Gilmar Mendes, as medidas contra a corrupção e os cretinos absolutos (por REINALDO AZEVEDO)

Publicado em 23/08/2016 23:27
Ministro do Supremo ataca duramente proposta, defendida por Moro, para a admissão de provas ilícitas (em veja.com)

Recorram ao arquivo deste blog ou de qualquer outro veículo para saber como votou Gilmar Mendes, até aqui, ao longo do processo do petrolão. Membro que é da Segunda Turma, à qual está afeita o escândalo, não se pode acusá-lo de tergiversar ou de fazer o jogo dos bandidos. Aqui se poderia emendar: “Mas é preciso tomar cuidado etc…” Não tem “mas” nenhum! Não tem adversativa.

Junto com o combate à bandidagem, é preciso que haja o respeito à lei. O ministro foi de uma dureza extrema ao reagir ao desdobramento do episódio envolvendo Dias Toffoli. Ora, nem ele nem eu — nem ninguém — entendemos a decisão de Rodrigo Janot: pôs fim à delação de Léo Pinheiro. Por quê? O procurador-geral geral tentou se explicar. Não conseguiu.

Disse Mendes:
“Não acho que seja o caso de suspender a delação ou prejudicar quem esteja disposto a contribuir com a Justiça. Tenho impressão de que estamos vivendo momento singular[…]”

Mendes fez uma ironia, lembrando que o cemitério está cheio de falsos heróis. E está mesmo. Ele acha, e parece óbvio, que se deve investigar se esse vazamento, a exemplo de todos os outros, não partiram do próprio Ministério Público. Janot descarta essa possibilidade e atribui a responsabilidade a Léo Pinheiro com base em quê?

Referindo-se ao MP, disse ainda o magistrado:
“E as investigações do vazamento daquelas prisões preventivas, onde estão? Já houve conclusão? O resumo da ópera é: você não combate crime cometendo crime. Ninguém pode se achar o ‘ó do borogodó’. Cada um vai ter seu tamanho no final da história. Um pouco mais de modéstia! Calcem as sandálias da humildade!”.

É claro que se trata de uma referência ao papel também político que o Ministério Público resolveu desempenhar. A proposta com as 10 medidas contra a corrupção é um caso. Seu maior propagandista é o procurador Deltan Dallagnol. E a simples tentativa de debater algumas barbaridades lá contidas já levanta a suspeita se não se está diante de um defensor da corrupção. Quem já teve um dia esse papel no Brasil foi Lula, junto com o seu PT. Deu no que deu.

Querem um exemplo bárbaro, já criticado até pelo juiz Sergio Moro? Lá está um tal teste de honestidade, que seria aleatoriamente feito com funcionários públicos, mesmo que, contra eles, não houvesse suspeita prévia. Mais: não seria necessário, para isso, nem autorização judicial. Um belo dia, chega um agente do Estado, disfarçado, e decide testar a honradez do servidor, tentando induzi-lo ao cometimento de crime. A tese: se ele for realmente honesto, não cederá. Quanto tempo demoraria para que isso resultasse numa máfia, organizada para extorquir pessoas? Coisas assim não existem nas democracias. O direito penal de países civilizados rejeita provas fabricadas com base na indução. O do Brasil também.

Não só isso: entre as propostas, está a admissão de provas colhidas de modo ilícito, desde que isso tenha sido feito de boa-fé — no tal cemitério, os de boa-fé ocupam um terreno contíguo ao dos heróis… Quem vai decidir se a ilegalidade foi cometida de boa-fé ou de má-fé. Mais: qual tipo de ilicitude é admitido e qual não é?

Mendes chamou a tese de “coisa de cretino”. Afirmou:
“É aquela coisa de delírio. Veja as dez propostas que apresentaram. Uma delas diz que prova ilícita feita de boa-fé deve ser validada. Quem faz uma proposta dessa não conhece nada de sistema, é um cretino absoluto. Cretino absoluto! Imagina que amanhã eu posso justificar a tortura porque eu fiz de boa fé”!

Que não se venha com a conversa mole de que se está tentando botar uma mordaça no MP, tolher o seu trabalho, criar restrições à sua atuação… Não! Apenas se pede que atue nos limites da Constituição e das leis. E que, ao propor que mudem, não se agridam direitos fundamentais.

Sim, Moro já falou em favor das “provas ilícitas de boa-fé. Moro o chamou de “cretino”? Não entro no mérito. Acho que o juiz tem uma chance a mais de refletir sobre aquela cretinice.

Finalmente
Fico à vontade para fazer essa crítica agora porque, afinal, mesmo quando o PT estava no poder, critiquei aqui o que me pareceu exagero ou fora do rigor legal na operação Lava Jato. Quando Toffoli concedeu o habeas corpus a Paulo Bernardo, afirmei que ele estava certo. Critiquei a condução coercitiva de Lula. Acho que se aplica a prisão preventiva com uma interpretação muito larga do Artigo 312 do Código de Processo Penal. Só devo satisfações à minha consciência.

O respeito à lei é fundamental. Ou, cedo ou tarde, quem acaba se dando bem são os bandidos. É o que vai acontecer se Janot mantiver a decisão que tomou e não quiser mais ouvir o que Léo Pinheiro tem a revelar.

Temos de reagir duramente a essa manobra absurda!

 

Se Léo Pinheiro levar para o túmulo o que sabe, quem ganha? Conta outra, Janot!

Esse já consegue ser o maior mistério da Operação Lava Jato. Se um enrolado vazar dados da sua relação com um delator, então acaba a delação? Quem ganha com isso?

Querem ver? Vou expor aqui o caminho para uma pizza gigantesca. E não se trata de teoria conspiratória, não! É apenas exercício regular da lógica elementar.

Em vez de decidir investigar a fonte dos constantes vazamentos da Operação Lava Jato; em vez de tentar botar um pouco de ordem na casa e seguir as diretrizes institucionais, o senhor Rodrigo Janot, procurador-geral da República, finge um rigor técnico que não existe e decreta o fim da delação de Léo Pinheiro.

Pois bem! O que o chefão da OAS sabe, ora vejam, morrerá com ele. Se ele delatar, isso lhe será irrelevante. Arruma inimigos novos sem que colabore para reduzir a sua pena.

Lula agradece.

Dilma agradece.

Outros tantos também.

Mas ainda não cheguei ao ponto. Disse o procurador-geral:
“Declarei encerradas as negociações, isso não cheira mal, cheira bem. É uma maneira de o MP impor sua atividade institucional. O MP age de forma cristalina, nada escondo nem protejo a ninguém. Inventaram estelionato delacional com intuito de pressionar MP a aceitar acordo que não seja bom”.

Como? “Estelionato delacional”? Inventaram? “Quem” inventaram??? Com que propósito? A quem servia o “estelionato delacional”? Certamente não é à imprensa.

Ingredientes
Se alguém quer inviabilizar a delação de Marcelo Odebrecht, por exemplo, com o que ela tem de potencial explosivo, basta que um futuro enrolado vaze as suas, vamos dizer, relações não republicanas com o grupo.

Se Janot mantiver essa decisão, ele, e não outro, estará dando os ingredientes para a pizza.

Pergunta-se: todo vazamento interessa ao delator? Por quê? Se isso não é uma tese geral, por que esse vazamento, em particular, interessa? Quais são os elementos de que dispõe o Ministério Público?

Segundo Janot, o tal anexo sobre Toffoli nunca chegou ao Ministério Público.

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo, diz que os investigadores estão se sentindo “o ‘ó’ do borogodó”. E acrescentou: “Eu acho que a investigação tem que ser em relação logo aos investigadores porque esses vazamentos têm sido muito comuns. É uma prática bastante constante, e eu acho que é um caso típico de abuso de autoridade e isso precisa ser examinado com toda cautela”.

Que fique uma coisa de relevante: seja lá qual for a origem dessa história, que levou o nome de Toffoli para o centro da confusão, uma coisa é certa: PÔR FIM À DELAÇÃO DE LÉO PINHEIRO, SEM MAIS NEM AQUELA, SÓ É DO INTERESSE DE BANDIDOS, NÃO?

Ou alguém conseguiria demonstrar que, se Léo levar para o túmulo o que sabe, o Brasil fica melhor?

Conta outra, Janot!

Quando a primavera chegar, a Era da Canalhice já será um cadáver em adiantado estado de decomposição (por AUGUSTO NUNES)

Faltam apenas sete dias para o fim da farsa que Lula pariu e Dilma Rousseff amamentou

A última semana deste agosto é também a última semana do mais longo e mais patético velório político da história do Brasil. Daqui a sete dias, milhões de brasileiros estarão festejando o fim de uma farsa que durou 13 anos e meio. Não é pouca coisa. Quando a primavera chegar, a Era da Canalhice já será um cadáver em decomposição.

Por enquanto, o governo Michel Temer é uma esperança espreitada por dúvidas. Melhor assim, atesta a comparação com a certeza medonha parida pelos governos de Lula e Dilma: com a permanência dessa dupla e seus comparsas no poder, seria proibido sonhar com a salvação de um Brasil devastado pela inépcia, pelo cinismo e pela corrupção.

No mesmo instante em que Dilma foi despejada do Planalto, sem que o presidente interino tivesse sequer esboçado uma única e escassa mudança de rumo, tudo subitamente pareceu menos aflitivo, mais respirável, menos desolador. Meia dúzia de decisões sensatas depois, o reinado do lulopetismo se reduzira a uma lembrança tão remota quanto a chegada de Cabral.

A reconstrução do Brasil não será fácil. Para torná-la menos penosa, lembremo-nos o tempo todo do legado de Lula e Dilma. Aconteça o que acontecer, o país que enfim se vai sempre será infinitamente pior do que o país que está chegando.

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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