"Aplaudo a motivação dos que foram às ruas; não gosto é dos motivos porque não existem!" (REINALDO AZEVEDO)
Eu tomo um cuidado danado com as pessoas que se mobilizam em favor disso ou daquilo, especialmente quando o fazem segundo as regras do jogo democrático. O fato de eu não concordar com a pauta ou com os motivos, é evidente, não me leva a hostilizá-las. Seria uma tolice e uma injustiça. Na verdade, eu aplaudo a motivação.
Quem foi à rua neste domingo? Milhares de pessoas que querem um país melhor; que estão, definitivamente, indignadas com a roubalheira; que viram esgotar a sua paciência com os malfeitos, com os desmandos, com as injustiças; que não suportam mais os homens públicos que se mobilizam mais em defesa dos próprios interesses do que em favor do bem coletivo. Assim, a motivação dos indivíduos que protestavam tem suas raízes na virtude.
Sim, já deixei clara aqui mais de uma vez a minha inconformidade com a pauta original do protesto. Não acho que a Lava-Jato corra riscos ou esteja seja acuada. E os fatos estão a favor da minha percepção. Basta olhar os resultados. Aliás, quando o Ministério Público faz o seu trabalho parecer coisa de anjos do Apocalipse, acho que causa um prejuízo efetivo às pessoas e até a si mesmo.
Ora, a Força-Tarefa deveria ser, hoje, um elemento a levar esperança ao povo brasileiro, em vez de pessimismo e desse clima de aguda suspicácia. Em todo canto a gente ouve coisas como “o Brasil não tem jeito mesmo!”; “Não adianta fazer nada, o país sempre vai ficar nesta lama”; “É uma pena que um avião não caia com todos os deputados dentro”…
Com as leis que estão aí — e essa geração do MP dispõe de um arcabouço legal bem mais duro do que as gerações pretéritas —, vejam o cataclismo que o força-tarefa gerou na política. O número de presos, processados, indiciados, condenados e de futuros enroscados, para ser genérico, é assombroso. Sempre se pode melhorar e afinar os instrumentos legais para lutar contra o crime, mas dispomos de uma legislação nada desprezível. A crise episódica que aí está decorre justamente da tentativa de um ente de hipertrofiar o seu poder. E a resposta da Câmara ficou longe de ser a mais inteligente.
Assim, entenda-se: discordo da pauta porque não vejo objeto — não há risco nenhum contra a Lava-Jato — e porque não acho saudável essa demonização do Legislativo. Mas é evidente que isso não me leva a censurar as pessoas, que foram as ruas porque efetivamente esperam um país melhor.
O meu trabalho consiste em fazer, sim, esse registro, mas também em alertar que o endosso a uma declaração de guerra do Ministério Público Federal ao Legislativo é um erro. Eu nunca desconfio da consciência das pessoas que se mobilizam e protestam. Isso é coisa de esquerdista que se quer iluminado. Quando muito, digo o que penso e proponho reflexões. Reflitam se a melhor resposta é essa, uma vez que não há caminho outro para sairmos da crise se não for com a atuação do Congresso.
Mais: as pessoas não têm de conhecer os intrincados detalhes da política. Acho um desserviço que magistrados e membros do MP estejam colocando no mesmo saco de gatos o projeto que altera a lei de abuso de autoridade e a proposta da Câmara que define o crime de responsabilidade para membros do MP e juízes. Isso corresponde a enganar as pessoas.
Exceção feita à turma que vai à rua pregar golpe militar, os que se manifestaram estavam, creio, movidos pela melhor das intenções, pelo melhor dos sentimentos. Mas não custa indagar se o melhor caminho é demonizar, agora, o mesmo Congresso Nacional que derrubou Dilma Rousseff.
Tenho certeza absoluta de que a resposta é “não”. E isso nada tem a ver com condescender com erros e safadezas.
Movimentos não caem na cilada do “Fora Temer”; governo não foi alvo dos protestos
O presidente saudou nas redes sociais o comportamento civilizado dos manifestantes. Sim, também desta feita, embora com uma pauta substancialmente diferente daquela que levou milhões às ruas, eram pessoas de boa-fé a protestar, enfaradas, e com razão, do que se vê em Brasília e em toda parte
Em muitas áreas, houve, sim, certa frustração com os protestos desde domingo. A expectativa de muitos, especialmente na imprensa, era de que “a classe média que derrubou Dilma” voltasse, agora, suas baterias contra o presidente Michel Temer. O objetivo de muitos é que esse fosse um primeiro ato a indicar uma fratura na base social que apoiou a transição segundo o que estabelece a Constituição.
Felizmente, os principais movimentos que organizaram o protesto não caíram na cilada. Essa era a torcida da esquerda, que, se apareceu, esteve camuflada. Preferiu não se meter no evento dos “coxinhas”. Afinal, dispõe de seus próprios meios e métodos para se fazer ouvir. De todo modo, é evidente que não vê com maus olhos um protesto de rua que têm como alvos os políticos.
E por que não?
Porque o governo Temer só pode entregar um país substancialmente diferente daquele que herdou se conseguir fazer a reforma da Previdência, cuja emenda será apresentada ao Congresso ainda neste ano. É evidente que, com a crispação em curso e com os políticos acuados, não encontraremos muitos deputados e senadores dispostos a aderir às reformas. Em política, milagres não acontecem. Já os desastres…
O presidente saudou nas redes sociais o comportamento civilizado dos manifestantes. Sim, também desta feita, embora com uma pauta substancialmente diferente daquela que levou milhões às ruas, eram pessoas de boa-fé a protestar, enfaradas, e com razão, do que se vê em Brasília e em toda parte.
Em muitas áreas, inclusive da imprensa, o que se queria era ouvir o eco “Fora Temer”. Analistas e colunistas os mais variados tentaram e tentam ainda jogar no colo do governo federal tanto a anistia que nunca houve como o que se chama de desfiguração das tais “Dez Medidas”.
Não há a menor evidência desse comprometimento. Antes Executivo e Legislativo trabalhassem assim de forma tão coordenada. Fosse assim, essa parceria também poderia valer para as medidas virtuosas. A verdade é que não é assim. O Congresso, o que não é anormal nas democracias, tem a sua própria agenda.
Nos dias que correm, o Congresso sente-se acuado pelo Ministério Público Federal. E está mesmo. E não apenas por bons motivos, diga-se. Quando um ente do Estado elege o Poder Legislativo como a fonte original de todos os desatinos da República e passa a se mover como se dispusesse de um mandato divino para dizer quem vive e quem morre, é claro que a reação é esperada, vira parte do jogo.
Essa guerra precisa acabar. E a única maneira de isso acontecer é cada uma dos entes voltar a seu leito, atendo-se a suas funções institucionais. Ou caminharemos para o pior dos mundos.
Voltarei, é certo, a esse assunto. Ainda que discorde da pauta que foi às ruas — e discordo, sim, porque a Lava-Jato não corre risco nenhum —, louve-se a sensibilidade dos movimentos de rua que não cederam à pressão mais do que indiscreta por associar a repulsa a eventuais manobras do Congresso ao “Fora Temer”.
Não se tratou, em suma, como queriam alguns, de um ato contra o governo.
Tanto melhor.
Em SP, protesto promovido pelo MPF e por setores do Judiciário junta 15 mil, segundo a PM
Fiquem certos: serei a última pessoa a combater a disposição de as pessoas protestarem, especialmente quando essa manifestação se dá, como foi a deste domingo, segundos os ditames da lei e da ordem
As manifestações de apoio à Lava-jato, convocadas pelo Ministério Público Federal e por setores do Poder Judiciário, juntaram, Brasil afora, segundo levantamento das Polícias Militares, 75 mil pessoas. Alguns organizadores do evento falam em 475 mil… A maior discrepância está em São Paulo. Manifestantes apontam 200 mil na Avenida Paulista, e a PM, 15 mil. A Polícia deve estar certa. Só para lembrar: nos atos contra o impeachment, os movimentos costumavam adotar os números da Polícia, não os da Datafolha, sempre menores. Foi usado desta vez o mesmo critério das outras. A menos que alguém tenha uma boa hipótese para a PM querer subestimar o público, podem apostar em 15 mil.
Não é um sucesso estrondoso, mas também não seria um mico não fosse um fato: considerados o apoio unânime da imprensa ao evento e a demonização a que está submetido o Congresso em todas as frentes, aí, sim, pode-se falar num relativo insucesso. Quando se compara o ato de agora com as jornadas em favor do impeachment, tem-se uma noção da diferença. Aquela jornada conseguiu furar a bolha da classe média radicalizada e furiosa com os políticos, com todos eles. Esta não.
Fiquem certos: serei a última pessoa a combater a disposição de as pessoas protestarem, especialmente quando essa manifestação se dá, como foi a deste domingo, segundo os ditames da lei e da ordem. Não se viu, mais uma vez, violência de qualquer natureza. O que não quer dizer que todos os discursos tenham sido pacíficos. Lá estava a turma, por exemplo, da intervenção militar… Mas eles sempre são minoria até dentro da minoria.
Amigos que foram à manifestação me mandaram filmetes. Li também o que a imprensa publicou — e com razoável confiabilidade porque, reitero, o jornalismo aderiu à onda. Fico satisfeito de ter sido crítico da manifestação porque, com efeito, não gostei do que li e ouvi.
Com variantes de discurso aqui e ali, com acentos distintos, há um erro de origem nos protestos: a suposição de que a Lava-Jato está correndo algum risco e de que existe uma grande conspiração para destruí-la. E, felizmente, isso é uma fantasia política. Não há conspiração nenhuma. Também acho lamentável que juízes e membros do Ministério Público participem de atos dessa natureza, como aconteceu, porque, ao fazê-lo, aderem a uma pauta política.
O Brasil dispõe de leis para combater a corrupção, como evidenciam os resultados da Lava-Jato. Ou serão fracos os instrumentos de investigação e punição que conseguem meter na cadeia pesos-pesados do empresariado, um senador, um ex-presidente da Câmara, três tesoureiros do maior partido do país, ex-ministros de Estado, dois ex-governadores? Ou falta aparelho repressivo a um Estado que, de cambulhada, pode dar início à investigação de duas centenas de políticos de uma vez?
Assim, é evidente que eu não poderia concordar com um ato que, na prática, estava pedindo ainda mais poder ao Ministério Público e, com clareza solar, hostilizando o Congresso, que é por onde terão de passar as reformas que podem nos dar algum futuro.
Os atos deste domingo evidenciaram que essa exacerbação em favor da hipertrofia do Ministério Público Federal não furou o bolsão da classe média radicalizada, para a qual a política é só o meio a que recorrem alguns espertalhões para enganar o povo.
Ah, sim: Renan Calheiros se transformou no alvo principal dos protestos. E isso merece ser visto no detalhe. Aconteceu por bons motivos, mas também por maus.
Renan é quem é, mas só virou alvo principal por causa dos supersalários do Judiciário e do Ministério Público
O que não passou pela goela dos juízes de membros do Ministério Público foi a decisão de criar uma comissão para identificar os supersalários
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) é quem é. E é quem é faz tempo, não de agora. Devem ser dez os inquéritos contra ele relacionados à Lava-Jato. Rodrigo Janot, o procurador-geral da República, não ofereceu, por enquanto, denúncia contra ele. Há uma semana, Renan e Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, concederam uma entrevista coletiva, ao lado do presidente da República, assegurando que não haveria anistia de nenhuma forma. A propósito: sempre disse aqui que não. Mesmo assim, os dois parlamentares foram os alvos principais dos protestos desde domingo. E por que foram?
Maia porque preside a Câmara, que, segundo a versão que se tornou dominante, “desfigurou” o projeto contra a corrupção. De verdade, vamos ser claros, o que pesou ali foi a possibilidade de juízes e membros do Ministério Público serem processados por crime de responsabilidade. Curiosamente, magistrados e procuradores chamam isso de “criminalização”. Eles se esquecem de que, para que punisse um juiz ou um membro do MP, a denúncia teria de ser oferecida por um membro do MP e julgada por um… juiz. Mas que fique claro: eu me opus a esse aspecto do texto. Achei que iria gerar isso que gerou.
E Renan? Por que a pauleira? Para todos os efeitos, porque tentou votar a toque de caixa o texto aprovado na Câmara — e foi malsucedido — e porque, como dizem, “desengavetou” o projeto que muda a lei que pune abuso de autoridade. Aliás, esse texto hoje foi tratado em muitos discursos como sinônimo daquele da Câmara.
Bem, meus caros, a verdade liberta. Renan não virou a Geni das manifestações porque agora é réu (ainda que os membros do Supremo o tenham colocado nessa condição sem muita convicção), porque pôs para votar o tal projeto ou porque tentou aprovar a proposta da Câmara a toque de caixa.
Ele entrou na mira um pouco antes. O que não passou pela goela dos juízes e de membros do Ministério Público foi a decisão de criar uma comissão para identificar os supersalários. Infelizmente, como se sabe, o maior número de casos está justamente no Judiciário. E também o MP abriga uma infinidade de pagamentos anômalos.
Sim, Renan é quem é, e há tempos eu pergunto por que Janot não oferece denúncia contra ele. Suponho que não disponha ainda dos elementos necessários para que a dita-cuja seja aceita pelo Supremo, ou, entendo, o procurador-geral já o teria feito.
Mas me parece muito pouco saudável que se transforme no alvo principal de uma manifestação porque duas categorias estão insatisfeitas com o fato de que uma comissão pretende submeter os salários ao mandamento constitucional.
Infelizmente, juízes e membros do MP chamam isso de retaliação, desatentos ao fato de que tal afirmação só pode ser feita se o pagamento acima no teto for quase uma regra no Judiciário e no MP…
Podem me chamar pra pedir a venda da Petrobras e do Banco do Brasil! Eu vou! Combate à corrupção é obrigação, não agenda
Podem me chamar para uma manifestação em favor da reforma da Previdência. Eu vou! Podem me chamar para uma manifestação em favor da reforma trabalhista. Eu vou!
“Pô, Reinaldo, então você não é favorável ao combate à corrupção?”
A pergunta é imbecil. É como indagar se alguém é contra o bem.
Sim, aceito participar de protestos, manifestações etc. Mas é evidente que não passei quase 20 anos combatendo o PT para me render a uma agenda mixuruca. E NÃO! O TRABALHO DA LAVA-JATO NÃO É MIXURUCA! É ESSENCIAL. MAS NÃO É UMA PAUTA POLÍTICA.
Podem me chamar para uma manifestação em favor da reforma da Previdência. Eu vou!
Podem me chamar para uma manifestação em favor da reforma trabalhista. Eu vou!
Podem me chamar para uma manifestação CONTRA o financiamento público de campanha. Eu vou!
Podem me chamar para uma manifestação em favor da privatização de TODAS AS ESTATAIS. Eu vou!
Podem me chamar para uma manifestação em favor do Parlamentarismo com voto distrital puro. Eu vou!
“Mas você não vai a uma manifestação contra a corrupção, de jeito nenhum?”
Ora, é claro que eu vou!
Mas me recuso a ser massa de manobra de setores do Ministério Público e do Judiciário, que, também em defesa de seus privilégios e de seus supersalários, resolvem surfar na onda do ódio aos políticos, manipulando o justo sentimento de indignação dos brasileiros.
Quero o MP e a Justiça fazendo o seu trabalho com correção, firmeza e sem espalhafato.
Podem consultar o arquivo. Era essa a minha opinião quando o PT era oposição, quando o PT era governo e agora que voltou a ser oposição.
Ah, sim: “Pô, Reinaldo, essa sua manifestação aí não vai juntar dez pessoas… O Antonio Prata não vai!”.
Eu sei.
Antonio Prata, de esquerda, vai ao protesto; Reinaldo Azevedo, de direita, não vai
Estão brincando de choque de Poderes. A esquerda percebeu que se trata de uma oportunidade de ouro para desmobilizar e, em certo sentido, desmoralizar a pauta liberal, que chama de “onda conservadora”
Até que enfim mais alguém na grande imprensa se lembra de algo que já observei aqui e em toda parte. Caso o projeto que muda a lei que pune abuso de autoridade seja aprovado — e a observação vale também para o tal crime de responsabilidade de juízes e membros do Ministério Público —, quem é que vai julgar uns e outros se processados? Resposta: os juízes!
É o que lembra Elio Gaspari na sua coluna na Folha deste domingo.
Procuradores do Ministério Público Federal e associações de magistrados resolveram convocar uma manifestação contra o Congresso. Não errei em nada: esses são os organizadores do ato, e essa é a pauta.
Trata-se de um evento inédito — e, obviamente, ruim. Estão brincando de choque de Poderes. A esquerda percebeu que se trata de uma oportunidade de ouro para desmobilizar e, em certo sentido, desmoralizar a pauta liberal, que chama de “onda conservadora”.
Não por acaso, Antonio Prata, cujo talento reconheço e cujas teses, no mais das vezes, repudio, anuncia a sua adesão ao protesto. Diz estar em dúvida se vai ou não. É mera hesitação decorosa e estilística. Ele vai. E, do seu ponto de vista, faz muito bem.
Qualquer liberal com um mínimo de discernimento sabe que a roubalheira petista era só um instrumento de algo muito maior e mais nefasto: o sequestro do estado. Pôr bandidos na cadeia, pouco importa o partido, é só uma obrigação-meio. Tal tarefa deve ser encarada como coisa cotidiana. Transformar isso em finalidade da luta política é coisa de beócios, de energúmenos — não é nem de direita nem de esquerda; só é coisa de gente burra. Mas a burrice anda imodesta…
A cada vez que leio ou ouço na imprensa a expressão “a Câmara desfigurou o projeto do MP”, penso — e depois escrevo: “Que coisa mais cretina!”. Em primeiro lugar, o papel do MP não é legislar. Ou é? Em seguida, constato — e depois escrevo: ainda bem que quatro das 10 medidas foram jogadas no lixo mesmo. Eram fascistoides. Outras também caíram. Não é o fim do mundo.
Antonio Prata vai ao protesto. Eu não vou.
Eu não vou porque o Ministério Público tem todo o poder de que precisa. E suas tais 10 Medidas não eram contra a corrupção exatamente, mas a favor de mais poderes para o… Ministério Público.
Eu não vou porque, com as leis que já temos, o Ministério Público meteu na cadeia parte considerável do PIB, um ex-presidente da Câmara e um senador. E vai mais gente.
Eu não vou porque, com as leis que já temos, delações premiadas vão botar na berlinda umas duas centenas de políticos, que serão, havendo os indícios necessários, devidamente processados.
Eu não vou porque, com efeito, sou contra a forma que tomou o crime de responsabilidade de juízes e membros do MP (isso não vai prosperar), mas sou favorável ao projeto que muda a lei que pune abuso de autoridade.
Eu não vou porque fiz um desafio ao juiz Sergio Moro e ao procurador Deltan Dallagnol — que dissessem qual trecho do projeto inibe a Lava Jato —, e eles negaram fogo.
Eu não vou porque Moro teve a chance, no debate com Gilmar Mendes, de revelar qual parte do projeto atrapalhava as investigações, e ele não o fez.
Eu não vou porque o juiz se limitou a afirmar que não “é hora” de votar um texto que combate abuso de autoridade. Como eu aprecio a língua portuguesa, entendo que então existiria um momento para o… abuso de autoridade. Sou um democrata e não posso concordar com isso.
Eu não vou porque, como lembrou Gaspari, se juízes e procuradores não confiam nos juízes e procuradores, por que eu haveria de confiar?
Eu não vou porque essa é uma agenda de demonização do Congresso, o mesmo que terá de votar as reformas. Desmoralizá-lo interessa a quem não quer as reformas liberalizantes — e por isso Antonio Prata vai.
Eu não vou porque essa suposta agenda de combate à corrupção é, na verdade, uma agenda e combate às reformas. Não por acaso, estão sendo lideradas pelas duas categorias mais bem pagas pelo estado brasileiro: procuradores e juízes.
Eu não vou porque, à diferença do que dizem os senhores procuradores e juízes, o país está, sim, avançando no combate à corrupção. E isso se faz com reformas contínuas, não com atos de força, que buscam desmoralizar o Congresso, sem o qual não se fazem as… reformas!
Eu não vou justamente porque apoio a Lava Jato, mas eu a quero como operação do estado, não como ato voluntário de quem ameaça renunciar — como se isso fosse possível — caso suas vontades não sejam satisfeitas.
Eu não vou porque é mentira que a Lava Jato corra qualquer risco.
E, sabendo que Antonio Prata vai, fica ainda mais claro por que eu não vou. Eu até poderia dividir com ele a mesa de um bar, mas não uma manifestação — quer dizer: quem sabe uma a favor de Montesquieu…
Quero o Ministério Público ocupando-se do seu trabalho. E seu trabalho não é fazer política, demonizar os políticos, conceder entrevistas coletivas a cada dois dias e cevar jornalistas com vazamentos seletivos.