Entenda porque Militarismo não é o mesmo que conservadorismo
A invasão predatória da Câmara dos Deputados por um grupo que clamava por “intervenção militar” – eufemismo para “golpe de Estado” – é mais do que um episódio infeliz, constituindo verdadeiro emblema de um fenômeno revigorado na Era Lula: a ideologia militarista.
Talvez devamos aproveitar esse fato para discernir dois movimentos totalmente diferentes, mas que se fortaleceram em resposta ao lulopetismo: de um lado, os grupos militaristas, de matiz autoritária, antidemocrática, extremista; de outro, os cidadãos de tendência liberal-conservadora, que buscam, em suma, a redução do tamanho do Estado, a responsabilidade fiscal, o combate a utopias e a preservação de tradições, crenças, valores e princípios assentados na cultura judaico-cristã, a qual forneceu as bases da civilização ocidental.
Os militaristas são antipetistas, dizem-se de direita, mas estão longe do liberalismo, por serem necessariamente autoritários e estatólatras; e não podem ser conservadores, porque o conservadorismo tem como um de seus pilares a repulsa a modelos ideológicos estanques, inclinando-se, isto sim, a políticas prudenciais, voltadas à solução racional e prática dos problemas sociais.
Militarismo e direita liberal-conservadora são adversários político-ideológicos, e assim tem de ser.
Infelizmente, o legítimo desejo de ser anti-esquerda pode ter conduzido alguns ao campo militarista, seja por falta de repertório bibliográfico, seja por influências ruins, que grassam nas redes sociais, o que envolve teorias da conspiração, vocação sectária e uma educação cívica superficial.
Por outro lado, o que se deve aplaudir é a crescente onda liberal-conservadora, que se verifica principalmente nas redes sociais e no mercado editoral. Entre seus representantes estão figuras muito qualificadas ao debate público, como Luiz Felipe Pondé, Rodrigo Constantino, Bruno Garschagen e Flavio Morgenstern, entre tantos outros, com os quais muitos brasileiros têm se identificado.
Sem nenhuma contradição, por mais que esses autores tentem explicar a natureza do liberal-conservadorismo, não são ouvidos pela horda de “intervencionistas”, os quais preferem sua doutrinação conspiracionista, hermética e escatológica.
O PT e suas forças auxiliares, com sua imensa corrupção, ideologia socialista e agenda cultural, atraíram a antipatia de diferentes segmentos, entre os quais se encontram os tais militaristas, mas estes não podem pautar a discussão em nome dos liberal-conservadores, e por uma razão muito simples: eles não passam de uma outra versão do autoritarismo, que preferem ver no lugar do projeto socialista.
Os estridentes defensores do Regime Militar estão submetidos a uma visão salvacionista, nacionalista, estatizante e reacionária, que enxerga nas Forças Armadas o último bastião da moralidade nacional, supostamente vocacionado a depurar a Nação Brasileira de seus pecados.
Invadir a Câmara dos Deputados, quebrando o patrimônio público e desrespeitando a ordem constitucionalmente assentada, não é uma medida aceitável aos olhos de um liberal-conservador. Apregoar o voto em Jair Bolsonaro para presidente da República é um direito que a democracia lhes garante, mas afirmar que Bolsonaro pode ser definido como politicamente conservador é uma heresia política.
Se a direita for entendida como uma concepção política que defende a ordem e as liberdades públicas fundamentais, veremos que o militarismo pode ser, quiçá, um tipo de extrema direita, por sua exaltação do valor da ordem, mas com aniquilação das liberdades.
E, em nome dessa ordem ideologicamente orientada, os adeptos da ideologia militarista conspurcam a ordem estabelecida pelo Estado de direito, como quando, por exemplo, avançam sobre a porta que dá acesso ao plenário da Câmara dos Deputados, julgando que seus fins justificam os meios. É exatamente desse tipo de “direita” que a esquerda gosta.
*Bacharel em Direito. Servidor público federal.
DEMOCRACIA NÃO SERVE PARA CRIANÇAS MIMADAS E MAUS PERDEDORES
Para muitos “progressistas”, a democracia é uma coisa linda… pelo menos até o dia em que seu candidato favorito perde uma eleição. A partir daí, a democracia passa a ser o jogo dos opressores (os outros) contra os oprimidos (eles). Não foi diferente agora, nos Estados Unidos, depois da (para muitos) surpreendente vitória de Donald Trump. Passadas duas semanas do pleito, muitos protestos, alguns dos quais violentos, continuam a eclodir nas ruas de algumas cidades americanas, a maioria clamando que não reconhece o resultado das urnas.
Para mostrar como esse tipo de reação é previsível, seguem abaixo algumas frases gritadas pelos manifestantes:
1. “Às vezes temos a sensação de que estamos vivendo no tempo que antecedeu a eleição de Adolf Hitler como chanceler da Alemanha.”
2. “Os Estados Unidos embarcou em um curso tão profundamente reacionário, de modo negativo e mesquinho, de modo chauvinista e auto-enganoso que o nosso tempo em breve poderá rivalizar com a Era McCarthy.”
3. “Os eleitores que o apoiaram eram como os “bons alemães” na Alemanha de Hitler.”
4. “Os piores pesadelos da esquerda americana parecem ter se tornado realidade.”
5. “Quando você considera o clima que estamos vivendo, com aumento da violência, inclusive da Ku Klux Klan, isso é extremamente assustador.”
6. “Ele é tão sem escrúpulos e tão irresponsável quanto Hitler. Em certo sentido, ele é potencialmente mais perigoso do que o líder nazista alemão, porque ele tem um arsenal militar muito mais poderoso à sua disposição, incluindo armas nucleares”.
Embora emblematicamente atuais, esses não foram slogans de protesto ouvidos após a eleição de Donald Trump. Foram frases com que os esquerdistas nos brindaram no dia seguinteao da eleição de … Ronald Reagan, em 1980.
Como se nota, há coisas que nunca mudam. E a relação da esquerda com a democracia é uma delas. A única novidade é que os que agora gritam pelas ruas da América dizem estar protestando também contra o próprio sistema eleitoral que levou à vitória de Trump. O problema é que eles certamente estariam felizes com esse mesmo sistema (que já tem mais de duzentos anos), caso ele tivesse dado a vitória a Hillary. Na verdade, portanto, eles estão protestando contra os seus concidadãos (que eles consideram retrógrados, reacionários, racistas, etc) que votaram em Trump. Foram eles que determinaram o resultado da eleição, não o sistema eleitoral. O bufão Trump era apenas uma das escolhas possíveis.
A verdade é que a “festa democrática” da qual participavam alegremente não seguiu o curso que eles idealizaram. Então, como crianças mimadas, estão protestando contra o resultado que não lhes deu aquilo que eles tanto queriam. Como crianças birrentas que esperneiam nos shoppings sempre que seus pais se recusam a comprar-lhes algo, os órfãos de Barak Obama, Bernie Sanders e Hillary Clinton se recusam a dar ouvidos até mesmo a seus líderes, os quais, felizmente, se comportaram de forma muito mais adulta e democrática.
Aqui está o que Hillary Clinton disse, logo depois do resultado:
“Na noite passada, eu felicitei Donald Trump e me ofereci para trabalhar com ele em nome do nosso país. Espero que ele seja um presidente de sucesso para todos os americanos …. eu ainda acredito na América, que eu sempre amarei. Então temos de aceitar esse resultado e, em seguida, olhar para o futuro. Donald Trump vai ser nosso presidente. Devemos-lhe uma mente aberta e a chance de liderar.”
É assim que se comporta um perdedor nas democracias. Já o presidente Obama teve reação semelhante e também comportou-se, pelo menos num primeiro momento, como um verdadeiro democrata, embora em discurso mais recente, ele tenha incentivado as “marchas”, a fim de manter a pressão sobre Trump.
A essas crianças mimadas e birrentas, que ainda não se conformaram com o resultado adverso da eleição, eu daria dois conselhos, além de umas boas palmadas, se pudesse. O primeiro, para que escutem seus líderes e obedeçam o resultado das urnas – democracia é isso. O segundo é que escutem os seus antagonistas liberais: lutem para retirar o máximo possível de poder e dinheiro das mãos dos políticos. Esse é o melhor antídoto contra governos irresponsáveis e, principalmente, contra governantes de que vocês eventualmente não gostem. A esses, trago o conselho de Hayek:
“Seja como for, o ponto principal sobre o qual não pode haver dúvida é que a principal preocupação de [Adam] Smith não era tanto com o que o homem pode eventualmente alcançar quando estiver no seu melhor, mas que ele deve ter pouca oportunidade de fazer mal quando estiver no seu pior. Não seria demais afirmar que o principal mérito do individualismo, que ele e seus contemporâneos defendiam, é que este é um sistema em que os homens maus podem fazer menos mal. É um sistema social que não depende, para o seu funcionamento, de encontrarmos os melhores homens para executá-lo, ou que todos os homens tornem-se melhores do que realmente são, mas que faz uso dos homens em toda a sua variedade e complexidade, às vezes bons e às vezes ruins, às vezes inteligentes, porém mais frequentemente estúpidos.”
EXISTE UMA ONDA PROTECIONISTA RECENTE NO MUNDO? E TRUMP É O CULPADO?
Por Adolfo Sachsida, publicado pelo Instituto Liberal
Vários analistas tem alertado para uma recente onda de crescimento do protecionismo no mundo, e sugerem também que a eleição de Trump pode aumentar ainda mais esse fato. De maneira curta e grossa digo: ESTÃO ERRADOS!
Não existe absolutamente NADA de recente na onda protecionista. Pelo contrário, essa onda contra o livre mercado não é nova, e só vem crescendo nos últimos 20 anos. Por exemplo, vamos pegar os últimos 3 candidatos republicanos antes de Trump: Bush, Mcain, e Romney. Nenhum deles defendia uma redução ampla dos subsídios ou um incremento substancial da abertura comercial nos EUA. A única diferença entre Trump e eles é que Trump fez uma defesa aberta onde os outros três fizeram uma defesa velada. Claro que isso é um sinal ruim, mas longe de significar que Trump tem pensamento diferente deles. Você se lembra qual foi o último presidente americano que defendeu abertamente reduzir os subsídios e aumentar a abertura comercial na América? O simples fato de você não saber a resposta já mostra que essa onda protecionista é antiga.
Então quem é o responsável pela baixa popularidade do livre comércio? Os primeiros responsáveis são os professores de economia de Harvard, Princeton, Yale, Chicago, e outras universidades de ponta em economia. Há muito tempo que não aparece um único livro de economia dizendo que a liberdade econômica gera crescimento. Os economistas são bons em recomendar mais educação, instituições melhores, e dão uma serie grande de sugestões. Contudo, a esmagadora maioria se cala na hora de dizer que pouco disso importa se o país não tiver abertura econômica. No meu livro “Fatores Determinantes da Riqueza de uma Nação” procuro mostrar (mesmo que com evidencias mais pontuais) que sem liberdade e abertura econômica pouco adiantam outras recomendações para o crescimento econômico. Qual foi o último economista que você leu defendendo que a principal recomendação de política econômica deve ser a abertura econômica?
Ao contrário, os economistas hoje adoram culpar a globalização pelo aumento da desigualdade de renda. E se esquecem de dizer que essa mesma globalização é a responsável pela redução na pobreza. Qual é o livro de economia mais vendido dos últimos anos? É justamente o livro de Piketty que critica o capitalismo acusando-o de concentrar renda. O que Donald Trump fez foi ouvir esses economistas. Agora esses mesmos que se calaram por anos, que tinham vergonha de defender o liberalismo econômico, são os mesmos que reclamam que Trump ira diminuir a abertura comercial.
Atenção: fechar a economia é um erro. Eu canso de dizer isso. Mas vamos fazer um teste. Vá no departamento de economia da UnB, da USP, da FGV-SP, da PUC-RJ, e da EPGE e pergunte aos professores de economia o seguinte: 1) o senhor concorda que um pais deve abrir a economia mesmo que de maneira unilateral (isto é, mesmo que os outros países não abram suas respectivas economias); e 2) o senhor acha que o governo deve acabar com as políticas industriais e regionais? Você verá que mais de 70% desse grupo de professores responderá NÃO as duas perguntas acima. Isto é, os departamentos mais liberais em economia do Brasil concordam ao menos em parte com Donald Trump (apenas não tem coragem de assumir isso).
A complacência – ou a ignorância, ou o fato de discordarem honestamente dos efeitos benéficos do livre mercado – dos professores de economia é responsável direta pela onda protecionista que tem assolado o mundo. Se os economistas fossem enfáticos em sua defesa do livre mercado, e da abertura econômica, dificilmente tal onda protecionista teria crescido tanto. Mas se os próprios economistas não defendem o livre mercado, o que esperar de sociólogos, cientistas políticos, advogados, jornalistas, e palpiteiros em geral?
ALUNOS DE HUMANIDADES SÃO BENEFICIÁRIOS DIRETOS DO LIVRE MERCADO – E SERIA BOM ALGUÉM AVISÁ-LOS…
Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal
Estudantes de cursos de Humanas são, tradicionalmente, os mais inclinados à Esquerda em qualquer instituição de ensino superior. Frequentar aulas de uma faculdade de Letras, por exemplo – seja em estabelecimento privado ou público –, implica em testemunhar demonstrações diárias e constantes dessa deveras ilógica devoção, por meio da qual os maiores (supostos) interessados no avanço do capitalismo pregam a favor do agigantamento do Estado, sempre em nome do “social”.
Este contrassenso resta evidente a partir de uma análise elementar dos fatores que, conforme demonstra a experiência prática, permitem uma maior participação destes profissionais no mercado de trabalho, e torna-se forçoso concluir, pois, que as políticas públicas amparadas por estes jovens, notadamente em manifestações e protestos recentes, representam, em verdade, graves empecilhos para o desempenho de suas atividades após a graduação.
Senão vejamos: um dado indivíduo precisa escolher entre comprar um livro, matricular-se em uma escola de italiano, adquirir tickets para o teatro ou comprar feijão e arroz para pôr na mesa da família. Não se faz necessária muita elucubração para antecipar como esse sujeito irá proceder – se tiver algum juízo, claro. O ser humano, portanto, necessita, em primeiro lugar, manter-se vivo e respirando; em seguida, ele passa a consumir, na medida do possível, itens de importância secundária – e aqui entra (dentre diversos outros segmentos cujo valor gerado podemos considerar como prescindível) toda a indústria do entretenimento, incluindo teatro, cinema, literatura, televisão, viagens, e por aí vai.
Ou seja, para que as pessoas busquem o produto ofertado por uma infindável gama de atividades econômicas sem as quais é possível subsistir (é o caso de boa parte das Ciências Humanas), faz-se necessário que, primeiramente, elas possam garantir suas provisões mais básicas, pois, aí sim, elas estarão em condições de partir em busca daquilo que nos difere dos demais seres vivos: a possibilidade de fazer de nossas vidas algo mais do que simplesmente sobreviver por mais um dia. Apreciar um quadro ou presenciar uma apresentação da orquestra sinfônica são atos que provocam a denominada “fruição estética”, ou, simplesmente, prazer. Mas sentir prazer sem emprego nem sempre é tarefa das mais fáceis.
Neste contexto, a revolução industrial entrou como um divisor de águas, pois a partir da concepção das linhas de montagem e do emprego de novos métodos de produção mais eficientes pelos agentes privados, foi possível passar a oferecer bens das mais diversas naturezas a preços minorados – de onde se incluem, também, os alimentos e outros itens de primeira necessidade (inclusive construção de moradias). O comércio globalizado (possibilitado, principalmente, pela evolução dos meios de transporte e comunicação) também contribuiu em muito para reduzir períodos de carestia em diversas partes do planeta, e propiciar ao homem médio, destarte, mais recursos remanescentes de sua renda para investimento em recreação.
A contrario sensu, os episódios nos quais a produção de alimentos foi avocada pelos governantes redundou em milhões de mortes por inanição, tal como sucedeu-se na China de Mao Tsé-Tung e na Etiópia de Mengistu Haile Mariam. Dinheiro para lazer nestes infelizes lugares? Façam-me o favor.
A evolução dos meios de transporte e comunicação, aliás, também possibilitou que povos de diferentes partes do globo passassem a compartilhar seus traços culturais, contribuindo, assim, para reduzir o isolamento de vários deles. Se hoje pessoas de todo canto no planeta podem, por exemplo, ouvir músicas de seu artista favorito muito facilmente pelo Itunes ou até mesmo sonhar em viajar e acompanhar sua turnê, é porque investidores da aviação e da telefonia, ávidos por lucros, empreenderam nestas áreas – e seria ainda melhor para os consumidores se as agências reguladoras, com suas barreiras para entrada de novos investidores, não criassem e protegessem verdadeiros cartéis nestas atividades econômicas.
Sólidas evidências dessas constatações revelam-se em momentos de recessão econômica, como o que atravessamos no Brasil desde o estouro da bolha gerada pelo populismo Lulopetista. Diante do endividamento crescente das famílias, é natural que estas abandonem certos hábitos dos tempos de fartura (proporcionada artificialmente com a adoção de métodos Keneysianos¹), que passam a constituir verdadeiros luxos diante do quadro atual. Comprar ingressos para o show daquele artista que tanto bradava contra o “neoliberalismo” em seus tempos de acadêmico torna-se, assim, inviável, bem como muitos outros costumes que precisam ser revistos ou até mesmo cortados da rotina dos cidadãos afetados pela crise financeira.
Pergunte-se, por um instante, quem estaria em melhores condições de frequentar galerias de arte: o faminto povo venezuelano (cuja taxa de mortalidade infantil já superou os números da Síria tomada pela guerra civil há cinco anos), ou os chilenos – que usufruem dos melhores índices de desenvolvimento humano da América do Sul, incluindo mais alta renda per capita, fruto das bases institucionais implantadas e reformas promovidas pelos “Chicago boys” ainda na década de 1980²? E não vale, no caso, comprar obras de arte para lavar dinheiro desviado no Petrolão, hein? Para refletir, pessoal de Humanas…
Constatação similar pode ser feita quando se observa o comportamento da população de países onde a produtividade marginal do trabalho³ é bastante superior à brasileira, como a Alemanha. Como um trabalhador germânico consegue gerar a mesma quantidade de valor que seu congênere brasileiro em muito menos tempo (já que os bens de capital naquele país estão em estágio bem mais avançado), ele dispõe de mais tempo e capital para tomar sua cerveja (em copo de 1 litro) ou para assistir ao jogo do Bayern de Munique. Ou para fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Ou para comprar o que ofertam os investidores do ramo de Humanidades, pois não?
Um dos desdobramentos da atual conjuntura nacional é que, diante da dificuldade em arregimentar fãs para suas produções culturais em períodos adversos como o corrente – e, consequentemente, da carência de patrocinadores interessados –, aumenta a fila de pretendentes ao financiamento estatal, positivado por meio de legislações como a Lei Rouanet, Lei do Audiovisual, e outras da espécie. Em 2015, o valor de tributos renunciados pela União para subsidiar apresentações artísticas superou um bilhão de reais, sendo parcela substancial desta verba destinada a obras de gosto duvidoso – pra dizer o mínimo – que jamais seriam eleitas pelo público, com suas escolhas subjetivas, para sobressaírem-se naquele setor. Tal situação prejudica, em muito, o aprimoramento da indústria da cultura em nosso país (precisamente ao contrário do que propõem, em tese, tais iniciativas governamentais).
No mesmo sentido, o Estado, diante da penúria dos cidadãos (causada por ele próprio, em virtude da tributação desmesurada e do endividamento que gera inflação, combinados com juros altos e desemprego), apresenta como medida paliativa a famigerada meia-entrada, concebida para que estudantes e outros beneficiários (e futuros eleitores) escolhidos a dedo possam “adquirir cultura” – ainda que isso signifique integrar a platéia de um show da Valesca Popozuda. O problema é que, para não arcar com o prejuízo (já que não há almoço nem meio ingresso grátis), as empresas do ramo majoram o preço cobrado dos demais clientes não agraciados com descontos legais.
Com essa elevação do patamar do custo médio para ir, por exemplo, ao cinema, é comum que, após perder o direito ao privilégio, muita gente acabe apelando para a confecção de carteiras de estudante falsas ou mesmo pare de ir ao cinema, passando tal expediente longe, assim, de resolver o problema, e criando um ciclo contínuo em que cada vez mais pessoas demandam isenção em eventos culturais.
A regra básica, portanto, é essa: quanto mais riqueza circulando na mão do Estado, menos dinheiro na mão da população, e menos recursos privados para qualquer atração cultural – seja para realizá-la, seja para prestigiá-la. É claro que o Estado, benevolente como sempre, vai se oferecer para, aos poucos, bancar tudo “ele mesmo”, apenas pedindo em troca que jamais valores conservadores ou liberais sejam enaltecidos aos olhos dos expectadores, ouvinte ou leitores. Para que correr o risco de deturpar este processo tão salutar (para meia dúzia de apaniguados), não é mesmo? Anote e não esqueça, camarada de Humanidades: Estado mais enxuto, menos impostos, pessoas com mais dinheiro no bolso para gastar em atividades lúdicas, mais potenciais clientes para o seu trabalho.
Na década de 1980, os Titãs popularizaram uma música cujo refrão afirmava que “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. Ainda bem que eles admitem que comida vem antes de todo o restante. E esse restante só será acessível ao público em geral se ele parar de ser extorquido ostensivamente do fruto de seu trabalho pelos membros dos esquemas perversos do “capitalismo de quadrilhas” que foi implantado no Brasil. A corrupção, diferente do que o senso comum pode induzir a acreditar, não é um problema original, mas sim um sintoma derivado de outro problema muito maior: o Estado paquidérmico que intervém na economia e arroga-se poder (com nossa concordância, inclusive) para interferir em todos os aspectos de nossas vidas, criando dificuldades para vender facilidades – e gerando reservas de mercado formadas somente por aqueles escolhidos para serem ricos. Fernando Cavendish e Sérgio Cabral estão com as orelhas ardendo a esta hora, por certo.
E até mesmo os cursos de Humanidades cujo profissionais oferecem serviços de utilidade mais palpável, como Administração, Relações Internacionais, Direito e Psicologia, também lograriam benefícios se posicionassem-se, da mesma forma, ao lado do livre mercado, pois atividade econômica aquecida significa mais empresas para administrar, mais contratos para celebrar, mais exportações para serem operacionalizadas, mais pessoas preocupadas co
Jornalismo? Bom, aí o buraco é mais embaixo, e este tema foi abordado neste artigo. Em linhas gerais, todavia, é possível concluir que, diferentemente do médico e do engenheiro civil (as pessoas, afinal, sempre precisarão realizar consultas e construir suas casas), o escritor e o ator só sobrevivem se, em primeiro lugar, a sobrevivência dos seus eventuais fregueses estiver assegurada. Por mais que eles gostem de uma boa peça ou ler um bom livro, um teto sobre suas cabeças e um tratamento contra a enfermidade que os assola e às suas famílias vai figurar, inevitavelmente, em posição privilegiada no rol de importância atribuída por estes indivíduos.
Isto é uma realidade inerentemente HUMANA – sem o perdão do trocadilho. Quer que as pessoas desenvolvam o desapego pelo “vil metal”? Ajudemo-las, pois, a superar a mais comezinha das aspirações humanas (continuar vivendo, e com dignidade, se possível), e elas naturalmente passarão a valorar bem mais as atividades prazenteiras das mais diversas naturezas. Neste intuito, em vez de clamar por mais bolsa-família e assistencialismo, contribua para que o Brasil possa vir a melhorar sua vergonhosa 122º posição no ranking da Heritage Foundation, especialmente não votando em candidatos com perfil estatizante. Fiquemos de olho no desempenho dos prefeitos de São Paulo e Porto Alegre nos próximos quatro anos, pois o alinhamento com o ideário liberal deve render bons resultados em suas administrações, e, quem sabe, a partir de 2019, todo o Brasil possa seguir neste rumo.
A liberdade econômica pode ajudar, destarte, as Humanidades a saltarem vários degraus neste índice de primazia dos seres humanos, até mesmo na medida em que a tecnologia barateia e facilita o acesso a livros (e-books), filmes (serviços de streaming) e apresentações artísticas (Youtube). Só que tais inovações não são resultado de inspirações socialistas, companheiros. Muito pelo contrário, aliás. Até mesmo eletricidade para acender uma luz para ler à noite é artigo escasso em certos rincões da Terra com pouco apreço pela autonomia de seus cidadãos…
¹https://bordinburke.wordpress.com/2016/09/22/bndes-keynes-pt-eike-capitalismo-de-lacos-e-cadeia/
² https://www.institutoliberal.org.br/blog/o-chile-e-sua-aula-de-liberdade-economica/
³ https://www.institutoliberal.org.br/blog/o-mito-da-exploracao-i-a-produtividade-marginal/
Sobre o autor: Atua como Auditor-Fiscal do Trabalho, e no exercício da profissão constatou que, ao contrário do que poderia imaginar o senso comum, os verdadeiros exploradores da população humilde NÃO são os empreendedores. Formado na Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR) como Profissional do Tráfego Aéreo e Bacharel em Letras Português/Inglês pela UFPR. Também publica artigos em seu site:https://bordinburke.wordpress.com/