DESASTRE: direita burra faz Lula recuperar prestígio eleitoral (por REINALDO AZEVEDO)

Publicado em 12/12/2016 12:06
Na margem de erro, Lula aparece à frente de todos os oponentes no 2º turno, exceção a Marina: 38% a 34% contra Aécio e Alckmin e 37% a 35% contra Serra (EM VEJA.COM)

A direita burra considerava que a exacerbação do clima policial, com o Congresso brasileiro debaixo de vara, acabaria levando água para seu moinho. Bem, não levou. Como previ, os únicos que tinham a ganhar com isso eram os esquerdistas.

Pesquisa Datafolha divulgada nesta segunda, para a surpresa de ninguém com miolos, traz ninguém menos do que Lula na liderança de todos os cenários de primeiro turno. Sim, Lula, ele mesmo, aquele que já é réu três vezes e que foi denunciado uma quarta vez. No segundo turno, quem se dá bem em todos os cenários é Marina Silva, da Rede.

Posso colocar de outra maneira: quem lidera no primeiro turno é uma das estrelas da Lava Jato que é contra a reforma da Previdência e a PEC do Teto e quem vence no segundo turno é uma liderança que contra a PEC do Teto e a reforma da Previdência. Fica bom assim?

Se a eleição fosse hoje, Lula obteria 25% no cenário em que o candidato tucano fosse Aécio Neves, com 11% — em março, o petista tinha 17%, e o tucano, 19%. Marina fica com 15%. O ex-presidente chega a 26% com Alckmin na disputa, que obtém 8%. A líder da Rede marca 17%. Se o nome do PSDB é José Serra, com 9%, o chefão do PT mantém os 25%. Jair Bolsonaro (PSC-RJ) conquista, nessas hipóteses, respectivamente, 9%, 8% e 9%.

Calma que vem mais coisa

Marina Silva, cujo partido assumiu claramente uma inflexão à esquerda, continuaria a vencer todos os possíveis oponentes no segundo turno: 43% a 34% contra Lula; 47% a 25% contra Aécio; 48% a 25% contra Alckmin; 47% a 27% contra Serra. Não lhes pareceu bom, leitores amigos? Então vamos piorar um pouco.

Ainda que na margem de erro, Lula aparece à frente de todos os oponentes no segundo turno, exceção feita a Marina: 38% a 34% contra Aécio e Alckmin e 37% a 35% contra Serra.

Atenção para o movimento: na comparação com março, Aécio cai de 51% para 34%, e Lula sobe de 32% para 38%; Alckmin vai no período de 45% para 34%, e o petista ascende de 34% para 38%. Serra passa de 49% para 35%, e o ex-presidente oscila de 35% para 37%.

Lula encurta a distância também contra Marina no segundo turno: ela cai de 52% em março para 43% agora, e ele oscila de 31% para 34%: a diferença caiu de 21 pontos para 9.

Se os números estiverem certos, eles evidenciam uma recuperação do prestígio político e eleitoral de Lula, embora ele siga sendo um dos presidenciáveis mais rejeitados, com 44%, empatado com Michel Temer, com 45%. Dizem rejeitar Aécio 30% dos entrevistados; Serra aparece com 20%, empatado tecnicamente com Bolsonaro (18%) e Alckmin (17%). Marina fica com apenas 15%.

Na sexta, fiz uma brincadeira no programa “Os Pingos nos Is”. O “Lula” que imito lançou um apelo à direita burra, sugerindo que o negócio é mesmo botar fogo no país e esculhambar o Congresso. Afinal, esse era o melhor caminho para a recuperação de Lula. Segue o vídeo para quem não viu.

Encerro. Não existe vácuo na política. Se a ideia é reduzir o país a uma grande delegacia de polícia, todos se igualam. No ambiente de terra arrasada, quem tem mais estrutura e experiência acaba obtendo vantagem ou recuperando o terreno. Agora resta à direita burra torcer para que Lula esteja preso até 2018.

Quem sabe a polícia possa conter o perigo que ela própria está criando com a sua… burrice!

Lula: réu três vezes, denunciado uma quarta, ele segue na liderança no 1º turno e só perderia para Marina no 2º TURNO

A direita burra faz o seu trabalho… burro! Datafolha prova isso

Segundo pesquisa divulgada no domingo, a gestão é ruim ou péssima para 51% dos entrevistados; em julho, apenas 31% faziam essa avaliação

A direita burra está dando a sua enorme contribuição — e por que não o faria? — para devolver a iniciativa política à esquerda. Há quanto tempo tenho chamado atenção neste blog e em toda parte para o fato de que a substituição da política pela delegacia de polícia teria efeitos muito negativos, inclusive eleitorais?

O primeiro atingido, como indica pesquisa Datafolha, é o governo Temer. Só não digam que não alertei aqui, certo? Segundo pesquisa divulgada no domingo, a gestão é ruim ou péssima para 51% dos entrevistados; em julho, apenas 31% faziam essa avaliação. No período, caiu de 42% para 34% os que acham o governo regular, e de 14% para 10% os que o veem como ótimo ou bom. Na última avaliação da gestão Dilma, o ruim/péssimo alcançou 63%, o regular, 24%, e o ótimo/bom, 13%.

 
 
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Há dados ainda mais preocupantes: só 21% dizem que o governo Temer é melhor do que o de Dilma. Para 34%, é igual, e nada menos de 40% dizem ser pior. Acham que a situação do país vai piorar 41% — já foram apenas 30%; dizem que vai melhorar só 28% — já chegaram a 38%. Ou por outra: as pessoas se tornaram mais pessimistas.

Esse levantamento é dos dias 7 e 8 de dezembro, antes, portanto, de o país ser sacudido pelo vazamento de delações de diretores da Odebrecht, com um deles acusando o presidente de ter pedido uma doação irregular de R$ 10 milhões à Odebrecht, o que o Planalto nega.

A maioria dos entrevistados, mostra o Datafolha, quer eleições diretas para presidente. E não depois: agora. Sessenta e três por se dizem favoráveis à renúncia de Michel  para esse fim, e 27% se dizem contrários. O resultado é praticamente igual ao da pesquisa de 14 e 15 de julho, quando 62% diziam querer a renúncia de Dilma e Temer em favor do pleito direto; 30% se opunham.

Não custa lembrar: para que se realizassem eleições diretas, seria necessário que o presidente renunciasse até 31 de dezembro. Assumiria interinamente o presidente da Câmara, e se marcaria o pleito num prazo de 90 dias. Se a renúncia acontecesse a partir de 1º de janeiro do ano que vem, aí haveria eleição indireta no prazo de 30 dias. Em qualquer dos casos, o eleito governaria até 31 de dezembro de 2018.

A alternativa, querem alguns, à eleição indireta caso Temer renunciasse no ano que vem seria uma emenda constitucional antecipando eleições. Entendo que isso é vedado pelo Artigo 60 da Constituição — pelo menos seria essa a tendência no Supremo de antigamente, quando todos os ministros respeitavam as leis, né, Marco Aurélio?

A quem interessa minar a confiança no governo Temer? A pesquisa eleitoral feita pelo Datafolha traz algumas pistas, como vamos ver.

ACERTEI, NÉ? Caos interessa às esquerdas; só bestas não veem!

Hoje, os que se querem os inimigos mais ferozes de Lula e do PT estão pavimentando o caminho da sua recuperação...

No sábado, antes de virem a público as duas pesquisas Datafolha — uma apontando o aumento na avaliação negativa do governo Temer, e outra, a recuperação do prestígio eleitoral de Lula —, escrevi que a barafunda em curso no país acabaria por beneficiar as esquerdas. Título do post: “O diabo no comando. E o que ameaça a democracia brasileira”.

Lê-se lá o seguinte: “Poucos se dão conta — e os dias futuros, nos primeiros meses de 2017, deixarão claro ser assim — que as esquerdas, e o PT em particular, estão prestes a assumir um lugar privilegiado na narrativa. A esta altura, resta bastante arranhada a tese, QUE É A CORRETA, de que a corrupção e a propina eram instrumentos a que recorria o PT para fazer algo mais do que roubar: era um assalto ao estado, inclusive ao estado de direito. 

“Essa constatação foi perdendo força, sendo substituída pela evidência factual de que, afinal, todos os partidos fazem a mesma coisa. Ocorre que essa obviedade toma os meios como se fosse um fim. Roubar e trapacear como meio será ruim em qualquer tempo, e seus protagonistas devem ser punidos. Mas perder de vista a natureza da tramoia petista é falsear a história e abrir uma vereda para o PT se igualar a outras legendas entre os escombros. Se é assim, o partido é apenas um entre seus pares.”

Palavras, como a gente pode ver, premonitórias, mas de premonição que já tem certo tempo.

Dado o ambiente de terra arrasada que assumiu a Lava Jato, com todo mundo enfiado no mesmo saco de gatos pardos; dado esse clima verdadeiramente policialesco contra o Congresso e contra o processo político, sem matizes, esperavam o quê? Eu temia justamente isso que está aí.

“Ah, mas e a eleição de outubro, com o PT sendo moído?” Pois é… Acreditem: na velocidade em que vão as coisas, outubro também já ficou longe.

Ou os atores políticos começam a se dar conta de seu papel institucional, ou viveremos dias muito difíceis.

É claro que a pesquisa desta segunda reforçará o discurso do PT de que, no fim das contas, os processos contra Lula buscam apenas tirá-lo do jogo eleitoral. Isso é tão verdadeiro como nota de R$ 3. Ocorre que, até havia pouco, era, além de falso, inverossímil. Continua uma mentira, mas, desta feita, verossímil.

Impressiona a marcha da irresponsabilidade que está em curso.

Hoje, os que se querem os inimigos mais ferozes de Lula e do PT estão pavimentando o caminho da sua recuperação…

“Ah, mas contamos com Sergio Moro para prender o homem…”

Pode até ser…

Mas acreditem: quando a polícia resolve um problema da política, então o problema não está resolvido.

Venho alertando para essa possibilidade há muito tempo, não é? E tomando porrada de todo lado.

Como eu queria demonstrar, a coisa está aí.

Ou somos corajosos o bastante para ser prudentes, ou se beneficiam as forças que sabem andar no caos. E não somos nós, os decentes, a ter essa habilidade, certo?.

O diabo no comando. E o que ameaça a democracia brasileira

O diabo estava gostando do jogo há três lances. Agora, ele já está no comando da mesa, cacifado por crises múltiplas, e a maior delas, sem dúvida, é o petrolão. A sangria não tem fim. E está muito longe de terminar. A VEJA desta semana traz detalhes da íntegra dos anexos da delação premiada que Cláudio Mello Filho entregou à Procuradoria- Geral da República. Quem é ele? Ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht na capital federal. Atenção! Há 70 pessoas ligadas à empresa colaborando com as investigações. A terra treme.

Já brinquei aqui que Brasília vivia uma síndrome que apelidei de TPO: Tensão Pré-Odebrecht. Já temos noção do aperitivo de nitroglicerina pura. A delação ainda não foi homologada por Teori Zavascki, relator do petrolão. Mas é claro que será.

O conteúdo mais grave desse vazamento — e não é por acaso que seja esse, não outro, a vir à luz agora — é a acusação de que o então vice-presidente, Michel Temer, teria pedido a Marcelo Odebrecht uma ajuda de R$ 10 milhões para o PMDB. O Planalto não nega a conversa. E a contribuição, diz, está devidamente declarada ao TSE e teria sido operada por transferência bancária.

A versão de Mello filho é mais apimentada. Segundo afirma, a contribuição foi feita em dinheiro vivo — os peemedebistas dizem ser mentira — e distribuída da seguinte maneira: R$ 6 milhões para Paulo Skaf, que concorreu à Prefeitura de São Paulo pelo PMDB, e R$ 4 milhões para três destinos. Uma parcela teria ido para o escritório de advocacia de Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil; uma segunda, para o de José Yunes, amigo pessoal de Temer, e uma terceira, no valor de R$ 1 milhão, para Eduardo Cunha, aquele…

Os vazamentos já colheram José Serra, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, Lula… E isso significa que foram engolfados PMDB, PSDB, PT e, como se sabe, a quase totalidade dos partidos.

Revolução ou reforma?
A resposta mais óbvia, nesse caso, é também a errada.

Todas as crises do passado, em algum momento, encontraram como limite uma âncora — para avançar ou para recuar institucionalmente. Mas âncora ainda assim. Desta feita, só o que se tem é o mar da incerteza se atirando contra o que resta de confiança no processo político.

Quando até uma decisão certa de um tribunal — como foi a derrubada da liminar ilegal de Marco Aurélio — é vista como uma manobra escusa, estamos diante de um sinal de que o combate à corrupção está virando uma espécie de doença autoimune: os mecanismos de defesa estão atacando o próprio organismo. Já não se distingue o funcionamento normal do sistema de elementos patogênicos.

Acordão?
“Está querendo acordão, Reinaldo?” Isso é uma ignomínia! Que a Lava Jato continue livre para fazer o seu trabalho, como sempre foi, aliás — e as consequências de suas ações provam isso.

Não! O único acordo a se fazer é com a lei. E fim de papo. Parece-me evidente que o país não vai suportar, sem graves sortilégios, esse permanente minar da confiança. O ideal seria que a delação da Odebrecht, por mais escalafobética, fosse conhecida de uma vez só, tornada pública na Internet, para que os marcianos soubessem com quem ainda podem conversar.

Acho que estou sendo claro. Essa tática de conta-gotas — e ainda faltam 68 ou 69 delatores, não? — impede qualquer planejamento; destrói as chances de investimento; eleva o pessimismo; assusta os agentes econômicos, que, então, preferem se proteger.

E notem que não estou propondo acordão, conversa, conciliábulo, nada disso. Estou só reivindicando que se cumpra a lei para que os órgãos de polícia sigam, sem qualquer interferência indevida, fazendo o seu trabalho, mas que se recupere algum espaço de ação para o domínio da política — tanto a política entendida como exercício legítimo de pressões como a política econômica.

Poucos se dão conta — e os dias futuros, nos primeiros meses de 2017, deixarão claro ser assim — que as esquerdas, e o PT em particular, estão prestes a assumir um lugar privilegiado na narrativa. A esta altura, resta bastante arranhada a tese, QUE É A CORRETA, de que a corrupção e a propina eram instrumentos a que recorria o PT para fazer algo mais do que roubar: era um assalto ao estado, inclusive ao estado de direito.

Essa constatação foi perdendo força, sendo substituída pela evidência factual de que, afinal, todos os partidos fazem a mesma coisa. Ocorre que essa obviedade toma os meios como se fosse um fim. Roubar e trapacear como meio será ruim em qualquer tempo, e seus protagonistas devem ser punidos. Mas perder de vista a natureza da tramoia petista é falsear a história e abrir uma vereda para o PT se igualar a outras legendas entre os escombros. Se é assim, o partido é apenas um entre seus pares.

Balbúrdia
A balbúrdia nas redes indica bem o espírito do tempo. Felizmente, inexiste hoje no mundo e entre as elites políticas nativas a ilusão de que se pode resolver tudo com um murro na mesa — que seria dado necessariamente contra a política. Não teremos um golpe, é certo.

Sim, viveremos dias de grande turbulência, tendo como atores representantes de Poderes constituídos que perderam a noção de seu papel institucional

Não se esqueçam: países não são botecos e não entram em falência. Não fecham as portas. Eles podem piorar indefinidamente.

A democracia brasileira não está correndo risco porque pode vir a ser colhida por um golpe. Também não está sendo ameaçada pela Lava Jato. O que nos espreita é a bagunça generalizada.

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Fonte: Blog REINALDO AZEVEDO (veja)

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