collorgate não foi respondida. Para Lula, corrupção comprovada é a dos ex-filiados ao DEM. Afinal, existem as fitas. A lista de petistas e apaniguados —  que ficava na porta dos bancos Rural e BMG —  que iam pegar o mensalão (muito bem lembrada pelos entrevistadores) não é prova. As evidências de que Marcos Valério movimentou mais de R$ 50 milhões de dinheiro clandestino para o PT também não são prova; a confissão de Duda Mendonça de que recebeu US$ 10 milhões, no exterior, sem registro, para fazer a campanha de Lula em 2002 não é prova; a confissão de Roberto Jefferson de que seu partido recebeu do PT R$ 5 milhões de dinheiro não-registrado não é prova…

E, a gente percebe, Lula está empenhado em duas coisas: 1) provar que o mensalão não existiu; 2) provar que o que quer que tenha havido não passou de uma conspiração de adversários ou de uma “traição”. O partido mesmo não teria nada a ver com aquilo, embora esteja documentado que as duas autoridades máximas da legenda (depois de Lula) estavam comprometidas com a lambança até o talo: José Genoino, então presidente da legenda, e José Dirceu, então chefe da Casa Civil. E o pivô da crise foi Delúbio Soares, o companheiro de Lula de todas as horas, que já estava, segundo César Benjamin, fazendo lambança no FAT em favor do PT em… 1994!!! A questão sobre a lista de mensaleiros também foi ignorada por Lula.

Eis aí o que mais repudio nessa gente: crimes são só aqueles cometidos pelos outros. Eles serão sempre exemplos de virtude, pouco importa o que façpam. Aí um petralhaotário (é o cara que é petralha porque é otário; é petralha de graça…) poderia indagar: “Mas não é assim com todo mundo?” Será?

O partido que Lula cita ligado à corrupção expulsou todos os seus representantes envolvidos em falcatruas. Todos! Os petistas pegos com a boca na botija estão é no poder. E Lula agora alimenta a fantasia de que tudo não passou de uma trama para derrubá-lo. O documento do PT que serve de base para seu congresso sustenta que o mensalão foi só uma ação golpista das oposições.

Sei que alguns acham exagerado, mas não estou nem aí: repudio essa gente porque a considero uma expressão do mal essencial. E o mal essencial consiste, em qualquer tempo, no vício se fingindo de virtude. No universo simbólico, para os que querem deixar a religião de lado, eis uma boa definição do demônio.

ESTATISMO: QUEM CRIA DIFICULDADES VENDE FACILIDADES

Leiam o que segue. Comento depois:
Por que é preciso ressuscitar empresas estatais para fazer programas como a universalização da banda larga? O governo toca o Luz Para Todos com uma política pública que contrata serviços junto às distribuidoras e não ressuscita a Eletrobrás.
Mas nós estamos ressuscitando a Eletrobrás. O Luz Para Todos só deu certo porque o Estado assumiu. As empresas privadas executam sob a supervisão do governo, que é quem paga.
Não pode fazer a mesma coisa com a banda larga?
Pode. Não temos nenhum problema com a empresa privada que cumpre as metas. Mas tem empresa privada que faz menos do que deveria. Então, eu quero, sim, criar uma megaempresa de energia no País. Quero empresa que seja multinacional, que tenha capacidade de assumir empréstimos lá fora, de fazer obras lá fora e fazer aqui dentro. Se a gente não tiver uma empresa que tenha cacife de dizer “se vocês não forem, eu vou”, a gente fica refém das manipulações das poucas empresas que querem disputar o mercado. Então, nós queremos uma Eletrobrás forte, para construir parceria com outras empresas. Não queremos ser donos de nada.
A banda larga precisa de uma Telebrás?
Se as empresas privadas que estão no mercado puderem oferecer banda larga de qualidade nos lugares mais longínquos, a preço acessível, por que não?
Mas precisa de uma Telebrás?
Depende. O governo só vai conseguir fazer uma proposta para a sociedade se tiver um instrumento. Não quero uma nova Telebrás com 3 ou 4 mil funcionários. Quero uma empresa enxuta, que possa propor projetos para o governo. Nosso programa está quase fechado, mais uns 15 dias e posso dizer que tenho um programa de banda larga. Vou chamar todos e quero saber quem vai colocar a última milha ao preço mais baixo. Quem fizer, ganha; quem não fizer, tá fora. Para isso o Estado tem de ter capacidade de barganhar.

Comento
Sabem quais são os países que lideram o ranking da corrupção? Justamente aqueles em que é mais forte a presença do estado na economia — vale para a Ásia, a África, a Europa, as Américas… A razão é escandalosamente óbvia: o agente público se torna fonte de criação de dificuldades e facilidades. Uma simples política tributária muito dura, amenizada por desonerações pontuais, torna-se fonte de corrupção quando menos moral: uma campanha publicitária para vender motocicletas, calculem, canta as glórias de Guido Mantega por causa da desoneração do IPI. Se a caraga tributária como um todo fosse mais baixa, não assitiríamos a tal absurdo.

Volto ao estatismo. O sistema brasileiro de regulação é tecnicamente impecável. Sua execução política é que é vagabunda. Se as empresas concessionárias de telefonia, por exemplo, não estão cumprindo contratos e metas, que sejam punidas. Existem instrumentos para isso, não? Por essa razão, as agências reguladoras foram criadas para funcionar com independência. Quem as transformou num braço partidário e governamental foi o PT, foi Lula.

Este senhor que fala de boca cheia sobre a necessidade da Telebras foi um verdadeiro pai para ao menos um pedaço da telefonia. Ou não foi Lula quem mudou uma lei só para adequar a legislação aos negócios, só para legalizar a compra da Brasil Telecom pela Oi? Atenção: a compra, então ilegal, se deu com apoio do BNDES!!!

O “estado forte” à moda petista se traduz, como o demonstrado, na criação de dificuldades para oferecer facilidades. E sempre servirá de abrigo ao apparatchik petista. Quanto à nova “Telebras” propriamente, insisto que sinto de longe o cheiro de algo podre. Cedo ou tarde, saberemos o que é. E, mais uma vez, ficará demonstrado o jeito petista de governar.

O VIÉS TOTALITÁRIO SOB A APARÊNCIA DE LÍDER MODERNO

Lula, hoje em dia, anda de braços dados com Fernando Collor pra lá e pra cá. É GRATIDÃO!!! Nas respostas abaixo, ele demonstra por que o presidente impichado fez, vejam só!, um bem ao país e, certamente, ao próprio Lula. Todos aqueles que se mobilizaram contra a eleição do PT em 1989 estavam certos. É quem diz isso é ninguém menos do que… Lula! Leiam. Volto em seguida. Para mim, aí está o trecho mais importante da entrevista porque ele revela um projeto de poder. Totalitário, é claro!

A experiência de poder distanciou o sr. do pensamento mais utópico do PT, não? Veja, o PT que chegou ao poder comigo, em 2002, não era mais o PT de 1980, de 1982.
Não era porque houve a Carta ao Povo Brasileiro…
Não é verdade. Num Congresso do PT aparecem 20 teses. Tem gosto para todo mundo. É que nem uma feira de produtos ideológicos. As pessoas compram o que querem e vendem o que querem. O PT, quando chegou à Presidência, tinha aprendido com dezenas de prefeituras, já tínhamos as experiências do governo do Acre, do Rio Grande do Sul, de Mato Grosso do Sul… O PT que chegou ao governo foi o PT maduro. De vez em quando, acho que foi obra de Deus não permitir que eu ganhasse em 1989. Se eu chego em 1989 com a cabeça do jeito que eu pensava, ou eu tinha feito uma revolução no País ou tinha caído no dia seguinte. Acho que Deus disse assim: “Olha, baixinho, você vai perder várias eleições, mas, quando chegar, vai chegar sabendo o que é tango, samba, bolero.” O PCI italiano passou três décadas sendo o maior partido comunista do mundo ocidental, mas não passava de 30%. Eu não tinha vocação para isso. E onde eu fui encontrar (a solução)? Na Carta ao Povo Brasileiro e no Zé Alencar. Essa mistura de um sindicalista com um grande empresário e um documento que fosse factível e compreensível pela esquerda e pela direita, pelos ricos e pelos pobres, é que garantiu a minha chegada à Presidência.

Comento
Já escrevi aqui algumas dezenas de vezes que a grande sorte do PT e do Brasil foi Lula ter perdido as eleições em 1989, 1994 e 1998. A rataiada, naturalmente, protestou. Nesse particular, como se nota, o próprio derrotado de antes concorda comigo.

Se o próprio Lula confessa que ou faria a revolução ou seria derrubado, ao menos isto devemos a Fernando Collor: livrou o Brasil desse perigo. As falcatruas do “caçador de marajás”, como já se sabe hoje, eram coisa de amador perto do que o PT poderia, então, ter feito — e, num outro plano, efetivamente fez a partir de 2003. E também é o caso de saudar FHC de novo. Mais do que Collor, é óbvio, foi o tucano que se encarregou de INVIABILIZAR O PT. Foi o tucano que fez o Brasil se acostumar à estabilidade da economia e às regras da democracia. FHC MATOU O PT NA FORMA COMO O PT NASCEU. Para chegar ao poder, o partido teve de se ajoelhar no milho e fazer a sua “cartinha”.

MAS DEVEMOS TOMAR CUIDADO PARA NÃO CAIR NO EQUÍVOCO de considerar que o partido se converteu plenamente à democracia! Mentira! Ele se converteu às conveniências da economia de mercado — que os petistas pretendem cada vez mais dependente do estado; do capitalismo de estado —, mas não perdeu sua essência totalitária em política, aquela mesma de 1980, 1982, 1984, 1989… Ainda se organiza para ser o partido único, ainda pretende substituir a sociedade pelo ente de razão, ainda tem uma visão aparelhista da administração do estado, ainda é intolerante com pluralidade de pensamento… Nada disso mudou!

Do socialismo na forma como o partido o defendia até 1989, restou o apreço pela ditadura do partido único, nunca explicitado com essa clareza, mas objetivo jamais abandonado.  A diferença é que, há 20 ou 30 anos, o partido se imaginava como um coletivo de trabalhadores. Hoje, conhece as “virtudes” do conceito gramsciano de “hegemonia”. Desde que seja o “Moderno Príncipe” a funcionar como o ente que detém a sabedoria para determinar os destinos da nação, todos podem ser petistas: o grande industrial e o operário; o bancário e o banqueiro; o comerciante e o comerciário…

E quem estiver fora do partido, do “novo imperativo categórico”, está na contramão de uma suposta linha evolutiva da história — e é, pois, um reacionário. Uma vez subordinado ao projeto, passa a ser um progressista. Num outro post, vocês verão o que Lula diz sobre José Sarney. Mais uma vez, faz a defesa incondicional do aliado. A adesão do velho coronel ao projeto do partido tem o valor de um batismo. Está absolvido dos “pecados” passados e se torna um apóstolo.

Na leitura de Lula, seu partido é um organismo que foi evoluindo com o tempo. E que fez o que tinha de fazer na hora certa. Não custa lembrar que uma das ações sistemáticas do PT foi sabotar sucessivos governos. Não perdoou a própria transição para a democracia: expulsou os deputados que votaram em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral; negou-se a homologar a Constituição afirmando que ela era contra os trabalhadores; opôs-se ao Plano Cruzado; opôs-se ao Plano Real; expulsou Erundina porque ela decidiu ser ministra de Itamar Franco; recorreu ao STF contra a Lei de Responsabilidade Fiscal; chamou o Proer de plano para banqueiros; malhava o superávit primário como imposição do FMI;  chutou o traseiro, literalmente, de investidores nos leilões de privatização; chamou os programas de transferência de renda de esmola para desmobilizar os trabalhyadores; combateu ferozmente as reformas econômicas que deram a base para o Brasil enfrentar a crise… Tudo isso, para Lula, fez parte de seu aprendizado pessoal e do processo de amadurecimento do seu partido. O Brasil que se danasse!

ELE NÃO GOSTAVA DE REELEIÇÃO; AGORA GOSTA. OU: SURFANDO NO SOFRIMENTO DOS PAULISTAS

O trecho abaixo revela, como poucos, o jeito Lula de pensar e de fazer política:

O sr. não pensa mesmo em voltar à Presidência?
Não penso. Quem foi eleito presidente tem o direito legítimo de ser candidato à reeleição. Ponto pacífico. Essa é a prioridade número 1.
O sr. não vai defender a mudança dessa regra, de fim da reeleição com mandato de cinco anos?
Não vou porque quando quis defender ninguém quis. Eu fui defensor da idéia de cinco anos sem reeleição. Hoje, com a minha experiência de presidente, eu queria dizer uma coisa para vocês: ninguém, nenhum presidente da República, num mandato de quatro anos, concluirá uma única obra estruturante no País.
Então o sr. mudou de idéia…
Mudei de idéia. Veja quanto tempo os tucanos estão governando São Paulo e o Rio Tietê continua do mesmo jeito. É draga dali, tira terra, põe terra. Eu lembro do entusiasmo do Jornal da Tarde quando, em 1982, o banco japonês ofereceu US$ 500 milhões para resolver aquilo. A verdade é que, para desgraça do povo de São Paulo, as enchentes continuam. Eu não culpo o Serra, não culpo o Kassab e nenhum governante. Eu acho que a chuva é demais. No meu apartamento, em São Bernardo, está caindo mais água dentro do que fora. Choveu tanto que vazou. Há dias o meu filho me ligou, às duas horas da manhã, e disse: “Pai, estou com dois baldes de água cheios.” Eu fui a São Paulo no dia do aniversário da cidade e disse que o governo federal está disposto a sentar com o governo do Estado, com o prefeito, e discutir uma saída para ver se consegue resolver o problema, que é gravíssimo. Não queremos ficar dizendo: “Ah, é meu adversário, deu enchente, que ótimo”. Quem está falando isso para vocês viveu muitas enchentes dentro de casa.

Comento
Prestem atenção à primeira resposta do bloco. Ele volta a dizer que a “prioridade número 1″ de quem se eleger seu sucessor é disputar a reeleição, e não fazer um bom governo ou um governo necessário, o que nem sempre quer dizer “popular”, como é óbvio. Pergunta: um governo que não estivesse interessado na própria continuidade não estaria mais apto a fazer o que precisa ser feito? Observem ainda que a resposta sugere que Dilma fatalmente irá sucedê-lo. E se for um tucano? Sua promessa de não tentar voltar em 2014 se mantém?

Quanto à reeleição, tem-se ali um legítimo Lula, não é mesmo? Questão prévia: este escrevinhador sempre foi contra a reeleição — combati a emenda votada no governo FHC. Considerei e considero um erro. Foi uma das vezes em que divergi no ex-presidente, embora tenha mais concordado com ele do que discordado dele — e me orgulho disso. Inicialmente, fica parecendo que ele não apoiará o fim da reeleição só por birra  — “quando eu quis, ninguém quis” —, mas, na seqüencia, a gente nota que ele já “está convencido de que” a reeleição é um expediente necessário. Assim, segundo Lula, seu antecessor fez bem em propor a emenda da reeleição, certo? Poupou Lula de fazê-lo. Que coisa! Basta o atual presidente concordar com o ex, e eu me vejo obrigado a discordar dos dois!

Quanto às enchentes… Notem que Lula considera que a culpa, evidentemente, não é de Serra ou Kassab — até porque o valente não cita os desastres provocados nas cidades governadas pelo PT; no caso de Guarulhos, o partido está no poder há NOVE ANOS. Ao mesmo tempo, sugere que todas as obras feitas até agora foram inúteis, o que é de uma estupenda irresponsabilidade. Que não tenham sido eficazes contra a maior quantidade de chuvas em quase 70 anos, isso é verdade. Na resposta, Lula faz o contrário do que enuncia: surfa na “desgraça” dos paulistas afirmando que não pretende fazê-lo.

UMA VISÃO MESQUINHA E TACANHA DO PROCESSO DEMOCRÁTICO

Trecho da entrevista ao Estadão. Comento em seguida:
O sr. não está desrespeitando a Lei Eleitoral, antecipando a campanha?
Não há nenhum desrespeito à Lei Eleitoral. Agora, o que as pessoas não podem é proibir que um presidente da República inaugure as obras que fez. Ora, qual é o papel da oposição? É criticar as coisas que nós não fizemos. Qual é o nosso papel? Mostrar coisas que nós fizemos e inaugurar.
Mas quem partilha dessa tese diz que o sr. praticamente pede votos para Dilma nas inaugurações…
Eu dizer que vou fazer meu sucessor é o mínimo que espero de mim. A grande obra de um governo é ele fazer seu sucessor. Não faz seu sucessor quem está pensando em voltar quatro anos depois. Aí prefere que ganhe o adversário, o que não é o meu caso.

Comento
Já publiquei vídeos aqui em que Lula faz campanha eleitoral explícita: trata-se de uma dupla ilegalidade: a) está fora do prazo estabelecido; b) o governo usa dinheiro público em favor de um partido. Mas dá para entender a escolha pelo ilegal. Para  este pensador,  a grande obra de um governo não é cumprir o seu programa, nos estritos limites da lei, mas “fazer seu sucessor”!!!

É um gigante! Pensem em Churchill. Muitos incautos diriam que sua “grande obra” foi ter vencido o nazismo… Errado! Na verdade, não houve grande obra nenhuma! Nas eleições seguintes ao fim da Segunda Guerra, ele sofreu uma grande derrota nas urnas. Vejam o caso do próprio Lula. Todos sabemos o que ele pensa sobre o governo que lidera: “Nunca antes da história destepaiz…” Mas isso só terá validade “se eleger a sucessora”. Caso não aconteça, ele sai sem deixar “a grande obra”.

Tomemos o exemplo do PRI do México. Durante mais de 70 anos, presidentes pertencentes ao partido fizeram seus respectivos sucessores. Por quê? Ora, todos se empenharam muito na “grande obra”. Naquele caso, foi a construção meticulosa e dedicada do atraso!

Trata-se, obviamente, de uma visão mesquinha e tacanha da política. A grande obra de um líder é garantir que a alternância do poder não atinja a estabilidade democrática.

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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