Afirmação de que portaria 1.129 facilita trabalho escravo é “fake news” esquerdopata, mas seduz
Se eu não conhecesse a capacidade que têm as esquerdas de substituir a verdade por seu amor homicida à humanidade, eu me espantaria com o que está em curso. Mas eu conheço. E faz tempo. Tanto pior quando esses esquerdistas estão na pele de auditores fiscais do trabalho ou de integrantes do Ministério Público do Trabalho. Qual o busílis?
O Ministério da área baixou a Portaria 1.129 que trata da concessão do seguro-desemprego a pessoas que tenham sido submetidas a trabalho análogo à escravidão e afins. A íntegra do texto está aqui. Tentem achar uma única linha que atente contra os interesses dos trabalhadores. Não há.
Inventou-se a mentira grotesca de que a portaria relaxa a investigação e flerta com os exploradores da mão de obra alheia. FHC caiu na conversa. Raquel Dodge, a nova procuradora-geral da República, caiu na conversa. A imprensa caiu na conversa. E, por obvio, a Organização Internacional do Trabalho também. E todos eles caíram de pau num texto que nem sequer devem ter lido.
A exploração do chamado trabalho análogo à escravidão é um crime. Está no Artigo 149 do Código Penal, alterado pela Lei 10.803, de 11 de dezembro de 2003. Prevê pena de dois a oito anos a quem “reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”. A pena é aumentada de metade se o explorado é criança ou adolescente ou se o crime é cometido por “preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem”.
Esse é o único risco que corre o empregador? Não! O Artigo 243 da Constituição determina a expropriação da propriedade, se rural, para fins de reforma agrária. Mais: a Portaria Interministerial nº 2, de 12 de maio de 2011, do Ministério do Trabalho e Emprego e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República criou a “Lista Suja” do trabalho escravo. Quem integrar a dita cuja está perdido. Não vai mais conseguir empréstimo em banco público ou privado. Também estará proibido de vender a entes estatais.
Para os verdadeiramente culpados, as punições me parecem justas. E notem: uma portaria não teria o condão de mudar a lei. Mas esperem! O que caracteriza cada um daqueles dos termos do Artigo 149 do Código Penal? É justamente o que faz agora a Portaria 1.129. Ela define o que é “trabalho forçado”, “jornada exaustiva”, “condição degradante” e “condição análoga” à escravidão”.
Hoje, isso fica para o juízo, com larga margem de subjetividade, do auditor fiscal do trabalho, que é ligado ao Ministério da área, e dos representantes do Ministério Público do Trabalho. Sim, há histórias horripilantes de, diria eu, escravidão propriamente, não apenas de “condição análoga”, mas também há uma fila imensa de casos escancarados de abuso de autoridade e de confusão entre rigor técnico e alinhamento ideológico. A portaria exige detalhamento e provas da infração, incluindo fotos. E impede que o nome do empregador seja lançado na lista suja até que não se conclua o processo. Tal atribuição será do ministro do Trabalho, mas não como ato discricionário. Leiam a portaria e vejam as etapas da investigação.
Ao contrário do que alardeia a gritaria que está por aí, a portaria torna mais difícil a vida do eventual criminoso que explora trabalho degradante. A partir da 1.129, o auto de infração já enseja, simultaneamente, uma investigação criminal. Mais: a Polícia Federal será chamada a participar das ações e há uma elevação da multa que pode chegar a 500%.
Qual é a razão da histeria, então? Simples e fácil de responder: a partir de agora, não basta que o auditor fiscal do trabalho, frequentemente em parceira com um membro do Ministério Público da área, decida olimpicamente o que é e o que não é cada uma daquelas formas de degradação da mão de obra.
Estreitou-se a margem de subjetivismo e discricionariedade. A reação que está aí, lamento, nada tem a ver com a proteção ao trabalhador. Trata-se apenas de uma corporação lutando para manter prerrogativas que foram sendo arrancadas no berro e ao arrepio da lei.
No fim das contas, esses senhores estão reclamando porque também eles estarão submetidos ao império da lei.
A pressão sobre o governo para revogar a medida é grande. Daqui a pouco, o Caetano Veloso e a Paula Lavigne vão dizer o que acham do assunto. É possível que os outros “zartista” também resolvam entrar no debate. Espero que o governo Temer não recue. Em defesa dos trabalhadores. Em defesa dos empregadores. Em defesa da lei.
E, podem esperar, em “O É da Coisa”, a partir das 18h, volto ao assunto. Ainda há muito a dizer a respeito.
Minha coluna na Folha : Defender o devido processo legal é questão de coragem, não de lado (REINALDO AZEVEDO)
Na segunda (16), Celso Rocha de Barros, colunista deste jornal, sugeriu haver uma armação para livrar a cara de Aécio Neves. E atirou: “(…) na luta para derrubar Dilma Rousseff, nenhum dos analistas que hoje se preocupam com equilíbrio institucional dava a mínima para isso”. Bem, o “nenhum” me inclui. “Truco!”
Barros diz não ser constitucionalista. Também não sou. Mas depois decreta que os casos Aécio, Delcídio do Amaral e Eduardo Cunha são iguais. Não são. De toda sorte, critiquei as medidas impostas aos três. Mas sei: os tempos são mais simpáticos a quem prega cadeia para todos.
Não esperei que a truculência do MPF ou de Sergio Moro chegasse à “direita” para reagir. No dia 17 de julho de 2015, escrevi aqui: “Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal (…) têm ignorado princípios básicos do Estado de Direito. Não é difícil evidenciar que prisões preventivas têm servido como antecipação de pena”. Nome da coluna: “Os filhos do PT comem seus pais”.
As heterodoxias da Lava Jato são rebentos do “direito achado na rua”, que o partido levou às universidades.
Barros escreve bem. Entrega-se ao embate ideológico com “as direitas” —são muitas—, mas afina quando se trata de Lava Jato e Moro. Eu não! Tendo garantida a farinata diária de ódio que me dedicam as esquerdas, despertei a fúria da direita quando, em 12 de maio, acusei o juiz de desrespeitar o devido processo legal ao tomar o depoimento de Lula.
Em 14 de julho, demonstrei que o magistrado condenou o petista, no caso do apartamento de Guarujá, sem provas. Na semana seguinte, evidenciei que, em sua sentença, Moro ignorou a denúncia do MPF e puniu o petista pelo, digamos, conjunto da obra. No meu blog, em 14 de setembro observei que, em novo depoimento do ex-presidente, juiz e procuradores voltaram a deixar a denúncia de lado —nesse caso, tratava-se do apartamento de São Bernardo.
Estou com “desvio petista”, como sustentam os idiotas? O PT fechou uma revista e um site que eu tinha. Pediu minha cabeça a empregadores umas 300 vezes —só a Lava Jato pode se orgulhar de tal feito. Não me abraço a meu rancor em matéria de direito —aliás, em matéria nenhuma.
(…)
Íntegra aqui
Isenção a igrejas também é dinheiro público; deve o Estado regular seu conteúdo teológico? (REINALDO AZEVEDO)
Sou católico. Se eu confessasse por aí que sou dependente de alguma droga ilícita, haveria umas 200 ONGs interessadas em mim, dispostas a me proteger, menos de mim mesmo, certo? O ilícito costuma atrair a atenção e a proteção dos esquerdistas e afins. Também já entrei em embates muito duros, como quando quiseram cassar o diploma de psicólogo do pastor Silas Malafaia. Estava na cara que havia preconceito ideológico e religioso disfarçado de rigor técnico. E não! Eu não acredito em cura gay. E pouco importa se concordo ou não com o que diz o líder religioso. Devo ser o colunista na imprensa que mais apontou as heterodoxias de que Lula foi e é vítima na Justiça. O PT me detesta e já fechou uma revista minha. E daí? Trato do assunto na minha coluna de amanhã, na Folha.
Defendo a religiosidade como expressão dos direitos individuais e sociais e como expressão da cultura. Mas daí a permitir que as igrejas queiram se assoberbar em bedéis do Estado brasileiro vai uma diferença brutal. Nesta quarta, em Brasília, durante uma audiência pública, como relata reportagem da Folha, o ministro Sérgio Sá Leitão, da Cultura, foi alvo de agressões inomináveis. Reproduzo um trecho:
“Já no fim do debate, apresentando-se como católico, Givaldo Carimbão (PHS-AL) perguntou se o ministro acharia razoável expor sua progenitora como artistas do ‘Queermuseu’ o fizeram com Virgem Maria, a quem chamou de ‘minha mãe’. Obras da exposição cancelada satirizavam e sexualizavam a mãe de Jesus, como uma em que ela aparecia acalentando um macaco. Carimbão lançou a hipótese da mãe de Leitão retratada “de pernas abertas”, com genitália à mostra. Leitão se exaltou e, aos berros e com dedo em riste, acusou o deputado de ‘ofender minha falecida mãe’. ‘Ele baixou o nível e ofendeu diretamente a minha mãe, já falecida. De modo gratuito. Fez comentários absurdos. Superou o meu limite. Lamento profundamente’, disse Leitão à Folha.”
A chamada ‘Bancada da Bíblia” quer que o governo federal, violando a Constituição, tenha uma espécie de poder de censura sobre exposições e manifestações artísticas que contem com o apoio da Lei Rouanet, que, berram, “é dinheiro público”. O ministro tem a correta solução para o caso, compatível com o Estado de Direito: que a classificação indicativa se estenda também a esse tipo de expressão artística, como já existem em outras áreas. E, por óbvio, não compete ao Estado o papel de censor.
No outro extremo, claro!, situam-se as esquerdas, de que o jornal “O Globo” se tornou porta-voz. Até aí, faça o que lhe der na telha. Ocorre que a publicação passou a atribuir a Sá Leitão o que ele não pensa e o que ele não fez, como a defesa da censura e a submissão das manifestações artísticas que venham a contar leis de incentivo a um crivo religioso. O jornal chegou a inventar um artigo inexistente de uma Instrução Normativa. E depois ainda teve a ousadia de fazer um editorial, atacando o ministro, a partir do texto inexistente. O nome disso? Parece ser parte da campanha para derrubar o presidente Michel Temer.
Bem, meus caros, aqui se diz tudo, doa a quem doer. Parte do berreiro da patrulha religiosa — e não estou aqui a endossar o lixo estético que se faz passar por arte — se assenta no fato de que “a Lei Rouanet” é dinheiro público. Se é, o deputado Sóstenes, por exemplo, exige que o governo submeta as exposições e afins a uma espécie de crivo oficial. Bem, as palavras fazem sentido, e eu topo debater com Sóstenes. Não as matérias de Deus, mas a matéria dos homens.
Isenção fiscal, deputado, também é dinheiro público. E encontro lá na Constituição este dispositivo:
“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (…)
VI – instituir impostos sobre: (…)
b) templos de qualquer culto”
Cuidado com os argumentos, Sóstenes! Se o emprego do “dinheiro público” — e a isenção fiscal também é uma renúncia! — justifica que o Estado interfira no conteúdo do que se produz, por que não se verificar, então, a qualidade teológica do que andam pregando certas igrejas? Eu me interesso, em especial, por aqueles que realizam, por culto, mais milagres do que Jesus Cristo ao longo de toda a sua vida.
Se são as obras sociais e afins a justificativa moral para a isenção, então seria preciso que o Estado tivesse controle e domínio sobre tais obras, para avaliar se a isenção se justifica mesmo. E convenham, né, doutores? Nessa área, ainda que prudente fosse, não se pode nem mesmo falar em classificação indicativa. Sim, respeito todas as religiões. Mas há certas teologias que, em termos intelectuais, deveriam ser proibidas para menores de 180 anos…
Sóstenes parece exercer um papel de liderança nessa coisa toda. Eu lhe recomendaria não abrir as portas da censura na área da cultura. Ou alguém acaba fazendo o mesmo na área da religião.
Os votos "estranhos" de Ana Amélia, Kátia, Magno Malta e Caiado contra a independência do Senado (REINALDO AZEVEDO)
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) retomou seu mandato. Tanto melhor, já destaquei aqui, que isso tenha se dado por intermédio do voto aberto e nominal: seus pares no Senado não tiveram de se esconder. Nesse sentido, a liminar do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, serviu de estímulo para que o Senado recupere a sua dignidade, aviltada de forma inaceitável por uma decisão destrambelhada do Supremo.
A propósito: a dita movimentação em favor do “voto secreto” foi uma invenção do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e da turminha que o cerca. Nunca houve esforço nesse sentido. Sempre se soube que tal prática não passaria, embora pudesse ser tecnicamente sustentável, como demonstrei aqui. Até porque, meus caros, basta olhar o resultado da votação para saber que os que votaram contra Aécio o fariam em voto aberto ou fechado.
Há, sim, muito a lamentar. Uma votação como a havida nesta terça deveria ter o placar de 79 a zero. Não votariam apenas o próprio Aécio e o presidente da Casa, Eunício de Oliveira. Tratava-se de decidir se uma das Casas Legislativas — o Senado — vai se manter de pé ou andar de quatro. Os oito senadores em viagem ao exterior deveriam ter ficado no Brasil. Rose de Freitas (PMDB), que diz não ter conseguido assento em voo do Espírito Santo para São Paulo deveria ter destacado um de seus 23 assessores — 19 comissionados e 4 terceirizados, segundo o Portal da Transparência — só para cuidar do assunto. Mas não. Ela se distraiu. Vai ver a turma estava muito ocupada.
Os 44 votos obtidos em favor da devolução do mandato a Aécio correspondem, já destaquei em comentário na Band News FM, a 62,85% do total, uma vez que só 70 votaram. A propósito: foram dar uma passeadinha enquanto se decidia o futuro do Parlamento brasileiro os seguintes valentes: Armando Monteiro (PTB-PE), Cristovam Buarque (PPS-DF), Gladson Cameli (PP-AC), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Jorge Viana (PT-AC), Ricardo Ferraço (PSDB-ES), Sérgio Petecão (PSD-AC) e Vanessa Grazziotin (PCDOB-AM).
E por que o desejável era o placar de 79 a zero? Porque não se tratava do julgamento de Aécio. Este, caso a denúncia seja aceita e caso as provas sejam apresentadas, ainda acontecerá. E será feito pelo Supremo. Ou, então, o próprio Senado pode avaliar se houve ou não quebra de decoro por intermédio de uma ação no Conselho de Ética. Respondia-se a outra coisa nesta terça: pode o Supremo, sem prescrição constitucional, afastar um parlamentar de seu mandato? Ainda que o tribunal tenha decidido que sim, desde que a questão seja submetida à respectiva Casa, cumpria aos senhores senadores dizer-lhe que “não”! Enquanto não se muda a Constituição para coibir essa intromissão de um Poder em Outro, era preciso dizer pelo voto que as garantias do Parlamento são intocáveis. E isso não depende de ideologia ou de camisa partidária.
A maioria fez a coisa certa, sim!, mas ficou evidente que existe uma minoria expressiva que não ainda não entendeu o alcance da democracia. Ainda não foram batizados no credo de Montesquieu. Ainda não tiveram a testa molhada pela água sagrada da independência entre os Poderes.
Já cansei de ver os petistas, por exemplo, a lamentar a sorte de Lula. Eu mesmo, que de esquerda não sou, que considero que o partido contribui para fazer o país andar para trás, já apontei as múltiplas vezes em que se empregou com o líder petista um critério de exceção. E o faço tendo de enfrentar as hostes da direita xucra, que se juntam às já conhecidas milícias esquerdistas para me atacar. Estas o fazem porque me consideram de direita; e os direitistas, porque acham que estou flertando com a esquerda. Bem, não será o PT a definir as minhas opiniões, em favor de um petista ou contra ele. Escrevo o que quero porque sou dono da minha opinião e do meu teclado, que já se chamou “pena” um dia.
Mas vejam lá como o partido não entendeu nada. Reparem o seu asqueroso comportamento no Senado: o voto em favor da punição a Aécio foi unânime entre os petistas. Ao fazê-lo, justificam e adotam todos os procedimentos heterodoxos e discricionários que já se empregaram e ainda vão se empregar contra Lula, o seu líder maior. O PT é o escorpião que ferroa o sapo que o carrega nas costas durante a travessia do rio. Os sete senadores do partido que estavam no Brasil votaram contra Aécio. E dois outros só não o fizeram porque em viagem: Tião Viana (AC) e Gleisi Hofflmann (PR). O partido prova, assim, como se precisasse fazê-lo de novo, que não tem é vergonha na cara: imaginem que momento raro não teria sido Gleisi, a ré, no pleno exercício de seu mandato, a endossar a cassação branca do mandato de quem nem réu é ainda.
Que se note: quem quer que tenha votado em favor da manutenção das medidas cautelares ainda não entendeu o regime democrático. Sem exceção. Nada justificava o “sim”. Mas lamento quatro votos em particular:
– o de Ana Amélia (PP-RS): os conservadores brasileiros costumam perder as batalhas para as esquerdas porque, não raro, desconhecem os pressupostos da convicção que dizem abraçar. A senadora é um exemplo eloquente;
– o de Magno Malta (PR-ES): o senador se tornou figura carimbada nas redes sociais. Ora diz coisas com coisa, ora não. Está acostumado a “mitar”, como se diz por aí. Virou refém do alarido. Acha que seu antipetismo exacerbado basta para lhe dar sempre razão;
– o de Kátia Abreu (PMDB-TO): chegou a ser a principal liderança conservadora — ou não-esquerdista do Parlamento. É uma política séria e decente. Mas a proximidade com o governo Dilma, de que foi ministra, alterou-lhe o DNA ideológico e hoje opera, no mais das vezes, com critérios da esquerda;
– o de Ronaldo Caiado (DEM-GO): também ele se tornou um tanto refém de uma personagem que encontra grande receptividade nas redes sociais: o moralista implacável, que jamais tergiversa com o malfeito. É um homem honesto. Mas anda a confundir alhos com bugalhos. Ontem, reitero, nem ele nem ninguém estava julgando os atos de Aécio.
Concluo lembrando o seguinte: os que ontem votaram “SIM” certamente terão a chance, daqui a pouco, de acusar desmandos e agressões ao Estado de Direito, porque estas não cessarão. Terão de lembrar, ou terão de ser lembrados, que, nesta terça, condescenderam com uma violência institucional. Ainda bem que formaram a minoria.
Barroso, Rosa e Fachin, a trinca de esquerda, ameaça garantias democráticas; (sugiro uma PEC, diz Reinaldo Azevedo)
O país está exposto a feitiçarias como neoconstitucionalismo e direito achado na rua; ao trio dos vermelhos, juntaram-se o oportunismo, o balofismo retórico e a covardia
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) obteve uma vitória maiúscula na votação desta terça-feira. Como já destaquei aqui, dos 70 votos possíveis, ele ficou com 44 — ou 62,85% do total. Os 26 que queriam mantê-lo afastado do cargo formam 37,14% dos votantes. Havia, como já vimos, oito parlamentares em viagem. Uma senadora diz não ter encontrado passagem. Aécio, por óbvio, e o presidente da Casa, Eunício Oliveira, não votaram. Eis os 81 senadores. Não houve abstenção. Ausência, de verdade, só mesmo a de Rose de Freitas (PMDB-ES), a tal que dispõe de uma penca de assessores, mas ainda não sabe como comprar um bilhete aéreo. O Senado ainda não morreu. Só para lembrar: ao arrepio da Constituição, o STF havia afastado, a título de imposição de medidas cautelares, o senador de seu mandato.
A propósito: que os corajosos do Congresso cuidem, desde já, de uma emenda que impeça, EXPLICITAMENTE, o tribunal de aplicar sanções que não encontram abrigo na própria Carta. E como se faz isso? Alterando a redação do Parágrafo 2º do Artigo 53, que tem de passar a ter a seguinte redação:“Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos ou submetidos a qualquer ação cautelar, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão ou as medidas cautelares.” E se põe fim a essa patuscada. “Ah, Reinaldo, se aprovada, alguém poderia recorrer a uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra tal emenda”.
É mesmo? Então eu tenho mais uma proposta: diz respeito à aplicação de medidas cautelares contra juízes, incluindo membros do Supremo. O que lhes parece? Estamos falando de democracia ou de safadeza? Não é de equilíbrio de Poderes que se cuida aqui? Por que o Legislativo há de estar submetido a sanções, sob o pretexto de que todos são iguais perante a lei, que não alcançam o Poder Judiciário?
“Calma, Reinaldo! A decisão destrambelhada foi de três membros da Primeira Turma — Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux — , não do tribunal”? Bem, as palavras fazem sentido, e a ordem dos fatos nos obriga a concluir outra coisa. A decisão acabou sendo da Corte, não é mesmo? Afinal, o voto verdadeiramente decente, com a devida vênia, é aquele que foi dado, originalmente, por Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Marco Aurélio: as medidas cautelares, quaisquer que sejam elas, nem mesmo são cabíveis. Depois, os três acabaram aderindo ao de Dias Toffoli, a saber: são cabíveis, sim, mas é preciso submetê-las à Casa de origem do parlamentar. Assim também votou Ricardo Lewandowski.
Então não sabiam esses cinco ministros que já se estava diante de uma concessão? Bem, foi o preço para atrair o voto da confusa e desorientada Cármen Lúcia. Com medo do alarido das redes sociais e de veículos de comunicação que a transformaram numa fina pensadora do direito, ela não aceitava simplesmente a recusa das medidas cautelares. Mas tinha noção do tamanho da encrenca que viria pela frente. Tanto é assim que ela ainda tentou a quadratura do círculo: dizia votar com Edson Fachin, que defendia as sanções a Aécio, desde que o afastamento fosse submetido ao Senado.
Eis aí, meus caros, estamos diante de uma questão: a trinca realmente esquerdista do Supremo — Fachin (petismo com teologia da libertação), Roberto Barroso (petismo com abortismo, elegebetismo e vale-tudismo) e Rosa Weber (petismo com ignorantismo) — está disposta a botar para quebrar. Para esses pensadores do direito, não existe Constituição. O que conta é o alarido. O que vale é o direito achado na rua. Não por acaso, contaram, em sua ida para o Supremo, com o apoio entusiasmado de patriotas como João Pedro Stédile. A eles se juntaram Luiz Fux e Celso de Mello. O primeiro costuma matar bolas no peito, como ele mesmo diz, ao sabor da conveniência. É capaz de defender uma espécie de prisão domiciliar a um senador que nem ainda é réu, mas de defender a liberdade, com desassombro, do terrorista Cesare Battisti. Está fazendo uma mesura a Barroso, que foi advogado do italiano.
Quanto ao decano do Supremo, fico com uma definição de uma amiga: o que está aí é o “ex-Celso de Mello”. Seu voto em favor das medidas cautelares contra Aécio é o estado da arte do frufru retórico sem substância, das citações balofas, da caudalosa cultura de notas de rodapé. Quem o ouvisse, com aquele tom grave, não diria que o homem estava estuprando a Constituição e tirando dos parlamentares brasileiros garantias de que seus pares gozam em todas as democracias respeitáveis do mundo.
Isso significa uma coisa, meus caros leitores e ouvintes: a democracia brasileira está, sim, sob o assédio da improvisação, do destrambelhamento judicial — que “ativismo” já não é — e da desordem, agora promovida por togados.
Nem na votação do Supremo nem nesta ocorrida no Senado, nesta terça, se estava julgando se o senador Aécio Neves é culpado ou inocente. Até porque, para tanto, seria preciso esperar, ao menos, que ele entregasse a sua defesa. Mas, para que pudesse fazê-lo, forçoso era que fosse réu ao menos. Não obstante, como se viu, Barroso não teve vergonha nenhuma de julgá-lo — ou linchá-lo — , enquanto violava com gosto a Constituição. E o ultra-esquerdista, não obstante, era aplaudido por grupos militantes de direita. A tal direita xucra. Mais: nem parecia que falava aquele cujo pai foi casado com a mãe de Fernanda Tórtima, advogada de Joesley Batista, aquele que acusa Aécio. Ela participou de cada passo dado pelo açougueiro de casaca. Assim, o ministro linchador, para começo de conversa, deveria ter se declarado impedido.
Foi a esse estado de coisas que o Senado disse “não” nesta terça. Não se tratou da absolvição de ninguém. Os senhores senadores que disseram “não” apenas defenderam a Constituição e o devido processo legal.