Show midiático da “Carne Fraca” deveria envergonhar a PF e o país (por REINALDO AZEVEDO)
É uma vergonha, um descalabro, um assombro mesmo!, o que se deu na “Operação Carne Fraca”. Dá para entender por que setores autocráticos da burocracia, com o apoio da direita xucra, tanto rejeitam um projeto que puna abuso de autoridade. Escrevi um texto bastante ponderado a respeito, com as “informações” fornecidas pela PF. Destaquei que a carne brasileira era considerada uma das melhores do mundo e que isso se conquistou com investimento e tecnologia. Mas como ficar imune àquela avalanche, que viria a se mostrar uma coleção formidável de sandices?
De todo modo, penitencio-me, sim, porque comentei com amigos, com a minha mulher e até com algumas autoridades que via um enorme exagero em tudo. E isso já na sexta. Mas não escrevi. Não que tenha me acovardado — nada a perder senão os grilhões com que tentam atar-nos os inimigos. É que a operação denunciava o quase nefando, o que não pode ser pronunciado: venda de carne podre, uso de produtos cancerígenos, emprego de papelão em embutidos, uso de carne proibida em linguiça… A dúvida não deixou de martelar.
Bem, já dá para saber. 1 – A cabeça de porco — há excelentes restaurantes que fazem uma bochecha que é de comer rezando… — pode ser usada no processamento de embutidos; 2 – o tal papelão misturado à carne era uma referência à troca de embalagens plásticas por embalagem de… papelão; 3 – os ácidos ascórbico (vitamina C) e sórbico (um conservante) não são produtos cancerígenos; 4 – “carne podre” é uma gíria para se referir à utilização de produto que não tenha sido inspecionado pelo SIF (Serviço de Inspeção Federal); não é sinônimo de “carne putrefata”.
Mas isso ainda é pouco. Tratou-se da maior operação da história da Polícia Federal, envolvendo 1.100 homens. Há 4.800 estabelecimentos que processam carne no país. Sabem quantos estavam sob suspeita, e isso não ficou claro em nenhum momento? Apenas 21: ou 0,437%. É importante que você tenha a dimensão, leitor, do que isso significa. Se você pesar 70 kg, 0,437% do seu peso corresponde a 306 gramas, menos que seu almoço. Entendeu? Mas calma! Desses 21, três unidades foram interditadas: 0,0625% — ou 43,75 gramas, mais ou menos umas quatro folhas de alface.
Atenção! A Polícia Judiciária Federal armou um salseiro sem precedentes na história para punir eventuais práticas criminosas que, se aconteceram, são absolutamente marginais. As eventuais falhas de fiscalização parecem ser localizadas. E devem ser combatidas com dureza.
Não obstante, o que se viu? Queiram ou não, toda a carne consumida no país e também a exportada foi posta sob suspeição. Por quê? A meu ver, por irresponsabilidade, por açodamento, por gosto pelo espetáculo, por vedetismo mixuruca. As ações da BRF e da JBS despencaram. Quem vai arcar com esse prejuízo? Bem, se essas empresas decidirem acionar o estado, o que a Polícia Federal vai dizer à sociedade?
O Brasil disputa a liderança mundial na exportação de carne e é líder mesmo em alguns setores. Seu produto é considerado de alta qualidade, e não foi fácil ganhar esse reconhecimento.
No ano passado, a exportação de frango (US$ 6,849 bilhões), bovinos (US$ 5,5 bilhões) e suínos (US$ 1,483 bilhão) rendeu ao país US$ 12,349 bilhões. Não é segredo para ninguém que, seja nos anos falsamente dourados de Lula, seja agora, é o agronegócio que impede o país de ir para a pindaíba.
O espalhafato feito pela Polícia Federal certamente deixou chocados e temerosos os brasileiros, mas a repercussão maior se deu mundo afora, especialmente naqueles países que compram o produto brasileiro.
Quem vai impor a disciplina a essa gente? Não sei. Coisas nada corriqueiras estão em curso. E vou falar delas.
A propósito: e se a PF, na próxima, decidir dançar o “cancan”? Todos com as pernocas de fora e para o alto. Pode atrair até mais cobertura da “mídia”.
Reação de Temer a desvario da PF foi boa; tomara que seja eficaz!
Temer ofereceu jantar em churrascaria: 19 embaixadores e 8 representantes comerciais se fartaram. Ele comeu alcatra, fraldinha, linguiça, cordeiro e picanha
Michel Temer e o governo federal agiram com a devida rapidez no caso da carne. O presidente reuniu no Palácio do Planalto, neste domingo, 33 embaixadores dos países que mais importam o produto para assegurar a excelência do setor e a eficiência do Sistema de Inspeção Federal. Não ficou só na retórica. Ele destacou que os 21 estabelecimentos que foram submetidos à investigação entrarão num regime especial de fiscalização.
O presidente disse o óbvio: os casos apontados, ainda que verdadeiros, são marginais, pequenos, quando comparados com o volume exportado pelo país. Só ano passado, foram 4,384 milhões de toneladas de franco, 1,4 milhão de toneladas de carne bovina e 732,9 mil toneladas de suína. Mais: não fosse a fiscalização federal, que é considerada eficiente — e isso não quer dizer que inexistam problemas ou que eventuais bandidos não devam ser punidos —, seria preciso supor que os respectivos sistemas de avaliação de Estados Unidos, União Europeia ou China permitem a entrada, nessas áreas, de carne podre, misturada a papelão e contaminada por produtos cancerígenos.
A estrela da reunião foi Blairo Maggi, ministro da Agricultura. Ele disse ter perguntado a Leandro Daiello, superintendente da PF, por que o Ministério da Agricultura não foi informado sobre a investigação e a operação para poder, inclusive, fornecer elementos técnicos. E ouviu como resposta que, como havia fiscais suspeitos que, em última instância, pertencem à pasta, haveria risco de vazamento.
A desculpa vale uma moeda furada de R$ 3. A investigação, consta, está em curso há dois anos. De posse de todos os dados, não havendo nenhuma suspeita sobre a cúpula da atual equipe da Agricultura ou das anteriores, só uma coisa explica o comportamento doidivanas da PF, em especial o do delegado Maurício Moscardi Grillo, aquele que afirmou que os frigoríficos estavam usando produtos cancerígenos. Que coisa é essa? Arrogância, complexo de Deus, certeza de que sua função, como diria Rodrigo Janot, é “depurar o Brasil”. Não é um mal que atinja apenas esse profissional. Ainda volto a esse tema em outro post.
Com didatismo, serenidade, ponderação, o ministro repôs algumas verdades sobre uso de cabeça de porco (não é proibido); a tal mistura de papelão, que nunca existiu — a gravação refere-se a embalagens; o uso permitido de ácidos sórbico e ascórbico, que cancerígenos não são. Isso quer dizer que inexistam problemas no setor? Não! Há indícios de que alguns larápios estão se aproveitando? Parece que sim! Mas daí a ser um problema que afeta uma área em que o país dispõe de tecnologia de ponta e de critérios entre os mais severos do mundo, bem, vai uma distância gigantesca.
Manchete
Vejam a manchete do “Correio Braziliense” de domingo, o jornal que circula na cidade em que ficam as embaixadas: “Carne podre põe governo e consumidores em alerta”. Bem, é chato perguntar, mas lá vou eu: onde está a carne podre?
A coisa é tão patética que uma das evidências do que seria um escândalo de proporções pantagruélicas é o fato de fiscais ganharem um pacote de frango dos frigoríficos. Numa das conversas, eles reclamam do que consideram baixa qualidade da carne. Um deles diz até que deu o presente para a cunhada. Mas nada sugere que seja produto impróprio para consumo humano. E, claro!, eles não deveriam ter recebido franguinho nenhum! A pergunta é outra: esse caso merece ilustrar uma denúncia que pode quebrar as pernas do país?
Churrascaria
Depois do encontro, Temer convidou os presentes para jantar numa churrascaria. A Folha informa que 19 embaixadores e oito representantes comerciais aceitaram o convite. O presidente comeu alcatra, fraldinha, linguiça, cordeiro e picanha. Perguntou ao funcionário do estabelecimento a origem da carne. Foi-lhe assegurado que eram carnes brasileiras.
É claro que a simples negativa do governo, evidenciando todos os absurdos, não basta. O país vai ter de se desdobrar para tentar corrigir a ação irresponsável da Polícia Federal. Ou quem vai pagar o pato, é evidente, são os brasileiros.
Louvem porras-loucas da PF, MPF e Judiciário, e o Haiti será aqui
“Coletiva em off” concedida por procuradores-vazadores, espetáculo grotesco da PF e laivo populista de juiz indicam o óbvio: estão todos fazendo política
O espetáculo grotesco, deprimente e perigoso estrelado pela Polícia Federal, que pode trazer prejuízos gigantescos ao Brasil e aos brasileiros, tem antecedentes. Não se chegou àquele descalabro do nada. Há muito está em curso a marcha da insensatez.
Quando eu começar a errar, aviso. Ou avisam os que têm a pretensão de ser meus adversários, não é? Ocorre que, até agora, assiste-se ao contrário disso. Só acerto! As provas estão nos fatos. Há bastante tempo venho chamando atenção para procedimentos impróprios de algumas autoridades encarregadas de investigar crimes (Polícia Federal e Ministério Público) ou de julgar os que são processados pelo estado — e, nesse último caso, refiro-me, é evidente, a setores do Judiciário.
Digamos com todas as letras, com todos os pingos nos is, com todas traves no tês: os porras-loucas desses três entes — PF, MPF e Judiciário — decidiram exercer o controle da política e dos políticos. E a melhor forma que encontraram de fazê-lo é criando factoides para manter a opinião pública em estado de permanente exasperação e mobilização rancorosa, que é coisa diferente de fazer uma escolha política. E contam, para isso, com a imprensa como subordinada e porta-voz.
Orgulho-me de ter escrito no dia 15 de fevereiro um post em que afirmei que há apenas três partidos no Brasil: 1) o PT e seus satélites de esquerda; 2) o PMDB-PSDB e seus satélites do Centrão e 3) o PAMPI (O Partido do Ministério Público e da Imprensa). Posso até fazer uma pequena mudança para tornar a coisa ainda mais precisa; o certo é PAMPIPO (Partido do Ministério Público, da Imprensa e da Polícia).
Alguém tem alguma dúvida disso?
A coluna deste domingo da ombudsman da Folha traz uma denúncia grave. Escreve Paula Cesarino Costa sobre o vazamento de nomes da chamada “Lista de Janot”, que deve chegar o ministro Edson Fachin apenas nesta segunda ou terça:
“Das dezenas de envolvidos na investigação, vazaram para os jornalistas os mesmos 16 nomes de políticos — cinco ministros do atual governo, os presidentes da Câmara e do Senado, cinco senadores, dois ex-presidentes e dois ex-ministros. Eles estavam nas manchetes dos telejornais, das rádios, dos portais de internet e nas páginas da Folha e dos seus concorrentes — O Estado de S. Paulo, O Globo e Valor. Por que tanta coincidência? A ombudsman apurou que a divulgação da chamada segunda lista de Janot se deu por meio do que, no mundo jornalístico, se convencionou chamar de ‘entrevista coletiva em off’. (….) Após receberem a garantia de que não seriam identificados, representantes do Ministério Público Federal se reuniram com jornalistas, em conjunto, para passar informações sobre os pedidos de inquérito, sob segredo, baseados nas delações de executivos da Odebrecht.”
Antes que prossiga, deixo claro: eu e Paula Cesarino somos, como costumo brincar, de “enfermarias diferentes”. Ela já lamentou de modo indireto que eu seja colunista da Folha. Não estou procurando pegar carona numa opinião sua ou fazer dobradinha. Estou é destacando uma informação que ela publicou e que sei correta. Afinal, já escrevi aqui que o objetivo da “Lista de Janot” é provar que todos são iguais. Ao industriar os vazamentos, os procuradores cometem um crime, que nem investigado será, e desbordam de sua função: fazem política. Prossigo.
Aécio Neves e Lula
E só nesse caso? Ah, não! Os vazadores resolveram também passar adiante o conteúdo de outras supostas delações: a Odebrecht e a Andrade Gutierrez teriam acertado o repasse de R$ 50 milhões a Aécio Neves, em 2007, depois de vencerem o leilão para a construção da hidrelétrica Santo Antônio, em Rondônia. Mas atenção: a) ninguém disse que era propina; b) os delatores não sabem se o dinheiro realmente foi pago. Entenderam?
Na coletiva que concederam na sexta-feira, os procuradores Deltan Dallagnol e Carlos Fernando evidenciaram o desprezo que têm pelo Congresso, asseguraram que os senhores parlamentares querem é acabar com a Lava Jato, e um deles, Deltan, antecipou até a data do julgamento de Lula, que será feito pelo juiz Sergio Moro. A condenação veio sugerida nas entrelinhas. Na página-trocadilho criada por sua mulher — “Eu Moro com Ele” —, o juiz agradece o apoio da população e sugere que, sem este, a história poderia ser outra.
Todas essas ações têm nome. E o nome disso é política. É o que fazem os procuradores quando dão coletivas em off; é o que faz Moro quando apela diretamente à população; é o que faz a Polícia Federal quando, com impressionante irresponsabilidade, desfaçatez, ligeireza, falta de elementos e estupidez técnica, demoniza a carne brasileira, cuja excelência é reconhecida mundo afora.
Todos querem fazer história
Há uma evidente sede de protagonismo dessas forças. Não se contentam com o seu papel institucional, que, obviamente, pode, sim, dar conta do recado, combater a corrupção, prender os corruptos. A propósito: a única força no Brasil que hoje promove a impunidade é a Lava Jato, dadas as penas ridículas que aplicam aos delatores. Notórios bandidos estão sendo, de fato, literalmente premiados. Os abusos sem contenção nem punição da Lava Jato conduzem a outros tantos.
Não senhores! O espetáculo grotesco da Polícia Federal na sexta não surgiu do nada. Sob o pretexto de combater bandidos, só pode fazer aquela patuscada quem aposta na impunidade. A mesma impunidade que protege os procuradores-vazadores. Todos esses entes, incluindo setores do Judiciário, estão convencidos de que o país não precisa de políticos e da política.
Querem saber? Entreguemos o Brasil aos porras-loucas do MPF, da PF e do Judiciário, e, em dez anos, seremos um Haiti de dimensões continentais.
Cuidado com leis, salsichas e notícias em tempos de redes sociais
Em tempos de redes sociais — e subsiste, sim, gloriosamente, uma imprensa séria —, não duvido de que aquilo a que se chama “notícia” traz muito mais impurezas do que as salsichas. Quase aposto que estas, na média, têm uma qualidade superior àquelas. Mais: como sabemos, também desta vez, a investigação acaba de ser deflagrada, mas as condenações já estão em curso. O país parece viciado em sacanagem e em linchamento. Vivemos um mau momento cultural — refiro-me à cultura democrática.
Segundo fio
Largo este fio por um tempo para pegar um outro da meada. Depois eu os uno. A JBS, como veem, ocupa o centro do noticiário por razões óbvias. É a gigante nacional — e internacional — do setor, um dos grupos que mais fazem doações para campanhas, íntimo das linhas de financiamento do BNDES. Um destino contínuo parece atingir, se vocês notarem bem, os gigantes criados na era petista, com inequívoca ajuda estatal: Odebrecht, Oi, Eike Batista, JBS… Não prejulgo nada. Os leitores sabem que não faço isso. Mas não dá para ignorar que as evidências de relações não republicanas vão se multiplicando, não é?
Qual é o problema no fundo? Acho que atende pelo nome de capitalismo de estado, com suas múltiplas faces, distintas e combinadas. As empresas estatais, obviamente, fazem parte disso e estão no centro do escândalo do petrolão. A tentativa de criar “players” globais que, depois, se transformavam em sócios da política nacional também se revela aí, e parece ser esse o caso de JBS, Oi e Odebrecht. Tudo errado! Deus do céu! Em certo sentido, ainda precisamos fazer uma revolução burguesa. Sim, foi o petismo que nos fez regredir a esse estágio.
Os estudiosos sabem que esse modelo de capitalismo de estado, com a eleição de “amigos do rei” e a participação de conglomerados em sociedade com o poder político, está muito mais para a economia de um regime fascista do que de um regime liberal. Repudia-se o estado regulador. Na verdade, ele se torna sócio do capital privado, e seus anéis burocráticos — fiscais formam um deles — se encarregam de criar seus próprios círculos de burla e interesse.
É esse estado que precisa ser desmontado. É esse estado que deveria agora estar sendo desconstruído. Em vez disso, estamos nos perdendo, como país, na simples demonização da política — que sai, mais uma vez, toda lanhada. Vejam lá. Fiscais estariam atuando para partidos políticos.
Reunindo os fios
Esse estado que é sócio, gestor e corruptor se torna necessariamente lasso, fraco, relaxado, na fiscalização. Ou, pior ainda, torna-se forte para praticar extorsão. Sim, é preciso tomar cuidado. É preciso lembrar como trabalha o setor. Gigantes como JBS e BRF trabalham com frigoríficos associados. Há um risco de a sua marca estar numa determinada carne sem que a empresa tenha exatamente controle do que está sendo feito. Há ainda a possibilidade de os casos mais escabrosos não estarem mesmo relacionados às grandes marcas.
Não estou livrando a cara de ninguém — até porque, do ponto de vista legal, isso seria irrelevante porque, nessa área, a responsabilização objetiva existe. Apenas cumpre lembrar como as coisas funcionam.
Péssimo!
É claro que é uma péssima notícia para o Brasil. O Brasil é um dos líderes mundiais na exportação de carne — é o líder na carne de frango, por exemplo. Teve de enfrentar ao longo dos anos as barreiras protecionistas as mais explícitas, travestidas de barreiras sanitárias. Conseguiu vencer os obstáculos e se tornar um gigante mundial. O agronegócio — e a pecuária em particular — impediu o país de mergulhar num abismo sem retorno. Os superávits da balança comercial dos anos Lula, que permitiram ao partido articular algumas de suas ditas “políticas sociais”, foram garantidos pelo agronegócio. Quando a equação se inverteu, o setor continuou no azul, mas o setores industrial e de serviços afundaram.
Sim, isso pode ter um impacto negativo na exportação, até porque se investiga se carne adulterada não chegou a ser vendida para outros países. É lamentável e melancólico.
Dá pra sair dessa areia? Dá, sim! Temos de criar as bases de um estado regulador, eficiente na fiscalização, que não queira ser nem sócio nem tutor do capitalismo nacional. A questão, no fim das contas, é política.
E nós vamos mal de política, como se sabe.
Liberal incapaz, na democracia, de pregar respeito à lei é frouxo
Eis a boa palavra: quais são, afinal de contas, os princípios dos quais não abrimos mão, seja para caçar corruptos, tarados ou homicidas?
Há uma manifestação marcada para o dia 26 com uma pauta extensa e vária. Também nesse particular sentido, as esquerdas se mostram mais inteligentes e práticas. Escolheram um tema só: são contra a reforma da Previdência. Até a trabalhista fica em segundo plano. O negócio é não perder o foco, a exemplo do que fez Lula na Paraíba, neste domingo.
O cardápio, dados os vários grupos, é amplo e diverso, mas há uma coisa em comum: a defesa da Lava Jato. Não sei quem a ameaça. Por favor, não me venham falar de novo em tolices como “anistia”. A propósito: não tocar na Lava Jato implica não punir procuradores que dão coletivas em off para vazar nomes que estão protegidos por sigilo? Isso é crime. Sei… “Quando os crimes são favoráveis às nossas escolhas, crimes não são, mas virtudes… Sabem como é: há a nossa moral e a deles.”
Vejam o que a Polícia Federal, movida por esse clima de vale-tudo, tentou fazer com parte considerável do único setor — único mesmo! — em que o pais alcançou e manteve a excelência. Ora, se bandidos estão ali acoitados, cumpre que sejam investigados, denunciados, condenados, presos… Justamente para que se mantenha a excelência.
Em vez disso, assistimos a um show de prepotência, cretinismo e desinformação, cujas consequências poderiam ser devastadoras — irrelevantes não serão — se o que veio a público não se mostrasse tão constrangedoramente bisonho.
Ah, cadê os nossos liberais? Cadê os nossos defensores da inciativa privada? Cadê os entusiastas do livre mercado? Cadê os defensores da eficiência? Cadê os que dizem propugnar por um estado regulador e eficiente, não um estado-patrão? Onde foi parar essa gente toda?
“Está chamando os que vão às ruas de covardes e frouxos?” Não! Não sou do tipo que bata na cangalha para o burro entender. Se e quando achar o caso, então eu o farei. O ponto aqui é outro. Cadê o liberalismo nativo?
Ora, está de joelhos, por desinformação ou oportunismo, justamente para os órgãos que ajudam a depredar as instituições. E isso inclui a imprensa. Vamos ser claros? Quando procuradores convocam coletiva em off para vazar nomes que estão protegidos por sigilo, só uma atitude dos senhores repórteres seria decente: denunciar a operação. Em vez disso, todos os que participaram daquilo resolveram coonestar o malfeito. Afinal, imaginem: se os jornalistas dessem com a língua nos dentes, nunca mais seriam premiados com novos vazamentos. É evidente que, no mais das vezes, o que se chama “apuração” é apenas intimidade com procuradores. Existem delatores premiados e jornalistas premiados. E o senhor dos prêmios é o Poder dos Podres: o MPF.
É um espanto que as coisas se deem dessa maneira, mas assim elas são. Vai ver isso decorre também, sei lá, da carne fraca, da convicção fraca, da formação fraca, da informação fraca, dos princípios fracos. Aliás, eis a boa palavra: quais são, afinal de contas, os princípios dos quais não abrimos mão, seja para caçar corruptos, tarados ou homicidas?
Torço para que, no dia 26, ninguém se lembre de gritar: “Todo apoio à Carne Fraca!”. A coisa teria lá a sua graça.
Cadê os nossos liberais, que assistem, inermes, a uma agressão àqueles que deveriam ser seus valores basilares?
Órgãos do estado degeneram, à vista de todos, em organismos policialescos, sem regras. A coisa é de tal sorte grave que uma conversa do ministro da Justiça, Osmar Serraglio, com um investigado é trazida à luz. Nada há que o comprometa. Nada há a investigar. Nenhuma suspeita derivada dali. Então a conversa foi posta na rede por quê? Parece que a intenção é demonstrar que ninguém está seguro — muito menos deve o indivíduo se sentir seguro dos próprios direitos.
Isso tem história, tem uma maldita tradição. Mas não cuidarei disso agora.
Um liberal incapaz, numa democracia, de defender o respeito à lei porque os exaltados querem linchamento não é um liberal, mas um frouxo.