Mesmo com Lula fora do jogo, viés é pró-esquerda. (Acende-se o sinal amarelo para Alckmin, Ciro e Bolsonaro.)
Com Lula mesmo na cadeia, Marina Silva (Rede) e Joaquim Barbosa (PSB) podem comemorar...e é evidente que, nesta jornada, acende-se o sinal amarelo para Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL). Comecemos por este. Bolsonaro segue empacado há muito tempo na casa dos 15% quando Lula aparece na disputa e não ganha praticamente nada quando o petista está fora: vai para 17%. É o que chamo de candidatura inelástica porque existe para alimentar a fúria dos fanáticos. Quem não é da turma não consegue entender nem mesmo seus momentos de humor, tão truculentos como os de fúria. Sempre houve um eleitorado de extrema-direita do país que se sentia órfão. O cara está na área. Mas Marina encosta, indo de 10% para 15% quando Lula está fora do jogo.
Ciro Gomes, do PDT, fica com modestos 5% quando o ex-presidente está na lista; sem o petista, vai para 9%, um salto considerável, sim — afinal, ele recebe 15% dos eleitores lulistas. Ocorre que Barbosa mal chegou à festa e já empata com ele nesse cenário e exibe mais musculatura quando o petista disputa: 8%.
Ciro tem um motivo adicional para se preocupar: é dono de uma retórica meio inflamada. Embora com sotaque de esquerda, também põe na sua mira as elites, apelando a uma linguagem com sotaque moralista. Barbosa pode transitar na sua faixa, sim. Como pode, acreditem, tomar eleitores de Bolsonaro. Caso realmente apresente seu pleito, será um digno representante do Partido da Polícia. Não creio que o eleitorado de extrema-direita no país some entre 15% e 17% dos votos. Parte dos eleitores de Bolsonaro acredita em sua retórica estridente de combate à corrupção e aos privilégios. E Barbosa veste esse figurino com mais credibilidade.
A eleição está longe, e Alckmin está cuidado de selar as alianças. Mas a sua situação eleitoral é delicada. Com Lula na disputa, continua estacionado em um dígito. E bastante modesto: apenas 6%. Sem o petista, não passa dos 8%. Sim, estamos a falar da fotografia do momento. Mas, em muitos aspectos, os momentos pioram em vez de melhorar. Há uma aposta de que o centro e a centro-direita ainda acabem se dando conta do risco do abismo e se rearranje. Mas, a julgar pelos últimos movimentos desse campo ideológico, convém alimentar uma esperança pessimista.
Candidaturas que transitam nessa faixa, convenham, têm sabido usar a boa-vontade da imprensa, gerando o que eu chamaria de “notícia sem lastro eleitoral”. Flavio Rocha (PRB), João Amoedo (Novo) e Rodrigo Maia (DEM), com 1% das intenções de voto, talvez se deem conta de que a fragmentação tende a jogar a vitória no colo da esquerda, risco para o qual chamo a atenção desde o fim de 2016, quando ficou claro que a Lava Jato tinha o propósito de varrer do mapa a classe política e quando a direita xucra passou a lhe dar suporte nas redes sociais.
Dados os números do Datafolha, a única coisa que os não-esquerdistas podem comemorar é mesmo o fato de Lula estar preso. Nem entro no mérito agora se isso é justo ou injusto. A minha questão é outra: convenham, é preciso que essa gente tenha feito muita besteira para estar reduzida a essa miséria intelectual e política, não é mesmo?
Seria mais ou menos como perguntar:
— Qual é a sua estratégia política?
E ouvir como resposta:
— Manter Lula na cadeia para ele não ganhar a eleição.
Pior: Lula está preso. E a esquerda segue favorita.
Eu bem que avisei, não é mesmo? Já no fim de 2016. E isso me rendeu o ódio dos idiotas.
Eis aí. Quem se dedica ao ódio fica sem tempo para pensar.
Marina e Barbosa podem comemorar; prestígio de Lula permanece inabalado
A pesquisa Datafolha, publicada pela Folha neste domingo divide, de pronto, os pré-candidatos em dois grupos — para efeitos de raciocínio, incluo Lula entre eles: há os que podem comemorar os números e os que têm motivos para se preocupar. Estão na primeira turma o ex-presidente da República, ora na cadeia, Marina Silva (Rede) e Joaquim Barbosa (PSB). Acende-se o sinal amarelo de advertência para Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL). Então vamos entender por quê. Comecemos por aqueles que, do ponto de vista eleitoral, estão num lugar mais confortável do que antes.
O grande e inequívoco vitorioso se chama, com todas as letras, Luiz Inácio Lula da Silva. A sua capacidade resistir à avalanche de más notícias deveria impressionar até os antilulistas mais ensandecidos. Aliás, se não souberem ler os recados do eleitor, pior para eles. O patamar de Lula no primeiro turno caiu, é verdade. Chegou a ter 37% em levantamentos anteriores. Agora, a sua marca máxima no primeiro turno é 31%.
A variação deixa de ter relevância quando se analisam outros dados. Saltou para 62% o índice dos que acham que o petista não será candidato. Ocorre que seu prestígio no segundo turno segue inabalado. Venceria com folga todos os seus adversários. Mais: exibe tendência de aumento o número daqueles que só votariam (30%) ou poderiam votar (16%) num nome indicado por ele. A se cumprir essa determinação do eleitor, Lula põe um indicado seu no segundo turno.
Só isso? Não! Nada menos de 32% dos seus eleitores dizem não escolher ninguém caso ele não esteja na disputa. Se o seu nome não aparece entre as alternativas, os brancos e nulos dão um salto de 10 pontos percentuais: de 13% ou 14% para 23% ou 24%. Metade do eleitorado acha que ele deveria ser candidato.
A Lava Jato e a direita xucra estão de parabéns! Do ponto de vista eleitoral, os petistas não conseguiriam fazer por Lula o que elas fizeram. O negócio é rezar mesmo em favor da inviabilidade da candidatura.
O PT insiste em que o candidato à Presidência será Lula. E se pode dizer sem medo de errar: não será. Essa determinação, no entanto, impede o chefão petista de fazer uma escolha. Assim, quando não está na disputa, os nomes alternativos têm um desempenho ainda pífio: Fernando Haddad aparece com apenas 2%, e Jaques Wagner, com 1%.
Com Lula na disputa, Marina não tem por que soltar rojões: continua empacada na cada dos 10%. Quando o petista é, no entanto, retirado da lista, ela aparece com 15% ou 16%, em empate técnico com Bolsonaro, que fica com 17%. Lula lhe daria uma surra no segundo turno: 46% a 32%, mas ela bateria Alckmin (44% a 27%) e o candidato da extrema-direita (44% a 31%).
Joaquim Barbosa, agora filiado ao PSB e último a entrar na corrida eleitoral, marca distinguíveis 8% quando Lula está na disputa — afinal, Ciro, com 5%, e Alckmin, com 6%, tentam conquistar as preferências há mais tempo. Quando o petista está fora do jogo, o ex-ministro do Supremo fica praticamente no mesmo lugar: 9%. Isso aponta para uma adesão consolidada, que independe da conjuntura. E quer dizer que ele pode, sim, crescer.
A sorte está lançada.
Marina venceria Bolsonaro e Alckmin no 2º turno; Ciro empataria com ambos
Marina também é a maior beneficiária no segundo turno da saída de Lula da disputa. Se o petista bateria com facilidade a candidata da Rede, ela põe boa vantagem sobre dois de seus adversários: venceria Jair Bolsonaro (PSL) por 44% a 31%, e o tucano Geraldo Alckmin por 44% a 27%.
Isso significa que, a despeito dos esforços do PT para tentar demonstrar que a Rede é um partido antípoda, o eleitorado ainda não entende desse modo. Isso se revela na migração de votos quando Lula não está na disputa e também no embate no segundo turno.
Não foram testados cenários de Marina contra Ciro Gomes (PDT) ou Joaquim Barbosa (PSB).
Quando é Ciro a enfrentar Bolsonaro e Alckmin, a disputa fica rigorosamente empatada: na disputa com o dito “capitão”, ambos ficariam com 35%; com o tucano, 32%.
Caso a esquerda fique fora do jogo, e Alckmin venha a disputar a jornada final com Bolsonaro, também há uma empate: o tucano obtém 33% dos votos, contra 32% do representante da extrema-direita.
Sem Lula, 32% de seus eleitores dizem não votar em ninguém; Marina, defensora da sua prisão, é o nome que ganha mais votos
Dizem não votar em candidato nenhum se Lula não disputar a eleição nada menos de 32% dos seus eleitores. Esse é o índice de “em branco/ nulo/ nenhum” caso isso aconteça — na contabilidade geral, tal número alcança 23% ou 24%. Entre os candidatos, a maior beneficiária acaba sendo Marina Silva, da Rede, que pode herdar 20% ou 21% dos eleitores do petista. A taxa de transferência para Ciro Gomes, do PDT, também seria alta: pode chegar a 15%. A coisa tem lá a sua ironia: Marina defendeu, ainda que de modo oblíquo, a prisão de Lula: ela se mostra uma fanática da Lava Jato. E, quando faz alguma restrição à operação, é para cobrar mais prisões.
Jair Bolsonaro (PSL), Joaquim Barbosa (PSB) e Geraldo Alckmin (PSDB) também mordem um tiquinho dos votos de Lula: entre 5% e 6%.
Já os nomes claramente identificados com a esquerda faturam menos: Manuel D’Ávila (PCdoB), Fernando Haddad ou Jaques Wagner, estes alternando-se no PT, levariam apenas 3%, a mesma fatia de Álvaro Dias (Podemos).
Chave de 2018 está na cadeia, indica Datafolha (por JOSIAS DE SOUZA, no UOL)
A nova pesquisa do Datafolha sinaliza que a definição do primeiro turno da sucessão de 2018 passará pela cadeia. Os dados indicam que, se abandonar suas crendices e começar a falar sério, o PT ainda pode influir no jogo. Quase metade do eleitorado (46%) revela alguma propensão para votar num nome indicado por Lula —30% afirmam que farão isso com certeza. Outros 16% declaram que talvez sigam o caminho apontado pelo pajé petista.
Para ter o que comemorar em meio à desgraça, o PT precisaria virar o seu discurso do avesso. De saída, teria de aposentar a mistificação segundo a qual a Justiça brasileira é feita de tribunais de exceção, pois a maioria dos eleitores (54%) acha que o encarceramento de Lula foi justo. De resto, o petismo teria de desembarcar o quanto antes do trem-fantasma em que se converteu a candidatura Lula, pois 62% do eleitorado já se deu conta de que a fantasia descarrilou.
Enquanto o petismo nega a realidade, o eleitorado de Lula começa a migrar por conta própria. Num cenário em que aparece como Plano B do PT, Fernando Haddad herda apenas 3% das intenções de voto atribuídas a Lula. É coisa mixuruca se comparada com as fatias herdadas por Marina Silva (20%) e Ciro Gomes (15%). Até Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin e Joaquim Barbosa beliscam mais votos do legado de Lula (5% cada um) do que o petista Haddad.
Outro dado notável é que um pedaço expressivo do eleitorado do preso mais ilustre da Lava Jato (32%) decidiu fazer um pit-stop. Sem rumo, esse um terço informa que, se tivesse de comparecer às urnas hoje, anularia o voto ou votaria em branco. É gente que parece aguardar por uma sinalização qualquer de Lula.
O Datafolha apresenta o universo total do eleitorado como um bololô dividido em três grandes fatias. A fatia anti-Lula (31% dos brasileiros com direito a voto) continua detestando o PT e ruminando sua aversão a Lula. Nesse nicho, 32% votam na direita paleolítica representada por Jair Bolsonaro.
O pedaço do eleitorado pró-Lula, 100% feito de devotos, não se aborreceria se a divindidade presa em Curitiba pedisse votos para um poste. Como Lula ainda não pediu, pedaços da procissão começam a seguir outros andores, especialmente os de Marina e Ciro. Mas a maioria continua fazendo suas preces diante de um altar vazio.
De resto, existe a fatia da geleia geral (37% do eleitorado), que balança na direção de várias candidaturas. Destacam-se nesse grupo, por ora, os partidários de Bolsonaro e Marina. Mas ambos têm menos votos do que o bloco dos brancos e nulos. Ninguém se anima a votar numa hipotética candidatura de Lula no primeiro turno. Mas muitos não descartariam a hipótese de votar nele num eventual segundo round.
Para efeito de sondagem, o Datafolha incluiu o ficha-suja Lula em alguns cenários pesquisados. No principal, o candidato inelegível do PT amealhou 31% dos votos, seis pontos percentuais a menos do ele colecionava em janeiro. Sem Lula, Marina (entre 15% e 16%) encostou em Bolsonaro (17%). A dupla está tecnicamente empatada. Segue-se um amontado de concorrentes.
Desde 1994, quando Copa e eleições passaram a ocorrer no mesmo ano, os candidatos sabem que, enquanto não for decidido o torneio de futebol, a campanha política é um pesadelo que atrapalha o sonho de erguer a taça. Mas a prisão de Lula obriga o PT a adiantar o relógio.
Numa disputa com muitos candidatos, em que um cesto com menos de 20% dos votos pode levar para o segundo turno um pretendente ao trono, parece claro como água de bica que a herança eleitoral de Lula pode influir nos rumos da disputa. Resta saber se o petismo deseja jogar o jogo ou se vai continuar tentando cavar faltas.
2018, uma eleição de nanicos (VINICIUS TORRES FREIRE, na FOLHA)
O que nos diz o Datafolha deste domingo (15) quando se lê a pesquisa eleitoral de baixo para cima? Sim, há interesse em saber a quantidade de votos que leva o conjunto dos nanicos e de votos que não vão para candidato nenhum.
Com a defenestração de Lula da Silva, esta é a corrida presidencial em que o líder da pesquisa tem a quantidade mais nanica de votos, menos do que na pulverizada disputa de 1989, com a qual esta eleição se parece. Como de resto a campanha não começou, na verdade nem se organizou, se pode dizer que a refrega ainda está muito aberta.
Considere-se a votação dos ora nanicos, aqueles que têm 2% ou menos na pesquisa, entre os quais candidatos que devem cair pelas tabelas até a metade do ano. Somados, os seus votos dão cerca de 11% (nos cenários em que Lula não aparece). Esse Leviatã feito de nanicos estaria em terceiro lugar, atrás de Jair Bolsonaro (PSL), que tem 17%, e de Marina Silva (Rede), 15%.
Os votos em branco ou em ninguém somam 23% do total. Quando não se apresenta uma lista de candidatos aos entrevistados, 46% dos eleitores dizem que não sabem em quem votar.
Os nanicos, votos brancos e nulos somam por ora 34% do total, portanto. Mudanças de humor nessa massa de eleitores podem provocar revertérios em uma corrida em que as diferenças de votação são mínimas.
O terceiro lugar é disputado pelo ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa (PSB) e Ciro Gomes (PDT), que marcam 9% dos votos, com Geraldo Alckmin (PSDB) na cola.
Ainda quanto ao eleitorado, há a incógnita do Nordeste e a dos mais pobres. Lula leva 50% dos votos no Nordeste (ante 23% no Sul-Sudeste). Quando o ex-presidente não aparece na disputa, a parcela de votos em branco ou nulos sobe de 14% para cerca de 33% no Nordeste; sobe de 14% para 27% entre os eleitores com renda familiar menor que dois salários mínimos (48% do total da amostra do Datafolha).
A eleição é mais que numeralha, porém, desculpe-se a obviedade ignorada por adeptos de corridas de cavalos. Haverá ainda uma campanha, que não envolve apenas tempo de TV, dinheiro e capacidade de difundir mentiras ou até programas de governo pelas redes insociáveis.
Uma campanha política depende também da definição de coalizões nacionais, aliados nos estados e grandes cabos eleitorais nas cidades, em geral prefeitos e deputados. Os pré-candidatos a presidente ainda não definiram quase nada a esse respeito, nem alianças sociais. Em suma, não se sabe bem com quais máquinas políticas os presidenciáveis poderão contar.
É claro que máquina por vezes não adianta de nada, como na eleição de 1989, prima distante da disputa de 2018.
Ulysses Guimarães (1916-92), senhor Diretas-Já, príncipe da Constituição de 1988 e da Nova República, candidato do PMDB, tinha o maior tempo de TV, o dobro do que dispunham os finalistas Fernando Collor e Lula. Seu partido tinha mais da metade dos deputados da Câmara. Chegou em sétimo lugar, entre 22 candidatos, com 4% dos votos, soterrado pelos destroços do governo ruinoso de José Sarney, que era o seu governo.
Isto posto, sem sabermos o que os candidatos dirão aos mais pobres, o que serão suas coalizões e com quais máquinas vão contar, fica difícil dar chutes informados sobre a eleição.(por Vinicius Torres Freire, Foi secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião' e correspondente em Paris da Folha de S. Paulo)