Serra: “O Brasil devia contribuir, porque se o Brasil se dispõe a fazer, e é um país em desenvolvimento, sem dúvida nenhuma vai ampliar a pressão política sobre os países desenvolvidos, que são os que fizeram a grande poluição do mundo. São os principais responsáveis pelo efeito estufa. Vai ser uma pressão a eles, para que compareçam com recursos substanciais”.
Marina: “O Brasil, que até empresta recursos para o FMI, poderia fazer um gesto e colocar nessa cesta em defesa do planeta talvez, quem sabe, US$ 1 bilhão para fazer com que os demais países também se sintam responsáveis, principalmente os desenvolvidos, pelas emissões históricas”.
Dilma: “É que US$ 1 bilhão não faz nem ‘cosquinhas’. Os valores, como vocês vão ver ali na reunião, estão em torno de US$ 120 bilhões ou US$ 150 bilhões, os menores. Tem valores de US$ 500 bilhões. A gente não pode só fazer gesto, o que a gente tem que fazer são medidas reais, concretas, comprometidas. Por isso, as coisas têm que ser feitas no seu devido processo”.
Com quem eu concordo? Com ninguém, ora bolas! Reparem que os três políticos falam dos países ricos em tom de condenação, como se, até agora, eles tivessem prejudicado a humanidade. Então precisamos voltar ao filme A Vida de Brian. Na cena abaixo, um grupo revolucionário planeja um atentado terrorista contra os romanos. O plano é seqüestrar a mulher de Pôncio Pilatos e dar ao governador dois dias para eliminar a presença dos romanos da região. Ou, dizem, cortarão a cabeça da dita-cuja em pedaços. E deixarão claro que a culpa pela execução é dos invasores. Afinal, dizem eles, os romanos já os sangraram bastante. Vejam o trecho em que o líder dos revolucionários explica por que os romanos são maus e têm de ser expulsos. Transcrevo as falas em seguida:
— Já nos sangraram, os bastardos. Já nos tomaram tudo o que tínhamos. E não só de nós. Dos nossos pais e dos pais dos nossos pais.
— E dos pais dos pais dos nossos pais.
— Sim…
— E dos pais dos pais dos pais dos pais…
— Certo, Stam. Não precisa insistir. E o que eles nos deram em troca?
— O aqueduto.
— Como?
— O aqueduto.
— Oh, sim, sim. Eles nos deram isso, é verdade.
— E o saneamento.
— Ah, é, saneamento, Reg! Você lembra como a cidade era…
— Certo. Eu concedo que o aqueduto e o saneamento são duas coisas que os romanos fizeram.
— E as estradas.
— Bem, e obviamente as estradas. Nem era preciso falar disso. Mas fora o saneamento, o aqueduto e as estradas…
— A irrigação.
— A medicina.
— A educação.
— A Saúde.
— Tudo bem, já chega!
— E o vinho.
— Ah, é… É verdade. Isso é algo que vai nos fazer falta se os romanos forem embora, Reg…
— Casas de banho públicas.
— E agora é seguro andar nas ruas à noite.
— Ah, sim, os romanos certamente sabem manter a ordem. Vamos reconhecer: são os únicos que poderiam fazer isso num lugar como esse.
— Tudo bem, tudo bem, mas fora o saneamento, a medicina, a educação, o vinho, a ordem pública, a irrigação, as estradas, o sistema de água e a saúde pública, o que os romanos fizeram por nós?
— Trouxeram a paz!
— O quê? Oh… Paz? Sim… Cale-se!
Voltei
Não conheço nada melhor do que este menos de um minuto e meio de humor para desmoralizar todas as teses antiimperialistas que ainda correm o risco de fazer algum sucesso.
Embora as posições dos três políticos não seja a mesma, há nelas esse certo ranço antiimperialista. Podem divergir na abordagem, mas há a consideração que avalio essencialmente errada de que “os romanos” — no caso, os americanos ou os ricos — aqueceram o mundo apenas em seu próprio benefício. Serra e Marina querem tirá-los desse poço moral com o exemplo. Dilma prefere jogar o problema no colo dos gringos.
De súbito, nota-se, o mundo global se torna não bisonhamente regionalista. Mais um pouco, e alguém indaga: “Afinal, o que é que os americanos nos deram?”