Renan e aliados avaliam que Moro não conseguirá impedir candidatura de Lula (por JOSIAS DE SOUZA, UOL)

Publicado em 06/04/2017 07:20
UOL + ESTADÃO + VEJA

Desde que o Supremo Tribunal Federal abriu os calabouços para pessoas condenadas na primeira e na segunda instância, o principal obstáculo à candidatura presidencial de Lula passou a ser jurídico. Se for condenado pelo juiz Sérgio Moro e a sentença for confirmada pelo Tribunal Federal da 4ª Região, Lula estará mais próximo da cadeia do que da urna eletrônica. Será um ''ficha-suja''. Ao avaliar as chances do morubixaba do PT, Renan Calheiros concluiu que já não há mais tempo para que a Lava Jato impeça a candidatura de Lula.

Outros peemedebistas compartilham da avaliação de Renan. Entre eles o senador paraense Jader Barbalho e a ex-governadora maranhense Roseana Sarney. Discutiram o assunto na madrugada de quarta-feira, em jantar na casa da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). Líder do governo de Michel Temer no Senado, Romero Jucá (RR) discordou. Disse acreditar que a condenação de segundo grau de Lula chegará mais rápido do que sua candidatura, que só pode ser formalizada em meados de 2018, numa convenção partidária.

Por mal dos pecados, os pajés do PMDB não incluíram em suas elucubrações a hipótese de Lula ser absolvido. Deram de barato que a sentença é uma espécie de fato consumado esperando na fila da República de Curitiba para acontecer. Discutem apenas se o desfecho chegará a tempo de implodir os planos do amigo petista. A caciquia do PMDB se prepara para um reencontro com as urnas. E ninguém parece descartar de antemão a hipótese de uma aliança com Lula.

Em apuros nas pesquisas, Renan pleiteará a reeleição para o Senado. E tentará reconduzir o herdeiro Renan Filho à poltrona de governador de Alagoas. Jader também se equipa para pedir ao eleitor paraense que o mantenha no Senado. E se empenhará para fazer do filho Helder Barbalho, hoje ministro da Integração Nacional, o próximo governador do Pará. Quanto a Roseana Sarney, ela cogita disputar novamente o govenro do Maranhão, hoje controlado pelo rival Flávio Dino (PCdoB) , do PCdoB.

Os peemedebistas sentem o hálito quente da Lava Jato na nuca. Por isso tomam distância dos pedaços impopulares da reforma previdenciária de Temer e achegam-se a Lula. Precisam desesperadamente renovar os mandatos, para manter o foro privilegiado do Supremo Tribunal Federal. Do contrário, enfrentarão nas instâncias inferiores o mesmo calvário a que está submetido Lula.

Moro cobra registros de visitas de Lula à cobertura no Guarujá (na VEJA)

O juiz Sérgio Moro pediu ao síndico do Condomínio Solaris, no Guarujá (SP), os registros de entrada e saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ex-primeira-dama Marisa Letícia, incluindo anotações e eventuais imagens do casal no local. O juiz pede a relação de todos os moradores do edifício desde 2009 e os nomes dos prestadores de serviços do prédio. Em ofício encaminhado ao síndico, Mauro de Freitas, o juiz solicitou ainda a relação de eventuais ações de cobrança do condomínio movidas contra o Grupo OAS. O prazo para a entrega das informações é de cinco dias.

De acordo com a força-tarefa da Lava-Jato, imóveis do Condomínio Solaris, incluindo um tríplex atribuído a Lula, foram utilizados para camuflar o pagamento de propinas do escândalo do petrolão. Reportagem de VEJA em 2015 revelou que, depois de um pedido feito por Lula, o então presidente da OAS, Léo Pinheiro, levou a construtora a assumir a obra do prédio, que era tocada pela cooperativa Bancoop, ligada ao PT.

Em sua proposta de delação premiada, Léo Pinheiro revelou que a cobertura tríplex que Lula comprou na praia do Guarujá foi, na verdade, um presente da empreiteira, pago com dinheiro da corrupção. Pinheiro soube que Lula estava interessado no imóvel após receber um recado por intermédio do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que está preso. Assim disse Pinheiro em sua delação: “Ficou acertado com Vaccari que esse apartamento seria abatido dos créditos que o PT tinha a receber por conta de propinas em obras da OAS na Petrobras”.

Em outro ofício, o juiz Moro pediu à diretoria da Tallento Construtora, contratada pela OAS para reformar o tríplex, que forneça eventuais registros de contatos da empresa com Lula e dona Marisa. O juiz vai ouvir Léo Pinheiro no próximo dia 20. Já o ex-presidente Lula será interrogado por Sérgio Moro no dia 3 de maio, às 15 horas. Será a primeira vez que os dois ficarão frente a frente. A ex-primeira-dama Marisa Letícia, que morreu em fevereiro, teve a sua punibilidade extinta.

Autor do enredo, PT odeia filme sobre Lava Jato

 

Presenciei dias atrás uma cena curiosa. Apaixonado pelo PT, um professor de ciência política convidou-me para visitar uma de suas classes. Pediu-me que fizesse um contraponto à aula que havia preparado sobre a “criminalização das forças de esquerda no Brasil”. Ao chegarmos, havia um grupo de estudantes ao redor de um computador. Na tela, uma animação com cenas de prisões e depoimentos de enroscados na Lava Jato. O professor indagou: “Vocês fizeram esse vídeo.” E o dono do lap-top: “Não, foram vocês que fizeram.” Achei que minha presença era desnecessária. O professor já dispunha do seu contraponto.

Petistas e simpatizantes têm a mania de olhar com distanciamento típico dos scholars os escândalos produzidos sob Lula e alimentados sob Dilma. Os deputados petistas Paulo Pimenta, Wadih Damous e Paulo Teixeira, por exemplo, preparam uma representação a ser protocalada na Procuradoria da República contra agentes da Polícia Federal e o juiz Sergio Moro. Acusam-nos de ceder armas, uniformes, carros e aeronaves da PF para a produção do filme ''Polícia Federal – A Lei É para Todos'', com estreia prevista para julho.

A iniciativa dos deputados pode ser útil. Transparência nunca é demais. Entretanto, Pimenta, Damous e Teixeira talvez fizessem um bem a si mesmos se desperdiçassem um naco de tempo para fazer uma introspecção. Levando a experiência a sério, cada um deles talvez passasse a enxergar no espelho a imagem de um omisso. Indo mais fundo no processo de auto-exame, os parlamentares verão materializar-se diante de seus olhos uma obviedade: os escândalos dignos de filmes não surgem por geração espontânea. Eles nascem da perversão.

Os deputados talvez percebam que, além da representação contra os servidores-amigos do filme sobre a Lava Jato, a realidade exige deles uma outra atitude. Um gesto consciente e, a essa altura, já meio tardio. No caso do PT, a conjuntura já não admite que os filiados se mantenham exilados no conforto de sua omissão política. A cena intima-os a reagir. O primeiro passo é o abandono da cômoda e tola retórica de que o problema do PT são os outros.

O segundo passo é a caída em si, a descoberta de que o problema não é o filme sobre a Lava Jato, mas o enredo que inspira a filmagem. Prestes a renovar sua direção, o PT está em ebulição. O momento parece propício para uma rediscussão de certas práticas. Há sempre a alternativa de lavar as mãos e continuar detestando o filme que ainda não chegou às telas. Se preferirem esse caminho, os deputados não devem reclamar quando alguém lhes disser: “Foram vocês que fizeram!”.

Editorial do Estadão: A força do populismo golpista (blog de AUGUSTO NUNES)

Os últimos acontecimentos na Venezuela demonstram o quanto é difícil sair do populismo, mesmo com a profunda crise econômica e social do país

Dois golpes, em poucos dias, um na Venezuela e outro no Paraguai, mostram que o populismo ainda tem força na América Latina, apesar dos reveses sofridos, principalmente na Argentina e no Brasil, aqui com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a acachapante derrota do PT nas últimas eleições municipais. Na Venezuela, as forças populistas agiram para manter no poder o chavismo, já sem disfarce “democrático”, e no Paraguai para facilitar a volta ao poder do ex-presidente Fernando Lugo.

As características do golpe paraguaio são um primor de desfaçatez e de absoluta indiferença a qualquer regra de convivência política civilizada, quando se trata de fazer valer ambições políticas. Para driblar a Constituição, que proíbe a reeleição, tanto do presidente como de ex-presidentes – medida adotada justamente para evitar que líderes populistas se eternizem no cargo –, o presidente Horacio Cartes e o seu partido, o Colorado, se juntaram ao ex-presidente Fernando Lugo.

Aliados dos dois montaram uma farsa e aprovaram na terça-feira passada, no Senado, medidas que alteram o regimento da Casa e em seguida uma emenda que autoriza a reeleição. Ela precisa passar pela Câmara, onde Cartes tem folgada maioria, e submetida a referendo. Tudo feito com requintes de esperteza. Para evitar o risco de opositores e manifestantes simpáticos a eles constrangerem senadores com resquícios de pudor, a sessão foi realizada não no plenário do Congresso, mas na sede da Frente Guasú, que reúne partidos de esquerda que apoiam Lugo, com a presença de 25 senadores. Os outros 20 ficaram de fora.

Diante da forte reação popular ao golpe, com disfarce “legal” que não ilude ninguém – manifestantes invadiram e colocaram fogo na sede do Congresso na sexta-feira passada e na madrugada de sábado um líder estudantil foi morto a tiros durante confronto com a polícia –, o presidente Cartes propôs diálogo com os opositores da medida, com a mediação da Igreja Católica, e a Câmara adiou a votação da emenda. Tudo indica, porém, que se trata apenas de uma tentativa de esfriar os ânimos.

Consumado o golpe no Congresso manobrado por Cartes e Lugo, as forças somadas de ambos têm grande possibilidade de vencer no referendo. Abertas as portas para a reeleição, ou se assistirá ao retorno do populista de esquerda Lugo, afastado por impeachment em 2012 – o que parece mais provável a julgar pelas pesquisas de opinião –, ou à permanência de Cartes, inaugurando uma nova vertente populista.

Do populismo os últimos acontecimentos na Venezuela demonstram o quanto é difícil sair, mesmo ele tendo levado o país rico em petróleo a uma profunda crise econômica e social. Diante da forte reação, tanto interna, com a promessa de resistência da oposição, seguida de manifestações populares, quanto externa – na qual se destacam as do Mercosul e da Organização dos Estados Americanos (OEA), que pedem o respeito às regras democráticas –, ao seu autogolpe para eliminar qualquer resquício de oposição, o presidente Nicolás Maduro resolveu encenar um recuo que só engana os muito ingênuos.

O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) anulou sua decisão de assumir os poderes da Assembleia Nacional, onde a oposição conseguiu maioria nas últimas eleições parlamentares. Sempre por ordem de Maduro, num e noutro caso. O que significa que amanhã, também por ordem dele, o autogolpe pode voltar a valer. Ou seja, todo mundo sabe que tudo isso não passa de outra encenação ou de uma demonstração de que Maduro faz e desfaz à vontade.

O chavismo já mostrou que tem o controle de todas as instituições e as manipula de acordo com seus interesses e seu objetivo de se manter no poder. Só a resistência interna, com o risco de acabar em violência, e a pressão externa poderão mudar esse quadro. Como a do Mercosul que, após reunião em Buenos Aires, sábado passado, pediu o respeito “efetivo” à separação de poderes, ao Estado de Direito e a libertação dos presos políticos.

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Fonte: UOL + ESTADÃO + VEJA

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