Temendo a volta da esquerda, centristas aceitam até Luciano Huck (por RODRIGO CONSTANTINO)

Publicado em 04/11/2017 17:41
na Gazeta do Povo

Há um claro movimento, até meio desesperado, em prol de uma alternativa de “centro” (e coloco aspas porque, no fundo, todas as opções apresentadas até agora são de esquerda, não de centro mesmo). Esse foi o tema do meu vídeo desta semana. O nome de Luciano Huck é o mais cotado para ser o “Macron brasileiro”. Eis aí a prova de que esse “centro” é totalmente de esquerda: Macron era do governo socialista de Hollande!

A revista Veja, cada vez mais esquerdista (a ponto de quase levar à falência a CartaCapital), foi a mais escancarada nessa estratégia do establishment nacional em busca de seu Macron. Na capa desta semana, estampou a urgente necessidade de se encontrar o centro salvador:

Ou seja, a narrativa está dada: no extremo à esquerda, Lula, no extremo à direita, Bolsonaro, e no centro moderado o espaço a ser preenchido por alguém. Quem? Dória, Alckmin, Huck, Meirelles? Fica claro que esse “centro” tem toda pinta de esquerda.

Centro, no Brasil, é o PMDB, nosso “poder moderador”. Serve para impedir que o Brasil vire a Venezuela, mas também para não permitir que vire o Chile. Com instinto de sobrevivência, o PMDB colocou seu parceiro PT para escanteio, e ensaia uma “ponte para o futuro”. É verdade que dar “continuidade” às reformas (que não saíram do papel ainda) é crucial, como lembra Rogério Werneck em sua coluna de hoje:

O que mais importa, no momento, é como o centro do espectro de forças políticas deverá se apresentar na disputa presidencial. Por sorte, já há sinais de que os principais pré-candidatos de centro perceberam, afinal, que o mais prudente, tendo em vista o que lhes espera, à esquerda e à direita, é unir forças e tentar construir uma ampla coalizão, multipartidária, em torno de um deles.

Não se pode subestimar as enormes dificuldades envolvidas nesse desafio. Mas não há como deixar de enfrentá-las. E parece a cada dia mais claro que a única argamassa que pode dar solidez a uma coalizão tão ampla e heterogênea — que vá de tucanos “cabeças pretas”, de um lado, à tropa de choque de Temer, do outro — é o compromisso comum com a manutenção, no próximo mandato presidencial, da política que vem sendo levada à frente pela equipe econômica do atual governo. Política que Lula vem prometendo, país afora, desmantelar.

É isso que estará em jogo em 2018. E não há tempo a perder.

Respeito a opinião do meu antigo professor, mas gostaria de trazer um contraponto. Se o objetivo é mesmo o centro moderado reformista, então, em primeiro lugar, é preciso deixar claro que os nomes até aqui aventados são de esquerda, não de centro. Em segundo lugar, uso o conceito de física para me auxiliar aqui: para ter o centro como vetor resultante, então é preciso votar na direita.

Sim, porque não vamos esquecer que a extrema-esquerda esteve no poder pelos últimos 14 anos! O governo Temer foi uma leve guinada ao centro. Mas depois de tanto tempo de esquerdismo radical, sem falar dos tempos esquerdistas dos tucanos, parece evidente que o Brasil vem sendo sufocado há tempo demais pelo excesso de esquerdismo.

Quem é realmente moderado, centrista, precisa entender o conceito de movimento pendular. Nosso pêndulo extrapolou para a esquerda. Logo, para colocá-lo de volta ao centro, não basta ir de centro, menos ainda de um “centro” claramente esquerdista. É preciso ir de direita, para que a síntese seja mais de centro.

A França esquerdista, depois do socialista Hollande, resolveu apostar no “centro” de Macron, um esquerdista que surgiu do nada e era do governo do próprio Hollande. Prometeu muitas reformas. Onde estão? Entendo o medo com aquela turma nacionalista de Marine Le Pen, mas daí a constatar que o “centro” realmente vai fazer diferença é uma longa distância. A França continua mergulhada no caos esquerdista.

Já os Estados Unidos, depois de oito anos de esquerdismo radical com Obama, não foi de “Macron”, não escolheu Marco Rubio ou Jeb Bush, e sim Donald Trump. “Ah, ele é muito radical”, dizem os “moderados”. Mas talvez seja justamente o remédio amargo necessário para regressar com o pêndulo ao centro, já que o Partido Democrata se radicalizou demais à esquerda. O país precisava de alguém que enfrentasse esse establishment e essa hegemonia “progressista”.

Portanto, não compartilho desse medo todo da direita, como a turma “moderada” que busca desesperadamente um Macron tupiniquim. E busca nos locais errados. Um apresentador da Globo que era simpático até com petistas e que quer mais “igualdade”? Um ex-conselheiro da J&S, do grupo JBS? Um tucano sem coragem de comprar briga com petistas? São essas as soluções para o Brasil, para desintoxicar a máquina estatal do esquerdismo petista?

“A melhor prova do colapso de um movimento intelectual é o dia em que ele não tem nada mais a oferecer como um ideal último além da demanda por moderação”, disse Ayn Rand. “Extremismo na defesa da liberdade não é um vício; moderação na busca por justiça não é uma virtude”, disse Barry Goldwater, o senador que foi candidato a presidente em 1964 e abriu o caminho mais liberal-conservador para Reagan depois.

Não é preciso concordar com eles. Não é preciso ser um radical para defender a direita. Mesmo uma pessoa moderada, de centro, pode compreender que, para obter seu resultado desejado mais ao centro, há momentos em que é preciso forçar a barra para o outro lado, especialmente depois que ela foi toda envergada para a esquerda. Edmund Burke era um liberal Whig bem moderado, que se tornou o “pai do conservadorismo” ao ver a radicalização dos jacobinos.

No Brasil de hoje, não há nada de errado, é perfeitamente lógico, alguém gritar: “Voto na direita, mesmo na direita mais radical, porque sou um moderado de centro!” Conheço várias pessoas com esse perfil, que em condições normais de temperatura e pressão jamais cogitariam votar num candidato com perfil mais radical, mas que estão dispostos a abrir uma exceção, pois a alternativa não é o centro, mas a permanência no esquerdismo destrutivo, que já foi longe demais em nosso país.

Rodrigo Constantino

Bolsonaro ironiza “apelo emocionante” da imprensa

Jair Bolsonaro disparou vídeo para sua lista de contatos de WhatsApp neste domingo para comentar as matérias de capa de duas revistas distribuídas no fim de semana:

“Ontem foi a Veja [que destacou o título ‘A política que assusta’, com as imagens de Lula e Bolsonaro], hoje [é] a IstoÉ.”

O deputado leu o título “Começou cedo a enganação eleitoral” e mostrou as imagens de Lula, Ciro Gomes, Marina Silva e dele mesmo.

“Todos [foram colocados] no mesmo saco. E aqui dentro [da edição] um apelo emocionante para que PSDB e PMDB se unam para salvar o Brasil. Mais uma revista que entra para a coletânea do fake news. Eles aceitam qualquer um, menos Jair Bolsonaro. É bom ‘Jair’ se acostumando porque a população brasileira acordou, de há muito, [sobre] quem são esses políticos tradicionais e o que eles representam para a grande mídia brasileira.”

Dep Eduardo Bolsonaro conversa sobre economia com liberais

Eduardo não é Jair Bolsonaro. Mas o filho do pré-candidato vem tentando se aproximar de economistas mais liberais, tendo ele mesmo feito um curso sobre Escola Austríaca pelo Instituto Mises Brasil (aos interessados no tema, de grande relevância, aviso que vou lançar em breve um curso de introdução à Escola Austríaca peloInstituto Liberaltambém).

O esforço de aprendizagem rendeu frutos. É inegável que o discurso de Eduardo se tornou bem mais liberal em economia, influenciando também o de seu pai. Se antes Jair considerava “crime de lesa-pátria” privatizar a Vale, hoje ele já considera até a possibilidade de privatizar a Petrobras. O comentário de Eduardo sobre a regulação do Uber foi outro bom exemplo dessas aulas, apesar de seu pai ter se ausentado do voto.

A família Bolsonaro, portanto, vem ensaiando uma guinada mais liberal na economia, e isso deve ser festejado pelos liberais, sem dúvida. Quanto mais gente, quanto mais político endossar as bandeiras liberais, melhor. E como houve esse desejo por parte de Bolsonaro, alguns economistas liberais aceitaram o desafio e estão tentando oferecer assessoria ao deputado.

É o caso de Adolfo Sachsida, colunista do Instituto Liberal, que fez um bate-papo de duas horas com Eduardo Bolsonaro e Andre Gordon sobre temas econômicos. Abaixo, um trecho editado resumindo um pouco o teor da conserva, focando justamente na regulação do Uber:

Não tenho como dizer se essa influência liberal será efetivamente absorvida pelo candidato, mas é louvável o fato de Bolsonaro se mostrar disposto a atrair economistas com esse viés, admitindo seus próprios conhecimentos limitados na área (um ótimo avanço em relação a Dilma, convenhamos). A mentalidade de militar se mostra muito presente ainda, o que é apenas natural, e esse “confronto” de ideias só tem a agregar.

Agradeço ao Sachsida pelo menção ao meu nome, e esse deve ser o espírito: as críticas são construtivas, e por não sermos os donos da razão, devemos estar sempre abertos a esse debate de ideias, em busca do melhor para o Brasil. O patriotismo é a premissa básica, e ele está claramente presente na família Bolsonaro. Se esse patriotismo for utilizado com humildade nas áreas que não são especialidade deles, o resultado pode ser excelente.

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

O BC independente de Bolsonaro (em O Antagonista)

Não se sabe se Jair Bolsonaro leu a entrevista de O Antagonista com Carlos Eduardo de Freitas, mas ele parece empenhado em se mostrar confiável para os economistas.

Visto como intervencionista, o presidenciável acaba de defender no Twitter que o Banco Central atue de modo independente –ideia que é música aos ouvidos da maioria dos economistas (e a que Dilma Rousseff sempre teve horror).

“Se Bolsonaro é um risco, Lula seria uma tragédia certa”

O Brasil só vai conseguir se salvar do desastre deixado pelo PT na economia com a aposta nas reformas estruturantes, em uma política fiscal e macroeconômica estável e no enxugamento do Estado.

“Está claro que não é hora de um Estado pesado e excessivamente intervencionista. É hora de limitar e organizar as despesas públicas e liberar as forças produtivas, além de repensar as empresas estatais”, disse a O Antagonista, em entrevista exclusiva, o economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor de de Liquidação e Desestatização do Banco Central.

A volta de Lula (ou da matriz econômica esquerdista), como sabemos, seria “uma tragédia certa”, apenas reforçou o professor.

Já Bolsonaro…

“Alguns posicionamentos dele, pelo menos até agora, indicam riscos sérios para a retomada da nossa economia. Algumas convicções que ele diz ter vão no sentido contrário do que precisamos para continuar avançando.”

Em recentes declarações, inclusive para este site, o presidenciável reconheceu que não é um profundo conhecedor de economia e afirmou que quem precisa entender do assunto será o seu ministro da Fazenda, caso seja eleito.

“Mas todo mundo sabe que não é bem assim”, ponderou Freitas. “Quando ele fala, por exemplo, em restringir negócios com países com a China, por exemplo, isso não existe. Só uma pessoa completamente desligada da realidade econômica mundial pensa assim.”

Na avaliação do ex-diretor do Banco Central, Bolsonaro continua se apresentando como um liberal — até porque tem quase a obrigação de fazer um contraponto à matriz econômica petista –, mas sinaliza estar disposto a ser um nacional-desenvolvimentista.

“Ele (Bolsonaro) não é um socialista, claro. Não tem viés socialista em nenhum sentido. Porém, aparenta aceitar um capitalismo que flerta com muita regulação e muita intervenção no mercado, algo parecido com o que fez o general Ernesto Geisel. E penso que este não seria o momento mais adequado para essa estratégia na nossa economia.”

Na conversa com O Antagonista, Freitas ainda afirmou que Bolsonaro “é um sintoma, não a causa de um problema” no cenário político brasileiro.

O economista insistiu que, apesar do “risco Bolsonaro”, tudo seria, no mínimo, “menos pior do que a tragédia certa que tem nome: Lula”.

Leia mais sobre esse assunto nos dois posts abaixo:

 
 

A eterna “terceira via” de Marina (em O Antagonista)

Em 2014, Marina Silva pregou uma “terceira via” fora da polarização PT-PSDB.

Para 2018, em encontro com a cúpula do PSB, ela voltou a pregar uma terceira via, defendida também pelo dirigente socialista Pedro Ivo em razão da “importância de constituir um bloco fora da polarização” com “alianças programáticas”, segundo o Painel da Folha.

O Antagonista lembra que a polarização atual nas pesquisas é entre Lula e Jair Bolsonaro, que assumiu o lugar de Marina na terceira via.

Mas ela saiu animada do encontro com os socialistas, dizendo que foi “a melhor conversa que teve com o PSB desde as eleições de 2014”.

Embora ainda não se assuma candidata ao Planalto nem dentro da própria Rede, Marina deu sinais claros de que tentará reeditar a aliança que a levou às urnas três anos atrás.

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Fonte: Blog Rodrigo Constantino

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