Lula culpa Dilma por sua desgraça. Dilma culpa Lula por ter lhe deixado uma herança de corrupção
Ricardo Noblat: Juntos para sempre (em O GLOBO)
Publicado no Blog do Noblat
O que restará da imagem de Lula esculpida com esmero ao longo dos últimos 30 anos por artesãos voluntários, no início, e depois por artistas pagos a preço de ouro e dotados do talento de transformar o feio em bonito?
Sobreviverá aos graves danos que lhe reserva o desfecho próximo da Lava-Jato? Ou tombará como em Moscou tombou uma estátua de Lenin às primícias da dissolução da União Soviética?
O Lenin de Moscou cedeu à fúria de manifestantes, assim como a gigantesca estátua do ditador iraquiano Sadam Hussein que enfeava uma praça no centro de Bagdá.
Há pouco mais de quatro meses, na Ucrânia, um Lenin de 20 metros de altura que resistira, ali, à demolição de mais de mil réplicas suas, foi finalmente removido em celebração transmitida ao vivo pelo YouTube.
Quanto a Lula… O político que mais se destacou na história recente do país parece ter perdido em definitivo a chance de um dia ser imortalizado em bronze ou em pedra como foi padre Cícero, cuja estátua de 27 metros de altura atrai levas de romeiros a Juazeiro do Norte, Ceará.
Embora cultuado no Nordeste, Lula já não controla o seu próprio destino. A Justiça é quem controla.
Na semana passada, pela primeira vez, Lula virou réu em um processo onde é acusado de ter tentado obstruir a Justiça ao conspirar junto com o ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MS) para impedir a delação de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras.
Na denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República, ele é apresentado como a peça principal de uma organização criminosa.
Alvo até agora de seis investigações, Lula deverá em breve ser denunciado por ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro.
A Lava-Jato reuniu indícios e provas de que ele é dono do apartamento da praia do Guarujá e do sito de Atibaia, em São Paulo, reformados de graça pelas empreiteiras OAS e Odebrecht – ambas envolvidas na roubalheira da Petrobras. Há mais coisas por vir.
Basta que Lula seja condenado por um juiz de primeira instância como Sérgio Moro, por exemplo, e em seguida por um tribunal de segundo instância, para que se torne um ficha-suja.
Como tal, ficará impedido de disputar qualquer eleição à espera do julgamento em última instância. Seria o trágico fim da carreira política do primeiro operário a chegar por aqui à presidência da República.
Queda vertiginosa, essa que Lula vive. Há dois anos, líderes de quase todos os partidos e donos de grandes fortunas o pressionavam para que se lançasse candidato no lugar de Dilma.
Seria a volta triunfal do pai dos pobres e da mãe dos ricos. Sabia-se de sobra por que os pobres queriam o seu retorno. Somente agora, sabe-se por que tantos ricos também queriam.
Faltou coragem a Lula para peitar Dilma. Sobrou atrevimento a Dilma para confrontar seu criador e arrastá-lo escada abaixo.
Lula culpa Dilma por sua desgraça. Dilma culpa Lula por ter lhe deixado uma herança de corrupção.
Cada um fala mal do outro pelas costas. Querem se ver logo pelas costas. E, no futuro, nem pelas costas querem mais se ver. Até nunca!
Não importa. São inseparáveis. Foram cúmplices em tudo o que fizeram para o bem e para o mal.
O carismático ex-líder operário pode ser preso a qualquer momento, a não ser que fuja para o exterior.
A executiva portadora de falso conhecimento econômico está às vésperas de ser deposta. À espera dela, processos e mais processos. E – quem sabe? – cadeia.
Editorial do Estadão: O perseguido vira réu
Na quinta-feira passada Lula da Silva foi se queixar à ONU de que está sendo perseguido no Brasil pelo juiz Sérgio Moro. Se tivesse esperado mais algumas horas, poderia ter incluído na reclamação o juiz substituto da 10.ª Vara Federal do Distrito Federal, Ricardo Leite, que teve a ousadia de, na sexta-feira, transformá-lo em réu por tentativa de obstruir investigação da Lava Jato. O chefão do PT perdeu, assim, uma excelente oportunidade de enriquecer a fabulação apresentada à Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas e ao mundo, de que está sendo vítima de uma conspiração da Justiça brasileira e outras forças do mal para impedir seu retorno à Presidência da República em 2018. O ex-presidente que logrou a proeza de conciliar a condição de protetor universal dos fracos e oprimidos com a de amigo do peito de banqueiros, empreiteiros e oportunistas de outras extrações, foi pego de surpresa por sua estreia na condição de réu, mas tentou disfarçar fazendo troça: “Se o objetivo é me tirar de 2018, isso não era necessário. A gente poderia escolher outro candidato”.
Pelo andar da carruagem, Lula pode ir preparando novos habeas corpus preventivos como o que tentou criar à custa da ONU, bem como outras tiradas de pretenso humor para mostrar que nada o faz perder a pose, porque a denúncia do juiz de Brasília que o tornou réu pode ser a primeira de uma série que faria jus a sua bem-sucedida carreira de chefão da quadrilha que nos últimos anos se dedicou a assaltar os cofres públicos como nunca antes na história deste país.
O exemplar trabalho de investigação criminal simbolizado pela Operação Lava Jato está na iminência de corrigir a enorme injustiça cometida pelo julgamento do mensalão. Naquela época, colocou-se na cadeia apenas o estado-maior do escândalo de corrupção, poupando-se o verdadeiro chefe da quadrilha, que passou a dedicar-se a projetos mais ambiciosos, como o petrolão.
Se existe hoje alguma unanimidade entre os brasileiros, é a de que a corrupção é o maior problema do País, até porque está na raiz do descontrole das contas públicas que precipitou a recessão econômica com todas as nefastas consequências sociais. A corrupção, que era renitente, mas episódica, atingiu nos governos petistas nível sem precedentes. A Lava Jato o comprova.
Mas é a corrupção dos valores políticos, imposta pelo populismo irresponsável do lulopetismo, a razão principal do desastre que o País vive. Com seu verbo fácil e sedutor embalado pelo marketing social de programas de grande apelo popular, mas, como restou provado, sem sustentabilidade econômica, Lula conseguiu por alguns anos manter a pose de campeão das causas populares e vender no exterior a versão de que tinha acabado com a fome e as desigualdades no Brasil.
Megalômano e, como tal, apegado às aparências – marca inconfundível do populismo –, Lula dedicou-se à construção de um país à sua imagem e semelhança: um gigante com pés de barro. Avesso ao estudo, ao qual jamais se dedicou, guiou seus passos pela intuição e sensibilidade, que deram substância a sua condição de político esperto, e transferiu para seus principais programas de governo os valores que cultivou ao longo de sua formação.
Como líder sindical, aprendeu que não é o entendimento, mas o confronto, que garante conquistas. E passou a aplicar esse princípio vida afora, dividindo o País entre “nós” e “eles”.
Como presidente, enquanto tecia uma teia de relacionamentos que viriam a pavimentar sua própria escalada social, Lula tratou de oferecer aos brasileiros de baixo poder aquisitivo aquilo que entendia que eles mais precisavam: crédito farto e fácil. Quando a farra acabou, os “milhões de brasileiros que ascenderam à classe média” se deram conta de que haviam comido todo o peixe e não sabiam como pescá-lo.
Por esse crime Lula já está pagando com a vertiginosa queda de seu prestígio popular. Pelos previstos na lei penal, terá que se haver com a Lava Jato.
Me engana que eu gosto: Lula jura que está feliz com o fechamento da fábrica de propinas que construiu
“O PT está sozinho outra vez. O PT não tem aliança, não tem dinheiro. Não vai ter empresário para doar dinheiro. Eu, em vez de ficar lamentando isso, eu dou graças a Deus. Porque a gente vai voltar a trabalhar com amor como a gente sempre trabalhou. Menos dinheiro e mais sola de sapato”. (Lula,numa discurseira em Fortaleza, explicando que tanto o declarante quanto o PT só afundaram no Petrolão porque foram obrigados por cruéis empresários a usar dinheiro de propina no financiamento de campanhas eleitorais e na compra de sítios e apartamentos, fora o resto).
Os gastos reais rasgam a fantasia olímpica do Rio
por BRANCA NUNES
Orçados em R$ 28,8 bilhões em 2009, quando o Rio de Janeiro venceu a disputa entre as cidades que pretendiam hospedar o maior evento esportivo do mundo, os gastos com a Olimpíada de 2016 já chegaram a R$ 39,1 bilhões — e é improvável que parem por aí. O destino de parte desse dinheiro é detalhado no vídeo da revista Superinteressante. Por exemplo: as arenas, preparadas para a realização das provas de várias modalidades, custaram R$ 7 bilhões (R$ 2,8 bilhões de dinheiro público e R$ 4,2 bilhões captados entre empresas privadas). A maior parcela do orçamento — R$ 24,6 bilhões, dos quais R$ 13,8 milhões foram bancados pelos pagadores de impostos — foi consumida em obras de infraestrutura.
Não figuram nesse montante despesas com itens essenciais, como a segurança e o revezamento da tocha. Só o governo
federal investiu mais de R$ 700 milhões no esquema montado para tornar o Rio mais seguro, ou menos inseguro. As 12 mil tochas (R$ 2 mil cada uma) engoliram R$ 24 milhões. Embora a maior parte desse valor tenha sido pago por patrocinadores e pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COI), municípios escolhidos para participar do revezamento tiveram de desembolsar quantias que parecem uma fortuna em tempos de crise.
Com pouco mais de 250 mil habitantes, a mineira Ipatinga, por exemplo, gastaria R$ 180 mil para viabilizar a passagem do fogo com investimentos em logística e infraestrutura que iam de alterações no trânsito ao recapeamento de ruas, passando pela poda de árvores e programações culturais. A prefeita Cecília Ferramenta (PT) preferiu cancelar o evento. “O momento exige que se dê prioridade absoluta ao pagamento de servidores, à manutenção dos serviços essenciais e a continuidade das obras em andamento na cidade”, argumentou. Mais de 300 cidades toparam pagar o necessário para fazer parte do circuito que, segundo o site oficial dos Jogos Olímpicos, “foi definido levando em conta critérios logísticos, turísticos e culturais”.
Se os gastos para a realização da Olimpíada no Rio não param de aumentar, caiu pela metade o número de turistas estrangeiros que os organizadores esperavam recepcionar. Inicialmente calculados em cerca de 1 milhão, não deverão passar de 500 mil. E o “legado dos Jogos” só alcança dimensões olímpicas nos discursos dos políticos e em peças publicitárias
ufanistas. Os governos federal, estadual e municipal anunciaram com pompa e circunstância que, até o início das competições, 80% do esgoto despejado na Baía de Guanabara seria tratado. A menos de uma semana da cerimônia de abertura, a porcentagem despencou para 52% — índice um ponto acima do que foi prometido para 1999, quando deveria ter sido concluída a primeira fase do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) lançado durante a Eco-92.
Faz 24 anos que a despoluição da baía lidera o ranking das promessas de todos os candidatos a prefeito ou governador do Rio de Janeiro. Só os projetos concebidos para concretizar essa prioridade sempre adiada consumiram mais de R$ 10 bilhões. A partir de 5 de agosto, atletas do mundo inteiro saberão que um dos mais belos cartões postais do planeta é, visto de perto, um imenso depósito de dejetos. Como a limpeza desse pedaço de mar, nenhum dos grandes projetos ambientais ligados à Olimpíada foi concluído.
Além disso, a corrupção que infestou o Brasil não poupou o evento bilionário. No início de junho, o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle (antiga CGU), a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Receita Federal revelaram que R$ 85 milhões foram desviados só na construção do Complexo Esportivo de Deodoro. Nesta quinta-feira, a Folha informou que a prefeitura do Rio gastou R$ 233 milhões em contratos sem licitação para conseguir terminar a
tempo as obras, principalmente em arenas atrasadas.
Entre as empresas contratadas, duas têm vínculos com a família de André Lazaroni, líder do PMDB na Assembleia Legislativa fluminense. No mesmo dia, uma reportagem de VEJA constatou que a Força Nacional de Segurança Pública havia iniciado um processo de cadastramento e seleção de policiais militares e bombeiros inativos para contratar 3 mil homens em regime de urgência. Eles tentarão preencher as lacunas deixada pela Artel Recursos Humanos. Escondida em Navegantes (SC), a empresa não tem nenhuma experiência no ramo da segurança. Mesmo assim, ganhou a licitação para fazer o controle eletrônico de 49 instalações ao preço de R$ 17,3 milhões.
No dia em que a delegação australiana se recusou a hospedar-se na Vila dos Atletas, para não conviver com vasos sanitários entupidos, vazamentos em canos, fiação exposta, escadarias sem iluminação e pisos sujos (fora o resto), o prefeito Eduardo Paes apresentou uma desculpa risível: “é muita gente chegando ao mesmo tempo”. Para tornar o local habitável, 600 encanadores, faxineiros, eletricistas, engenheiros e outros profissionais foram contratados às pressas e trabalharam em tempo integral para fazer em sete dias o que não foi feito em sete anos. Esses gastos também não entraram no orçamento oficial.
Os gastos reais rasgam a fantasia olímpica do Rio
por BRANCA NUNES
Orçados em R$ 28,8 bilhões em 2009, quando o Rio de Janeiro venceu a disputa entre as cidades que pretendiam hospedar o maior evento esportivo do mundo, os gastos com a Olimpíada de 2016 já chegaram a R$ 39,1 bilhões — e é improvável que parem por aí. O destino de parte desse dinheiro é detalhado no vídeo da revista Superinteressante. Por exemplo: as arenas, preparadas para a realização das provas de várias modalidades, custaram R$ 7 bilhões (R$ 2,8 bilhões de dinheiro público e R$ 4,2 bilhões captados entre empresas privadas). A maior parcela do orçamento — R$ 24,6 bilhões, dos quais R$ 13,8 milhões foram bancados pelos pagadores de impostos — foi consumida em obras de infraestrutura.
Não figuram nesse montante despesas com itens essenciais, como a segurança e o revezamento da tocha. Só o governo