Delação premiadíssima de Joesley, "o calote do século" (por ELIANE CANTANHÊDE)
Antes que a gente se esqueça, Joesley Batista, da JBS, que já foi um dos “campeões nacionais” do BNDES, é agora campeão internacional do calote, um calote não numa pessoa, numa empresa ou num banco, mas num país inteiro. Um país chamado Brasil, onde não sobra ninguém para contar uma história decente e abrir horizontes.
Enquanto amealhava R$ 9 bilhões do BNDES, mais uns R$ 3 bilhões da CEF, mais sabe-se lá quanto de outros bancos públicos nos anos beneficentes de Lula, Joesley saiu comprando governos, partidos e parlamentares. Quando a coisa ficou feia, explodiu o governo Temer, a recuperação da economia e a aprovação das reformas, fez um acordo de pai para filho homologado pelo STF e foi viver a vida no coração de Nova York.
O BNDES, banco de fomento do desenvolvimento nacional, foi usado para fomento de empregos, fábricas e crescimento nos Estados Unidos, onde Joesley e o irmão, Wesley, usaram o rico e suado dinheirinho dos brasileiros para comprar tudo o que viam pela frente. Detalhe sórdido: os frigoríficos que adquiriram lá competem com os exportadores brasileiros de carne. Uma concorrência para lá de desleal.
Eles se negam a pagar os R$ 11 bilhões do acordo de leniência com a PGR, até porque o dinheiro público camarada do Brasil foi usado para sediar 70% dos negócios nos EUA, 10% em dezenas de outros países e só 20% no Brasil. Se esses procuradores encherem muito a paciência, eles jogam esses 20% pra lá, fecham as portas e esquecem a republiqueta de bananas.
Além de sua linda mulher (como nos clássicos sobre gângsteres), Joesley levou para a grande potência seu avião Gulfstream G650, de 20 lugares e US$ 65 milhões. Também despachou num navio para Miami seu iate do estaleiro Azimut, de três andares, 25 lugares e US$ 10 milhões. Quando enjoar de Nova York, vai passar uns tempos nos mares da Flórida.
Enquanto arrumava as malas, Joesley aplicou US$ 1 bilhão no mercado de câmbio, fez megaoperações nas Bolsas e ficou aguardando calmamente o Brasil implodir no dia seguinte, para colher novos milhões de dólares. E deixou para trás sua vidinha de açougueiro no interior de Goiás, uma sociedade pasma e um monte de interrogações.
Por que, raios, Lula e o BNDES jorraram tantos bilhões numa única empresa? Joesley podia usar o dinheiro com juros camaradas e comprar aviões e iates para uso pessoal? Os recursos não teriam de gerar desenvolvimento e emprego para os brasileiros? E, se o seu amigão (como dos Odebrecht) era Lula, a JBS virou uma potência planetária na era Lula e se ele diz que despejou US$ 150 milhões para Lula e Dilma Rousseff no exterior, por que Joesley, em vez de gravar Lula, foi direto gravar Temer?
Mais: como um biliardário, que adora brinquedos caros e sofisticados, partiu para uma empreitada de tal audácia com um gravadorzinho de camelô? Como dar andamento e virar o País de ponta-cabeça sem uma perícia elementar na gravação? Enfim, por que abrir monocraticamente um processo contra o presidente da República? E, enquanto Marcelo Odebrecht conclui seu segundo ano na cadeia, já condenado a mais de 10 anos, os Batista estão livres da prisão, sem tornozeleira e sem restrição para sair do País.
Nada disso, claro, significa livrar Aécio ou Temer, que tem muchas cositas más a explicar, como R$ 1 milhão na casa do coronel amigo, R$ 500 mil da mala do assessor Rocha Loures, um terceiro andar do Planalto onde assessores só produziam escândalos.
A sociedade, porém, reage mal ao final feliz dos Batista. A não ser que não seja final ainda, pois a homologação do STF é uma validação formal, mas cabe ao juiz, na sentença, fixar os benefícios da delação. Em geral, o juiz segue os termos do acordo original, mas não obrigatoriamente, e pode haver, sim, fixação de penas. Oremos, pois!
Como se não bastasse a crise (EDITORIAL DO ESTADÃO)
Alguns fatores, como os juros externos e as cotações das commodities, estão fora do controle das autoridades brasileiras
Que o Brasil precise de juros muito mais baixos para crescer mais velozmente ninguém discute, mas é impossível dizer com um mínimo de segurança, hoje, até onde o Banco Central (BC) poderá avançar, nos próximos 12 meses, nos cortes da taxa básica. A crise política interna é o principal fator de insegurança, mas a evolução do cenário externo também poderá dificultar as ações da autoridade monetária em Brasília. Um desses fatores é o aperto gradual da política de crédito nos Estados Unidos. Mais uma alta poderá ocorrer em junho, a julgar pela ata da última reunião do Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Além disso, muitos analistas apontam como provável uma segunda elevação antes do fim do ano. Quem decide sobre os juros no Brasil tem de incluir cada um desses movimentos em seus cálculos. Taxas mais altas no mercado financeiro internacional diminuem o espaço para redução no Brasil. Perdem com isso os empresários e os consumidores brasileiros.
A nova ata publicada pelo Fed refere-se à reunião dos dias 2 e 3 de maio. Nessa ocasião, o comitê decidiu manter a taxa básica na faixa de 0,75% a 1% ao ano, mas a maioria de seus membros, segundo o relato, mostrou confiança em relação à continuidade do crescimento econômico e da criação de empregos. A menor expansão da atividade observada no primeiro trimestre foi em geral considerada um evento passageiro. A avaliação positiva foi confirmada, segundo o documento, pelos dados econômicos mais atualizados.
A mediana das projeções de crescimento ficou em 2,1% para 2017, 2,1% para 2018, 1,9% para 2019 e 1,8% para o longo prazo. Entre 2017 e 2019 o desemprego deverá permanecer em 4,5% da força de trabalho e a inflação deverá avançar até a meta de 2% e aí permanecer. Esse quadro é compatível com novos apertos da política de juros, até se estabelecer a combinação desejada de desemprego e inflação ao consumidor.
O aumento da atividade e a redução do desemprego na maior economia do mundo são, em princípio, boas notícias para todo o mundo. A prosperidade americana pode transmitir-se a muitos outros países por meio do comércio e do investimento, se nenhum grande obstáculo for criado pelas políticas do presidente Donald Trump. Essa transmissão de vitalidade é ainda mais importante numa fase de reestruturação e de menor crescimento da China, a segunda maior potência econômica. Mas a expressão “em princípio” dá espaço a algumas qualificações.
Para um país nas condições do Brasil, com as contas de governo ainda em muito mau estado, poupança escassa, baixo nível de investimento e sistema produtivo enfraquecido, qualquer aperto no mercado financeiro internacional pode ser perigoso. O quadro é particularmente ruim porque o País está dois níveis abaixo do grau de investimento, na classificação das principais agências de avaliação de risco.
Mas a crise política pode agravar seriamente esses problemas. A agência de classificação de risco Standard & Poor’s acaba de pôr em observação, com risco de rebaixamento, as condições do crédito soberano e de algumas dezenas de bancos e de empresas. Além disso, a incerteza quanto à evolução do cenário político contamina as perspectivas de avanço na aprovação e na implementação do ajuste das contas públicas e da pauta de reformas. Também essas perspectivas podem afetar as decisões do Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, sobre os juros e outros determinantes das condições de crédito.
Alguns fatores, como os juros externos e as cotações das commodities, estão fora do controle das autoridades brasileiras. Mas autoridades e políticos nacionais são responsáveis exclusivos pela maior parte do cenário e das perspectivas da economia local. Se tiverem prudência e percepção dos desafios e das limitações econômicas, serão capazes até de atenuar, pela ação preventiva e rápida, os efeitos perigosos de fatores externos, como a alta dos juros americanos. O teste inclui, é claro, a capacidade de pensar no interesse nacional.
Sobre seletividade (Lulopetistas oferecem ao País vergonhosa exibição de hipocrisia quando incendeiam ministérios e plenários do Senado e da Câmara)
O PT e seus lambe-botas passaram meses protestando contra a Operação Lava Jato sob o argumento de que se tratava de uma “investigação seletiva” dedicada exclusivamente a “perseguir” Lula e a tigrada. Decepcionaram-se quando a evolução das investigações demonstrou que nenhum partido e nenhuma liderança política está imune à ação da Justiça.
Agora, demonstrando que eles próprios também sabem ser seletivos quando lhes convém, os lulopetistas oferecem ao País uma vergonhosa exibição de hipocrisia quando incendeiam – em alguns casos, literalmente – a Esplanada dos Ministérios e os plenários do Senado e da Câmara dos Deputados com iradas manifestações de indignação diante da profunda crise em que o País está mergulhado, escamoteando o fato de que eles próprios têm enorme responsabilidade por essa crise, pois durante longos 13 anos foram os donos do poder, do qual foram apeados, com apoio maciço dos brasileiros, há apenas 12 meses.
Os vândalos que botaram fogo e destruíram o patrimônio público numa “manifestação pacífica” a favor do “Fora Temer” e contra as reformas, bem como os senadores e deputados baderneiros que pelos mesmos motivos promoveram cenas de pugilato dentro do Congresso Nacional, cometeram essas barbaridades movidos por uma seletiva indignação contra a crise que eles próprios provocaram e agora procuram agravar em benefício próprio, pois alimentam a pretensão de voltar ao poder ressuscitando Luiz Inácio Lula da Silva.
Quanto pior a crise, recomenda o bom senso, tanto maior a necessidade de que as lideranças políticas assumam a responsabilidade de serenar os ânimos e manter dentro dos limites da racionalidade o confronto político inerente à vida democrática. É mais fácil compreender as motivações que levam um cidadão comum a realizar atos de vandalismo do que aceitar a atitude de um parlamentar que desrespeita uma Casa de representação popular com um comportamento violento. É péssimo exemplo dado por quem tem obrigação de se comportar com civilidade.
A existência de oposição é uma condição inerente à democracia, pois a complexidade da natureza humana exige consenso na gestão da coisa pública, não unanimidade. A oposição não pode se comportar como única e legítima representante da vontade popular, pretensão implicitamente invocada para justificar, “em nome do povo”, o desrespeito às instituições e a agressão a quem ousa dissentir.
O dogmatismo messiânico do PT e das facções esquerdistas que navegam em suas águas resultou na redução da questão social à divisão do País entre “nós” e “eles” – uma regressão histórica ao princípio da luta de classes –, como se a política consistisse em dirimir o conflito de interesses por meio da eliminação do “inimigo”. Numa democracia, as divergências se resolvem pela conciliação de interesses e não pela potencialização de seu entrechoque.
Essa visão primária que o PT e seus agregados têm, de que os problemas se resolvem pela submissão do opositor e não pela conciliação de interesses, tem sido sistematicamente materializada nos debates parlamentares em torno de questões mais agudas, como foi o caso do impeachment de Dilma Rousseff e, agora, da discussão das reformas propostas pelo governo Temer.
Quando os trabalhos são abertos, no Senado ou na Câmara, em comissões ou em plenário, as primeiras fileiras já estão ocupadas por um grupo que pode ser definido como “tropa de choque”. São sempre os mesmos, que se distinguem e se identificam pela especial habilidade de tumultuar a discussão com repetidas tentativas de desqualificar a condução dos trabalhos e as posições de “inimigos”.
Não são senadores ou deputados, mas “guerreiros” dispostos a impor-se “no berro”, recorrendo frequentemente à violência de “ocupar” o espaço da mesa diretora dos trabalhos, em flagrante atentado ao decoro parlamentar e desrespeito aos cidadãos que deveriam representar.
Resta esperar que essas lamentáveis demonstrações de falta de compostura e espírito cívico estimulem os eleitores a serem mais seletivos na próxima vez que forem às urnas.
Eliziário Goulart Rocha: Os delinquentes não podem prevalecer (em VEJA.COM)
Resta aos punguistas travestidos de guerreiros do povo brasileiro insuflar sua milícia para espalhar o caos
Os brasileiros que prestam estão desiludidos, assustados, desanimados. A desilusão e o medo são naturais, não teria como ser de outra forma diante do apavorante noticiário de cada dia. Precisam, no entanto, revogar o desânimo para não permitir que delinquentes com ou sem causa, vagabundos contumazes, militantes a soldo de fontes pagadoras atoladas até o pescoço no pântano da corrupção, vítimas de lavagens cerebrais irreversíveis e bestas quadradas em geral tomem o país de assalto.
O primeiro ataque foi o aparelhamento das instituições, o loteamento dos órgãos públicos com apaniguados de diferentes graus de incompetência, mas unidos de primeira hora em tenebrosas transações, além da doutrinação sistemática em todas as fontes possíveis, incluindo universidades que já foram modelo de excelência e motivo de orgulho da nação. O segundo, a pilhagem do butim, a subtração descarada do que os trabalhadores de verdade suam muito para ganhar.
Flagrados com a mão na massa, sempre à espera da batida na porta da Polícia Federal às seis da manhã, acuados pela vontade da maioria de brasileiros decentes, resta aos protagonistas do maior escândalo de corrupção da história mundial – e talvez nem seja preciso somar todas as pontas da grande ladroagem para se alcançar o recorde –, resta aos punguistas travestidos de guerreiros do povo brasileiro insuflar sua milícia para espalhar o caos. Sabem que no civilizado universo das leis, da razão, do bom senso e da vergonha na cara não têm mais chance de escapar das algemas. Os brasileiros do bem vão precisar de muita paciência e firmeza nos próximos tempos.