Odebrecht ou OAS?, eis o dilema da Lava Jato, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Publicado em 21/06/2016 18:07 e atualizado em 21/06/2016 18:42
A tentação da delação...

Procuradores da República fizeram chegar aos advogados da Odebrecht e da OAS a informação de que a força-tarefa da Lava Jato só deve fechar acordo de delação com uma das empreiteiras, informa o repórter Thiago Herdy.

Das quatro grandes construtoras do país, apenas essas duas não aderiram à delação. E solidificou-se entre os investigadores o entendimento segundo o qual os dirigentes de pelo menos uma das gigantes da construção terão que pagar pelos crimes desbaratados pela Lava Jato.

De resto, leva-se em conta o fato de Odebrecht e OAS serem velhas parceiras na execução de obras da Petrobras. Portanto, compartilham os mesmos segredos.

– Charge do Paixão, via 'Gazeta do Povo'.

Investigações já não poupam nem os cadáveres

Num cenário em que ninguém está imune às investigações, imaginou-se que as três condições essenciais para alcançar a glória política no Brasil eram: morrer moço, morrer por uma causa perdida e ter um cadáver bonito. Isso já não basta. Eduardo Campos, enterrado como uma espécie de mártir fotogênico, acaba de ser ressuscitado numa nova operação da Polícia Federal.

Deflagrada nesta terça-feira, a Operação Turbulência apura um esquemão de lavagem de dinheiro que movimentou algo como R$ 600 milhões no eixo Pernambuco—Goiás. A polícia chegou à quadrilha ao escarafunchar a propriedade do jato que caiu em Santos na campanha presidencial de 2014. Suprema ironia: o desastre que tirou a vida de Campos levou ao desastre que pode ceifar-lhe postumamente a reputação.

A PF suspeita que o ex-ministro e senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), já investigado na Lava Jato, tenha feito a intermediação entre a quadrilha e as arcas eleitorais de Eduardo Campos. Além da compra do avião, os desvios teriam bancado as campanhas do ex-governador de Pernambuco em 2010 e 2014.

Surgidas logo depois do acidente fatal, ainda em meio às lágrimas, as informações sobre a propriedade do jato que transportava Campos não cheiravam bem. Agora, diante do monturo apresentado pelos investigadores, o PSB, partido de Campos, divulgou uma nota inodora.

A legenda diz ter “plena confiança na conduta do nosso querido e saudoso Eduardo Campos.” Acrescenta que “apoia a apuração das investigações e reafirma a certeza de que, ao final, não restarão quaisquer dúvidas de que a campanha de Eduardo Campos não cometeu nenhum ato ilícito.” Ora, considerando-se a origem da verba que bancou a compra do avião, já está demonstrado que a campanha, no mínimo, voava nas asas do ilícito.

A tentação da delação, por BERNARDO MELLO FRANCO (na FOLHA)

BRASÍLIA - A praia do Futuro é uma das mais procuradas por quem gosta de relaxar ao sol de Fortaleza. Em torno de suas areias cresceu o bairro Dunas, endereço de mansões protegidas por muros altos e cercas eletrificadas. É numa delas que repousa Sérgio Machado, o ex-presidente da Transpetro que abastecia políticos com dinheiro do petrolão.

Depois de delatar os comparsas, o peemedebista foi premiado com o regime de prisão domiciliar. Não passou um único dia na cadeia e foi autorizado a se recolher ao conforto do lar, onde poderá matar o tempo entre a piscina, a quadra poliesportiva e a churrasqueira. Ele ainda terá autorização para sair de casa em ao menos oito datas até 2018, quando se livrará da tornozeleira eletrônica.

Machado não é o único réu do petrolão a levar uma doce vida depois de fechar acordo de delação com a Lava Jato. Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras, habita um condomínio exclusivo em Itaipava, na região serrana do Rio. É vizinho de altos executivos e de um ministro do Supremo, que acumulou patrimônio como advogado de renome.

Pedro Barusco, o ex-gerente da estatal que organizava planilhas de propina, aproveita o mar em Angra dos Reis. No ano passado, foi fotografado à vontade numa cadeira de praia, dando baforadas num charuto e tomando cerveja. Ele cumpre pena em regime aberto, que dispensa a companhia da tornozeleira.

Eduardo Cunha, o deputado, levou uma vida de milionário no período em que a Petrobras era saqueada -na certa, uma coincidência. Hospedou-se nos hotéis mais caros do mundo, jantou nos melhores restaurantes e colecionou carros importados, alguns registrados em nome da empresa Jesus.com.

Agora Cunha está ameaçado de prisão e ouve conselhos para oferecer uma delação à Lava Jato, hipótese que assombra figurões no Congresso e no governo interino. Os exemplos de Machado, Costa e Barusco devem ajudá-lo a decidir.

O petrolão é do PT, por KIM KATAGUIRI

Os petistas estão alvoroçados com a delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado –ao menos é o que fazem parecer. Até Dilma, que deve ter se esquecido de que "não respeita delatores", tentou colocar a delação de Machado em sua defesa. "Estão vendo?! Tiraram uma presidenta honesta do poder para colocar os ladrões do petrolão!". Insistindo no raciocínio esquizofrênico que joga o impeachment contra a Lava Jato, aqueles que ainda têm coragem de defender a quadrilha vermelha esquecem quem são os verdadeiros protagonistas do maior escândalo de corrupção da história do país.

O esquema do petrolão foi montado, essencialmente, para garantir a governabilidade. Parlamentares recebiam propina para votar de acordo com o governo. Numa República na qual o poder é dividido em três partes, como é o caso da brasileira, quem governa é quem detém o Executivo. O PT esteve no controle deste Poder durante os últimos 13 anos. Agora, a pergunta de um milhão de dólares: a quem interessa um esquema de corrupção que ajuda a governar?

Se a lógica não bastar –quando falamos de petistas, ela nunca basta–, podemos partir para as evidências. O vice-presidente da construtora Engevix, Gerson de Mello Almada, que foi preso no início de 2015 na sétima fase da Operação Lava Jato, afirmou que "o apoio no Congresso Nacional passou a depender da distribuição de recursos a parlamentares" e que houve "arrecadação desenfreada de dinheiro para as tesourarias dos partidos políticos" para bancar campanhas eleitorais.

Arrecadação esta que, ao que indica outra delação, também financiou a campanha de Dilma em 2014. Segundo a revista "Istoé", Marcelo Odebrecht disse em delação que Edinho Silva, então tesoureiro da campanha petista, teria pedido R$ 12 milhões "por fora" para serem repassados ao marqueteiro João Santana e ao PMDB. Segundo a revista, Odebrecht teria confirmado com Dilma se realmente deveria fazer o pagamento. "É para pagar", teria respondido a presidenta honesta.

Não podemos nos esquecer, é claro, de Lula. O ex-presidente era peça-chave do esquema. E quem diz isso não sou eu, mas o procurador-Geral de República, Rodrigo Janot. Para Janot, "essa organização criminosa jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dela participasse."

Lula também governou. Pacificar parlamentares com propina também era interesse dele. Como o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e o procurador da República Deltan Dallagnol, que coordena a força-tarefa da Lava Jato, já afirmaram, os esquemas do mensalão e do petrolão são uma coisa só: dinheiro público para comprar base parlamentar. A corrupção como método de governo.

O impeachment não é uma conspiração contra a Lava Jato. Quem foi às ruas pelo impeachment também o fez pela operação. O impeachment é contra o governo mais corrupto da história do país. Michel Temer, sendo vice-presidente da República, tem a obrigação constitucional de assumir o governo. Tem defeitos? Sim, muitos. Mas está longe de ser o líder do esquema que transformou o Estado brasileiro no financiador de um projeto criminoso de poder. Talvez seja isso que incomode os petistas. 

Cunha antecipa ‘delação’ entregando Jaques Wagner. Bom aperitivo!

Blog de FELIPE MOURA BRASIL resume melhores momentos da entrevista coletiva do presidente afastado da Câmara

Tuitadas prévias:

– Senado dos EUA rejeitou as 4 propostas de restrições à posse de arma. Pai de vítima do massacre em boate gay de Orlando: “Eu queria que meu filho estivesse com uma“. Como comentei aqui: teria sido, de fato, sua única chance.

– Polícia Civil desmente Beltrame: só 2 PMs escoltavam Fat Family no Souza Aguiar, não 5. Secretaria de Saúde desmente Beltrame: hospital não recebeu pedido de transferência do bandido, que acabou resgatado por comparsas do Comando Vermelho, como mostrei aqui. Que faaase, Beltrame!

Cobertura em tuitadas:

– Eduardo Cunha: “Tem alguns algozes meus que são quase repórteres adjuntos do Jornal Nacional, que estão escalados quase todos os dias”. Pouco após a ironia, Globonews cortou a transmissão da entrevista coletiva do presidente afastado da Câmara.

– Número de votos do candidato do PT na eleição na Câmara foi praticamente o mesmo que Dilma teve no impeachment, diz Cunha, ligando-se ao destino da petista. Sempre juntinhos, queridos.

– “É importante deixar claro aqui uma coisa: quem instalou a CPI da Petrobras, fui eu como presidente. Eu não fui por convocação, fui espontaneamente para prestar esclarecimentos. Porque justamente eu não queria a polêmica de toda hora ficarem colocando requerimento para convocação, eu preferi ir”. E se lascou.

– Cunha repete alegação de que não tinha controle do ‘trust’. “Eu estou absolutamente convicto de que não menti. Fui à CPI muito convicto de que não tinha conta.” É curioso como toda convicção declarada como tal soa menos crível que a simples negação. José Dirceu também está convencido de sua inocência.

– “Minha esposa tinha conta dentro do padrão do Banco Central. Ela tinha o saldo, a cada dia 31 de dezembro do ano, inferior a 100 mil dólares. Por isso ela não era obrigada a declarar.”

– Cunha lista as votações importantes realizadas na Câmara sob seu comando, como a da redução da maioridade penal. Vemos a cada dia mais menores impunes, mas tema é polêmico e desperta a luta ideológica, diz o presidente afastado da Casa, lembrando que tramitação ainda não foi concluída. Lamentavelmente.

– Cunha: “Tive 3 encontros com Jaques Wagner. Nos 3, ele ofereceu os votos do PT no Conselho de Ética” para evitar a abertura do impeachment.

– Lembrando: em dezembro de 2015, ao autorizar o processo de impeachment, Cunha teve bate-boca com Wagner e ameaçou revelar informações.

– Cunha diz que Wagner lhe telefonou várias vezes no dia em que anunciou abertura do impeachment e emissários também ofereceram votos.

– Cunha: “O ministro da Casa Civil oferecia até o controle do presidente do Conselho de Ética. É fantasiosa essa história (de chantagem)”.

– Lembrando: o PT acusa Cunha de ter usado o pedido de impeachment como moeda de troca para obter votos favoráveis no Conselho de Ética e de ter aberto o processo por vingança após a desistência de deputados petistas de votar a seu favor. O PT, como sempre, acusa os outros daquilo que faz.

– Cunha ataca PGR: “Na 1ª denúncia que foi aceita, eu era acusado de ser responsável pela manutenção de Cerveró no cargo” mas ele negou que me conhecia.

– Cunha acusa Rodrigo Janot de formular denúncia contra ele com base em notícias jornalísticas. Diz que nunca tinha visto isto em processo judicial. Janot é mesmo um inventor de moda.

– Cunha: “Tudo que eu faço é ‘manobra’. Com relação àqueles que querem me derrotar, nada é manobra.” Isto é fato, independentemente de qualquer culpa de Cunha.

– “Tem uns que não querem nem minha cassação, querem minha extinção”, diz Cunha. O tom é novamente vitimista, mas tampouco deixa de ser verdade.

– Cunha lembra que presidente do Conselho de Ética alegou ter praticado uma “manobra do bem”. Cunha diz não existir manobra do bem ou do mal, mas, sim, o cumprimento ou não do regimento da Câmara.

– Cunha critica pedido de prisão apresentado por Rodrigo Janot: “Qualquer estagiário de direito vai entender o ridículo da peça”.

– Cunha lembra que único motivo constitucional para prisão de parlamentar é flagrante de crime inafiançável, o que não aconteceu.

– Cunha diz ter sido cerceado em seu direito de defesa porque o pedido de prisão o impediu de comparecer ao Conselho de Ética. Por isso, entrou com recurso no STF.

– Cunha justifica a necessidade de segurança: “Ou alguém duvida de que existem agressões por parte dos petistas que perderam suas boquinhas onde quer que a gente vai?” Disso, este blog não duvida.

– Cunha cita ameaças por telefone e até de morte e diz que não fica falando a respeito para não se fazer de coitadinho (como o PT se faz a cada ameaça fake virtual).

– “A Dilma, em seu proveito próprio quando da votação do impeachment, nomeou (parlamentares) para cargos, liberou emendas e ninguém fez nada contra esses atos dela, que deveriam hoje estar passíveis de representação, de outro tipo de improbidade e ninguém pediu também a prisão dela”, diz Cunha, rindo.

– “A defesa de Dilma indicou 48 testemunhas, 8 por decreto! E pediu perícia nos documentos do TCU! E ninguém pediu prisão dela por obstrução de Justiça.” Tudo verdade.

– “Eu não sou herói nem vilão do processo de impeachment. A ira do PT e de seus aliados pela perda das boquinhas me faz pagar um preço. Mas eu tenho a consciência tranquila de que livrar o Brasil de Dilma e PT será uma marca que eu tenho a honra de carregar.” Quem não teria?

– Cunha responde a primeira pergunta: “Como vocês viram, eu não renunciei.” Ele se recusou a responder se ainda tem condições de presidir a Câmara.

– Cunha responde sobre possibilidade de fazer delação premiada: “Eu não tenho crime praticado, não tenho o que delatar.” Era o que dizia Marcelo Odebrecht até completar um ano na cadeia. Na prática, porém, a delação de Cunha já começou, com a entrega de Jaques Wagner.

Homem-bomba! 

 

– Via Nani.

Maranhão demite diretor da TV Câmara após transmissão de pronunciamento de Cunha

O Diretor Executivo da Secretaria de Comunicação Social da Câmara dos Deputados, Claudio Lessa, foi demitido nesta terça-feira após a televisão da Casa transmitir o pronunciamento feito pelo presidente afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), Cunha está há um mês e meio impedido de exercer o mandato e, consequentemente, de continuar no comando da Câmara. Ainda assim, a equipe de televisão compareceu nesta manhã à entrevista concedida pelo peemedebista em um hotel em Brasília e transmitiu a fala dele, que durou mais de uma hora, na rede interna.

Responsável pela TV Câmara, Claudio Lessa é servidor de carreira e foi indicado para a diretoria da Secom por Cunha. Ele acabou demitido da função pelo sucessor do peemedebista na presidência, o deputado Waldir Maranhão (PP-MA), que está no posto de forma interina. Nesta segunda, em outra demonstração de força com Cunha, Maranhão retirou uma manobra que poderia ajudar o deputado afastado a escapar da cassação.

LEIA TAMBÉM:

Maranhão retira manobra que poderia reverter cassação de Cunha

Cunha diz que Wagner propôs 'acordão' e descarta renúncia

No pronunciamento realizado nesta manhã, Cunha se defendeu das ações a que responde na Justiça e no Conselho de Ética da Câmara e acusou o governo de tentar barganhar a sua absolvição no processo por quebra de decoro em troca do engavetamento do impeachment de Dilma Rousseff.

A declaração de Cunha foi transmitida ao vivo no site da Câmara dos Deputados e em um canal interno no YouTube. A medida provocou a reação de adversários do peemedebista, que pedem que ele devolva aos cofres da Casa o valor gasto com a transmissão.

Oficialmente, a assessoria da Câmara afirma que a decisão de Maranhão já estava tomada e que não está vinculada à programação desta terça-feira. Nos bastidores, no entanto, a demissão é justificada como uma forma de evitar que Cunha utilize a estrutura da Casa em benefício próprio.

O peemedebista está suspenso do mandato por, de acordo com o STF, usar o cargo para prejudicar as investigações da Lava Jato e o andamento dos trabalhos do Conselho de Ética. Nesta segunda, ele ingressou com um habeas corpus no STF pedindo para frequentar a Câmara para se defender no processo de cassação.

 

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Fonte: Blogs de Josias de Souza (UOL)

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