Datafolha revela o tamanho da estupidez da direta brasileira e o crime histórico que cometeu

Publicado em 26/12/2017 07:41 e atualizado em 26/12/2017 12:49
por REINALDO AZEVEDO

Os ditos liberais (a maioria é falsa como uísque paraguaio; gostam mesmo é fascismo caipira) e conservadores brasileiros deveriam fazer como não faz o avestruz: enfiar a cabeça num buraco. A sua adesão estúpida ao lava-jatismo, como já está demonstrado, ressuscitou Lula e o PT. Mas esse é ainda mal de superfície. O desastre é bem maior, como revela pesquisa Datafolha (veja posts com detalhes). A esmagadora maioria dos brasileiros é contra as privatizações (70% a 20%). Num único grupo — os que ganham mais de 10 mínimos —, a venda de estatais conta com mais da metade das adesões: 55%. Os gráficos foram publicados pela Folha.

Eis aí a que nos levou o combate à corrupção como ponto de chegada da política, não como aquilo que deve ser: um mero instrumento em favor da eficiência e da decência. Desde que explodiu o mensalão — SIM, ESCREVI MENSALÃO MESMO! —, advirto para o fato de que os adversários do PT e do petismo falham miseravelmente em demonstrar que o descalabro só assume dimensões pantugruélicas por causa do gigantismo estatal.

O petrolão deu a chance de ouro aos liberais (o diabo é que a maioria é falsa) e aos conservadores de evidenciar, pelo caminho do exemplo, o que é o estatismo.

Em vez disso, os ditos adeptos da “nova política” resolveram sair por aí a caçar e a cassar políticos — e a própria política — com sua pautinha mixuruca e sua conversa para excitar medianos raivosos:
– fim do foro especial:
– fim do financiamento de campanhas por empresas;
– 10 medidas contra a corrupção (quatro eram fascistas);
– armamentismo;
– ah, sim: arte sem peru e perereca também é fundamental…

Puro lixo mental! Além de irrelevante no combate à corrupção. De quebra, ainda agridem o Estado de Direito.

Ora, poucos se deram conta de que a gritaria histérica contra a corrupção, mesmo vitimando políticos da esquerda à direita, reforça, como valores básicos, alguns pressupostos que são da… esquerda!

“Como, Reinaldo?” Deveria ser elementar, mas não é: à medida que se veem os políticos e a política como meras forças de assalto a um Estado que, sem esses malvados, seria virtuoso, o que se faz é ignorar a natureza primária desse estado, que é espoliador desde a sua gênese, já na sua concepção. Ainda que todos os políticos brasileiros fossem santos, lá estaria a máquina geradora de ineficiências.

A direita não se deu conta de que, ao se ajoelhar no altar de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e Rodrigo Janot, acendia velas para o capeta. Este escriba bem que advertiu, como sabem: “Olhe, isso está fortalecendo o discurso estatista; isso está fortalecendo a ideia de que uma burocracia sem rosto e supostamente neutra deveria governar o país: convenham, é tudo o que a esquerda quer porque ela acredita poder hegemonizar esse processo”.

E está prestes a fazer isso de novo. E, desta feita, com um estoque imenso de instrumentos de exceção que foram sendo empregados pela Lava Jato. Daqui a pouco, isso tudo pode estar nas mãos dos vermelhos. Aí é o caso de alguns idiotas começarem a cuidar do próprio pescoço. O pior é que os não-idiotas também serão vitimados.

Não tenham dúvida: Lula — ou aquele que escolher como preposto — vai ameaçar o país pela quinta vez com a… venda, que nunca ocorrerá, da Petrobras!

Essa pesquisa expressa, na verdade, uma tragédia intelectual. O discurso antipetista foi sequestrado pelo antilulismo chulo e pelo lava-jatismo vulgar. E o que é que deu? Estatismo na cabeça!

Esses grupos de direita que estão por aí abandonaram a pauta liberal e falharam em demonstrar que o verdadeiro inimigo é o tamanho do Estado. Estavam muito ocupados caçando tarados, pedófilos, veados, feministas… Vocês sabem: essas coisas que realmente calam fundo na alma daqueles 73% que têm até o ensino fundamental e que são contrários às privatizações.

Essa história ainda terá de ser contada. E vai ser.

70% dizem ser contra privatizações; só 20% a defendem; os mais pobres são os mais estatistas

Os brasileiros amam seus sequestradores. Que façam, então, bom proveito! E o amor é tanto maior quanto mais explorados os indivíduos são por seus algozes. Segundo pesquisa Datafolha, 70% dos brasucas são contrários às privatizações. Apenas 20% se dizem favoráveis. Afirmaram não saber 9%. A opinião é livre, mas ela pode ser informada ou desinformada. Só duas coisas justificam a defesa do estatismo: ideologia ou oportunismo (o sujeito mama nas tetas de órgãos públicos). Isso à parte, é desinformação. E a pesquisa revela, então, de lambuja, o analfabetismo econômico dos universitários. Explico.

Só 14% dos que têm ensino fundamental defendem a venda das estrovengas públicas (73% se opõem); a aceitação sobre para 20% no grupo com ensino médio (72% são contrários), alcançando 33% entre os com curso superior. Mesmo assim, nessa faixa, a rejeição à privatização é escandalosa: 62%. Quando se faz o corte por renda, a privatização supera a metade das preferências apenas entre os que recebem mais de 10 salários mínimos (55%a 39%); já baixa para 32% entre os de 5 a 10 (32% contrários); cai para 24% (contra 69%) no grupo que ganha de 1 a cinco mínimos e despenca para 13% na faixa que recebe até dois mínimos — 75% se opõe,

Vale dizer: o estatismo é mais popular entre os que sabem menos, entre os que ganham menos, entre os — estejam certos disto — que vivem menos. E, no entanto, cabe perguntar: o que o estatismo gera de positivo para toda essa gente? Resposta: nada!  Só existem mais celulares do que brasileiros por causa da privatização, que democratizou esse bem. Não houvesse estatais, não haveria petrolões e assemelhados.

Vale dizer: a esquerda venceu essa guerra.

Oposição às privatizações une bandeiras; brasuca não quer grana estrangeira na Petrobras

A oposição às privatizações lidera em todos os cortes, digamos, ideológicos. Entre os que se dizem simpatizantes do PT, só 11% as defendem, contra 83%; entre os que pendem para os tucanos, sobe a adesão, mas ainda é baixa: 37% a 55%; no MDB, apenas 17% a 75%.

O eleitorado de Lula, nem poderia ser diferente, é o mais avesso: 10% a favor contra 80%. Os eleitores de Marina Silva (Rede) não ficam muito atrás: 17% a 70%. No grupo que vota em Jair Bolsonaro, 35% afirmam apoiar privatizações, e 58% não querem saber dela. Entre os eleitores de Geraldo Alckmin (PSDB), a venda de estatais conta com o apoio de 36%, mas 54% são contrários.

Até entre os que avaliam o governo Temer como “ótimo/bom”, a venda de estatais é mais impopular do que popular: 51% a 38%. O grupo que diz ser o governo ruim/péssimo é ferrenhamente estatista: 16% aprovam a venda de estatais, e 75% reprovam.

Ah, claro! A privatização da Petrobras em particular também conta repulsa gritante: 70% a 20%. Mais: esse povo varonil acha que a venda de estatais a grupos estrangeiros mais traz prejuízos do que benefícios (67%). Pensam o contrário apenas 21%. Acreditem: 78% não querem nem capital estrangeiro na estatal!

Tivemos, os liberais, a chance de travar o bom combate, mas a histeria tomou o lugar do pensamento. E a esquerda acabou nadando de braçada.  Lula, ou o seu preposto, aguardem para ver, vai tratar a Petrobras como vítima não dos ladrões e larápios que lá foram enfiados, mas do dito “governo golpista”.

É preciso errar muito para fabricar algo tão estúpido.

E se errou.

Lula recomenda a jornalistas: “Não façam como André Singer, um Bourbon do PT, meu ex-porta-voz, que não entendeu nada”

Como? Luiz Inácio Lula da Silva, duas vezes presidente da República e pré-candidato a um terceiro mandato, está pedindo que a imprensa não faça como André Singer, um verdadeiro “Bourbon” do petismo?

Pois é… Ainda está a transitar por aí o eco da voz de Lula: “Façam como Reinaldo Azevedo; leiam os processos”. Ele disparou tal afirmação em café da manhã com jornalistas, ocorrido na quarta passada (20 de dezembro). E não estava brincando, ainda que uma jumenta disfarçada de profissional da imprensa tenha rido à larga, de modo zombeteiro, como se o ex-presidente estivesse, ele também, zombando. Não! Ele não estava. Havia uma ironia no ar, mas era outra. Para entende-la, é preciso ter apenas os membros posteriores plantados no chão. Lula quis dizer:
“Se até Reinaldo Azevedo, que detesta o PT e é um liberal, de direita; que me chama de ‘Apedeuta’ e de ‘Babalorixá de Banânia’, diz que fui condenado sem provas, convém que vocês, que puxam o meu saco faz tempo, façam o mesmo: leiam os processos antes de opinar. Não se atirem a uma defesa burra, meramente ideológica, partidária, porque isso, em vez de concorrer para fazer justiça, provoca efeito contrário, é contraproducente.”

Lula, claro!, também sofre com aqueles que, estando DO SEU LADO — e, às vezes, A SEU LADO — ainda não entenderam nada porque não aprendem nada nem esquecem nada, para lembrar a frase com que Talleyrand brindou os Bourbons. Escrevo que “Lula também sofre” porque, do lado antiesquerdista, as asnices não são menores. Ou melhor: SÃO MAIORES. Tanto é assim que, se a eleição fosse hoje, o chefão petista seria eleito presidente da República. E o pior para quem não é de esquerda não está no futuro do pretérito do indicativo decorrente de um passado no subjuntivo, mas no futuro do subjuntivo, com arremate no futuro do indicativo: se Lula não for condenado a tempo (sem mais recurso) pelo TRF4, será eleito. Daí se conclui que na disputa de coices e orelhadas, a não-esquerda ganhou a peleja — e, pois, perdeu o jogo. Agora resta torcer para que o tapetão faça o que ela não soube fazer.

Volto a Singer.

Não! Ele não é burro. Não! Ele não é pouco lido. Não! Ele não é inexperiente.

Mas ele é de esquerda. Coisa de alma mesmo! E, para um esquerdista autêntico, não existe valor maior do que destruir o adversário, ainda que isso custe a própria vida, como na fábula do escorpião que ferroa o sapo quando este lhe dava uma carona ao cruzar o rio. Singer, a exemplo de boa parte dos petistas e do escorpião, não tem exatamente uma ideologia, mas uma natureza.

Na Folha deste sábado, ele escreve um  artigo texto espantoso. Se vocês lerem, notarão que o pensador não seguiu o conselho de Lula — e, pois, “NÃO FEZ COMO REINALDO AZEVEDO”. Singer não foi ler os processos. Nem os que dizem respeito a Lula nem os movidos contra membros do PSDB e de outros partidos.

Ele ocupa o espaço no jornal para fazer mero proselitismo partidário e acusar a Lava Jato de ser parcial e de prejudicar apenas um dos lados: o PT, claro! Faz uma leitura rasa do quadro político — e legal! —, que não resiste a um confronto mínimo com a realidade. Chega a escrever:
Não é possível que o rigor da lei recaia de um lado só. O desequilíbrio do que aconteceu nos últimos quatro anos é mais do que evidente”.

De um lado só??? Vejam o que aconteceu com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que, por muito pouco, não se elegeu presidente da República em 2014. Foi moído, triturado!, pela Lava Jato. Num rasgo verdadeiramente asqueroso, Singer chega a dizer, tentando alguma ironia (suponho), que o senador passou por uma “cassação temporária, já revogada”, citando ainda “a prisão de sua irmã (Andréa Neves), também revogada”.

Adiantaria?
Adiantaria explicar a Singer que Aécio e Andrea nem ainda são réus nesse caso? Adiantaria explicar a Singer que o Senado reviu a decisão da “cassação temporária” do senador justamente porque a Constituição não prevê “cassações temporárias”? Adiantaria explicar a Singer que não faz sentido cobrar tratamento idêntico, igualando PT e PSDB, dado que, afinal, o centro da investigação é o desvio de recursos públicos operado por agentes que integravam a máquina do governo e que, afinal, tal governo era comandado pelo… PT? Andrea Neves, note-se, é um caso eloquente: ficou na cadeia sem nem ser ré em razão de uma acusação feita por Joesley Batista. Lula deve ter condenação conformada pela segunda instância, em janeiro, mas seguirá fora da cadeia. Todos sabem o que penso, note-se, de tal processo.

A natureza
Não adianta! André Singer insiste em ser o escorpião que ferroa o sapo. Metam-se alguns tucanos no xilindró, igualem-se (na sua cabeça os menos) as punições, e, então, segundo seus critérios, será forçoso concluir que se fez justiça. Ignorem-se as centenas de delações dando conta da centralidade do PT no esquema de corrupção. Deixem-se de lado as evidências de que o partido, na prática, privatizou a máquina do estado em seu próprio benefício… Observem: Singer aponta, o que é escandalosamente falso, um empate nos crimes entre PT e PSDB para que possa, em tão, reivindicar um empate nas punições.

Mas como poderia ser o PSDB tão criminoso como o PT se era esta a legenda do poder; se era esta a legenda que mandava na Petrobras; se era esta a legenda que dominava a máquina pública; se era esta a legenda que tinha as empreiteiras nas mãos? Ora, por definição, não há como fazer tal equiparação. Essa suposta igualdade, note-se, é uma tese do espantoso Rodrigo Janot, sobre a qual ele fez digressões na denúncia que apresentou contra Aécio Neves. Que esperança tenho de que Singer tenha lido a denúncia do ex-prorurador contra o senador? Respondo: nenhuma! Duvido, aliás, que tenha lido as peças que dizem respeito a Lula. O proselitismo não precisa de fatos a endossar seus argumentos; acredita, antes de tudo, que os argumentos podem tomar o lugar dos fatos.

Os burros
Também, vênia máxima!, a esquerda xucra dá tiros no próprio pé, a exemplo da direita. Singer, por óbvio, não pode fazer no seu campo ideológico (lembram-se do escorpião) o que um Reinaldo Azevedo faz no dele: o articulista detesta o PT e pensa que Lula está na raiz mais profunda da atual crise política. Mas Azevedo não condescende com agressões aos direitos de Lula (e aos de quem quer que seja). Singer, ao contrario, e isto fica patente, acha que haveria mais igualdade no jogo — e, portanto, mais justiça — se Aécio já tivesse sido cassado e se Andrea estivesse presa. Será que assim é porque ele leu as peças fundamentais do processo? NÃO! ASSIM É JUSTAMENTE PORQUE ELE NÃO AS LEU.

Vamos ser claros? Singer não é do tipo que precisa ler denúncias, argumentos da defesa e sentenças para concluir que tucanos são culpados e merecem ser punidos e que petistas são inocentes e merecem ser desagravados, .

Singer, como vocês notarão se lerem seu texto, nem mesmo percebe que, caso triunfasse sua tese, o caminho de Lula para a inelegibilidade e a cadeia seria encurtado. Aliás, com um pouco mais de simancol, iria perceber que os setores extremistas da Lava Jato estão doidos para encarcerar um tucano graúdo. Isso facilitaria enormemente a prisão do chefão petista, segundo a lógica de uma no cravo, outra na ferradura — se me permitem uma imagem oriunda do mundo que relincha e, às vezes, zurra.

Singer não entendeu nada. Não aprendeu nada. Não esqueceu nada.

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo

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