Lula vai ser preso? ‘Sem comentários’, diz Moro (no blog de Josias de Souza, UOL)
Sérgio Moro estava nos Estados Unidos na última quarta-feira, dia em que os procuradores da força-tarefa de Curitiba divulgaram a denúncia em que Lula foi tachado de “comandante máximo” do esquema de corrupção que implantou no Brasil uma “propinocracia”. O juiz da Lava Jato voara na véspera para a Filadélfia, onde se apresentaria como principal convidado de um seminário organizado pela escola de Direito da Universidade da Pensilvânia sobre a formação de líderes íntegros e a difusão de bons valores na vida pública.
O repórter Rodrigo Rangel, que acompanhou a viagem de Moro, entrevistou-o rapidamente ao final da palestra. O magistrado declarou que nem ele sabe “aonde a Lava Jato vai chegar.” Inquirido sobre a prisão de Lula, foi sucinto: “Sem comentários.” Nos próximos dias, Moro terá de se pronunciar sobre a denúncia da Procuradoria. Acatando-a, converterá Lula em réu. Veiculada na última edição deVeja, a conversa com Moro vai reproduzida abaixo:
— A Lava Jato já prendeu alguns dos maiores empresários do país e alcançou dezenas de políticos dos mais importantes. O que ainda falta? Não tenho ideia. Nem eu sei aonde a Lava Jato vai chegar.
— Como enxerga a crítica de que a Lava Jato tem atropelado direitos dos investigados? Somos muito zelosos com o devido processo legal. A gente segue a lei e outros seguem a política.
— Que outros? Aí fica para sua interpretação.
— Dias atrás, o ex-advogado-geral da União disse que o atual governo quer abafar a Lava Jato. A exemplo do que ocorreu na Operação Mãos Limpas, o senhor vê a política operando para limitar as investigações? Não vejo nenhum movimento do atual governo no sentido de abafar as investigações.
— Vou repetir a pergunta que o senhor mais ouve na rua: o ex-presidente Lula será preso? Sem comentários.
Na palestra, Moro fez um resumo didático da Lava Jato. Defendeu a operação. Mencionou a dificuldade da Justiça brasileira em lidar com processos que envolvem autoridades. Realçou que os protestos de rua representaram um importante suporte da sociedade às investigações.
Moro tratou a Lava Jato como um escândalo, por assim dizer, de dois gumes. “Há um lado negro, por revelar tanta corrupção, mas também um lado luminoso, porque mostra que o Brasil está enfrentando seus problemas e quer se tornar um país melhor, menos corrupto.”
Na fase em que se submeteu às perguntas da plateia, Moro foi instado a comentar a relação da Lava Jato com a crise política brasileira, eletrificada pelas denúncias contra Lula e pela deposição de Dilma Rousseff. O juiz procurou tomar distância da política. Indagado um par de vezes sobre a queda de Dilma, Moro declarou: “Impeachment não é o meu negócio. Posso falar sobre corrupção na Petrobras.”
Moro está preocupado com as decisões de Lewandowski na Lava-Jato
A ida de Ricardo Lewandowski para a Segunda Turma do STF, que cuida da Lava-Jato, deixou Sergio Moro preocupado. Ele confidenciou a interlocutores que teme pelas decisões que possam ser tomadas naquela instância.
Delação de Renato Duque pode complicar Dilma
Se fechar sua delação, Renato Duque pode complicar a situação de Dilma. O ex-diretor da Petrobras vai detalhar à Lava-Jato um encontro com a ex-presidente.
Na ocasião, ele queria se demitir da empresa, mas ela insistiu para que permanecesse em razão da campanha de 2010. Duque levantou 4,5 milhões de dólares para aquela eleição. (por Mauricio Lima, de VEJA)
Petistas tratam Dilma como uma tia excêntrica
Josias de Souza -
Ao encurtar o mandato de Dilma Rousseff, enviando-a mais cedo para a câmara de descompressão de Porto Alegre, o Senado submeteu o Partido dos Trabalhadores ao desafio de acolher sua filiada. Foi como se os senadores tivessem gritado para Dilma: “Vai procurar a sua turma”. E a legenda da presidente deposta, supostamente o grupo humano ao qual ela mais pertence depois da família, parece não saber muito bem como tratá-la.
O companheiro Rui Falcão, presidente do PT, quis saber como Dilma se viraria para encher a geladeira. Ela informou que dispõe de pensão de R$ 5 mil. Uma cifra modesta, se comparada aos R$ 33,7 mil que recebia como presidente. Compadecido, Falcão ofereceu a Dilma o emprego de presidente da Fundação Perseu Abramo, braço acadêmico do PT, financiado com as verbas públicas do Fundo Partidário.
Dilma pediu tempo para pensar. No entanto, antes que a ideia pudesse amadurecer, ergueram-se barricadas contra a hipótese de Dilma virar funcionária do PT, informa a repórter Catia Seabra. Até o temperamento irascível da ex-presidente foi listado entre os empecilhos para sua contratação.
É como se os petistas tivessem medo de atrair Dilma para um convívio mais próximo com sua família política. Admitem tolerá-la, por polidez protocolar —mais ou menos como toda família faz com uma tia excêntrica. Mas orientam Falcão a não encorajá-la a exibir no partido os dotes gerenciais que escandalizaram o Brasil.
Supremo paradoxo: ao pegar em lanças pela manutenção de Dilma na Presidência da República, o PT buscava inspiração na lenda partidária segundo a qual madame é uma executiva qualificadíssima. Ao refugar a presença dela no comando de sua Fundação, a legenda parece mais preocupada com seu passado de empreendedora.
Dilma levou à breca uma lojinha de presentes que abriu na capital gaúcha. Chamava-se ‘Pão e Circo’. Estava assentada no centro comercial Olaria. Vendia quinquilharias importadas do Panamá. Faliu em 17 meses. O petismo talvez considere que o melhor a fazer é manter a tia Dilma cuidando dos netos, em Porto Alegre. São dois. Sempre que conseguir cuidar de um, Dilma pode dobrar a meta.
Desemprego liga a política à ideia de inutilidade
Passado o impeachment de Dilma Rousseff e a cassação de Eduardo Cunha, há um vazio em Brasília. Sem mais espantalhos para chutar, as tribos políticas voltaram seus olhares quase que integralmente para as eleições municipais. E não restou aos desempregados senão rezar para que Deus dê uma prova de sua existência aparecendo na forma de um contracheque.
Nesta sexta-feira, o Ministério do Trabalho informou que o Brasil perdeu 1,51 milhão de empregos com carteira assinada em 2015. É o pior resultado em 31 anos. Num instante em que o total de desempregados roça a casa dos 12 milhões, notícias como essa potencializam o paradoxo que embaça a atividade política. Hoje, os brasileiros são incapazes de reconhecer a utilidade da política. E os políticos são incapazes de demonstrá-la.
O desemprego herdado da gestão Dilma dá a Michel Temer a ilusão de que sua preocupação é útil. O desemprego dá aos ministros a oportunidade de fazer rostos graves, frontes crispadas. O desemprego dá ao pedaço da plateia que ainda dispõe de salário para encher a geladeira a impressão de que o novo governo está se movendo. Mas nada se move de verdade aos olhos dos desempregados, a não ser os índices de desemprego, que sobem.
Diante do desemprego crescente a eterna rinha política, o 'nós contra eles', o 'deixa que eu chuto'… Tudo isso ganha ares de insensatez. Imagine a cena: quatro amigos numa mesa de bar, na calçada. Travam uma dessas conversas engajadas. Esbarram em indagações transcendentais. O PT é melhor que o PSDB? O PMDB é a favor de tudo ou é contra qualquer outra coisa? O populismo estragou o Brasil? O liberalismo vai salvar o país? Súbito, um sujeito cabisbaixo aborda o grupo: “Podem me pagar um almoço, tô desempregado?”
Ou os políticos começam a cuidar do que é essencial ou logo, logo haverá brasileiro se perguntando: E se a democracia for isso mesmo?
Ao encurtar o mandato de Dilma Rousseff, enviando-a mais cedo para a câmara de descompressão de Porto Alegre, o Senado submeteu o Partido dos Trabalhadores ao desafio de acolher sua filiada. Foi como se os senadores tivessem gritado para Dilma: “Vai procurar a sua turma”. E a legenda da presidente deposta, supostamente o grupo humano ao qual ela mais pertence depois da família, parece não saber muito bem como tratá-la.
O companheiro Rui Falcão, presidente do PT, quis saber como Dilma se viraria para encher a geladeira. Ela informou que dispõe de pensão de R$ 5 mil. Uma cifra modesta, se comparada aos R$ 33,7 mil que recebia como presidente. Compadecido, Falcão ofereceu a Dilma o emprego de presidente da Fundação Perseu Abramo, braço acadêmico do PT, financiado com as verbas públicas do Fundo Partidário.
Dilma pediu tempo para pensar. No entanto, antes que a ideia pudesse amadurecer, ergueram-se barricadas contra a hipótese de Dilma virar funcionária do PT, informa a repórter Catia Seabra. Até o temperamento irascível da ex-presidente foi listado entre os empecilhos para sua contratação.
É como se os petistas tivessem medo de atrair Dilma para um convívio mais próximo com sua família política. Admitem tolerá-la, por polidez protocolar —mais ou menos como toda família faz com uma tia excêntrica. Mas orientam Falcão a não encorajá-la a exibir no partido os dotes gerenciais que escandalizaram o Brasil.
Supremo paradoxo: ao pegar em lanças pela manutenção de Dilma na Presidência da República, o PT buscava inspiração na lenda partidária segundo a qual madame é uma executiva qualificadíssima. Ao refugar a presença dela no comando de sua Fundação, a legenda parece mais preocupada com seu passado de empreendedora.
Dilma levou à breca uma lojinha de presentes que abriu na capital gaúcha. Chamava-se ‘Pão e Circo’. Estava assentada no centro comercial Olaria. Vendia quinquilharias importadas do Panamá. Faliu em 17 meses. O petismo talvez considere que o melhor a fazer é manter a tia Dilma cuidando dos netos, em Porto Alegre. São dois. Sempre que conseguir cuidar de um, Dilma pode dobrar a meta.