O texto de uma juíza e uma foto escandalosa

Publicado em 10/01/2010 19:07 e atualizado em 11/01/2010 10:47
Ontem, na página Tendências/Debates da Folha, uma juíza chamada Kenarik Boujikian Felippe escreveu um artigo defendendo com veemência a tal Comissão da Verdade e a punição aos torturadores. Mandaram-me trechos do artigo e eu chutei cá com os meus botões: aposto que ela pertence àquela tal Associação Juízes para a Democracia. Na mosca! É co-fundadora e secretária da associação. A tese da valente magistrada é que pode haver punição mesmo na vigência da Lei da Anistia, que não precisa ser extinta, porque a tortura não está entre os “crimes políticos e conexos” para os quais se prevê o perdão… Ah, bom! A esquerda brasileira sempre nos dando lições, não é? Cesare Battisti, o terrorista-fetiche de Tarso Genro, cometeu, segundo o ministro, “crime político”; já os torturadores teriam cometido crime comum, que não se enquadra na categoria de “conexo”. Já os atos terroristas da esquerda eram, claro!, crimes políticos. A íntegra do artigo desta senhora está aqui. Os argumentos são conhecidos, e já os contestei, creio, mais de uma centena de vezes. Vou demonstrar qual é a praia de Kenarik de outro modo. Vejam esta foto. Volto em seguida.

Viram? Aquele que está no centro, de barba, segurando um quadro é João Pedro Stedile, o chefão do MST, o movimento viciado em cometer crimes - na VEJA desta semana, ficamos sabendo que os sem-terra se transformaram agora em contumazes desmatadores da Amazônia. E o que ele faz ali? Ora, está recebendo uma homenagem da ASSOCIAÇÃO JUÍZES PARA A DEMOCRACIA!!!

Sim, vocês entenderam direito. Os bravos magistrados da dita-cuja resolveram homenagear o MST pelo conjunto da obra. Kenarik é aquela senhora de vestido preto e braços cruzados ao lado de Stedile. Se quiser mais detalhes, vá à página do próprio MST.

Reparem: a tarefa de um juiz é, afinal de contas, julgar. E isso significa que os próprios atos do MST podem ser objeto do seu escrutínio. Se for um desses valentes da tal associação, já conhecemos o veredito antes mesmo de conhecer o caso ou a causa. Homenagear o movimento significa endossar os seus métodos, endossando também os seus crimes.

Uma das coisas encantadoras dessa foto é aquele rapaz ao lado de Kenarik ostentando a camiseta com a palavra “Cuba”. Cuba é aquele país em que a oposição está na cadeia, onde a tortura a presos é, na prática, uma política de estado. A foto está cortada. Talvez falte um “s” ali, e esteja escrito “Scuba” na camista. A palavra é o acrónimo em inglês para Self-Contained Underwater Breathing Apparatus(Dispositivo para respiração subaquática autocontido). Um equipamento scuba fornece o ar necessário a quem pratica mergulho autônomo, de forma a permancer debaixo de água por longos períodos. Uma coisa ou outra, estamos diante de um emblema. Stedile é o nosso grande “revolucionário”. E sua “revolução” é garantida com o dinheiro público do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Kenarik, em sua sede implacável de justiça, não se constrange em aparecer nesse retrato, como se vê. Não custa lembrar que o decreto dos Direitos Humanos, em defesa do qual ela escreveu, extingue, na prática, a propriedade privada e cria uma categoria acima dos juízes.


QUE VANNUCHI NÃO FIQUE POR FALTA DE ADEUS!

Em entrevista publicada na Folha de hoje, Paulo Vannuchi, secretário de Direitos Humanos, ameaça pedir demissão se houver mudanças significativas no texto-bomba. O jornal, que traz um bom editorial sobre o imbróglio, fabricou um título de manchete que pretende mais chocar do que informar: “Vannuchi ameaça demissão se plano punir torturados”.

Comecemos do básico: em nenhum momento da entrevista publicada ele fala que o plano pode “punir torturados” ou que isso seja uma possibilidade. Imaginem se essa seria uma alternativa… Trata-se de um óbvio absurdo. O que tinha sido negociado pessoalmente por Nelson Jobim com os militares é que a tal comissão investigaria crimes cometidos de ambos os lados - também pelos terroristas. Transformar essa escolha em “punir torturados” é mais do que licença da manchete: É UMA INVERDADE.

Lendo o texto, fica claro que ele diz não aceitar - sei o sentido da palavra “irrevogável” no PT… - uma mudança que desfigure a sua “grande obra”. Mas nem ele falou que há gente exigindo “punição de torturados”. O título escolhe a formulação escandalosa e ignora o fato.

Lê-se no texto: “Ele condena a tentativa de colocarem no mesmo nível torturadores e torturados. Uns agiram ilegalmente, com respaldo do Estado, os outros já foram julgados, presos, desaparecidos e mortos, comparou o secretário, citando o próprio presidente Lula, que foi julgado e condenado a três anos (pena depois revista) por liderar greves no ABC.”
Duas coisas:
1 - é mentira que todas as pessoas envolvidas com atos terroristas tenham sido punidas;
2 - anistia não é julgamento nem atestado de inocência; anistia é acordo de natureza política. Ademais, se for para colocar os atores certos na cena certa, estamos falando de “torturadores” e “terroristas”. Ou de ex-torturadores e de ex-terroristas - como o próprio Vannuchi. Ou terei de lembrar aqui a Cartilha do Terrorismo da ALN, de que ele era um seguidor?

Fiel a seu patético momento, como diria a poeta, ele não economiza:“Vannuchi aposta que Lula tentará uma opção intermediária: ‘O presidente Lula é construtor de caminhos de meio termo. Mas, se não for possível, não posso ficar. Vou optar pelo caminho da Dona Lindu [mãe de Lula]: sempre de cabeça erguida’, disse.”

Apelar a “Maria” de mentirinha para ser afagado pelo “Cristo” da pantomima hagiográfica? Aí meu estômago me impede de comentar. Quando a vergonha deixa de ser a última fronteira, já não resta mais nada.

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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