DE VOLTA À QUESTÃO: E SE TEMER CAIR?, (por Lucas Berlanza, no Instituto Liberal)
Deparei-me neste fim de semana com matéria da Veja insinuando que as chances da cassação da chapa PT-PMDB no TSE, em ação anteriormente movida pelo PSDB, teriam deixado de ser uma possibilidade remota e passado a ficar mais prováveis, ameaçando abortar os dois anos ainda previstos de governo Michel Temer.
Segundo a matéria, o processo “já tem 15000 páginas e reuniu evidências que não deixam margem a dúvida: dinheiro sujo, oriundo de múltiplos esquemas de corrupção, foi usado para reeleger Dilma Rousseff (PT)”. Quanto a isto, não há novidade nenhuma; felizmente, Dilma já foi “impeachada” e a era lulopetista terminou. Agora se trata de combater seus miasmas e descobrir o que será construído em seu lugar: uma esperança ou um novo mergulho no abismo. A crise tem sido tão aguda que aparentemente a simples mediocridade costumeira não é uma opção: vai agravar o abismo em vez de nos devolver aos típicos mares de uma paradoxal “instabilidade estabilizada”.
O que nos interessa agora é este trecho do texto: parte das transações “vai complicar a situação do peemedebista no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que julgará ação que pede a cassação da chapa. O relator, ministro Herman Benjamin, decidiu requerer ao Supremo Tribunal Federal (STF) cópias dos depoimentos dos executivos da Odebrecht tão logo suas delações sejam homologadas. Pelo que já foi revelado, sabe-se que a empreiteira, além de comprometer Dilma e os petistas, relatou ter feito doações clandestinas ao PMDB, a pedido de Temer. Os dois partidos, portanto, teriam se beneficiado fraternalmente do mesmo dinheiro ilegal, alcançando os mesmos benefícios e praticado os mesmos crimes eleitorais”. Segundo a revista Época, por outro lado, conforme noticia O Antagonista, os tucanos estariam tentando protelar essa ação para que Temer conclua seu governo-tampão, uma vez que agora compõem sua base aliada.
O que devemos pensar disso? Ou, para rebaixar a pretensão: o que eu penso a respeito? Há alguns meses, quando se estabeleceu a crise com os ministros Calero e Geddel, mais uma trazendo desconfiança ao ministério político de Temer, opinei de forma dura, ressaltando que não compactuaria com erros ou imoralidades do governo, que substituir Dilma não tornava Temer detentor de um salvo-conduto para estar imune a críticas e ao patrulhamento responsável e equilibrado dos cidadãos e que seus abusos não seriam menos condenáveis que os do PT caso fossem perpetrados. À época, como hoje, identifiquei com desagrado muitos respeitáveis amigos e colegas liberais e conservadores, noutras oportunidades defensores das ideias com que mais me afinizo, mas nesse caso, compreendo que em virtude de agendas positivas e necessárias para o país, por estarem desejosos de uma saída do drama que o Brasil vive, pontuando que pressionar Temer ou querer o que não seria mais do que a aplicação da justiça seria engrossar o coro das esquerdas fanáticas. Seria perturbar a busca desesperada por equilíbrio financeiro do Estado e dos cidadãos.
Posso entender o instinto de sobrevivência deles. Todos queremos que reformas como a tributária, a trabalhista e a previdenciária, a despeito de eventuais falhas ou incongruências que críticos mais argutos e liberais possam apontar nelas, sejam realizadas, e desejamos que o Brasil possa encontrar o ambiente político e institucional sadio capaz de levá-las à frente e promover a salvação nacional. É plausível que se deseje a continuidade do governo Temer para que, a salvo de tensões políticas e partidárias, ele possa nos desafogar e conter o desemprego e a sangria no país. Todos sofremos de alguma forma os efeitos dessa agonia nacional e queremos um Brasil mais próspero o quanto antes.
No entanto, dois fatos se impõem. O primeiro é o de que certa falta de energia e vigor do governo, com Temer cedendo às esquerdas espaços que deveria fechar, já me deixam em dúvida, apesar de ele já ser notoriamente superior aos da era PT, se ele terá capacidade de entrar para a História da forma que desejamos e que ele tem o dever de entrar – conquanto, é claro, ninguém esperasse milagres em menos de um ano. O segundo, e mais importante, é de que não podemos olhar prioritariamente para circunstâncias e preferências na hora de aplicar a lei.
É impossível prever o que vai acontecer com o Brasil se Temer cair, assim como é impossível prever o que ocorrerá se concluir o seu governo. Mais do que o normal, o cenário do Brasil hoje, intensamente sacudido pela crise, pela iminente guerra das facções do narcotráfico e pelas movimentações da Operação Lava Jato, é nebuloso e imprevisível. Porém, é absolutamente certo que um povo que abdica de princípios e valores fundamentais e do seu senso de justiça em prol de conveniências, por mais necessárias e desesperadas que elas pareçam, se está condenando.
De modo que, a meus olhos, a questão é simples, ainda que possa ser dolorosa: não há provas contra Temer, ele é inocente? Confesso ser muito difícil acreditar nisso, por mais que desejasse, já que uma figura tão intrinsecamente ligada à sustentação do projeto lulopetista não pode ser considerada alheia a tudo que nele acontece.
Temer é culpado? Então ele pode nos surpreender, fazer um excelente governo, transformar o Brasil em uma nação liberal e de Estado enxuto em dois tempos, que ainda assim, concordarei com sua cassação e assinarei embaixo de sua punição, bem como me oporei a toda e qualquer tentativa de partidos como o PSDB de atravancar o processo na Justiça. Isso porque, eis o óbvio ululante, não sou petista, não sou esquerdista, não cairei na esparrela infantil de querer proteger “os meus” –entre os quais, aliás, se existem, Temer respeitosamente não é um, e jamais votei nele. E é isso, ponto final.
EM ATO DE MONSTRUOSIDADE MORAL, LULA USA AVC DA PRÓPRIA MULHER PARA PROSELITISMO POLÍTICO (Rodrigo Constantino)
Lula é mesmo um sujeito que, para ser apenas desprezível, teria de melhorar muito. Sua moral é não ter moral alguma, usar qualquer coisa para se beneficiar pessoalmente, mesmo que pisando nos outros, ferrando com a vida de milhões, destruindo um país inteiro. Claro que um sujeito desses não encontraria nem mesmo na saúde da esposa um limite ético para o silêncio, para a reflexão, para a reclusão civilizada que separa o humano da política. A vida de Lula é o palanque, e o vitimismo é sua marca registrada.
Quando “dona” Marisa teve um AVC e foi internada, algumas pessoas partiram para um ato deplorável: celebrar, festejar, torcer pelo pior. Tudo muito tosco. A vida de um ser humano deveria estar acima disso. Se Marisa é culpada, se é cúmplice do marido, o chefe de uma quadrilha, então que ela pague por isso: viva! Que melhore da doença, e possa depois arcar com as consequências legais de seus atos. Mas vibrar com seu AVC, isso é inadmissível.
Assim como é inaceitável fazer uso político do caso pelo outro lado. Foi o que fez o PT, pois o PT é um “partido” completamente amoral mesmo. Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, fez logo menção à Lava Jato, insinuando que a operação da Polícia Federal era responsável pelo ocorrido, por “perseguir” Lula e colocar sua família toda sob pressão:.
Era questão de tempo até que o próprio Lula fosse para algum palanque bancar a vítima, usando o AVC de sua mulher, que continua internada. E foi exatamente o que aconteceu:
Na primeira manifestação pública e presencial sobre o estado de saúde da mulher, Marisa Letícia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nessa segunda-feira (30) a simpatizantes, em São Paulo, que “a pressão e a tensão fazem as pessoas chegarem ao ponto que a Marisa chegou”. A ex-primeira-dama está internada há uma semana na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Sírio-Libanês, na capital paulista, por conta de um AVC (acidente vascular cerebral) hemorrágico. O quadro de saúde dela é considerado grave, mas estável.
“Eu acho que a pressão e a tensão fazem as pessoas chegarem ao ponto que a Marisa chegou. Mas isso não vai fazer eu ficar chorando pelos cantos. Vai ficar apenas batendo na minha cabeça, como mais uma razão para que a luta continue”, afirmou Lula a representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens. As informações são do Instituto Lula, onde ocorreu o encontro, no bairro do Ipiranga (zona sul de São Paulo).
Isso é completamente asqueroso, abjeto! Que tipo de pessoa faz uso político de uma grave condição de saúde da própria mulher? Que tipo indecente de gente tenta obter dividendos políticos com uma tragédia pessoal? Em vez de se dedicar à esposa de forma reclusa, num momento de privacidade que toda família tem direito, Lula escolhe a via da demagogia, do populismo, jogando para a plateia com o discurso de vítima, que culpa os guardiões das leis pelo AVC de Marisa.
Lula não tem salvação mesmo. Trata-se de uma figura vil, covarde, vergonhosa, que merece todo o nosso mais profundo desprezo. E sua tática podre não vai funcionar, pois o Brasil está mudando, aos poucos mas está. A Lava Jato continua com imenso apoio da população, que aguarda inclusive a prisão do próprio Lula. Ninguém será poupado por ter sido poderoso, por ainda mobilizar uma massa de idiotas úteis, ou por bancar a vítima usando a própria mulher como escudo.
Rodrigo Constantino
COMO SUPERAR O FASCISMO DE ESQUERDA? (Por Claudir Franciatto, Instituto Liberal)
“Eu também já fui esquerdista, essa espécie de gonorreia juvenil que a todos acomete.” (Roberto Campos)
O saudoso Roberto Campos se recusava a aceitar o rótulo de conservador. Ele dizia que os representantes da esquerda é que eram os neoconservadores, porque desejavam a volta de uma situação pré-muro-de-Berlim. Para o nosso dom Quixote do liberalismo econômico no Brasil, o que sempre existiu foi o fascismo de esquerda – o socialismo/comunismo -, o fascismo de direita – o nazi-fascismo – e o liberalismo. Não haveria como escapar de um desses três tipos de postura ideológica na vida.
Quanto a mim, o que mais incomoda é chamar um fascista de esquerda de “progressista”. Como pode? Se historicamente está comprovado que, efetivamente, grama que ele pisa não brota mais…Bem, incomodado com essas questões epistemológicas, decidi passar o fim de semana com dois livros. Estava de olho neles, mesmo sem saber se me ajudariam a ficar mais tranquilo quanto à terminologia da política contemporânea. Mais por causa de seus autores do que por saber de antemão o que esperar das obras. Eu que, certa vez, já percorrera as 400 páginas do extraordinário Esquerda Caviar, de Rodrigo Constantino, em apenas quatro dias, as 500 páginas do livro sobre os intelectuais, de Thomas Sowel, em pouco mais que isso…bem, não seria um grande desafio.
“Não é que podem existir bons livros bolivarianos!?”, pensei de forma sarcástica ao terminar de ler o primeiro deles, Liberais e Antiliberais – A Luta Ideológica de Nosso Tempo, de Bolívar Lamounier. Mas depois refleti o quanto esse ótimo cientista político já deve ter de aguentar com essa brincadeira infame sobre seu nome. O livro é bom. Bolívar Lamounier é firme. Para ele é isso mesmo: nada de esquerda e direita. Tudo se resume a liberais versus antiliberais. Ou você é uma coisa ou outra. Pelo menos foi o que depreendi.
Porque o livro, bem à maneira de Lamounier, é escrito de forma acadêmica, quase só para acadêmicos. Tanto que lá pela página 88, ele mesmo afirma: “Reconheço que meu fraseado é meio barroco…”. Mas fundamentado. O autor se serve dos ídolos de Bacon, vindos lá do século XVII, para montar o esquema cognitivo das três grandes ideologias citadas. E toma claro partido, mostrando as diferenças límpidas e positivas em favor do pensamento liberal. À página 23, por exemplo, Bolívar traz um trecho do teórico fascista Volpicelli em que percebemos o seguinte: se você substituir a palavra “Estado” por “Partido”, dá no mesmo. Como os dois tipos de fascismos são iguais.
Desancando o verbo com classe e estilo nas teorias rousseaunianas, Lamounier analisa suas ingenuidades e o quanto de perverso pode ser o corolário disso, sua sustentação no tempo e sua abrangência. Ele fala desse romantismo pueril-pernicioso da fé na perfectibilidade futura: “Durante o século XX e, em certa medida, mesmo nos dias de hoje, esse Romantismo impregna toda por toda a parte a vida política: em todas as classes e grupos etários, políticos, estudantes, intelectuais, artistas e clérigos imbuem-se da crença de que só através dessa fonte fáustica chegarão à plena posse de sua alma e ao sentido de sua vida. Num país como o Brasil, socialmente dilacerado e dilacerante, essa forma de Romantismo compreensivelmente se alastra com vigor.”.
A filosofia pop de um ex-covarde
Mas, depois dessa leitura mais densa e na caminhada com uma escrita mais rebuscada, me aguardava agora o nosso filósofo mais pop da atualidade. Eu poderia continuar minhas reflexões com um pouco mais de conforto cerebral. Só que não. Luiz Felipe Pondé, com o seu excelente Filosofia para Corajosos – Pense com a Própria Cabeça exigiu de mim muita atenção também. Mais fácil de ler? Sim. Mais fácil de entender? Nem sempre.
Com sua postura rodrigueana do ex-covarde, Pondé nos tem ensinado a todos a nos jogar com coragem no ato de pensar e se manifestar. Será ele realmente a nova vertente de uma estirpe que vem de Nelson Rodrigues a Paulo Francis? Só sei que a mim me passa sempre a imagem de alguém mais generoso do que polêmico. Por exemplo, Pondé afirma que “a filosofia só existe na gratidão para com o pensamento dos outros e na generosidade em doar o seu pensamento para os outros.” Ou seja, ele arremata: a filosofia é o encontro entre a generosidade e a gratidão.
Pondé desanca Foucault, os idiotas que têm o rei na barriga, e nos mostra que não só a economia é a ciência da escassez, mas que a própria vida é escassa. Seu livro é um corredor com vários escaninhos nos quais vamos recolhendo pontos do novelo a ser percorrido – por conta própria. Não me auxiliou muito na questão epistemológica das ideologias. Mas ajudou a construir o meu fim de semana na direção de continuar sendo um liberal inquieto e convicto. Eu soube que desponta na lista dos mais vendidos. Merece. Tomara que chegue ao topo!
Quem muito lê não consegue ser de esquerda, diz sempre Reinaldo Azevedo – aquele que é bem mais lúcido do que vários acreditam. E finalizo: quem é socialista, comunista ou nazista é um fascista. Querendo ou não! Simples assim.