REINALDO AZEVEDO: Vazamento sobre Toffoli faz Janot suspender delação de Léo Pinheiro
O jornal O Globo informa que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, suspendeu as negociações para o acordo de delação premiada de Léo Pinheiro e de outros executivos da OAS. Ele teria ficado irritado com o vazamento de uma informação, publicada pela VEJA, segundo a qual, na fase de pré-acordo, o nome do ministro Dias Toffoli, do Supremo, teria sido citado.
A revista informa que Toffoli teria reclamado de infiltração em sua casa e que a OAS teria enviado engenheiros ao local para fazer uma avaliação. Uma empresa teria sido indicada para fazer a obra, e a conta, segundo a revista, foi paga pelo ministro.
Segundo o Globo, a Procuradoria entendeu que o vazamento do nome de Toffoli seria uma forma de os delatores pressionarem o órgão a aceitar a delação segundo os interesses do investigado.
Que fique claro: segundo a própria VEJA, com o que se tem agora, Toffoli não pode ser acusado de coisa nenhuma. A questão é saber se os delatores, no pré-acordo, deixaram claro que têm algo mais a dizer. Dada a reação do Ministério Público Federal, não parece ser o caso. Creio que que seria um jogo arriscado demais suspender uma delação para, sei lá, proteger o nome de um ministro do Supremo.
Eu mesmo afirmei aqui que, se houvesse algum elemento grave contra Toffoli, ele teria, quando menos, de se declarar impedido de votar nos casos referentes ao petrolão. Comprovada a prática de crime, existe a possibilidade de impeachment para ministro do Supremo.
Com o que se tem até agora, não cabem nem uma coisa nem outra. Não há evidência nenhuma contra ele.
A decisão de Janot também tem lá a sua estranheza. Não fica exatamente claro por que o vazamento seria uma forma de forçar a aceitação do acordo “segundo os interesses do investigado”.
É a primeira vez que Janot toma uma medida como essa desde o início da Lava Jato. Pinheiro já foi condenado em primeira instância, pelo juiz Sergio Moro, a 16 anos de prisão. Dado o que se reuniu contra ele e contra a empresa, sem um acordo, dificilmente a sentença não seria endossada em instâncias superiores, e ele começaria a cumprir pena em regime fechado.
Jogos Olímpicos foram um sucesso! E o ausente mais presente foi o governo Temer. Fez bem!
Contrariando as expectativas mais pessimistas e o fel dos que disfarçam a insatisfação com a própria vida torcendo sempre pelo pior, os Jogos Olímpicos do Rio foram um sucesso. Aliás, afirmei aqui no blog, antes que começassem, que apostava que assim seria.
Mais: é tolice essa história, reitero, de afirmar que agora acordamos para a verdade. Tudo o que se viu nessas pouco mais de duas semanas era também real — a parte boa da realidade. Sim, temos de lamentar que as coisas ruins persistam, e é preciso que se tomem providências para corrigir o que não vai bem.
Querem um exemplo claro? Infelizmente, a segurança pública do Rio tenderá a voltar ao normal em breve. E o normal não é bom. Os eventos que realmente infelicitam os cariocas nem sempre são protagonizados por quatro nadadores americanos meio trapalhões, não é? E nem sempre o estado consegue dar uma resposta tão rápida e tão precisa à sociedade.
Para o bem, não para o mal, houve um grande ausente presente nestes Jogos Olímpicos: o governo federal! Eu diria ser esse um tento marcado pelo presidente Michel Temer, para desaire das esquerdas.
Ainda me lembro das solenes promessas revolucionárias feitas por falastrões como Guilherme Boulos, do MTST, e João Pedro Stédile, do MST: se viesse o impeachment, o Brasil se transformaria no mármore do inferno… Pois o impeachment veio — no fim deste mês, Dilma recebe o cartão vermelho —, e os comunas tiveram de enfiar a sua viola quebrada no saco.
Os Jogos Olímpicos chegaram com o país relativamente em paz, embora haja muita coisa a fazer. Esse não é o Brasil que recebeu a Copa das Confederações, em 2013, e a Copa do Mundo, em 2014. Ainda que os problemas estruturais que nos infelicitavam estejam todos aí, à espera de uma resposta, a verdade é que as parcelas mais crispadas da sociedade, que levavam seu inconformismo às ruas, parecem ter resolvido dar um voto de confiança ao atual arranjo político. Para a melancolia dos profissionais do confronto.
Sim, é verdade: na abertura da Olimpíada, houve a breve vaia ao presidente Michel Temer, que preferiu a discrição. O Lula superpopular dos Jogos Pan-Americanos de 2007 também recebeu a sua dose. E olhem que estava no primeiro ano do seu segundo mandato. Não foi diferente com Dilma em 2014. O comportamento de um estádio quando é anunciando o nome de um político não serve de parâmetro. Não é um termômetro da tensão ou da paz social.
Com o governo um tanto ausente da propaganda, respirou-se uma espécie de Olimpíada dos cidadãos, o que me parece, se querem saber, bom. Mas é evidente que as estruturas do estado brasileiro atuaram a contento. Afinal, aquilo a que se chamou “boa organização dos Jogos” não surgiu no vácuo. Há pessoas operando aquilo tudo. O trabalho conjunto entre o estado, o Comitê Olímpico Brasileiro e o Comitê Olímpico Internacional foi obviamente bem-sucedido.
Não fui ao Rio no período. Pessoas amigas que lá estiveram e que não se deixam impressionar com facilidade elogiaram a organização e os aparelhos urbanos postos a serviço dos Jogos Olímpicos e à disposição dos cidadãos. Ainda que desagrade a esse ou àquele em razão do estilo — e a quem não desagrada? —, parece que uma figura pública acabou se identificando com o sucesso do evento mais do que qualquer outra e por bons motivos: o prefeito Eduardo Paes (PMDB).
Lidou com obras gigantescas, e, que se saiba, não aparece em nenhuma lista de empreiteira em situação desconfortável. Ser honesto é uma obrigação, não uma distinção, eu sei. Mas vivemos os dias que vivemos, não é mesmo? Às vésperas do evento, Paes teve de se haver com a queda de parte da ciclovia que margeia a Avenida Niemeyer — parecia haver ali um mau presságio — e precisou botar a boca no trombone para chamar atenção para o descalabro da segurança pública, o que lhe rendeu críticas, a meu ver, injustas.
Seja como for, boa parte da melhoria que os cariocas sentiram na cidade e do conforto oferecido aos turistas derivou de obras tocadas pela prefeitura. “Ah, com a dinheirama que o governo federal jogou lá, fica fácil…” Infelizmente, isso não é verdade. O dinheiro não basta. É preciso também ter competência.
O resultado, em suma, é positivo em várias frentes. Como vocês notam, queridos leitores, quando não gosto, falo mal; quando gosto, falo bem! Isso deixa delinquentes intelectuais como Guilherme Boulos muito nervosos. Sinal de que estou no caminho certo, não é mesmo?
Temer se une ao PSDB contra reajuste do STF, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)
Michel Temer associou-se à articulação do PSDB para tentar barrar o reajuste salarial dos ministros do STF, do procurador-geral da República e dos defensores públicos da União. Os projetos que elevam essas remunerações constam da pauta da sessão de terça-feira da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Temer pediu aos líderes de sua infantaria que levem o pé à porta. Trata-se de uma reviravolta, já que o Planalto fazia vista grossa para a movimentação das corporações.
Há seis dias, numa conversa com o senador José Aníbal (PSDB-SP), Temer emitiu o primeiro sinal de que tomaria distância dos reajustes. Pediu a Aníbal que o ajudasse a retardar o reajuste pleiteado pelos ministros do STF —de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil. O senador tucano disse que faria mais. Em vez de protelar, tentaria derrubar o reajuste. Recordou que o relator da proposta, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), também se põe ao aumento.
O tema voltaria a ser discutido no dia seguinte, num jantar de Temer com a cúpula do tucanato no Senado. Não por acaso, Aníbal e Ferraço estavam entre os convidados. Dois dias depois, na sexta-feira passada, Temer voltou ao tema dos reajustes na reunião que teve em São Paulo com os ministros palacianos, Henrique Meirelles (Fazenda), seus líderes na Câmara e no Senado e os presidentes das duas Casas, Rodrigo Maia e Renan Calheiros.
“Não aguento mais essas corporações infestando o Congresso”, disse Aníbal aoblog, reproduzindo o comentário que fizera no jantar com Temer. “As corporações estão em toda parte: nas comissões, nos corredores, no plenário. Nosso desafio é colocar o Brasil no Congresso, sobretudo os 12 milhões de desempregados. Eles precisam estar no centro de tudo o que nós votamos.”
Para demonstrar que fala sério, Temer terá de segurar o PMDB. Em entrevista aoblog, o relator Ricardo Ferraço repetiu a queixa que fizera no jantar com o presidente interino, no Palácio do Jaburu:
“Enquanto nós levantamos diques de contenção, o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), pega assinaturas de outros líderes no plenário do Senado para atribuir regime de urgência ao projeto que aumenta os salários do Supremo. Há outra proposta que dá aumento aos defensores públicos. Hoje, um defensor público em início de carreira recebe R$ 17 mil. Eles querem R$ 30 mil. Nós seguramos. E a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), que é líder do governo no Congresso, diz que não tem problema nenhum, que isso já está analisado pelo governo, que não tem impacto.”
Para Meirelles, ‘barulho’ sobre 2018 é bom sinal
Principal ministro de Michel Temer, o czar da economia Henrique Meirelles passou a ser visto no novo condomínio governista como um presidenciável esperando para acontecer. Seus críticos mais mordazes estão no PSDB. Em privado, Meirelles reage à onda de ciúmes com ironia.
Numa entrevista ao repórter Giuliano Guandalini, veiculada pela Veja, Meirelles roçou a fronteira do sarcasmo ao ser indagado sobre a hipótese de o rumor em torno de sua candidatura atrapalhar a aprovação das reformas. Disse que o “barulho” é sinal de que o seu itinerário econômico “está na direção certa”.
“Parece que não são apenas os empresários e os consumidores que estão mais otimistas”, disse Meirelles. “Pelo visto, até os políticos começam a acreditar no sucesso desse plano econômico. Tanto é assim que já discutem abertamente qual será o efeito eleitoral. Do meu ponto de vista, não posso me desviar do foco daquilo que estamos fazendo e ficar entrando em discussões sobre hipóteses. Não trabalho sobre hipóteses.”
Numa tentativa de atiçar o político que Meirelles esconde atrás da alma, o repórter indagou: Acha que seria um problema se declarasse a intenção de ser candidato? Na dúvida entre não parecer o que é e não ser o que parece, Meirelles optou por uma fórmula ainda mais enganadora: decidiu ser e parecer.
“No momento, sou candidato a botar a economia para crescer”, disse o ministro, antes de se escorar novamente na ironia: “Olhando esse barulho todo, acho relevante apenas o seguinte: puxa vida, até os políticos começam a acreditar que o ajuste dará certo e a economia voltará a crescer. Portanto, nosso plano está na direção certa.”
O PSDB está inquieto porque sabe como esse tipo de enredo pode terminar. Em 1993, o tucano Fernando Henrique Cardoso virou ministro da Fazenda de Itamar Franco, o Michel Temer da época. O inimigo de então era o tigre da superinflação. Domando-o, FHC elegeu-se presidente da República um par de vezes. Hoje, alguém que coloque lenha nas fornalhas da economia e inverta a curva do desemprego vira uma alternativa presidencial instantânea.
De resto, as ambições políticas de Meirelles são conhecidas. O personagem debutou na política em 2002. Elegeu-se deputado federal pelo PSDB de Goiás. Convidado por Lula para a presidência do Banco Central, renunciou ao mandato antes de tomar posse na Câmara.
Na sucessão presidencial de 2010, quando fabricou a candidatura de Dilma, Lula tentou enfiar Meirelles na chapa. Ofereu-lhe a vaga de vice, estimulando-o a se filiar ao PMDB. Michel Temer levou o pé à porta. Unificou o PMDB e tornou-se, ele próprio, o vice de Dilma. Preterido, Meirelles migrou para o PSD de Gilberto Kassab, onde permanece.
No momento, Meirelles talvez devesse trazer suas opiniões políticas na coleira. O único lugar onde a candidatura vem antes do trabalho é no dicionário. Em política, de resto, uma refinada ironia sempre pode ter que engrossar quando se deparar com outra ironia mais hábil.
Planalto receia que Temer seja alvo de panelaço
Ao decidir levar ao ar seu primeiro pronunciamento no feriado em 7 de Setembro, Michel Temer deu de ombros para ponderações que ouviu de auxiliares. Integrantes de sua equipe receiam que ele seja alvo do seu primeiro panelaço. Embora concorde com a avaliação, Temer decidiu correr o risco.
Temer se esforça para conviver com a impopularidade. Há duas semanas, foi à abertura dos Jogos Olímpicos sabendo que seria hostilizado. Evocou Nelson Rodrigues: “No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio.” Ao anunciar a abertura da Olimpíada, foi vaiado mesmo sem que seu nome tivesse sido mencionado no sistema de som.
Temer faltou à cerimônia de encerramento, na noite deste domingo (21). Enviou como representante o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O deputado sentou-se ao lado do presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach. Mas sua presença também não foi anunciada pelo ceremonial do evento.
Numa tentativa de vacinar Temer contra o panelaço, o Planalto volta a se escorar em Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”, disse um auxiliar do presidente que, em poucos dias, deve ser efetivado no cargo pelo Senado. “As manifestações da sociedade são parte da democracia”, acrescentou.
Em junho, o medo de panelaço fizera Temer desistir de uma aparição em rede nacional de rádio e tevê. O governo enviara ao Congresso a proposta de emenda constitucional que cria um teto para limitar o crescimento das despesas públicas. E Temer programara-se para bater bumbo na vitrine eletrônica. Celebraria a normalização das relações com o Legislativo e a retomada da confiança dos agentes econômicos.
Recuou depois de ouvir o estrondo da delação premiada de Sérgio Machado, o ex-tucano que se converteu ao PMDB e presidiu a Transpetro por quase 12 anos. Período em que fez da subsidiária da Petrobras uma usina de trambiques e propinas.
Machado ocupou manchetes nas quais o Planalto imaginara que acomodaria seu otimismo econômico. Índio da tribo do pajé Renan Calheiros, o delator disse ter recolhido R$ 115 milhões no balcão da Transpetro. Distribuiu-os a 23 políticos de oito partidos. A parte do leão, R$ 100 milhões, foi destinada aos cardeais do PMDB. Nessa versão, a pedido de Temer, R$ 1,5 milhão fora borrifado na campanha de Gabriel Chalita, então candidato a prefeito de São Paulo pelo PMDB.
A aparição de Temer representará uma espécie de ressurreição dos pronunciamentos oficiais de presidente. Sob Dilma, a ferramenta havia sido abandonada desde maio de 2015. Madame fugiu dos panelaços refugiando-se na internet. Rompendo a tradição, cancelou a exibição da mensagem do Dia do Trabalho em rede nacional. Veiculou-a nas redes sociais.
O então ministro Edinho Silva (Comunicação Social da Presidência) disse na época que Dilma não fugiu do horário nobre da tevê por medo das panelas. Ela “só está valorizando outro modal de comunicação. Já valorizou a rádio, valoriza todos os dias a comunicação impressa. E resolveu valorizar as redes sociais.'' Dilma jamais seria vista novamente numa rede nacional.