Lula vai a Brasília para aparecer em documentário, não para acudir Dilma
Lula voará para Brasília no final de semana. O petismo informa que se trata de um derradeiro esforço do criador para socorrer sua criatura. É lorota. Lula, de fato, vai à Capital em missão de resgate. Nada a ver, porém, com o mandato de Dilma Rousseff, já triturado. O morubixaba do PT tenta salvar o que restou de sua imagem.
Lula colocará o seu melhor terno, a sua gravata mais vistosa e as suas mais expressivas caretas para a equipe de filmagem do documentário ‘Impeachment’, coordenado pela cineasta Petra Costa. Ele planeja uma incursão ao Senado na segunda-feira. Nesse dia, Dilma encenará o seu epílogo no papel de ré.
Após fazer sua autodefesa, Dilma se submeterá à inquirição dos senadores. Apresentada no libelo acusatório como uma espécie de vampira das contas públicas, madame fará para as lentes do documentário uma pose de bebedora de groselha. De pose em pose, o PT espera assumir seu papel preferido —o papel de vítima.
Para Lula, a vitimização é um grande negócio. É mais fácil colocar a culpa nos outros do que reconhecer que suas digitais estão na origem da ruína moral e econômica que corroeu a presidência de Dilma. O mensalão e o petrolão tiveram origem na gestão Lula. O mito da supergerente infalível foi criado por ele.
Renan planeja a posse de Temer para o dia 30
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Na noite desta quarta-feira, enquanto Dilma Rousseff discursava para uma plateia companheira em Brasília, Michel Temer acertava num jantar com a cúpula do Congresso uma estratégia para apressar o julgamento do impeachment. Renan Calheiros, presidente do Senado, disse a Temer que considera factível encerrar na madrugada da próxima terça-feira, dia 30 de agosto, a votação que mandará Dilma mais cedo para casa.
Renan também informou que cogita marcar para a tarde do mesmo dia a sessão do Congresso em que Temer será empossado em caráter definitivo no cargo de presidente da República. Pelo cronograma original, o julgamento de Dilma, que se inicia nesta quinta-feira (25), se arrastaria pelo menos até o dia 31 agosto.
Dilma discursou no Teatro dos Bancários. Falou em timbre de carta fora do baralho: “Estão me condenando por algo fantástico, um não-crime.” Temer jantou na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, às margens do Lago Paranoá. Ali, conforme apurou o blog com dois dos presentes, Dilma foi tratada como uma não-presidente.
A hipótese de Dilma retornar ao trono não foi sequer mencionada. Dando a deposição como favas contadas, Temer e Renan combinaram que a cerimônia de posse será simples e rápida. Deve-se a pressa ao desejo de Temer de voar na noite do próprio dia 30 para a reunião do G-20, na China, sem o contrapeso da interinidade. Renan integrará sua comitiva.
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Na véspera do início do julgamento, acompanharam Dilma no seu derradeiro 'golpemício' com a militância do PT e de movimentos sociais alguns personagens do governo que chega ao fim. Entre eles os ex-ministros petistas Jaques Wagner (Casa Civil), Miriam Belchior (Planejamento), Eleonora Menicucci (Políticas para as Mulheres) e Miguel Rossetto (Trabalho e Previdência). Havia também na plateia quatro deputados petistas. Nenhum senador deu as caras. Nem sinal de Lula.
Foram à mesa com Temer, além de Rodrigo Maia e Renan Calheiros, os três ministros mais influentes do governo seminovo —Henrique Meirelles (Fazenda), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Geddel Vieira Lima (Coordenação Política— o auxiliar mais chegado ao presidente —Moreira Franco, responsável pelo programa de concessões e privatizações do governo—, e os presidentes dos três principais partidos pró-Temer —Romero Jucá (PMDB), Aécio Neves (PSDB) e Agripino Maia (DEM). Completaram a lista lideranças como os tucanos Aloysio Nunes Ferreira e Antonio Imbassahy.
Em seu discurso, Dilma criticou providências já adotadas ou anunciadas por Temer. Entre elas a emenda constitucional que fixa um teto para os gastos públicos, limitando seu crescimento à inflação do ano anterior. No dizer de Dilma, trata-se de uma medida impopular, adotada “na maior cara de pau”. A plateia amiga aplaudiu Dilma. Mas o som das palmas não ornava com as caretas de cândido desânimo.
Na mesa de jantar da residência de Rodrigo Maia, Temer também falou sobre a emenda do teto. Referiu-se à medida desancada por Dilma como prioridade zero da sua administração. Obteve dos presentes o compromisso de tentar aprovar a mudança na Câmara e no Senado até o final do ano.
Por ironia, o economista Nelson Barbosa, último ministro da Fazenda de Dilma, também incluía o teto de gastos no seu receituário para enfrentar a crise fiscal. Não teve tempo nem condições políticas para converter a intenção em proposta legislativa. A tarefa acabou sendo transferida para Henrique Meirelles, um personagem que Lula tentara, sem sucesso, enfiar na equipe de Dilma e que Temer não hesitou em incorporar ao seu ministério.
No pedaço da conversa em que Temer e seus ministros trataram com os congressistas da agenda pós-impeachment, ficou entendido que o segundo item da lista de prioridades do Planalto é mesmo a reforma da Previdência —uma “reforma impopular” que Dilma também reconhecia ser necessária, mas não se animou a tocar. Temer reafirmou que enviará a proposta ao Congresso em setembro. Não tem a pretensão de aprová-la rapidamente. Mas quer inaugurar o debate antes das eleições municipais.
Em seu discurso, Dilma voltou a evocar as figuras de João Goulart e Getúlio Vargas, cujo suicídio fez aniversário de 62 anos nesta quarta-feira. A oradora não se deu conta. Mas, ao traçar uma analogia entre o seu destino e os pesadelos da dupla, acabou retratando o momento atual como um contraponto de normalidade.
“Hoje, eu não tenho de renunciar”, disse Dilma. “Hoje, eu não tenho de me suicidar [como fez Getúlio há seis décadas]. Não tenho de fugir para o Uruguai [como fez Goulart depois de ser deposto pelo golpe militar de 1964]. É um outro momento histórico que cada um aqui contribuiu para ele.''