Onde está o conservador normal?, por Rodrigo Constantino
A imprensa mainstream, com claro viés de esquerda, adota uma tática manjada, mas que passa despercebida pelos mais leigos: chama qualquer liberal ou conservador de “ultraliberal” ou “ultraconservador”, enquanto que mesmo os mais radicais esquerdistas são apenas “de esquerda”. A tática de usar o “ultra” na frente é para jogar o centro cada vez mais à esquerda. Assim, o socialista radical se torna moderado, e o social-democrata passa a ser direita.
Isso já foi tema de alguns artigos meus, mas a imprensa sempre volta a abusar dessa tática pérfida, então não podemos relaxar. Se o sujeito já é contra o aborto por motivos morais e religiosos, por exemplo, ele já é um “ultraconservador”. Aconteceu novamente com a escolha do vice-presidente por Donald Trump. Lucas Berlanza, que foi do Instituto Liberal, fez um breve comentário sobre o caso:
A pergunta é boa: onde está o conservador normal para nossa imprensa? Eu respondo: para essa cambada de comunista, já é conservador aquele que não reza da mesma seita socialista. Logo, mesmo um tucano como José Serra, que sempre foi de esquerda, acaba se metamorfoseando num “ultraconservador” para nossos padrões tupiniquins.
E ainda tem gente que nega o viés de esquerda da nossa imprensa! Onde está a Fox News do Brasil, por falar nisso?
O Globo banca o “isentão” e ataca o escola sem partido por aquilo que ele não é
Por Rodrigo Constantino
Poucas coisas são piores do que os “isentões”, aqueles que simulam imparcialidade e muita moderação na forma, mas acabam invariavelmente defendendo as bandeiras da esquerda radical. Eles acabam dando credibilidade ao radicalismo dos socialistas, agindo como inocentes úteis.
Quando a jornalista Miriam Leitão precisou me atacar, assim como o Reinaldo Azevedo, numa coluna em que pretendia condenar o radicalismo da extrema-esquerda, que até manipulara sua biografia na internet, ela nos fornecia um exemplo perfeito desse fenômeno.
Para posar de “imparcial”, ela não tinha a coragem de simplesmente criticar a esquerda radical; precisava mostrar que também era contra a “direita radical”, qual seja, aquela bem moderada que eu represento. É uma espécie de lei no jornalismo dominado pelo viés “progressista”: se tiver de atacar a extrema esquerda, joga junto no saco a direita liberal como se fosse extremista também.
Foi o que fez o próprio jornal O GLOBO hoje, em seu editorial sobre educação. O jornal, vejam só!, é contra a doutrinação ideológica nas escolas, mas tanto a de esquerda como a de direita. E onde é que existe doutrinação ideológica de direita nas escolas brasileiras? Onde? O editorial diz que no projeto de lei do Escola Sem Partido!
É ou ignorância ou pura má-fé. O jornal condena algo que o ESP também condena, mas depois vai lá e pinta o projeto como igualmente doutrinário, só que de uma suposta extrema-direita “obscura”. E para “provar” seu ponto, mente, inventa coisas que não fazem parte do projeto.
O ESP, e quem leu sabe, não pretende inverter o sinal da doutrinação, impedir que se fale em marxismo ou nada do tipo. Basta ler! O que o ESP pretende é justamente acabar com essa escancarada doutrinação ideológica em salas de aula, cuja existência só alguém muito desprovido de honestidade poderia negar.
Sim, o marxismo é um fenômeno histórico que precisa ser ensinado. Mas não é isso que acontece! Marx domina a cena, é enaltecido por militantes disfarçados de professores, ganha um peso totalmente desproporcional à sua importância, ainda mais no mundo mais civilizado, enquanto visões alternativas sequer são apresentadas. Não é substituir Marx por Adam Smith, e sim efetivamente deixar o aluno conhecer as principais vertentes da forma mais imparcial possível para que ele possa julgar.
Quanto à questão da “educação sexual”, é evidente que há hoje em curso uma tentativa de enfiar goela abaixo dos jovens, das crianças!, uma ideologia de gênero que é absurda, anti-científica, incoerente e imoral, mas vendida como a coisa mais avançada do mundo. E ai de quem não concordar: um reacionário preconceituoso!
Mas vejam: nem vem ao caso pensar assim ou achar que uma educação moral deva ser diametralmente oposta, fornecendo freios para os jovens em vez de estímulos à libertinagem. Eis o ponto central aqui: educação moral é algo que deveria pertencer às famílias, não ao estado! O estado usurpa um direito que pertence aos pais quando se arroga o direito de ensinar aos jovens como eles devem agir em relação ao sexo.
O jornal “isentão” conclui:
Por perniciosas, as duas têm de ser combatidas, criticadas, evitadas em todos os níveis do ensino. Nominadamente: a “educação” que impõe como verdade modelos de sociedade que agridem o respeito à democracia, ou a corrente que defende um índex nas escolas — esta, aliás, em perigosa expansão no país, alinhada com posições francamente retrógradas, e inquietantemente operosa a partir de bases no Legislativo.
Proselitismo político e catequese não combinam com pensamento livre. O conhecimento, o ensino e uma cultura rica não podem ser condicionados por uma falsa educação cujos valores sejam impostos, em lugar de discutidos.
Não discordo! Mas não é nada perto disso que temos hoje em nossas escolas, dominadas pela militância esquerdista. E é justamente o que o ESP pretende trazer para a sala de aula: menos Paulo Freire e mais debates abertos, menos proselitismo e mais pluralidade, menos doutrinação e mais pensamento livre. Os editores deveriam ler o projeto antes de repetir mitos criados pela esquerda radical que está em pânico com a reação daqueles cansados de tanta doutrinação.
A verdade sobre a escola sem partido
Por Jenifer Castilho, publicado pelo Instituto Liberal
Resolvi escrever esse texto devido às inúmeras mentiras que tenho visto circular na internet sobre o Projeto Escola Sem Partido. É o desespero dos doutrinadores. Alguns, apenas distorcem as palavras do projeto e divulgam. Outros, nem o leram e passam as mentiras adiante. Típico de internet.
Estudei em colégio particular e público, universidade particular e pública também, e durante minha vida acadêmica, os professores só me mostraram um lado da moeda. Aquele clássico: o capitalismo é malvado, o socialismo é bonzinho, a necessidade da luta de classes, e o sócio-construtivismo. E por isso, durante grande parte da minha vida, eu odiava os Estados Unidos sem saber o porquê, também achava que o capitalismo era a raiz de todos os males e, quando entrei na universidade, comecei a achar que a religião, inclusive a minha, era o ópio do povo.
Como aluna de pedagogia, fui muito criticada quando defendi o ensino tradicional, pois todos os professores só concordavam e aceitavam a abordagem construtivista. Sabendo dessa lavagem cerebral que acontece dentro das salas de aula é que o projeto Escola sem Partido afirma que deve haver “o reconhecimento da vulnerabilidade do educando como parte mais fraca na relação de aprendizado”. Afinal, o aluno ainda está formando seu caráter, e o professor não pode se “aproveitar da audiência cativa dos alunos para promover seus próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias.”
Sei que a maioria dos brasileiros, apesar de gostar de discutir sobre política, não tem o hábito de ler leis, a maioria nunca nem tocou na constituição, e existem alunos de Direito que não sabem em que ano ela foi escrita. Mas, diante da minha indignação, venho aqui para mostrar a verdade sobre o Projeto.
Eu, como participante da faculdade de educação da UERJ, já presenciei dos meus colegas argumentos como: “o projeto ameaça nossa profissão”, “é a lei da mordaça”, “não tem como lecionar sem apresentar ideologias”. Mas o que é ideologia, afinal? Ideologia é a reunião das certezas pessoais de um indivíduo, de um grupo de pessoas e de suas percepções culturais, sociais, políticas, etc. Então, de acordo com o projeto, eu, como professora cristã, não poderei ensinar a um aluno espírita que minha religião é melhor que a dele, por exemplo. E isso é errado? Claro que não! Meu dever não é de evangelizar em sala de aula, não é de converter o aluno a um lado ou outro. Esse é um papel da família.
Outro argumento que ouvi foi: “O projeto é contra o senso crítico e debates de assuntos polêmicos.” O Projeto defende a neutralidade política, ideológica e religiosa do Estado, neutralidade política não significa que o projeto é contra o senso crítico; pelo contrário, ele quer que seja apresentado e discutido os dois lados da moeda: “ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa – isto é, com a mesma profundidade e seriedade – as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito da matéria.” O professor pode ser de esquerda ou de direita, mas não pode impor o que ele pensa como verdade absoluta, nem prejudicar o aluno caso ele não concorde com sua posição política: “o professor não favorecerá, não prejudicará e não constrangerá os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas, ou da falta delas.”
Afinal, o que tem de tão assustador no projeto para ter tanta mobilização contra ele?
A resposta está no livro Maquiavel Pedagogo de Pascal Bernardin. O autor reúne documentos e pesquisas que mostram que a doutrinação que acontece na educação atual é decorrente de uma revolução pedagógica proposital com a finalidade de mudar os valores das pessoas e implantar uma nova sociedade.
No livro, é apresentado o documento publicado pela UNESCO com o nome A Modificação das Atitudes. Nele estão listados os seguintes objetivos: realizar uma transformação profunda na sociedade, modificar as atitudes na educação para conseguir uma reconversão ou uma reeducação dos valores, manipular a cultura, entre outros, ou seja, é uma reforma cultural. E para conseguir chegar nesses objetivos, os métodos que a UNESCO descreve ser necessário usar são:
– Buscar auxilio político, midiáticos dos formadores de opiniões, ou seja, usar blogueiros, artistas, políticos;
– Ampliar o poder e influência de ação de grupos, pois grupos separados são vistos como algo bom para a revolução cultural enquanto que a família é vista com efeito negativo sobre a criança;
– Programas de ações desenvolvidas para os pais, para conseguir que eles façam parte da revolução e não atrapalhem o trabalho da escola;
– Formação ativa e direcionada para os professores, para que os professores aprendam a doutrinar.
A UNESCO afirma que para que essas mudanças sejam implantadas na sociedade é preciso bloquear outros canais de transmissão de valores, como a família, ou seja, segundo eles, deve-se tirar o poder de educar dos pais e transferir para o Estado. E perceba que é exatamente contra isso que o Escola Sem Partido está lutando quando afirma: “O professor respeitará o direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.”
A revolução busca submeter o indivíduo ao Estado tanto em seu comportamento quanto em seu psiquismo e ser, ou seja, aumentando a permanência da criança na escola, a influência do professor e o poder do Estado sobre a escola, o Estado conseguirá controlar os valores das pessoas e seus comportamentos. É o admirável mundo novo de Aldous Huxley.
O Escola Sem Partido, como o nome mesmo diz, é apartidário e por isso causa tanto medo naqueles que tem como objetivo de transmitir somente suas ideias políticas e doutrinadoras aos alunos. Você não precisa ser de direita para concordar com o projeto, precisa apenas ser honesto.
A lição do papeleiro
Por Percival Puggina
A rua Salvador França, em Porto Alegre, forma uma rampa acentuada ao se aproximar da avenida Protásio Alves. Há poucos dias, em hora de tráfego intenso, eu andava por ali, lomba acima. A lentidão do trânsito evidenciava haver, adiante, algum obstáculo na pista. De fato, pouco além, avistei um carrinho de papeleiro, muito carregado e com volumosos excessos laterais. A carga era tão desproporcional que me interessei em ver como se fazia a tração de todo aquele peso. Um cavalo? Dois homens? Não. Era um homem só, e bem magro. Puxava sua carga caminhando de costas, fazendo o maior uso possível do próprio peso, jogando-se para trás.
Ao ultrapassá-lo, senti vontade de parar, descer e expressar àquele ser humano meu reconhecimento ao valor moral que transmitia. Mas seria impraticável em meio ao tráfego. Decidi que o faria aqui, narrando o fato e traduzindo em palavras a silenciosa lição que proporcionava.
A mesa do papeleiro é pobre e pouca. Há frestas em sua insalubre moradia. Agasalho escasso, extenuante o trabalho. Não conhece férias e não recebe hora extra. Bem perto de onde mora está o traficante com dinheiro no bolso e correntes de ouro no pescoço. Se é de justiça tratar desigualmente os desiguais, a tolerância e a indulgência, em nome da luta de classes, para com os crimes praticados por indivíduos supostamente pobres são uma ofensa ao papeleiro da Salvador França. Todo modo de ver a lei penal como lei do “opressor” contra o “oprimido”, todo garantismo que assumidamente desprotege a sociedade são ofensivos ao seu trabalho honesto.
Assumindo como ganha-pão uma tarefa de tração animal, ele ensina o quanto a vida, mesmo comprometida diariamente com penosa rotina, pode ser dura sem deixar de ser humana e digna. Enquanto, naquele dia, arrastava sua carga ladeira acima, o papeleiro esbofeteava, sem saber, a face de cada corrupto e de cada corruptor. Ensinava a quantos fazem e aplicam a Lei, que a pobreza a merecer proteção social e institucional é a pobreza do homem bom, nunca – nunca! – por si mesma, a pobreza do malfeitor, do traficante, do ladrão, do homicida, do estuprador (que até estes voltam rapidamente às ruas!). Degenerado é degenerado, criminoso é criminoso, independentemente do extrato de renda. O lugar de quem vive do crime é a cadeia, senhores.
Por isso, falando em nome de muitos, de poucos ou apenas no meu próprio, gostaria de conhecer a natureza do delito que certos homens da Lei nos imputam, leitor. Ao dar liberdade a quem tem que estar preso, esses falsos justiceiros condenam todos os demais à insegurança e à restrição da liberdade. Escrevam o que pensam, senhores! Sustentem suas teses marxistas abertamente nos jornais! Venham à luz do dia com suas doutrinas! Não se escondam nas páginas dos processos, nas dissertações acadêmicas e nos conciliábulos dos que pensam igual! Afinal, desarmados pelas exigências que cercam a posse de qualquer arma, agora estamos encarcerados por grades de proteção e temos as mãos contidas pelas algemas da impotência cívica.