Há mais gelo no ártico. Que bom!

Publicado em 15/12/2009 06:14 e atualizado em 15/12/2009 15:23

Como é provável que ninguém conte isto pra vocês, então conto eu. Há uma ONG especializada em medir o gelo do Ártico, medição quase diária mesmo. Trata-se da National Snow and Ice Data Center (NSIDC). Não, eles não fazem parte dos céticos. Ao contrário: estão empenhadíssimos em combater o aquecimento global.

A boa notícia, talvez um indício de que o mundo não vai acabar, é que o gelo, em novembro deste ano, está bem acima da medição de novembro de 2006, por exemplo: 10,26 milhões de quilômetros quadrados, o que significa 1,05 milhão de quilômetros quadrados abaixo do que havia entre 1979 e 2000, mas 420 mil quilômetros quadrados a mais do que o recorde negativo para o mês de novembro, que se deu em 2006.

Por alguma razão que os crentes da religião do Aquecimento Global dos Santos dos Últimos dias devem explicar, mesmo com o dedicado esforço da humanidade para destruir o planeta, o gelo resolveu crescer… Não é só no mês de novembro: vejam que o gelo nos últimos quatro meses deste ano está acima de igual período do ano passado.

Melhor assim, né? Quem sabe a gente não tenha mais urso branco navegando solitário, até a morte, num pedaço errante de gelo… Uma coisa que realmente parte o coração. E que paralisa a inteligência.

O DE SEMPRE

Vamos preservar a natureza? Vamos! Eu topo! Aliás, começaria por reduzir aquele Carnaval em Copenhague. Aquelas milhares de pessoas que lá estão debatendo o clima  — 90%, aposto, formam um bando de desocupados da mais absoluta irrelevância  — ajudaram ou não a aquecer o planeta para chegar lá? Terão recorrido ao teletransporte? Se há gente patrulhando o bife que eu como, eu exijo que só se façam deslocamentos que queimem combustíveis se eles forem absolutamente necessários. Qual é o tamanho ideal de uma delegação? Há quase 50 mil pessoas na cidade só para discutir aquecimento… global! Trata-se de uma gente patética! Ou devo comer o bife com culpa para que eles possam viajar a Copenhague sem culpa?

Qual é? Qualquer reunião sobre o clima que não comece contestando a informação de que a atividade humana responde por algo em torno de 3% das emissões de carbono não é séria. E isso não será contestado porque o homem responde por umas sete ou oito toneladas de um total de quase 300 toneladas. E aí? Como todo milenarismo, este também despreza os fatos. Na hipótese de que haja mesmo um aquecimento, ainda que se eliminassem as emissões provocadas pelo homem, o planeta deixaria de aquecer?

Por que a confusão de Copenhague? Porque chegou a hora de toda essa loucura se converter em dinheiro, e a “culpa” do homem se transformou na “culpa” de países. Os pobres e emergentes dizem: “Temos direito às nossas emissões porque também queremos ser desenvolvidos”. Os ricos respondem: “Mas quanto bem fizemos à humanidade enquanto emitíamos?” E alguns discursos hipócritas caíram por terra, não é? George W. Bush, o satã de plantão, não aderiu ao Protocolo de Kyoto por causa das metas vinculativas. E, na prática, Obama repete o seu comportamento. Percebeu o que seu antecessor já sabia: o Protocolo dos Sábios de Kyoto tinham um único alvo: os EUA.

Chegou a hora? Quem vai meter a mão no bolso? A reunião de Copenhague se transformou naquilo que estava destinada a ser: o chororô dos países mais pobres tentando arrancar uma grana dos ricos.


O GRANDE PATETA


Estou entre aqueles que acham que Al Gore merecia mesmo o Oscar que ganhou. A categoria é que estava errada: deveria ter levado o de efeitos especiais. Foi patético ver o rapaz a explicar ao mundo — sem que pudesse indicar as razões — que, bem, é verdade, o gelo voltou a crescer no Ártico, um dado que a sua turma vinha omitindo com a sem-cerimônia dos vigaristas intelectuais.

Mas agora ele tem uma nova tese: aumentou a área do gelo, mas a espessura ainda deixa muito a desejar. Há uma questão de natureza lógica aí, independentemente de você ser especialista nessa área ou ser apenas um leigo, como eu e Gore somos.

Se os fatores do aquecimento estão dados, como eles querem; se esses fatores não fizeram outra coisa que não se extremar; se contribuem para derreter a calota do Ártico, então por que diabos ela cresceu nos últimos dois anos em vez de diminuir?

Ele não tem a resposta nem eu tenho — aliás, não tenho nem para o frio dezembro de São Paulo. A hipótese, bem mais plausível do que a tese antropogênica para o aquecimento, é a que os anunciadores do fim do mundo, os que previram que o gelo do Ártico acabaria em 2013, estavam lidando com dados incorretos.

Gore também poderia ter levado o Oscar de Roteiro Adaptado: pela adaptação que fez do Apocalipse de São João. Se bem que ele foi meio vigarista: não citou a obra original.

Se eu fosse pré-candidato…


Ainda que eu não pertencesse à religião do aquecimento global e caso fosse o Serra, faria rigorosamente o que ele está fazendo. Porque, nesse caso, eu seria um pré-candidato à Presidência, entendem? E, hoje em dia, um político que dissesse algumas verdades sobre esta seita, especialmente influente entre jornalistas, estaria perdido.

No caso de Serra, no entanto, não se trata de oportunismo — ele realmente acredita na hipótese antropogênica para o aquecimento global e está convencido da existência de uma economia da sustentabilidade que pode ser exercida em larga escala. Ele só não chega ao requinte do esoterismo ambiental de Marina Silva. O projeto de duplicação das Marginais é considerado exemplar nas chamadas compensações ambientais. As metas de corte de emissão de carbono em São Paulo são mais ousadas do que o plano do governo federal.

Dilma Rousseff, bem…, esta não acredita mesmo. É uma cética. Nesse particular, o que vou fazer?, estou mais próximo da posição da petista. Mas não pago o mico de afirmar que há uma certa conspiração contra os países emergentes.

Assim, se eu fosse pré-candidato, talvez me ajoelhasse nesse altar pagão. Mas eu não sou.


Houve um tempo em que havia humor no cinema para pessoas com mais de 15 anos e que não fossem, assim, de todo avessas aos livros. O Monty Python está entre as melhores coisas que já se produziram para esse público. Já falei sobre o grupo britânico aqui algumas vezes. Ontem, vi as três estrelas brasileiras naquela bobajada da Conferência do Clima: a ministra Dilma Rousseff (PT), o governador José Serra (PSDB-SP) e a senadora Marina Silva (PV-AC). E me lembrei de A Vida de Brian, um dos filmes geniais feitos por aquela turma. Já volto ao cinema. Antes, uma passada em Copenhague.

Dilma não está disposta a dar grana nenhuma para constituir um fundo de combate ao aquecimento global. Acha que os culpados pela poluição são os países ricos — o Brasil, como emergente, seria até candidato a ganhar uns trocos. Marina Silva acredita que o país pode dar um exemplo, já que até empresta recursos para o FMI (!?). Serra também está nessa. Eis a fala dos três em entrevistas ontem:

Serra: “O Brasil devia contribuir, porque se o Brasil se dispõe a fazer, e é um país em desenvolvimento, sem dúvida nenhuma vai ampliar a pressão política sobre os países desenvolvidos, que são os que fizeram a grande poluição do mundo. São os principais responsáveis pelo efeito estufa. Vai ser uma pressão a eles, para que compareçam com recursos substanciais”.

Marina: “O Brasil, que até empresta recursos para o FMI, poderia fazer um gesto e colocar nessa cesta em defesa do planeta talvez, quem sabe, US$ 1 bilhão para fazer com que os demais países também se sintam responsáveis, principalmente os desenvolvidos, pelas emissões históricas”.

Dilma: “É que US$ 1 bilhão não faz nem ‘cosquinhas’. Os valores, como vocês vão ver ali na reunião, estão em torno de US$ 120 bilhões ou US$ 150 bilhões, os menores. Tem valores de US$ 500 bilhões. A gente não pode só fazer gesto, o que a gente tem que fazer são medidas reais, concretas, comprometidas. Por isso, as coisas têm que ser feitas no seu devido processo”.

Com quem eu concordo? Com ninguém, ora bolas! Reparem que os três políticos falam dos países ricos em tom de condenação, como se, até agora, eles tivessem prejudicado a humanidade. Então precisamos voltar ao filme A Vida de Brian. Na cena abaixo, um grupo revolucionário planeja um atentado terrorista contra os romanos. O plano é seqüestrar a mulher de Pôncio Pilatos e dar ao governador dois dias para eliminar a presença dos romanos da região. Ou, dizem, cortarão a cabeça da dita-cuja em pedaços. E deixarão claro que a culpa pela execução é dos invasores. Afinal, dizem eles, os romanos já os sangraram bastante. Vejam o trecho em que o líder dos revolucionários explica por que os romanos são maus e têm de ser expulsos. Transcrevo as falas em seguida:

— Já nos sangraram, os bastardos. Já nos tomaram tudo o que tínhamos. E não só de nós. Dos nossos pais e dos pais dos nossos pais.
 E dos pais dos pais dos nossos pais.
 Sim…
 E dos pais dos pais dos pais dos pais…
 Certo, Stam. Não precisa insistir. E o que eles nos deram em troca?
 O aqueduto.
 Como?
 O aqueduto.
 Oh, sim, sim. Eles nos deram isso, é verdade.
 E o saneamento.
 Ah, é, saneamento, Reg! Você lembra como a cidade era…
 Certo. Eu concedo que o aqueduto e o saneamento são duas coisas que os romanos fizeram.
 E as estradas.
 Bem, e obviamente as estradas. Nem era preciso falar disso. 
Mas fora o saneamento, o aqueduto e as estradas…
 A irrigação.
 A medicina.
 A educação.
 A Saúde.
 Tudo bem, já chega!
 E o vinho.
 Ah, é… É verdade. Isso é algo que vai nos fazer falta se os romanos forem embora, Reg…
 Casas de banho públicas.
 E agora é seguro andar nas ruas à noite.
 Ah, sim, os romanos certamente sabem manter a ordem. Vamos reconhecer: são os únicos que poderiam fazer isso num lugar como esse.
 Tudo bem, tudo bem, mas fora o saneamento, a medicina, a educação, o vinho, a ordem pública, a irrigação, as estradas, o sistema de água e a saúde pública, o que os romanos fizeram por nós?
 Trouxeram a paz!
 O quê? Oh… Paz? Sim… Cale-se!

Voltei
Não conheço nada melhor do que este menos de um minuto e meio de humor para desmoralizar todas as teses antiimperialistas que ainda correm o risco de fazer algum sucesso.

Embora as posições dos três políticos não seja a mesma, há nelas esse certo ranço antiimperialista. Podem divergir na abordagem, mas há a consideração que avalio essencialmente errada de que “os romanos” — no caso, os americanos ou os ricos — aqueceram o mundo apenas em seu próprio benefício. Serra e Marina querem tirá-los desse poço moral com o exemplo. Dilma prefere jogar o problema no colo dos gringos.

De súbito, nota-se, o mundo global se torna não bisonhamente regionalista. Mais um pouco, e alguém indaga: “Afinal, o que é que os americanos nos deram?”

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo (Veja)

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