Prejuízos na pecuária devem continuar em 2022, avalia o presidente da Assocon
O cenário atual da pecuária brasileira tem deixado o pecuarista desestimulado com a atividade. A queda da arroba do boi, somada à suspensão da exportação para a China e o aumento do custo de produção resultaram em uma tempestade perfeita, como avalia o presidente da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon) Maurício Velloso. “Tivemos um segundo giro de confinamento recorde, no qual tínhamos uma quantidade de animais confinados de aproximadamente 30% superior ao segundo giro do ano passado”, analisa.
Segundo Velloso, esses animais têm a necessidade de serem abatidos porque estão prontos e não há mais comida para alimentá-los. “A saída da China do mercado brasileiro interrompeu esse fluxo normal e natural de animais confinados, já que o mercado chinês representava 70% da orientação comercial dos animais confinados”, explica ele.
Retração no próximo ano
O embargo imposto pela China, há quase dois meses, causou prejuízos imensos aos confinadores. Só o país era responsável por mais de 60% de todas as exportações de carne bovina brasileira. Para o presidente da Assocon, o Brasil se fragilizou muito ao apostar todas as fichas em um só cliente. “Nós havíamos discutido que no dia em que o país chinês aplicasse alguma barreira não alfandegária, seria esse o quadro a se viver”, conta.
Ele acrescenta ainda que os chineses de fato são muito importantes, pois eles acabam definindo os valores não apenas de importação, mas também os valores internos, por conta da altíssima demanda. “Com a ausência desse principal player, passa a ter uma maior sobra de carne tanto para exportação como para o mercado interno”, analisa.
Velloso acredita que 2022 tem tudo para ser um ano de valores deprimidos da arroba e também da reposição. “O que nos parece é que estes ciclos pecuários que eram mais longos, algo em torno de sete em sete anos, estão se encurtando cada vez mais e buscando um equilíbrio entre demanda e oferta”.
Desvalorização só para os pecuaristas
Todo esse processo de desvalorização, insegurança, imprevisibilidade do negócio causou e causa efeitos danosos na pecuária e no pecuarista. Seguramente, o pecuarista já está sofrendo esse processo de descrença no setor e com os preços rebaixados, não apenas da arroba, mas também de reposição, faz com que muita gente coloque as vacas à disposição de abates. “Essa maior oferta de vacas vai proporcionar uma queda ainda maior na arroba, tanto de boi como de vaca”, explica Velloso.
Segundo ele, infelizmente o que foi observado foi uma queda abrupta no valor da arroba paga aos pecuaristas, até 30% em algumas regiões do país, e os preços verificados no varejo apontam uma queda de apenas 1,5% a 5%. “Então, infelizmente, não houve um repasse proporcional aos consumidores final e seguramente não haverá”, avalia.
Melhor decisão no momento
O veterinário da Nutroeste Nutrição Animal, João Bosco Bittencourt, fala que neste momento de incertezas, os produtores de boi gordo estão tomando algumas medidas para evitar os prejuízos. “O que temos observado é uma desaceleração nesse ciclo de produção, ou seja, quem vinha investindo nos animais em proteinados, de alto em médio consumo e até mesmo em ração, tem tirado o pé do acelerador. Tentando assim ter um investimento em reais menor por cabeça/dia”, diz.
João Bosco afirma que isso acarreta não só em um desembolso menor por parte do produtor, mas também em uma diminuição no desempenho dos animais que estão a pasto. “A melhor alternativa para o produtor hoje é sentar e recalcular todos os custos de produção dentro da sua atividade. Isso se deve, principalmente, porque o investimento ou os investimentos da porteira para dentro estão em patamares maiores”.
O especialista lembra que depois da compra do animal, o segundo maior investimento está na nutrição dos animais, que representa 30% do custo total de um animal. “Sabemos que esta nutrição bem empregada é o que traz o maior retorno para o produtor, tendo em vista que o animal tem seu desempenho melhorado e diminui o seu tempo dentro da propriedade. Isso ajuda o produtor a diluir o custo, ou seja, produz mais arrobas em menor tempo, evitando o ciclo longo de produção”, orienta.
Cuidados
O especialista lembra também que neste momento é preciso ter cuidado quando se fala em reter animais a pasto. “Pois o que está acontecendo é que o custo para repor e para chegar com este animal até o presente momento foi de investimento alto, tendo em vista que o custo de produção quase que dobrou, e o boi continua com o mesmo GMD (Ganho Médio Diário) dentro de muitas fazendas”.
O veterinário diz ainda que se o animal está pronto, terminado com cobertura de gordura, principalmente pensando em confinamento, não tem muito que fazer, é abater. “Já o animal que está a pasto temos que fazer conta e entender a realidade de cada fazenda. Temos uma certeza, a saúde de uma empresa (fazenda) está no seu caixa”, lembra.