REINALDO AZEVEDO analisa pesquisa Datafolha: "Lula cresce, Bolsonaro disputa 2º. Parabéns, xucros!"

Publicado em 30/04/2017 17:14
O petista lidera as simulações em que há seu nome; sem ele, Marina na dianteira, sempre seguida pelo deputado do PSC. Ex-presidente vence ou empata 2º turno (Por Reinaldo Azevedo) (em veja.com).

DATAFOLHA 1: Lula cresce, Bolsonaro disputa 2º. Parabéns, xucros!

Bem, o cenário de terror está desenhado com todos os números pela mais recente pesquisa Datafolha sobre a eleição presidencial de 2018. O instituto ouviu 2.781 pessoas, nos dias 26 e 27 deste mês em 172 municípios. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. O levantamento, pois, foi feito depois da divulgação da Lista da Odebrecht e das “confissões” de Léo Pinheiro a Sergio Moro. E, no entanto, Lula lidera as intenções de voto no primeiro turno em todas as simulações em que aparece seu nome. Também venceria a maioria dos adversários no segundo turno. Ele só empataria tecnicamente com Marina Silva e Sergio Moro… Ai, ai…

Há dias, quando foram divulgados dados do Ibope sobre potencial de votos dos candidatos — e também lá havia a informação de que 30% votariam em Lula com certeza —, alguns bocós da direita, incapazes de fazer um “o” com o copo, berraram: “Esperem os efeitos da Lista da Odebrecht e do depoimento de Pinheiro…”. E eu escrevi aqui e disse na rádio e na TV: do ponto de vista penal, a situação de Lula se agrava; eleitoralmente, estar ou não em listas, ter seu nome citado ou não por delatores, tudo isso já não atinge mais negativamente a sua imagem.

Pois é, né? Quanto apanhei quando afirmei que a direita xucra estava ressuscitando Lula e o PT!!! Quanta pancadaria vinda de vigaristas, pistoleiros e bucaneiros porque acusei a Lava Jato, o Ministério Público Federal e Rodrigo Janot, em particular, de igualar desiguais, de meter no mesmo saco de gatos pardos o caixa dois com e sem contrapartida.

Na minha coluna da Folha de 17 de fevereiro, comentando justamente dados de uma pesquisa, sintetizei: “Se todos são iguais, então Lula é melhor”.

E, antes que entre nos números, uma observação fundamental. Eu não antevejo a eleição de Lula. Há uma boa possibilidade de que esteja condenado em segunda instância até lá — caso o MPF consiga provar que apartamento e sítio são mesmo dele. Se vai ou não ser candidato, se será eleito “com certeza” ou “derrotado com certeza”, isso é conversa de tolos, de demagogos, de gente chinfrim.

A minha questão é outra e já estava naquela coluna da Folha: “AINDA É CEDO, CLARO! MAS UMA SOCIEDADE DIZ ALGUMA COISA DE SI MESMA, DO PROCESSO POLÍTICO E DO FUTURO QUANDO UMA MÉDIA DE 30% DOS ELEITORES, MESMO DEPOIS DE TUDO, ESTÁ COM LULA. E PODERIA SER DIFERENTE? A INDIGNAÇÃO COM A CORRUPÇÃO E OS DESMANDOS DO PT DEGENEROU DEPRESSA EM MORALISMO TACANHO, EM ÓDIO À POLÍTICA, EM CONTÍNUA DEPREDAÇÃO DE PROCEDIMENTOS MESMO OS MAIS CORRIQUEIROS DA ATIVIDADE.”

Vídeos de gritantes nulidades morais e intelectuais pipocaram contra mim nas redes. Sim, houve candidatos a gurus e a Goebbels da periferia que chegaram a antever o meu fim… E, no entanto, fazer o quê? Acertei todas. Eles erraram todas. E continuam a falar e a fazer bobagem! Seria vergonhoso se houvesse vergonha naquelas paragens. Mas essa não é uma herança que todo pai deixe, não é?, como naquela música. E seus rebentos não haveriam de inaugurar a tradição da decência. Avante!

Os números
Vejam as simulações de primeiro turno:

(Datafolha/Folha/Reprodução)

(Datafolha/Folha/Reprodução)

(Datafolha/Folha/Reprodução)

Se a eleição fosse hoje, Lula lideraria a o primeiro turno em todos os cenários em que seu nome aparece: o mínimo é 29%; o máximo, 31%. Tem o dobro ou mais do segundo lugar. Jair Bolsonaro (PSC) e Marina Silva (Rede) disputam esse posto, em empate técnico. Ela lidera em duas simulações em que Lula não aparece.

O pior cenário para o petista, o 6, é absolutamente improvável: ali aparece Sergio Moro como candidato, com 9%. Aécio Neves e João Doria, hoje dois tucanos, estão na lista — um deles teria de concorrer por outro partido, e é certo que não seria o senador mineiro, presidente da sigla. Os dois teriam 5%. Nem Moro vai disputar nem Doria, creio, sairá do PSDB.

Já o Cenário 1, no que respeita às candidaturas, é plausível. O petista aparece com 30%, seguido por Bolsonaro, com 15% e Marina com 14%. Aécio fica com 8%. Temer aparece na lista como candidato, com 2%. Não sei por que incluí-lo na simulação. Não vai disputar. Se Aécio é substituído por Geraldo Alckmin (Cenário 2), Lula fica na mesma, e Marina e Bolsonaro têm pequena variação: 16% e 14%, respectivamente. O atual governador de São Paulo fica com 6%, empatado com Ciro Gomes (PDT). Se João Doria é o nome do PSDB (Cenário 3), Lula marca 31%, e o prefeito, 9%. A redista e o deputado do PSC ficam com respectivos 16% e 13%

Ainda com Doria, mas sem Lula (Cenário 4) — eis algo plausível —, Marina vai para o topo, com respeitáveis 25%, seguida pelo Profeta do Nióbio e do Grafeno, que marca 14%, em empate técnico triplo com Ciro (12%) e Doria (11%). A líder espiritual da Rede também mantém a dianteira no Cenário 5: 25%. Nesse caso, Bolsonaro vai a 16%, seguido por Ciro (11%) e Alckmin (8%).

Segundo turno
Vejam os dados.

(Datafolha/Folha/Reprodução)

(Datafolha/Folha/Reprodução)

Pois é… Hoje, Lula venceria todos os tucanos: 43% a 27% contra Aécio; 43% a 29% contra Alckmin e 43% a 31% contra Doria. O petista ficaria tecnicamente empatado, mas atrás numericamente, com Marina: 41% para ela e 38% para ele e, ora vejam!, o Babalorixá ficaria a dois pontinhos de Sergio Moro: 42% a 40%.

Rejeição
Vejam o quadro:

(Datafolha/Folha)

Faz sentido Aécio (44%) ser mais rejeitado do que Lula: 45%? Resposta óbvia: é claro que não! A rejeição a Alckmin não é das maiores: 28%. Doria e Moro, nesse quesito, vão alegremente lá para o fim da fila: só 16%.

Concluo
Eis aí a que quadro nos conduziram a rejeição à política e aos políticos, a demonização da vida pública, o permanente achincalhamento das instituições.

Vocês estão contentes com o que veem? Insisto: se vai ou não haver tempo para Lula ser candidato é irrelevante agora. O relevante é que, depois de tudo, é ele o nome mais forte para 2018.

Não é uma graça? A Lava Jato, do ponto de vista eleitoral, acabou punindo mais o PSDB do que o PT.

Parabéns, Janot! Eu já estaria satisfeito se estivesse 70% certo. Mas o procurador-geral não fez por menos: “Acerte 100%, Reinaldo!”.

Pois não.

DATAFOLHA 2: População é injusta com o governo Temer, que é bom!

Em menos de um ano, o presidente nos livra do abismo, aprova medidas essenciais no Congresso e articula as reformas trabalhista e da Previdência

Por Reinaldo Azevedo

 
Segundo o Datafolha, 61% acham o governo Temer ruim/péssimo. Para 28%, é regular. Dizem ser ótimo ou bom 9%, e 3% não sabem. São índices compatíveis com a Dilma da reta final do impeachment: 63% de rejeição e 13% de aprovação. Será que isso faz sentido? Isso é explicável. Mas justo não é. Vejam quadro publicado na Folha.

(Datafolha/Folha/Reprodução)

A gestão Temer pode vir a ser a mais injustiçada da história. “Injustiçada por quem?” Pela população, ora essa! “Mas, Reinaldo, nas democracias, pode-se dizer algo assim? Pode-se dizer que o povo foi injusto?” Perguntem ao Churchill que não foi reconduzido ao cargo na primeira eleição depois da vitória na Segunda Guerra.

Nas democracias, o povo é sempre soberano. Mas isso não quer dizer que seja sempre justo. Aliás, na maioria das vezes, é injusto e faz besteira. Mas é o que temos, caras e caros. Ninguém inventou nada melhor. Para ficar em Churchill: “A democracia é a pior forma de governo, excetuando-se todas as outras que já foram tentadas”.

Ultimamente, há pessoas com ideias estranhas no Brasil… Mas é melhor a gente continuar com o povo mesmo. E com o povo que temos, não com aquele que é memória de um passado inexistente. Adiante.

– Aprovação do teto de gastos;
 reforma trabalhista em curso;
 reforma da Previdência em curso;
 inflação de volta ao centro da meta;
 juros declinantes;
 o deslanchar da reforma do ensino médio;
 o fim da obrigatoriedade de a Petrobras participar do pré-sal;
 recuperação da Petrobras…;
 reestruturação do setor elétrico, por intermédio de Medida Provisória — aquele que Dilma quebrou;
 aprovação da Lei da Governança nas estatais…

Vamos ver
Dilma Rousseff nos deixou à beira do abismo, ou em queda livre, com a maior recessão da história, os juros e a inflação nos cornos da Lua, o desemprego galopante. Era a entropia. E Temer soube nos livrar, até agora, de grandes perigos.

É quase um milagre que o faça. Se olharmos as condições objetivas em que assumiu, a aposta mais razoável era o desastre. Não obstante, esse presidente soube dialogar com o Congresso, que vive debaixo de vara da esquerda e da direita xucra, e as reformas, ainda que mitigadas — na democracia, a negociação é parte do jogo —, avançam. Os indicadores econômicos melhoram.

Causas da reprovação
Mas a realidade ainda é muito difícil. Há 13 milhões de desempregados no país. A crise corroeu o valor do salário médio. Não há muitas razões, quando se pensa apenas no bolso, para que as pessoas estejam felizes. E, como é sabido, parte da população que apoiou o impeachment tinha o tal raciocínio mágico: basta Dilma sair, e tudo muda! Não! Para que tivéssemos alguma chance de não encontrar o chão do abismo, ela precisava sair. Não quer dizer que a recuperação seja fácil. Mas está em curso.

Ainda, pois, que existam razões muito materiais, concretas, para que os brasileiros mostrem indisposição com Temer, é evidente que os números são exagerados. E aí é preciso apontar o dedo para os pescadores de águas turvas.

Certamente, a pregação das esquerdas contra as reformas contribui para elevar a reprovação ao governo. Mas nem tanto. O povo, povo de verdade, não foi ao protesto do dia 28, certo? Aquilo foi uma patuscada violenta promovida apenas pelos nababos do sindicalismo.

É claro que o fator Lava Jato pesa nisso também. Os “Dallagnois” da vida anunciaram ao Brasil e ao mundo que a política é um antro de sujeiras. Os citados na delação da Lava Jato entram no listão do Rodrigo Janot sem as devidas distinções. Por falar em Deltan Dallagnol, o buliçoso rapazola acaba de lançar um livro em que assegura, com evidência nenhuma, mas muita convicção, que o impeachment de Dilma nada mais foi do que uma tentativa de barrar a Lava Jato.

O ódio à política colhe, sim, Michel Temer. E, se vocês olharem os números do Datafolha, verão que líderes do tucanato estão igualmente submetidos ao apedrejamento. E por que Lula — o grande chefe do partido que controlava o petrolão — lidera as pesquisas e venceria quase todo mundo no Segundo Turno (em empate técnico com Sergio Moro!!!)?

Bem, essa será matéria para o post em que trato dos números.

Temer está fazendo rigorosamente a sua parte — com pecadilhos aqui e ali, como todos nós. E está sendo alvo do moralismo estúpido e raso de várias correntes da direita e da mistificação das esquerdas.

Querem saber? O Brasil vive um momento tão delicado que um presidente impopular pode ser uma dádiva. Vai, afinal, fazer o que tem de ser feito. Nós sabemos que Dilma preferiu destruir o país a corrigir a tempo a rota, mas com risco de não vencer a reeleição. Eis no que deu.

Que o presidente, em suma, saiba tirar proveito da impopularidade, em benefício do país e das futuras gerações.

DATAFOLHA 3: 85% querem diretas se Temer sair. É inconstitucional

Artigo 86 prevê eleição indireta, mas poderia ser mudado por PEC. Ocorre que nem emenda pode alterar a periodicidade da eleição. Explico abaixo... (Por Reinaldo Azevedo)


Estima-se que, em maio, o TSE possa começar a julgar a chapa que elegeu Dilma Rousseff-Michel Temer. O Datafolha perguntou o que os brasileiros acham que tem de acontecer caso o presidente seja impedido de continuar no cargo. O resultado está no quadro abaixo.

(Datafolha/Folha/Reprodução)

Como se vê, 85% opinam que o Congresso tem de mudar a Constituição e promover eleições diretas. É também o que defendem as esquerdas. Só 10% querem que seja o Parlamento a eleger presidente e vice — para continuar no cargo até 2018.

Pois é…

Vamos ao que diz a Constituição, no Artigo 81, de maneira cristalina:

Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.

  • 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
  • 2º Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores.

“Ora, Reinaldo, uma emenda pode mudar esse Artigo 81, que não é cláusula pétrea. Sim, é verdade! Mas não pode mudar o Parágrafo 4º do Artigo 60, que é justamente aquele que traz os casos em que não se altera a Carta de jeito nenhum, nem por emenda. Vamos a ele:

  • 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

I – a forma federativa de Estado;
II – o voto direto, secreto, universal e periódico;
III – a separação dos Poderes;
IV – os direitos e garantias individuais.

O busílis está no inciso II: nem emenda pode alterar a periodicidade da eleição. Não existe dispositivo constitucional para encurtar ou espichar o período para qual se elegeu o presidente original. Se alguém quiser propor mandatos de cinco anos, por exemplo, aí a coisa seria diferente. Não se está agredindo a periodicidade, mas mudando-a.

Há mais: digamos que não houvesse esse óbice, teria de ser uma emenda a antecipar a eleição. Teria de se aprovada por pelo menos 308 deputados e 49 senadores. Acho que não rola… Vocês acham que o Parlamento brasileiro preferiria seguir as regras do jogo, elegendo ele próprio o presidente-tampão, ou alterá-las, entregando, assim, o poder a Lula?

O que me irrita é haver gente que sai gritando por aí “Lula na cadeia”, mas que, ao mesmo tempo torce para que o TSE casse a chapa, para que Temer caia e para que se realizem eleições diretas antecipadas, o que conduziria o chefão petista ao Palácio do Planalto, não ao xilindró.

E que fique claro! Não estou defendendo um casuísmo para impedir Lula de chegar à Presidência. Eu não quero é um casuísmo que o ajude a chegar lá.

Os Sem-Massa, por ELIANE CANTANHÊDE (no ESTADÃO)

Sexta-feira quente, mas greve foi isolada e quebra-quebra, um tiro no pé

“Governar não é tão simples como pensam os motoristas de táxi”, declarou o ex-ministro Milton Seligman, hoje professor do Insper, no seminário sobre reforma política promovido pelo Estado. Pois é. Governar não é simples, não é fácil e o alerta é que pode fazer muito mal à saúde. Depois de dois impeachments em 25 anos, agora Michel Temer dribla popularidade abaixo do razoável, recuperação lenta da economia, desemprego crescente, pressões infernais da base aliada e bloqueio de ônibus e quebra-quebra comandados pela oposição.

Na avaliação palaciana, o protesto de sexta-feira, no início de um feriadão, ficou restrito aos movimentos e categorias ligados ao PT, sem adesão popular, sem massa. A estratégia foi parar os meios de transporte para impedir que as pessoas fossem trabalhar e que as empresas e o comércio abrissem, dando a impressão de um movimento muito maior do que era. Queimar pneus e ônibus para completar o serviço com imagens impactantes.

Para os organizadores, foi a maior greve da história, um sucesso do “povo brasileiro”. Para o governo, uma paralisação promovida por “um grupo pequeno”, com um resultado previsível e insuficiente para perturbar a reforma da Previdência. Ao contrário: com quebra-quebra e excesso de vermelho, podem ter-se isolado, dando um tiro no pé e facilitando o voto no texto governista.

Temer, que assistiu a tudo pela TV e recebeu informes todo o dia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), reuniu os ministros da Fazenda e do Planejamento para avaliar os efeitos das negociações no texto da reforma e já assinava, sem dó nem piedade, a exoneração dos apadrinhados de quem vota contra o Planalto. A traição na reforma trabalhista foi a gota d’água.

As listas de quem sai por ter sido infiel e dos que entram jurando fidelidade serão publicadas no Diário Oficial da União de terça, após o Primeiro de Maio. Exemplo: o deputado Pastor Jony Marcos (PRB), que vota contra tudo, perde seus afilhados no INSS e na Conab de Sergipe.

A tensão maior é na Câmara, que já aprovou a reforma trabalhista, mas está com a batata quente da Previdência e logo será chamada a votar o abuso de autoridade e o foro privilegiado só para os presidentes da República, Câmara, Senado e Supremo. Tudo ao mesmo tempo, com quase 10% dos deputados na lista Janot/Fachin.

Mas que Temer não descuide do Senado, onde o presidente Eunício Oliveira acaba inclusive de sair da UTI e o ex-presidente e atual líder do PMDB, Renan Calheiros, tenta fugir da Lava Jato atirando em Temer e nas reformas.

Conforme dizem empresários do campo e da cidade e confirmam embaixadores estrangeiros em Brasília, a reforma da Previdência e os próximos três meses serão cruciais para saber o que vai acontecer e o mundo apostar ou não suas fichas e investimentos no Brasil.

Aliás, esses embaixadores estão perplexos com a corrupção descomunal, mas também com a força da democracia brasileira. Apesar de dois anos de recessão, mais de 14 milhões de desempregados, a Lava Jato atingindo oito ministros e dezenas de parlamentares e um dia inteiro de protestos e fogo na TV, as instituições funcionam normalmente: o Executivo governa, o Legislativo vota, o MP investiga, o Judiciário julga. Que País do mundo enfrentaria todas essas crises simultâneas sem risco de ruptura, golpe, implosão?

Ao meio. Com a soltura de Bumlai, Genu e Eike Batista, a Segunda Turma do Supremo acena com a liberdade de José Dirceu e um festival de habeas corpus a favor dos presos da Lava Jato, mas, atenção!, o tribunal vai rachar. A divisão começa na Segunda Turma, continua no plenário e une o relator Fachin e o juiz Moro: os dois defendem cadeia neles!

Sem derrota de Temer na Previdência, janela da esquerda para o poder se estreita (por VINICIUS MOTA, na FOLHA)

  Nelson Antoine/Folhapress  
Manifestantes realizam ato contra as reformas trabalhista e da Previdência no largo da Batata (zona oeste de São Paulo), na sexta (28)

SÃO PAULO - A centro-esquerda tem à disposição uma última grande cartada para transformar o Brasil em exceção à onda de centro-direita que engolfa nações do Ocidente. Para isso, precisa derrotar a reforma previdenciária do governo Temer.

O Datafolha simulou a eleição presidencial num quadro de fim de linha para políticos que avistaram a Medusa da Lava Jato e no fundo do vale da recessão.

A centro-esquerda torna-se mais competitiva nesse ambiente não apenas pelo resultado de Lula. A ausência do aiatolá petista, resultante de possível condenação judicial, seria preenchida por Ciro Gomes em condição favorável de partida.

O tempo, entretanto, trabalha contra o prolongamento do cenário até a eleição de outubro de 2018. A recuperação cíclica da economia tende a transmitir a eleitores esfolados de hoje a mensagem de que algum sacrifício reformista vale a pena.

Como Lula se beneficia ironicamente do impeachment, pois estaria trucidado se Dilma Rousseff estivesse no comando, qualquer candidato suficientemente distanciado dos escândalos e identificado com a abertura econômica será favorecido se tudo correr como planeja Temer.

Para que sua janela rumo ao poder não se estreite, resta à centro-esquerda derrotar a reforma da Previdência, o que faria propagar ondas de choque da crise até o pleito presidencial. O desalento poderia levar um Bolsonaro para o segundo turno, adversário dos sonhos de Lula ou Ciro.

Apesar de não ter votos para derrubar o projeto no Congresso, a centro-esquerda conta com um poderoso aliado: a república corporativista do Brasil, difícil de ser derrotada se jogar em harmonia.

Já nas ruas, a batalha parece mal encaminhada com uma "greve geral" para convertidos e sindicalistas prestes a perder boquinha de R$ 3 bilhões. A volta da violência nos protestos tampouco ajuda as pretensões da centro-esquerda.

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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