República do Sotaque de Pato Branco reage e faz de Palocci a bomba pronta para destruir o PT

Publicado em 06/09/2017 10:06
por REINALDO AZEVEDO: "Acusações de Janot contra Lula e figuras do partido são puramente circenses. Já o ex-ministro pode implodir o partido de forma inapelável"

No momento, o PT enfrenta dois adversários conjunturais: um se chama Rodrigo Janot. O outro, Antonio Palocci — em associação com a força tarefa de Curitiba e com Sérgio Moro. Janot é brincadeira de criança. De tal sorte sua atuação está se mostrando patética que não há muito a temer. Já a coisa com Antonio Palocci é complicada. Aí o bicho pode pegar. Ou por outra: as denúncias de Janot são pó de traque, biribinha, aquelas bolotas de areia e pólvora que a gente gosta de ver estalar no chão. Sempre penso no procurador-geral no papel de noivo da quadrilha. Mas Palocci, não! A República do Sotaque de Pato Branco lhe amarrou à cintura bananas de dinamite. Ele é agora o homem-bomba do ponto de vista político. A questão jurídica pode ir longe. Explico.

Vamos ao que é pura firula e ao que é politicamente muito grave para o PT. E, por óbvio, destaque-se que as ações estão articuladas, o que indica também a disposição da Lava Jato de sobreviver ao tsunami provocado pelas conversas entre Joesley Batista e Ricardo Saud.

O front de Brasília do Ministério Púbico Federal, aquele sob o comando de Rodrigo Janot, fez tanta bobagem que quase põe tudo a perder. A conversa entre Joesley e Saud indicam um ambiente de lassidão moral, de vale-tudo, de estímulo ao comportamento bucaneiro e abusado. Mais: visivelmente, as ações ligadas à investigação não se distinguem muito da pura e simples pistolagem — e a vantagem é sempre do pistoleiro. Algo precisava ser feito.

E Janot fez duas coisas que estavam a seu alcance para, ora vejam, devolver ao PT o papel de protagonista do petrolão. Isso é importante para não perder as ruas. O procurador-geral, então, resolveu denunciar Lula, Dilma e mais uma tropa de elite de integrar a grande organização criminosa. Para que a ação ficasse no Supremo, sob a égide da primeira instância do MPF, meteu uma petista com foro especial na turma: a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Não parou por aí. Janot também resolveu oferecer denúncia contra os ex-presidentes petistas por obstrução da investigação, naquele caso em que Dilma tentou fazer de Lula seu ministro da Casa Civil.

Essa segunda ação não vai dar em nada. É espuma rarefeita. A outra, a da organização criminosa, vai longe, leitores, muito longe. Por enquanto, Janot tem em mãos apenas alguns testemunhos. É óbvio que se trata de uma precipitação. Janot tenta se livrar da má fama. E uma boa maneira de fazê-lo, hoje em dia, é malhando petistas.

O PT não tem com o que se preocupar no curto prazo nem com uma coisa nem com outra.

O homem-bomba
Já Palocci é o homem-bomba. Este, sim, assombra o partido. A Turma do Sotaque de Pato Branco resolveu mostrar a Janot como se faz. O ex-ministro, sabidamente da confiança de Lula; que sempre cuidou da despensa do PT; que tinha os arcanos que conduziam aos cofres; que falava com o mundo empresarial e financeiro… Bem, este senhor decidiu, em tese ao menos, contar tudo.

Notem que há algo de incomum no comportamento de Palocci. Ele ainda não fez delação premiada, mas já confessou mais do que se esperava em processos dessa natureza. O que a turma do Sotaque de Pato Branco quer ouvir? Que a Odebrecht criou um fundo de R$ 300 milhões para o PT (e Lula)? Palocci conta. Que dinheiro de propina estava destinado a comprar o terreno do Instituto Lula? Ele conta. Que a reforma do sítio era parte do pacote de benefícios? Ele conta.

O que mais a turma de Curitiba quer que ele conte? Bem, ele conta.

Efeito político
É claro que o efeito político dessas confissões —   QUE AINDA NÃO SÃO DELAÇÃO — tem ao menos um potencial devastador. Num primeiro momento, não se cuida aqui da questão penal. Isso ainda vai longe. Testemunhas serão ouvidas. O próprio Lula está para depor. Sim, Sérgio Moro, um dia, vai condenar todo mundo. Mas isso ainda leva tempo e não terá desfecho nenhum antes de ficar claro se Lula será ou não candidato. Essa decisão depende exclusivamente da decisão do TRF4 no caso do tal tríplex de Guarujá.

A questão é mesmo política. O PT nunca teve contra si um testemunho como o de Palocci. Nunca ninguém do seu tamanho se voltou contra o próprio partido. Nunca uma figura tão próxima do chefão resolveu “entregar” tudo, como ele fez. Está claro! Não é da têmpera de um Delúbio Soares. Não á da têmpera de um João Vaccari Neto. Não é da têmpera de um José Dirceu. Palocci é da têmpera de um Palocci. E o homem evidencia estar cansado da cadeia.

Reitero que há algo de inusitado — também a indicar uma mudança de método da facção paranaense da Lava-Jato: Palocci entregou certamente muito mais do que esperava que entregasse. E o fez fora, reitere-se, do ambiente de qualquer delação. Notem que nada do que disse precisa passar por processo de homologação. Observem que ele não está obrigado nem mesmo a fornecer provas ou indícios daquilo que disse. Estamos diante, em princípio, da famosa “confissão”, em sentido clássico.

É claro que a delação virá. É claro que ele obterá os benefícios dela decorrentes; é claro que isso tudo será convertido em “colaboração premiada” — e, pois, alívio da pena.

Acontece que era preciso criar, antes da questão jurídica, o fato político. E ele está criado. Como o PT vai lidar com a coisa? Vamos ver. A situação é inédita: pela primeira vez, alguém da cozinha de Lula, que privou de sua intimidade, que era de sua mais estrita e absoluta confiança, a quem o líder confidenciava segredos e operações de controle restrito… Pela primeira vez, em suma, alguém com esse perfil acusa o Demiurgo, na prática, de ser corrupto, de estimular a corrupção e de fazer dela um método político.

E, junto com o petista, está ninguém menos do que a outra presidente eleita pelo partido: Dilma Rousseff.

A República do Sotaque de Pato Branco impôs a Palocci aquele que é o mais alto preço definido até agora: destruir o PT. E Palocci aceitou detonar o cinto de explosivos. Sim, politicamente, ele já está morto. Passará os anos vindouros escondido em algum lugar, cuidando dos netinhos. Ele só não suportava mais a cadeia.

Em síntese: as ações circenses de Janot não têm importância no curto prazo. O PT não está nem aí para elas. As consequências penais do que disse Palocci também têm um horizonte relativamente longo à frente. A questão, agora, é como o petismo vai reagir à devastação imediata, que é a política.

Eis o pior momento da história do partido.

O mundo de Janot desaba, e ele apela a Lula e ao PT para tratar direita como o cão de Pavlov

Sabem o que não suporto em Rodrigo Janot no que diz respeito ao estilo pessoal e ao jeito de fazer as coisas? A sua impressionante vulgaridade, aliada a um desprezo solene que nutre pela inteligência alheia. Se bem que, convenham, ele não tem perdido muita coisa ao apostar na burrice alheia, especialmente nas obsessões canhestras de certos reaças que mais sabem dizer por que não querem Lula do que afirmar por que querem o seu candidato, seja ele quem for.

Mais: a vaidade de Janot não lhe oferece espaço para pensar nos interesses do país. Ele rende o que for necessário no altar da arrogância, da vaidade, da truculência. E foi o que fez nesta terça ao entregar a denúncia contra Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Antonio Palocci e mais uma penca de companheiros. Acusação: integrar uma organização criminosa, que teria desviado pelo menos R$ 3 bilhões da Petrobras. Oficiosamente, a investigação é chamada de “quadrilhão do PT”. Integram o grupo Guido Mantega, Gleisi Hoffmann, Paulo Bernardo e Edinho Silva. O procurador-geral pede ainda que os petistas sejam condenados a indenizar a Petrobras em R$ 6,5 bilhões, além do pagamento de R$ 150 mil por danos morais.

Atenção, meus caros! Se há coisa de que tenho certeza é o fato de que o PT ter organizado uma estrutura para assaltar o Estado brasileiro, por intermédio das estatais e demais órgãos públicos. Mais do que uma determinação, eu diria que agir assim é um mandamento da natureza petista, que mistura o público e privado; o interesse nacional e as necessidades do partido; sua pantomima particular com a história universal. Logo, acredito que, com efeito, os crimes foram cometidos.

Dito isso, vamos ao ponto: será mesmo que o melhor dia para ter apresentado essa denúncia era esta terça-feira? No momento em que a Lava Jato passa para uma desmoralização como nunca se viu; em que o procurador-geral é obrigado a vir a público para admitir que seu braço direito conspirava contra os interesses do país; em que alguns setores mesmerizados pelas mistificações do MPF — e da PGR em particular — acordam para a realidade; a meros 12 dias de entregar o cargo, eis que vem o sr. Janot para acusar Lula de ser o comandante de uma organização criminosa? Vocês sabem: é aquele Power Point de Deltan Dallagnol, o rapaz que ainda não negou com a devida ênfase que vá ser candidato.

O apoio de esquerdistas à Lava Jato é, no geral, pequeno. Os companheiros acham que se deu um golpe em Dilma Rousseff com a ajuda dos procuradores — e de Janot em particular. A operação tem se escorado numa versão rebaixada da direita, que abandonou qualquer veleidade de economia política em favor do proselitismo mais rasteiro. E Janot está a precisar de apoio, não é?

Então ele não hesita: larga a denúncia contra Lula ao mesmo tempo em que é obrigado a admitir as ilegalidades da Lava Jato, o que os fanáticos sempre se negaram a ver — inclusive os fanáticos do antipetismo. Se o acordo com Joesley feria o princípio de uma certa moralidade abstrata, o que se descobriu no seio da Lava Jato é, sem favor, uma espécie de… organização criminosa.

Reitero: pessoalmente, não tenho dúvida de que o PT operou com o Estado brasileiro no formato de uma organização criminosa. Mas essa questão, dadas a sua gravidade e a importância política, poderia ficar sob os cuidados de Raquel Dodge, que vai substituir Janot. Mas quê! Desmoralizado e humilhado, resolveu surfar mais uma vez nas ondas fáceis do antipetismo. E resolveu tratar a direita como o cão de Pavlov, aquele que baba.

É claro que não será Janot a respeitar intelectualmente uma direita que não se respeita, certo?

Cármen, que cedeu a populismo da Lava Jato, reage a agressão. Reação tardia, mas necessária

Presidente do Supremo faz pronunciamento indignado sobre o diálogo entre Joesley Batista e Ricardo Saud

Terá caído a ficha da ministra Carmen Lúcia? Terá ela agora noção clara das barbaridades que andava endossando? Quem sabe esteja até um pouco arrependida das vezes em que se deixou cair presa de certo apelo populista, para o qual a empurrava a Lava Jato?  Penso que a doutora percebeu o tamanho da ousadia.

A presidente do STF gravou um pronunciamento. Falou o seguinte:
“Ontem, o procurador-geral da República veio a público relatar fatos que ele considerou gravíssimos e que envolveriam este Supremo Tribunal Federal e seus integrantes. Agride-se, de maneira inédita na história do país, a dignidade institucional deste Supremo Tribunal Federal e a honorabilidade de seus integrantes.

Impõe-se, pois, com transparência absoluta, urgência, prioridade e presteza a apuração clara, profunda e definitiva das alegações, em respeito ao direito dos cidadãos brasileiros a um Judiciário honrado.

Enviei agora ao diretor-geral da Polícia Federal e ao procurador-geral da República ofícios exigindo a investigação imediata, com definição de datas para início e conclusão dos trabalhos a serem apresentados, com absoluta clareza, a este Supremo Tribunal Federal e à sociedade brasileira, a fim de que não fique qualquer sombra de dúvida sobre a dignidade deste Supremo Tribunal Federal e a honorabilidade de seus integrantes.”

Pois é… Esse deveria ter sido o padrão seguido por Carmen Lúcia a cada vez que se agrediu o devido processo legal. Ou essa questão não está dada desde o começo? Infelizmente, a ministra acabou coonestando uma operação contra o presidente da República que era absolutamente heterodoxa. Quando se deu sinal verde para as tais ações controladas, o que se tinha, para qualquer observador mais atento, eram flagrantes armados. Pior: a operação nasceu com o sr. procurador-geral a escolher o relator.

E, meus caros, dizer o quê? Os viciados e viciosos resolveram expandir os seus domínios.

A fala de Joesley Batista sobre o Supremo é asquerosa e evidencia, ela sim, a determinação de obstruir a investigação. E qual era o plano criminoso? Levar à lona os Três Poderes da República. Vamos lembrar o que disse Joesley, referindo-se a José Eduardo Carodozo, ex-ministro da Justiça:
Joesley:- Ele [não fica claro de quem Joesley fala] ficou enlouquecido com o Zé Eduardo.

Saud: Ele acha que o Zé Eduardo é o melhor caminho para chegar ao Supremo.
(…)
Joesley – Ricardinho, eles vão dissolver o Supremo. É o seguinte, Ricardinho. Eu vou entregar o Executivo, e você vai entregar o Zé. E o Zé vai entregar o… Eu, para mim, sabe o que é que é? Sabe o que nós tem de fazer com o Zé? Na miúda, eu, pra mim, não tem de falar mais nada com o Zé. (…) Vou ligar eu direto para o Zé e falar: “O Zé, vem aqui, vem… O Zé, é o seguinte: você precisa de trabalhar conosco. O Zé, nós precisa organizar o Supremo, Zé. Quem nós temos no Supremo?  E aí, na semana que vem, vou chamar o Zé e falar: “Nós temos que organizar o Supremo, Zé. A única chance que nós tem de sobreviver é isso. Você tem quem? A, B, C, D, E, F. Tá! Como é cada um? Ah, o A é isso, o B é isso… O D… Qual a influência que você tem nesse? E nesse? E esse filho da puta, como é que é? Como é que nós grampeia? O Zé vai entregar tudo. Nós vai falar de dois só. Nós só vai entregar o Judiciário e o Executivo, só”

Fazendo ironia, Joesley prossegue: “Não é muito. O Legislativo já se fodeu. A Odebrecht moeu o Legislativo.”

E Joesley conclui: “Nós vamos sair amigos de todo mundo, e nós não vamos ser presos. Pronto. E nós vamos salvar a empresa”.

Eis aí.

Eis o homem com quem Rodrigo Janot celebrou o mais vantajoso acordo de delação premiada de que se que se tem notícia.

Não há como. Não há o que salvar nesse acordo. Mas, sabem como é… Há quem não aprenda nada com a experiência: por teimosia, burrice ou vício, não sei bem.

Nesta terça, Edson Fachin homologou a delação de Lúcio Funaro, com a qual Rodrigo Janot pretende alvejar uma vez mais o presidente. Poderia ter chamado o concurso de seus pares. Fez tudo sozinho. De novo!

Vai ver Fachin está gostando do resultado.

“Janot sempre soube de tudo”, diz Joesley; Saud vê procurador como sócio de Marcelo Miller

Em nota, Janot disse que não vai integrar escritório nenhum e que, depois de cumprir a quarentena, pretende trabalhar na inciativa privada, na área de compliance... É mesmo? Então ele vai se dedicar depois à transparência?

 

Como? Rodrigo Janot e Marcelo Miller, o procurador que tem de ser preso, iriam trabalhar juntos? No mesmo escritório? É o que assegura o companheiro Ricardo Saud. Já chego lá.

Os que tentam jogar uma rede de proteção para ver se salvam Janot de se esborrachar — ele, que esteve bêbado de delírio durante todos esses anos, dado o poder que lhe conferiram os setores mistificadores da imprensa e a direita xucra — tentam minimizar um dado absolutamente chocante da fala de Joesley Batista e de Ricardo Saud — que, reitere-se, não sabiam que registravam a própria conversa. Eles não têm dúvida: o procurador-geral da República sempre soube de tudo. De tudo o quê? Das andanças, lambanças e escolhas de seu homem forte: Marcelo Miller. E, pois, das ilegalidades então em curso.

Joesley, seu irmão e a quadrilha que cerca a turma são quem são. Não estão aí por acaso. Não comandam aquela organização gigantesca porque sejam idiotas e não saibam, afinal, onde pisam. E o açougueiro de casaca é peremptório na conversa com o seu homem da mala:
“O Janot sabe todo.  A turma já falou por Janot”.

Saud, então, pergunta se o interlocutor acredita que é Marcelo Miller quem está a levar as informações para o procurador-geral. E ouve a seguinte resposta:
“Não, não é o Marcelo. Nós falamos pro Anselmo. O Anselmo que falou pro Pelella, que falou pra não sei que lá, que falou pro Janot. O Janot está sabendo. Aí o Janot, espertão, o que o Janot falou? Bota pra foder. Bota pra foder. Põe pressão neles para eles entregar tudo”.

Vamos explicar o conteúdo do que dizem Joesley e Saud. Deixemos a gramática para um possível curso quando recolhido a um presídio. O tal “Anselmo” é o procurador Anselmo Lopes, da Operação Greenfield — e parece que o homem não é exatamente um inimigo, né? Se até leva recadinho a Janot… Mas não só: Eduardo Pelella, chefe de gabinete do procurador-geral e seu real estaeta, também estaria sabendo do rolo. Aliás, se Janot tivesse charme para ser um Don Giovanni, Pelella seria o seu Leporello. No caso, é um Lepelella…

E Joesley segue lendo o que considera o jogo de Janot. O procurador-geral teria passado a seguinte orientação a seus bravos: intensifiquem a pressão sobre a turma da JBS, “dá pânico neles, mas não mexe com eles”. Vale dizer: não é para prender.

E Saud avança, afirmando que, tão logo deixe a procuradoria, Janot vai trabalhar no mesmo escritório que abrigará Marcelo Miller: “É um amigo comum, que é dono de escritório , que é onde Janot vai trabalhar. E eu já entendi agora. O Marcelo saiu antes; tem um outro saindo, que ele me contou, é o Cristian, um tal de Cristian não sei o quê. E o Janot não vai concorrer, vai sair, vai advogar junto com ele [Marcelo Miller] e esse Cristian. Vai ser um escritório único. Vai (sic) tá ele, esse Cristian e Janot no escritório.”

Em nota, Janot disse que não vai integrar escritório nenhum e que, depois de cumprir a quarentena, pretende trabalhar na inciativa privada, na área de compliance… É mesmo? Então ele vai se dedicar depois à transparência?

Notável!

Joesley e Saud pedem para não ser levados a sério em gravação. E por que o seriam em delação?

Eles sabem que o sistema jurídico e que a própria política não permitirão que os benefícios da delação sejam mantidos. Esse acordo já é letra morta

 

Deus do céu!

Joesley Batista e Ricardo Saud tornaram pública aquela é que, sem dúvida, a nota mais insólita da história das notas. No texto, eles asseguram ser falso tudo aquilo que dizem num bate-papo. Mais: aproveitam também para pedir desculpas. Leiam o que afirmaram. Volto em seguida:
“A todos que tomaram conhecimento da nossa conversa, por meio de áudio por nós entregue à PGR, em cumprimento ao nosso acordo de colaboração, esclarecemos que as referências feitas por nós ao Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral da República e aos Excelentíssimos Senhores e Senhoras Ministros do Supremo Tribunal Federal não guardam nenhuma conexão com a verdade. Não temos conhecimento de nenhum ato ilícito cometido por nenhuma dessas autoridades. O que nós falamos não é verdade, pedimos as mais sinceras desculpas por este ato desrespeitoso e vergonhoso e reiteramos o nosso mais profundo respeito aos Ministros e Ministras do Supremo Tribunal Federal, ao Procurador-Geral da República e a todos os membros do Ministério Público.
Joesley Batista e Ricardo Saud”

Entenderam? Os autores da delação premiada mais ruidosa da história do país; aqueles que, com seus respectivos testemunhos, aos quais boa parte da imprensa conferiu seriedade, levaram a tensão política ao grau máximo; os homens que criaram severos obstáculos a reformas estruturantes; aqueles que diziam que o presidente da República dava anuência à compra de silêncio de pessoas presas e que armou com um ex-auxiliar uma operação para supostamente arrecadar R$ 500 mil por semana… Bem, meus caros, os dois tornam pública uma nota em que asseguram que nada do que se diz na tal gravação, que eles são sabiam estar sendo feita, é verdade.

Bem, cabe a pergunta óbvia: se isso que dizem, sem que tenham conhecimento da gravação, não deve ser levado a sério, por que se deveria acreditar, então, nas suas respectivas delações — e, nesse caso, eles sabem, sim, que estão sendo monitorados? Ora, se o que se fala espontaneamente, sem a ciência prévia do registro, é mentira, o que dizer de uma fala que, sabe-se, será usada em juízo e foi previamente organizada para incriminar o presidente e livrar a pele dos próprios criminosos?

É claro que Joesley e Saud estão com medo. Eles sabem que o sistema jurídico e que a própria política não permitirão que os benefícios da delação sejam mantidos. Esse acordo já é letra morta. E, como resta evidente, o conjunto da obra está comprometido com ilicitudes.

Há crimes a investigar? O Ministério Público tem a prerrogativa de instaurar processos de investigação. Uma coisa é certa: o que se produziu até agora contra quem quer que seja envolvendo a JBS e seus diretores é da mais flagrante, clamorosa e gritante ilegalidade. E vai cair.

Delação tem de ser anulada; caso deve ir para 1ª instância; Joesley, Saud e Miller têm de ser presos

O que o ministro Edson Fachin, do Supremo, está esperando para provocar os seus confrades? Não há ambiguidade ou interpretação alternativa possível. Ele tem de convocar os seus pares e encaminhar pura e simplesmente a anulação do acordo de delação premiada. Se as provas serão também anuladas, isso se vai ver. É o que diz a lei. Tudo o que emana desse acordo espúrio é, por óbvio, imprestável.

Feito isso, o senhor Joesley Batista e o resto da bandidagem são matéria para a primeira instância. E, então, vamos tentar entender a natureza do crime que se está confessando ali.

Vamos ver o que é que o sr. Joesley está combinando com o seu braço direito, o homem da mala, aquele que criou todas as circunstâncias para fabricar o que pretendem ser um flagrante a ser usado contra o presidente da República.

Não há ambiguidade possível no que diz Joesley. Segundo ele, a Odebrecht já havia liquidado com o Congresso. A seu grupo, sustenta o açougueiro, cumpre destruir o Supremo. E como farão isso? Bem, um dos instrumentos seria, ora que coisa!, José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça. Este teria no bolso alguns ministros do Supremo, né?

E pronto! E estaria tudo dominado. Quem iria se encarregar de operar essas coisas todas? Ora, o braço direito de Rodrigo Janot, Marcelo Miller, aquele que depois foi trabalhar oficialmente para a JBS no acordo de leniência, sobre quem o ínclito Janot chegou a emitir uma nota, lembram-se? Segundo disse no dia 20 de maio, o senhor Miller não tinha tido atuação nenhuma na delação premiada. Teria se limitado a participar do acordo de leniência.

Não fossem as trapalhadas do açougueiro de casaca, as coisas teriam ficado por isso mesmo. E, a esta altura, o senhor Rodrigo Janot estaria flanando nas denúncias feitas por outro patriota, Lúcio Funaro

Vejo o que andam a escrever alguns coleguinhas meus. Sinto certo constrangimento. As pessoas deveriam ter um mínimo de vergonha na cara e arcar com o peso de suas escolhas, ainda que tenham de dizer: “Errei!” Mas não! Os valentes decidiram agora que a operação não pode morrer.

É claro que não! Por que morreria? Ela tem de viver, de acordo com as regras, de acordo coma as leis, de acordo com o Estado de Direito. E é isso o que se pediu desde sempre.

Acontece, meus caros, que é preciso que prestemos atenção à gravidade da conversa de Joesley Batista com seu homem da mala. Ali, sim, está a mais descarada confissão de que estão organizados para obstruir a investigação. Não! Esperem! Joesley confessa, na verdade, um plano para obstruir o país. O que ele combina com Ricardo Saud é a destruição de um Poderes da República. E de que modo? Fica evidente que considera possível chantageá-lo. E, contam para tanto, com José Eduardo Cardozo, que tratam, como se vê lá, como alguém fraco e manipulável, mas com influência no Supremo.

E é por isso que esses senhores têm de ter a prisão preventiva decretada. Resta evidente que estão recorrendo a um instrumento de estado — o estatuto da delação premiada — para, por intermédio de um procurador que está a praticar ilegalidade, interferir nos destinos do Supremo Tribunal Federal. E a dupla ainda comemora aquele que seria o seu grande feito.

Segundo alguns pilantras que estão por aí, Rodrigo Janot sairia fortalecido desse episódio. É mesmo? Fortalecido por quê? Quem foi que deu a Joesley Batista e a Ricardo Saud tanto poder? Quem foi que lhes garantiu a impunidade para que pudessem dizer o que lhes desse na telha? Quem foi que os tratou como aqueles que tinham nas mãos os arcanos da República?

Ah, como é que a gente vai esquecer, não é?

O que dizia mesmo Janot sobre Joesley, em entrevista à Folha, no dia 7 de agosto? Eu lembro:
Se houve erro, foi de comunicação. Vamos lembrar. Recebo comunicado de que empresários relatariam com provas a prática de crime em curso do presidente, de um senador (Aécio Neves) que teve 50 milhões de votos na última eleição e seria virtualmente o novo presidente, de um deputado e de um colega [procurador] infiltrado na nossa instituição. Eles dizem: “A gente negocia tudo, menos a imunidade”. A opção que tinha era: sabendo desse fato e não podendo investigar sem que colaborassem, teria que deixar que isso continuasse acontecendo ou conceder a imunidade. E mais: essas pessoas não só nos levaram áudios lícitos e válidos que comprovavam o que diziam. Elas se comprometeram a fazer ações controladas. Assumiram risco de fazer ações sem ter o acordo, e produziram prova judicial -a da mala do presidente, a da mala do senador, a da conversa do meu colega infiltrado-, e eu [ia] dizer assim: “Isso é muito pouco, eu quero que vocês tenham prisão domiciliar com tornozeleira.

Eis aí… Para ter uma acusação contra o presidente da República, o sr. Rodrigo Janot aceitou entregar tudo, inclusive a honra.

Também o procurador-geral terá de pagar o devido preço, não? Até porque essa porcaria toda não está por aí à-toa. Foi preciso que o procurador-geral desrespeitasse todos os protocolos de atuação, inclusive na relação com a Polícia Federal, para produzir tanta miséria institucional.

A propósito: o que fez Janot mudar tanto em um mês? Simples! A PF botou a mão na sujeirada de Joesley e amigos. E ela alvejava o coração de Janot. Ele se antecipou. O preço de mais essa prevaricação poderia ser a cadeia.

A propósito: o sr. Marcelo Miller passa ileso por essa? Acho que não, né? Parece que há uma outra prisão preventiva se adensando no horizonte.

 

 

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo

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