O que mais desespera no Brasil é a completa inversão de valores, por Rodrigo Constantino
Por Rodrigo Constantino
Nada é mais exasperante para as pessoas decentes no Brasil do que a completa inversão de valores, coisa que vem de longa data e culminou na chegada do PT ao poder. Que, por sua vez, foi o responsável por uma degradação bem mais acelerada de nossos valores, uma vez que o péssimo exemplo vinha de cima. Um presidente “popular”, defensor dos pobres, que não passava de um safado oportunista, chefe de quadrilha, que teve até a sede de seu instituto bancada por uma empreiteira. É o retrato da podridão nacional.
Mas não é o único. Basta ver as novelas da TV Globo para verificar como tudo é trocado em nosso país. O empresário precisa ser sempre um canalha, um traidor mentiroso, um ladrão. O idealista de esquerda é sempre o santo na história, aquele cheio de boas intenções que vai lutar contra os poderosos em nome da “justiça social”. Isso é bem mais velho do que o Chico!
Após décadas de lavagem cerebral esquerdista, os bandidos são vistos como “vítimas da sociedade”, enquanto os empreendedores são tratados como os verdadeiros bandidos. O sujeito honesto, trabalhador, que não pede nada ao estado, e que logrou êxito por mérito próprio é tido como “explorador”, além de “otário”, enquanto o “malandro” é quem segue os passos de Lula e faz de tudo para se dar bem na vida, não importando os meios.
Enfim, somos um país culturalmente destruído, tomado pela inversão de valores propagada por gente imoral, pérfida, que lota as hostes esquerdistas. E talvez não haja exemplo mais evidente do que a decisão de processar o cunhado da modelo Ana Hickman por homicídio doloso, quando ele simplesmente reagia a uma agressão que colocava em risco sua família. Já comentei aqui o assunto, mas volto a ele para divulgar esse trecho da entrevista que a modelo concedeu, desabafando sobre o absurdo da coisa:
A indignação da família é a de todos os brasileiros decentes, que não aguentam mais tanta inversão, tanta degradação moral. Falo até bastante de economia, que é minha formação, mas alguns leitores acham que deveria falar mais ainda de temas econômicos e não entrar tanto em temas culturais e morais. Discordo veementemente. Não vivemos nesse atraso, nessa miséria à toa, num vácuo de valores. É o arcabouço cultural que permite esse estrago todo por parte de uma quadrilha como o PT.
Enquanto não mudarmos essa cultura, não resgatarmos certos valores morais, nada vai melhorar muito. Tudo será cosmético, paliativo. A guerra é cultural. Quando predomina uma mentalidade de “malandragem”, quando bandidos são tratados como vítimas e vítimas como bandidos, quando toda a retórica esquerdista contamina os debates e a imprensa, não adianta falar de inflação ou privatização apenas. O buraco é bem mais embaixo!
O Brasil cansa. E cansa por conta dessa insistência em valores deturpados. Que tipo de mensagem estamos transmitindo aos nossos jovens? Que a honra não vale nada? Que a legítima-defesa é um crime? Que é errado defender seus familiares? Que o melhor é nunca confrontar um bandido, pois isso pode ser mais perigoso do que fazer tudo que ele manda? Que valores queremos deixar para nossos filhos? Esses aí que permitiram a chegada do PT ao poder e, com ele, a destruição total do país?
Aspectos da crise: a hegemonia dos irracionais
Por Roberto Rachewsky, publicado pelo Instituto Liberal
Com a atual crise aguda que vivemos no Brasil, ao mesmo tempo tão profunda e tão abrangente, não temos muito tempo para desperdiçar em conjecturas ou suposições. É preciso que sejamos objetivos, claros e diretos, tanto na identificação e análise das causas dos nossos problemas, quanto na proposição de soluções, sob pena de perecermos dada a sua gravidade.
Fica ainda mais evidente a nossa situação de penúria, se compararmos nosso desempenho em diversas áreas da atividade humana com o resto do mundo, onde a maioria dos países vem apresentando níveis de desenvolvimento apreciáveis. A dificuldade que vivemos no Brasil decorre da falência absoluta de um modelo de sociedade fundamentado no protagonismo do estado como agente promotor dos interesses individuais e do desenvolvimento social. Não há atividade humana no Brasil que não sofra com a ação direta do governo. Este Estado, abrutalhado, hipertrofiado e opressor, que sustenta-se através da violência contra aqueles a quem deveria servir, esgotou-se.
Aquela parte da sociedade que majoritariamente demanda que haja um estado onipotente e onipresente, que será habitado por aqueles que se acham capazes de oferecer o que é demandado pela população, não importando o “o quê”, o “quanto” e o “como”, precisa conscientizar-se da realidade. Tal onipotência e onipresença fazem com que a sociedade esteja submetida incondicionalmente à máquina estatal e às ideias daqueles que comandam o seu funcionamento, essa famigerada elite pseudointelectual que condiciona o pensamento dominante.
Não há como fazer com que uma estrutura do tamanho do estado brasileiro, com suas ramificações estaduais, municipais e para-governamentais funcione para o bem; e não há como evitar as consequências nefastas, quando ela funciona deliberadamente para o mal, que é o que tem acontecido no Brasil mais recentemente.
O Brasil atravessou mais de cinco séculos dominado por ideias erradas. Somos um povo eminentemente catequizado para desenvolvermos uma mentalidade coletivista e avessa ao uso da razão. Nossa formação foi feita por uma sucessão de escolas distintas, o catolicismo, o positivismo e o marxismo, que têm em comum a compreensão de que a consciência determina a realidade e que nada é mais ético do que o auto-sacrifício em nome do bem comum. Religião, racionalismo cartesiano e materialismo dialético podem levar uma nação à desintegração.
A crise aguda que experimentamos é apenas uma manifestação acentuada de uma crise crônica duradoura, existencial e filosófica, por conta de uma concepção de mundo equivocada, que tem uma imagem triste e desconfiada do ser humano, do conhecimento, da inovação e de tudo aquilo que a mente humana pode proporcionar de bem estar material, intelectual e espiritual para o indivíduo.
Nos últimos treze anos em que fomos governados pela esquerda sindical, podemos perceber que não é que eles não tenham consciência; eles têm. O problema é que a consciência do pessoal de esquerda é um circuito fechado, uma cápsula incomunicável com a realidade.
Esquerdistas distorcem, filtram e pervertem a realidade. A partir daí, raciocinam e agem causando todo tipo de catástrofes. Esquerdistas, portanto, precisam se apegar a dogmas porque não conseguem perceber os axiomas mais básicos. Não têm no que se fundamentar, a não ser em suposições e deduções concebidas hermeticamente, com base no nada, no vazio de suas mentes. A existência para o esquerdista é uma questão de ponto de vista. A lei da identidade, A = A, para um esquerdista é uma fórmula improvável. A consciência para um esquerdista é que define o mundo a sua volta.
Quando os esquerdistas negam os fracassos da sua ideologia, não é que eles não tenham memória ou que ela seria seletiva. É que eles não têm o que memorizar. A informação percebida por um esquerdista é um espasmo mental, não é o que acontece no mundo real, não é a verdade concreta, objetiva, porque essa não permeia seu aparato sensorial. A idealização do esquerdista é puramente utópica, ficcional. A mente de um esquerdista é como a caverna de Platão, uma projeção sombria do que ocorre no mundo, jamais a realidade nua, crua e dura como aquilo que o socialismo produziu.
A irracionalidade é isso, é a incapacidade do indivíduo para compreender que é preciso pensar, que a realidade é sua principal fonte de conhecimento e que a lógica serve para corroborar aquilo que percebemos, identificamos, conceituamos e integramos na forma de ideias. A racionalidade permite ao ser humano entender que precisamos pensar com independência e objetividade para mantermos a sua própria existência. Se a razão é a resposta epistemológica às nossas demandas existenciais, o autointeresse racional é a resposta ética a essas mesmas questões.
A razão e a ética permitem que compreendamos que a nossa vida e daqueles que amamos é o padrão de valor maior que podemos ambicionar. Sendo a nossa vida e a de quem amamos o maior valor que há, é compreensível que exaltar o autointeresse racional é promover a nossa própria existência. E se queremos garantir nosso direito à vida, precisamos usufruir do nosso direito à liberdade para podermos colocar em prática nossas ideias como bem entendemos, para podermos usufruir de tudo aquilo que pudermos construir como nossa propriedade, almejando satisfazer nossos propósitos de vida, por nós definidos como sendo o nosso caminho na busca da felicidade. Jamais poderemos defender estes direitos para nós, se não reconhecermos que os outros também são possuidores desses mesmos direitos. Também como nós, de forma inalienável.
Se quisermos reverter a trágica trajetória que temos percorrido como nação, para tentarmos construir uma sociedade civilizada baseada em direitos individuais em vez de privilégios coletivos, obtidos através da violência do estado, precisamos urgentemente reformular a matriz filosófica sobre a qual erigimos nossa comunidade, inaugurando um novo tempo, onde a racionalidade e o autointeresse predominem, emancipando o indivíduo para torná-lo efetivamente um cidadão livre, para que possa atuar como seu próprio representante no contexto social, a fim de garantir que ele seja o que deveria ser, um fim em si mesmo e não um instrumento para a simples satisfação dos demais.
Todas as crises que temos vivido, sejam elas crônicas ou agudas, têm uma origem principal, a aceitação complacente dos brasileiros de viver em uma sociedade governada por imorais irracionais.
Tirar o PT do poder é apenas um primeiro passo em uma longa jornada
Por Rodrigo Constantino
Não é pouca coisa. O PT é como um parasita que vinha destruindo cada célula de nossa República, espalhando a doença pelo país. Tinha de ser extirpado do organismo. Mas deixa sequelas. E não foi totalmente destruído. Nem perto disso. A célula-mãe pode ter sido eliminada, mas ela deixou inúmeros filhotes espalhados pela máquina estatal, pela imprensa, cultura, academia. Derrotar o PT numa batalha é uma coisa; vencer o petismo na guerra é outra, bem diferente. Estamos distantes disso, como argumenta o historiador Marco Antonio Villa em sua coluna de hoje:
Não há dúvida de que o Brasil vive a mais grave crise do período republicano. O país aguarda a conclusão do processo de impeachment para iniciar o longo e penoso processo de reconstrução nacional. O PT esgarçou os tecidos social e político a um ponto nunca visto. Transformou o Estado em correia de transmissão dos interesses partidários. E desmoralizou as instituições do estado democrático de direito.
O projeto criminoso de poder deixou rastros, por toda parte, de destruição dos valores republicanos. Transformou a corrupção em algo rotineiro, banal. A psicopatia petista invadiu, como nunca, o mundo da política nacional. Mesmo com as revelações das investigações dos atos criminosos que lesaram o Estado e os cidadãos, o partido e suas lideranças continuaram a negar a existência do que — sem exagero — pode ser considerado o maior desvio de recursos públicos da história da humanidade.
Não há qualquer instância do Estado sem a presença petista. Por toda parte, o PT foi instalando seus militantes e agregados. Transformou o governo em mero aparelho partidário — e isso sem que tenha chegado ao poder pela via revolucionária. Esta é uma das suas originalidades. Usou de todas as garantias da democracia para solapá-la.
Não chega a ser tão original assim quando pensamos em Gramsci, em Chávez na Venezuela, no “socialismo do século XXI”. Essa foi exatamente a estratégia usada: destruir a democracia de dentro dela. E o PT quase conseguiu o mesmo no Brasil. Ainda não sabemos ao certo se a ameaça foi mesmo afastada.
Como lembra Villa, as leis não valem para o PT como deveriam ou valeriam para outros partidos, tanto que mesmo com dois tesoureiros presos e outro sendo processado, a cassação do registro do partido nem passa pelo debate político nacional.
Ninguém precisa achar que a polícia brasileira era decente ou razoável antes do PT. Mas nunca antes na história deste país se viu uma crise de representação dessa magnitude. O povo não enxerga na classe política nenhum elo com seus interesses. As instituições estão carcomidas, e poucas vezes tivemos uma elite tão desprovida de consciência cívica.
“O impeachment de Dilma Rousseff — que é muito importante — precisa ser complementado por ações que levem a uma reestruturação do Estado, das suas instituições e, principalmente, de suas práticas”, conclui Villa. Resta saber se os agentes políticos se mostrarão à altura do desafio, ou se deixarão seus objetivos míopes de curto prazo falarem mais alto.
A julgar pela disputa pelo comando da Câmara dos Deputados, fica difícil alimentar muitas esperanças…