Lula desce ao inferno da ‘República de Curitiba’... Lula está perdido: ‘Querida, deu errado!’ ...
O confisco da conversa entre o padrinho e a afilhada que garantiu dez minutos de fama ao mensageiro Bessias não melhorou a vida de Lula. Vai certamente piorá-la a devolução ao juiz Sérgio Moro, igualmente determinada por Teori Zavascki, dos casos de polícia que protagonizou.
A gravação confiscada pelo ministro do Supremo é apenas uma das incontáveis evidências de que o ex-presidente se enfiou até o pescoço no maior esquema corrupto da história. A Lava Jato já descobriu o suficiente para provar o seu envolvimento em crimes bem mais cabeludos que obstrução da Justiça.
O que dirá Lula, por exemplo, quando confrontado com a verdadeira história do sítio em Atibaia e do triplex no Guarujá? Se não encontrar álibis menos mambembes, logo será transformado no maior exemplo de que, na República de Curitiba, o Código Penal vale para todos. Lá os fora-da-lei não têm vez.
Lula desce ao inferno da ‘República de Curitiba’, POR JOSIAS DE SOUZA (UOL)
Hoje em dia, segundo uma crença que se espraia por toda a oligarquia nacional, Curitiba é outro nome para inferno. Inquéritos sempre existiram. A novidade —que não começou agora, mas ganhou escala industrial com a Lava Jato— é que o investigador, o procurador e o juiz passaram a investigar, procurar e julgar como se todos fossem iguais perante a lei.
“Sinceramente, eu tô assustado com a República de Curitiba!”, exclamou Lula no grampo que o juiz Sérgio Moro mandou instalar em março, quando ainda ajustava o nível das labaredas reservadas ao pajé do PT. Para fugir da grelha do doutor, Lula topou tudo, inclusive virar subordinado da sucessora que carregara nos ombros em duas eleições. Trocou a condição de ex-presidente pela de piada.
Depois de fracassar no sonho do poder eterno, Lula tentou pelo menos evitar a realização dos seus pesadelos. Não deu. Na noite passada, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, enviou a anedota para o inferno. E Lula amanhece nesta terça-feira (14) sob o tridente do doutor Moro. Junto com ele, desceram do Supremo à grelha três ex-ministros petistas: Edinho Silva, Jaques Wagner e Ideli Salvatti.
Brasília conviveu razoavelmente com a Justiça convencional, que desafiava autoridades, mas não atentava contra a integridade do sistema inteiro. O petismo aguentou os seus anos de decomposição escorando suas desculpas no cinismo e protegendo seu líder atrás do escudo do “eu não sabia”. Mas a Lava Jato abalou tradições e costumes. Foram em cana pessoas que se imaginavam acima da lei.
O inferno registra altos índices de produtividade. Em dois anos, Sérgio Moro proferiu 105 condenações. Somam 1.140 anos, 9 meses e 11 dias de prisão. A frase “onde é que isso vai acabar?” perdeu momentaneamente o sentido. Até onde a vista alcança, não acaba. Ou por outra: Lula chegou, finalmente, a uma República onde o descalabro costuma acabar na cadeia.
Ricardo Noblat: ‘Querida, deu errado!’ Lula está perdido. E disso dão testemunho os que convivem com ele, e os que o escutam falar nos raros atos públicos a que comparece
Publicado no Blog do Noblat
Primeiramente… Se Dilma tivesse chances de voltar ao cargo do qual foi afastada, ela não acenaria, como o fez em entrevista à TV Brasil, com a proposta de convocação de um plebiscito para que os brasileiros digam se são favoráveis a uma eleição presidencial antecipada. Caso ocorresse, a eleição serviria à escolha de um presidente para completar o mandato de Dilma. O que significa…
Que Dilma tem plena consciência de sua impossibilidade de governar até o dia 31 de dezembro de 2018, como deveria. O impeachment passou na Câmara com os votos de 71,5% dos 513 deputados, obrigando-a a se afastar do cargo. Foi admitido no Senado com os votos de 67,9% dos 81 senadores. Esse percentual tem tudo para ser maior no ato final do julgamento dela.
Dilma caiu porque pedalou contra o Tesouro, fez um governo desastroso e perdeu apoio político. Quer voltar por pouco tempo, preocupada apenas com sua biografia. “Querida, deu errado. Você só tem de escolher por qual porta sair”, ensinou Lula a Dilma no dia em que ela se despediu do Palácio do Planalto. Hoje, refugiada no Palácio da Alvorada, espera que a sorte mude seu destino.
Para ela, bem que os brasileiros poderiam se encantar outra vez com a ideia de Diretas, já! Ou seja: nem Dilma, nem Temer, mas um terceiro. E já! E assim, devolvida temporariamente ao poder, Dilma sairia mais tarde dali pela porta de quem abdicou de direito adquirido pensando acima de tudo no país – Dilma, a generosa; Dilma, a abnegada; Dilma, a estadista.
Haveria outra porta pela qual a ex-presidente poderia sair: a do rotundo fracasso do governo provisório de Temer. Ela nunca admitirá que torça para que Temer fracasse, mas não faz outra coisa, não deseja outra coisa. Dane-se o país se esse for o preço a pagar para dar um lustro no que se dirá de Dilma no futuro. Golpeada, Dilma caiu, mas o golpista-mor, também. Vítima e algoz. Lorota!
Temer é visto com muita desconfiança, e é natural que seja. Ele é do PMDB, partido tão encrencado na Lava-Jato quanto o PT. Por duas vezes foi vice de Dilma, responsável, assim como Lula, pela dramática situação econômica, política e moral que o país atravessa. Temer é uma esfinge. Mas Dilma, não. Decifrada, a maioria dos brasileiros deu-lhe as costas.
Lula está perdido. E disso dão testemunho os que convivem com ele, e os que o escutam falar nos raros atos públicos a que comparece. No da última sexta-feira, que lotou apenas quatro quadras da Avenida Paulista, no centro de São Paulo, nem Lula nem ninguém perdeu tempo em comentar a proposta de plebiscito com diretas, já. Daqui a dois anos haverá diretas. Antecipá-las para quê? Para o PT perder?
Agora a derrota seria certa. Este ano ou em 2018, não se sabe se o PT contaria com Lula como candidato. Sérgio Moro deve saber. Ou o ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal. Lula poderá escapar de ser preso para que não se dê ao PT um aspirante a mártir. Não mais uma jararaca de vida curta, talvez um São Sebastião flechado. Mas livrar-se da Lava-Jato, esqueça. Ele não se livrará.
Se Temer não for alvejado por uma bala perdida ou, pior, certeira, dessas que ultimamente produziram severo estrago na imagem de influentes caciques do PMDB, seguirá capengando na direção do seu Santo Graal – um ajuste nas contas públicas e a aprovação de algumas reformas econômicas. É pouca ambição? Não, não é. Nas atuais circunstâncias, é muita.
Cunha segue mesma trilha que abriu para Dilma, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)
Quando percebeu que seria implodido pelos desdobramentos da Operação Lava Jato, Eduardo Cunha buscou uma aliança com Dilma Rousseff. Conversaram. Chegaram a um pré-entendimento. Ela lhe forneceria os três votos do PT no Conselho de Ética. E ele manteria na gaveta o pedido de impeachment. Súbito, o PT decidiu roer a corda. E Cunha avisou aos aliados que explodiria o governo. Imaginava-se portador de um destino. Acabou virando uma fatalidade.
Suprema ironia: Cunha percorre o mesmo caminho que havia traçado para Dilma. Com os seus empurrões, ela foi afastada da Presidência da República. Mas o STF também o expurgou da presidência da Câmara. Ela está exilada no Alvorada. Ele, desfruta das mordomias da residência oficial. Ela foi traída por aliados. Ele, que esperava prevalecer no Conselho de Ética por 11 votos a 9, foi derrotado pelo mesmo placar graças a duas defecções: Tia Eron (PRB-BA) e, surpresa (!), espanto (!!), estupefação (!!!), até Wladimir Costa (Solidariedade-PA).
Dilma será julgada pelo plenário do Senado. Cunha, pelo plenário da Câmara. Ambos devem ser enviados para casa mais cedo. O nome do jogo mudou. Chama-se agora Opinião Pública. É mais um feito da Lava Jato: a Opinião Pública passou a ter alguma importância no Brasil. Mas convém adiar o estouro dos fogos. Vem aí a disputa pela cadeira de Cunha.
Antes mesmo da palavra final do plenário, os aliados de Cunha, já meio cansados de tanta lealdade, se equipam para eleger um substituto. Essa tribo é conhecida. É gente que não adiaria ou cancelaria nenhuma nova mumunha, nenhum novo conluio em nome do prestígio tardio da Opinião Pública. Vêm aí fortes emoções. Convém retirar as crianças da sala.
Fernão Lara Mesquita: Quem é quem no drama brasileiro?
Publicado no site vespeiro.com
Como uma trovoada distante o aumento de R$ 59 bilhões do funcionalismo relampejou no céu do “jornalismo de acesso” e logo se apagou quase sem ruído. Não se sobrepôs sequer à “propina” do dia esse prêmio aos culpados que aumentou em 1/3 a pena de quase 200 milhões de inocentes. Lindbergh Farias, Fernando Collor, Vanessa Grazziotin, Eduardo Cunha e sua gangue, Jandira Feghali, Sérgio Machado, todos suspenderam por um minuto as hostilidades para apertar juntos o “sim”. E o “dream team” engoliu com casca e tudo essa terça parte do maior déficit de todos os tempos na largada da missão impossível para deter a mais desenfreada corrida de volta à miséria da história deste país. Tudo tão discreto que a manobra mal foi percebida na fila de seis meses de espera pelo exame de câncer do SUS, que é onde se “zera” esse tipo de fatura.
Quantos serão, dentre os 11,1 milhões de funcionários que comem 45% do PIB, aqueles que Ricardo Paes de Barros afirma que pesam o bastante para distorcer a média nacional de desigualdade de renda? Quanto custam os “auxílios” todos que o Imposto de Renda lhes perdoa? E os “comissionados” que mais que dobraram o gasto público sem que mudasse um milímetro a quase miséria dos médicos e professores concursados? Como vivem os aposentados e pensionistas sem cabelos brancos que, 900 mil apenas, pesam mais que os outros 32 milhões que pagaram Previdência a vida inteira somados?
Quanto, afinal de contas, o Brasil com “lobby” suga do Brasil sem “lobby”? A esta altura do desastre, todo debate que se desvia dessa pergunta é enganação; toda pauta que não se oriente por essa baliza da desigualdade perante a lei é uma traição aos miseráveis do Brasil.
O mais é circo. Eduardo Cunha e o PT nos provam, acinte por acinte, o quão livre e indefinidamente se pode escarnecer da lei neste país, desde que se esteja posicionado na altura certa da hierarquia corporativista. Variam as razões alegadas para se locupletar, mas ninguém nega que é disso mesmo que se trata. São meses, são anos – são séculos, considerado o Sistema desde o nascimento – desse joguinho de sinuca silogística invocando pedaços de fatos para negar os fatos, meias-verdades para servir à mentira, cacos de leis para legalizar o crime e o país inteiro esperando para ver o que vai sobrar.
O jogo é esse porque nós o aceitamos. Não faz muito o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação fez a compilação: até 2014, já tinham sido editadas 4.960.610 leis e variações de leis para enquadrar nossa vida do berço ao túmulo desde que a Constituição foi promulgada, em 1988. 522 a cada 24 horas destes 27 anos. 320.343 eram normas tributárias, 46 novas a cada dia útil!
É este o truque: quem pode estar em dia com tudo isso no país onde a única função discernível do aparato legal é tornar impossível de cumpri-lo?
Não fazer sentido é o elemento essencial do Sistema. Daí a palavrosidade oca valer mais que os fatos nos nossos plenários e nos nossos tribunais. Se houvesse um meio racional de escapar, uma forma segura de se prevenir, uma regra que pudesse ser cumprida, perdia-se o caráter de onipotência da autoridade constituída. Tem de ser irracional. Tem de ser impossível de escapar deste “vale de lágrimas” a não ser pela unção dos “excelentes” com ou sem batina, ou toda essa indústria se esboroa. É ao que sempre estivemos acostumados…
Esboça-se uma resistência, mas ela é isolada. Só vai até onde pode ir o pedacinho são da 1.º instância do Judiciário. E quem mais a saúda é quem mais a apunhala. Até agora, nem de leve foi arranhada a isenção a essa condição de permanente exposição à chantagem em que vivemos para os que a desfrutam por pertencer a corporações privilegiadas. A “lista de Teori” continua trancada e secreta. Foram afastados, sujeitos a confirmação, os que destruíram a obra de toda uma geração, mas não por isso; porque ficou claro que sua permanência implicaria a morte da galinha-dos-ovos-de-ouro. Mesmo assim, vultos sinistros nadam por baixo da decisão final do Senado. Só quem desafia a hierarquia do Sistema está sob ameaça real de remoção. Até Teori é objeto de chantagem. Mas o Sistema mesmo nunca esteve em causa.
Os “grandes empresários”? Estes jamais estiveram realmente isentos. “Culpados”por definição como somos todos e eles, mais que os que jogaram menos, são os“hereges” da vez. Festeje-se com realismo, portanto. Neste nosso modelo lusitano o Tesouro Real sempre saiu dos seus apertos com grandes Autos-de-Fé em que redevora as “nobrezas” que fabrica.
“Eles”, os “nós” dos comícios do Lula, estes, sim, continuam sem crise como sempre. São regidos por leis e julgados por tribunais que só valem para eles. Têm regimes de trabalho, remuneração e aposentadorias só seus. Entram no seu bolso a qualquer hora e sem pedir licença.
Dessa casta fazem parte réus e juízes da presente refrega. Desde que a corte de d. João VI desembarcou no Rio de Janeiro chutando os brasileiros para fora de suas casas, seguem, todos, deitados no berço esplêndido da indemissibilidade para todo o sempre que se auto-outorgaram, tão “blindados” que já nem uns conseguem expulsar os outros quando a disputa pelos nossos ossos os leva a considerar exceções à sua regra de ouro. Reagem com fúria se alguém tenta devassar-lhes os segredos, vide Gazeta do Povo x Judiciário; Estadão x Sarney.
O “ajuste” começa pelo ajuste do foco. Por mais heroico que seja o esforço, não se porá o país na reta correndo atrás de tudo o que essa máquina de entortar fabrica em série. Deixada como está, fará do herói de hoje o bandido de amanhã, sejam quantas forem as voltas no mesmo círculo. É preciso rever a conta que está aí pela ótica da igualdade perante a lei e, a partir daí, inverter, de negativo para positivo, o vetor primário das forças que atuam sobre o Sistema. O voto distrital com “recall” acaba com essa indemissibilidade e, com isso, põe o poder nas mãos do povo. Daí por diante tudo passa a ser feito pelo povo e para o povo.
Aí, sim, funciona.