Lula agora fala sobre ‘prisão’ e se faz de vítima, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)
Lula está “chateado”. Revelou o motivo à multidão que o ouvia discursar num ato anti-Temer, na noite desta sexta-feira. “Eu tô chateado porque todo dia eu leio uma matéria que diz assim: ‘Eles querem prender o Lula, eles querem encontrar alguma coisa do Lula, eles querem que alguém delate o Lula’.”
Horas antes do discurso de Lula, o procurador-geral Rodrigo Janot acrescentara uma novidade ao rol de chateações do orador. Ele solicitara ao STF que enviasse para Curitiba a denúncia em que Lula é acusado de participar de uma trama para comprar por R$ 250 mil o silêncio do delator Nestor Cerveró.
Nas mãos de Sérgio Moro, Lula terá mais razões para temer a prisão. Os indícios colecionados contra ele são abundantes. No caso do suborno oferecido a Cerveró em troca de silêncio, o delator de Lula é ninguém menos que Delcídio Amaral, um ex-senador petista com quem cansou de tricotar.
O cotidiano de Lula é uma sucessão de poses. Ele faz pose ao acordar, ao escovar os dentes, ao tomar café. Difícil saber quando as emoções de um personagem assim são ou não representadas. No comício desta sexta, Lula escolheu exibir à plateia sua pose de vítima.
“A paciência que eu tenho, eu herdei da minha mãe”, ele disse, voz embargada. “Muitas vezes, ela não tinha comida para colocar na mesa. E ela não reclamava, dizia que no dia seguinte ia ter. E todo dia eu leio uma coisa. É o meu filho que é dono da Friboi, é o meu filho que tem avião, é o Lula que não sei das quantas… É o PT que é uma organização criminosa.”
Lula desrespeita a memória de dona Lindu, sua mãe, ao mencioná-la num contexto em que mistura boatos ridículos que circulam internet sobre a fortuna do filho Fábio Luís e a vasta folha corrida do seu partido. No momento, o filho de Lula que frequenta as manchetes em apuros é Luís Cláudio, o caçula. Nada a ver com boatos.
Luís Cláudio enroscou-se no Operação Zelotes. De início, era investigado por ter recebido R$ 2,5 milhões da firma Marcondes & Mautoni, acusada de comprar medidas provisórias. Ao apalpar os dados bancários do caçula de Lula, porém, a PF verificou que transitaram por sua conta bancária e de sua empresa cerca de R$ 10 milhões. Apura-se a origem da verba. Decerto haverá uma explicação.
Na sua superioridade moral auto-presumida, Lula diz que tem uma coisa que ele não perdoa. Repetiu um par de vezes: “Não perdôo, não perdôo.” O quê? “A atitude de vazamento ilícito de conversas minhas no telefone, como foi feito algum tempo atrás”, disse ele. “Sinceramente, não admito.”
Lula construiu uma tese: “Aquilo teve o objetivo tentar execrar a minha imagem, pra eu não ser presidente.” E completou, alteando a vou rouca: “Quanto mais eles provocarem, mais eu corro o risco de ser candidato a presidente em 2018.''
A tese de Lula não fica em pé. O vazamento do grampo não foi ilegal. Liberou-o o doutor Sérgio Moro. A correção da providência é algo que o STF ainda não julgou. Quanto ao objetivo, não há dúvida: Moro foi movido pelo desejo inconfessável de mostrar ao país que Lula topara virar ministro de Dilma para obter o escudo do foro privilegiado.
Os diálogos deixaram Lula e Dilma nus em praça pública. Num dos grampos, Lula diz para Dilma: “Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado. Somente nos últimos tempos é que o PT e o PCdoB começaram a cordar e começaram a brigar. Nós temos um presidente da Câmara fodido, um presidente do Senado fodido. Não sei quantos parlamentares ameaçados. E fica todo mundo no compasso de que vai acontecer um milagre e vai todo mundo se salvar. Sinceramente, eu tô assustado com a República de Curitiba.”
Noutro trecho, percebe-se que o idealismo de Lula, sua vontade de servir o país como ministro, sua entrega altruísta ao bem público, tudo isso estava impulsionado pelo pavor de ser preso e pela ânsia de se esconder sob as togas dos ministros do STF.
Num dos áudios mais eloquentes, Dilma flerta com a falsidade ideológica ao mandar elaborar com antecedência o termo de posse que impediria os agentes federais de executarem uma eventual ordem de prisão expedida pelo juiz da Lava Jato contra Lula. Vale a pena relembrar o teor da fita:
Dilma: “Lula…”
Lula: Oi querida
Dilma: Chô te falar uma coisa.
Lula: Hãã…
Dilma: Eu tô mandando o ‘Messias’, junto com um papel, pra gente ter ele. E só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse.
Lula: Hã, hã…
Dilma: Tá?
Lula: Ah, tá bom, tá bom.
Dilma: Só isso, ele tá indo aí.
Lula: Tá bom, tô aqui, fico aguardando.
Dilma: Tchau.
Lula: Tchau, querida.
Poucas horas depois, sem saber que sua voz soara na escuta da Polícia Federal, Dilma concedeu entrevista no Planalto. A certa altura, perguntaram-lhe se a nomeação de Lula para a Casa Civil da Presidência destinava-se a retirá-lo do alcance da caneta do doutor Moro. E Dilma:
“Vamos falar a verdade: a vinda do Lula para o meu governo fortalece o governo. Tem gente que não quer que ele seja fortalecido. O que eu posso fazer? A troco de quê eu vou achar que a investigação do juiz Sérgio Moro é melhor do que a investigação do Supremo? Isso é uma inversão de hierarquia, me desculpa!”
O resto é história. Mesmo nomeado por Dilma, Lula não conseguiu sentar-se na cadeira de ministro. Sua pupila caiu antes. Agora, a caminho da “República de Curitiba”, faz pose em comício. Mas sabe que um político não pode ser apenas uma sucessão de poses. É preciso que por trás da pose exista uma noção qualquer de honestidade.
Só Dilma e alguns fanáticos acreditam numa possível volta de Dona Doida. Lula não grita "Fora Temer" ... (por REINALDO AZEVEDO)
Se Dilma não fosse tão cabeçuda, tão turrona, eu teria até um pouquinho de pena dela. Acontece que a mulher não deixa. Ela é tão escandalosamente tola na relação com o PT que chega a ser irritante. Vamos pensar.
Nesta sexta, houve manifestação contra o governo Temer em quase todas as capitais do país. A maior foi em São Paulo. Ocupou quatro quarteirões da Paulista, numa massa rarefeita. Os organizadores anunciaram 100 mil pessoas. Bem, com boa vontade, havia lá umas 20 mil. Os petistas não enganam nem os próprios militantes.
E olhem que Lula, a estrela maior, anunciou presença e, de fato, discursou. Dilma é politicamente xucra; ele não! Atenção! O chefão do PT não gritou “Fora Temer”. Até porque Lula tem a esperança de que o “Dentro Temer” possa ainda beneficiá-lo. Vamos, então, pôr os pingos nos is.
Atenção! O PT que pensa já desistiu do “Fora Temer” e não quer nem ouvir falar em “novas eleições”. O PT que tem miolos está se preparando para 2018. Quem é antipetista tem de se preparar é para enfrentar o partido que raciocina, não o que rumina a derrota. Explico melhor.
A carta
O PT e os ditos movimentos sociais levaram Dilma a se comprometer em assinar um carta que anuncia a conversão de seu governo à esquerda caso ela sobreviva ao impeachment. Atenção! Ela só volta à Presidência por vontade dos senadores, mas estaria assumindo um compromisso com os esquerdistas. Resumo da ópera: só ela acredita que essa conversão poderia levá-la de volta ao Planalto. Ao forçá-la a fazer esse movimento, os petistas a fazem assinar a sentença de morte.
Os lunáticos
Os dilmistas — uma minoria de lunáticos no PT — afirmam que a presidente afastada “aceitaria” (podem rir!!!) convocar um plebiscito com vistas a novas eleições. Assim, caso fosse reconduzida ao Palácio, aceitaria a consulta popular. Pois é… Lula já deixou claro que não quer nem ouvir falar dessa história, num sinal de que louco não é.
Schopenhauer
Entre quatro paredes, os petistas do núcleo duro só não chamam Dilma de Schopenhauer… Por quê? Lula já dá de barato que Temer ficará na Presidência até 2018 e conta com ele para fazer o ajuste de que o país precisa. Uma eventual eleição agora o obrigaria a disputar a Presidência. Se derrotado, seria o fim da linha. Se vitorioso, o que é improvável, também.
O pior
Os petistas que pensam (não é o caso de Dilma), ainda que coisas malignas, ponderam que o pior cenário para o partido seria a volta de Dona Doida ao poder. A simples piora das expectativas conduziria o país à ruína, sem contar que ela reassumiria como refém dos movimentos de esquerda.
O que quer o PT?
Mas, então, o que quer o PT? Ora, manter o país num clima de mobilização constante até 2018, jogando nas costas de Michel Temer a responsabilidade por todos os desacertos. Pensem: por que a CUT rejeitou a proposta de greve geral de Rui Falcão? Vagner Freitas, o presidente da entidade, explicou: porque, até agora, o presidente interino não tomou nenhuma medida que a central possa tachar de “contra os trabalhadores”. De fato, o PT, hoje em dia, torce por cortes em programas sociais porque sabe que, sem isso, fica difícil levantar uma bandeira.
A aposta
A aposta do PT, hoje em dia, é no desgaste de Michel Temer. O núcleo duro do partido chegou à conclusão de que essa é a única chance de sobrevivência do partido. A volta de Dilma corresponderia a condenar a legenda à morte.
Mas então...
Mas, então, nós, os que não somos petistas, não deveríamos torcer por isso? Não! O Brasil é maior do que o PT. O partido morreria, sim, mas o país, que já vive uma crise de dimensões inéditas, tenderia à ingovernabilidade.
Dilma sabe disso?
Dilma sabe que o PT não quer a sua volta? Ela sabe, sim, mas não se conforma. É por isso que, à diferença do que reza a lenda, a Afastada e Lula se odeiam. Ele tem a certeza de que ela conduziu o PT à ruína. E ela tem a certeza de que nada mais fez do que dar sequência à obra do mestre. Quem está certo? Os dois!
Em suma…
Lula não gritou “Fora Temer” porque sabe que a sua única chance de sobrevivência está no “Dentro Temer”. Já deu início à campanha eleitoral. O chefe inconteste do partido que comandava a organização criminosa que tomou conta do estado brasileiro ainda teve a cara de pau de chamar os deputados de picaretas, relembrando frase célebre de 1994.
Pois é… Vinte e dois anos depois, sabemos que o partido de que ele é o líder máximo comandou o maior assalto aos cofres públicos de que se tem notícia.
Eis Lula, o que não é… picareta!
O recado desta a sexta a Temer das esquerdas “anorgasmáticas”
Não importa o que faça o presidente, as esquerdas estarão na rua gritando o seu bisonho “Fora Temer”. As manifestações mixurucas desta sexta-feira deixaram isso muito claro. Foram alimentadas pela falácia. A palavra de ordem principal era a rejeição aos cortes de benefícios sociais. Não houve nenhum até agora. Quem passou o facão nas verbas da área foi a própria Dilma, no Orçamento de 2016.
Entenderam o ponto? Fazendo ou não fazendo isso ou aquilo, os de sempre, como diria Louis, o policial de Casablanca, estarão nas ruas. Ou vocês acham que há resposta que contente Guilherme Boulos?
Esse Yasser Arafat do MTST é alimentado pelo sentimento de derrota. Sem isso, ele não consegue mobilizar os seus fanáticos, com o outro não conseguia. Lembram-se? Quando Israel decidiu conceder a Arafat 95% do que ele pedia e quando estava prestes a fazer um acordo, que chegou a ser anunciado, o homem descobriu que assinava a sua sentença de morte política. Recuou e convocou uma nova intifada.
Assim são as esquerdas, ora bolas! Querem os seus no poder porque precisam das tetas do estado, mas estarão sempre exercitando a insatisfação como princípio. O único gozo verdadeiro de um esquerdista, sei que parece exagerado, mas é fato, é matar pessoas em processos revolucionários. Isso à parte, viverá numa eterna excitação sem conclusão. Assim, nada vai lhes satisfazer os apetites.
Por isso Temer tem de ser ousado, sim, e encaminhar o que tiver de ser encaminhado. A cada vez que ceder às esquerdas, estará dando um tiro no próprio pé. Assim, que não tenha receio de avançar nas privatizações, nas reformas que tiverem de ser feitas — inclusive a da Previdência —, no enxugamento da máquina do estado.
E que dialogue o máximo possível com a sociedade, mantendo-a informada sobre a herança maldita deixada por Dona Doida.
Que o presidente não hesite um só minuto. Boulos estará sempre nas ruas. É sua profissão. João Pedro Stedile estará sempre fechando alguma estrada. É sua profissão. Petistas estarão sempre exibindo a sua excitação “anorgasmática” em algum lugar. É sua condenação. Afinal, a função de um petista é ser… petista.
Esse é o recado desta sexta-feira. Que os protestos mixurucas iluminem o presidente.
A lembrança que vem agora é de postura, não de conteúdo. Quando Margaret Thatcher percebeu que as esquerdas e os trabalhistas não queriam negociar com ela, mas apenas derrubá-la, perdeu a inibição e fez a coisa certa.
Que Temer pise fundo! Sem concessões!
Em 31 de julho, milhões de brasileiros vão anunciar nas ruas o início do último agosto de Dilma em Brasília (por AUGUSTO NUNES)
O segundo mandato que começou oficialmente em janeiro de 2015 morreu de calhordice em dezembro de 2014. O outono da hegemonia lulopetista começou no verão deste ano, que também antecipará a chegada do mês dos furacões políticos: agosto de 2016 começará em 31 de julho, com a volta às ruas dos milhões de manifestantes que representam a imensa maioria do povo brasileiro. Segundo o comunicado dos organizadores da mobilização, serão três as bandeiras desfraldadas em outro domingo histórico:
- Aprovação do impeachment de Dilma Rousseff no Senado (marcada para dia 2 de agosto);
- Apoio perene à Operação Lava Jato e a todos os agentes da Justiça Federal e do Ministério Público Federal;
- Prisão de todos os políticos corruptos, independentemente do partido. Chega de corrupção e de impunidade.
Entre março de 2015 e março passado, cinco domingos mudaram os rumos do país. Portentosas manifestações de protesto transformaram a Operação Lava Jato em patrimônio nacional, acuaram a seita lulopetista, obrigaram a Câmara a aprovar o impeachment de Dilma Rousseff, forçaram o aval do Senado ao julgamento da governante fora da lei e despejaram do Planalto a alma penada que hoje assombra o Palácio da Alvorada. Caberá ao sexto domingo transmitir a advertência aos senadores pendurados no muro: urnas punem os que ousam zombar da fonte de todo o poder. O eleitorado castigará severamente quem apoiar a exumação da Era da Canalhice.
As multidões vitoriosas não tomaram praças e avenidas para reivindicar a ascensão de Michel Temer, mas para exigir que Dilma, Lula, o PT e seus comparsas dessem o fora. O Brasil decente endossou a posse do candidato a vice-presidente eleito pela coligação PT-PMDB porque assim determina a Constituição. Os ministros demitidos por tentativa de obstrução da Justiça fizeram o que foi feito por Lula, Dilma, o PT e seus comparsas. Todos temem a República de Curitiba porque agiram juntos no esquema corrupto concebido pelo chefão para saquear a Petrobras. Que sejam todos engaiolados. O resto é conversa de meliante.
Até agora, Temer não apareceu nas patifarias do Petrolão. Em menos de um mês, José Serra revogou a política externa da cafajestagem, Henrique Meirelles provou que existem saídas para a crise, abriu-se a malcheirosa caixa-preta da TV Brasil, fechou-se a torneira que irrigava as contas bancárias dos abutres da esgotosfera. Parece pouco? É o suficiente para confirmar que nenhum governo consegue ser mais apavorante que o bando de ineptos e larápios que controlou o país durante 13 anos.
Quaisquer que sejam os caminhos que levarão para longe do abismo, todos começam pelo sepultamento definitivo da aberração que arrasou o Brasil. Dilma quer voltar porque lhe faltam neurônios para entender que foi reduzida a nada. O PT quer ressuscitá-la para corrigir os erros arrolados na “autocrítica” que revelou sem rodeios o sonho que persegue: fazer do Brasil uma Cuba mais alta e mais gorda que zurra em mau português. Confira o trecho do documento que condensa a confissão dos crápulas:
“Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de 5 verbas publicitárias para os monopólios da informação”.
A miragem autoritária foi pulverizada pela oposição real na impressionante mobilização de 13 de março. Os stalinistas de chiqueiro não dormem direito ao lembrarem o que viram naquele domingo. Serão condenados à insônia eterna pelo que verão em 31 de julho.
Chilique de Janot é irrelevante; ele deveria ter advertido Dallagnol, que abraçou a tese do PT! (REINALDO AZEVEDO)
Muito ruim a entrevista de Rodrigo Janot, procurador-geral da República, sobre o vazamento dos pedidos de prisão de José Sarney, Romero Jucá e Renan Calheiros. Ele sabe que a coisa caiu como uma bomba nos meios jurídicos, e, para muita gente, uma luz amarela se acendeu: resta a firme impressão de que o Ministério Público Federal se entende como um Poder acima dos Poderes. Desde quando, numa democracia, dez ministros do Supremo são informados pela imprensa que o MPF quer prender, entre outros, o presidente do Poder Legislativo? Renan pode até merecer. Mas não é assim que se faz.
Janot negou que o vazamento tenha partido da Procuradoria-Geral da República, mas disse que vai apurar a origem. Se for o MPF, prometeu, haverá punições. Mas aproveitou para mandar um recado malcriado ao ministro Gilmar Mendes, sem citar o nome, cobrando serenidade e isenção. Qual? Aquela que se tem percebido no Ministério Público? Devagar com o andor, doutor! O pedido de prisão era conhecido pelo MPF e por Teori Zavascki. Todos sabem que não foi o ministro que vazou. Goste-se ou não dos seus juízos, ele não antecipa nada nem ao próprio espelho. É evidente que a fonte de vazamento é o MPF.
Janot fez uma coisa estranha: negou que seja candidato à Presidência da República. Como quase ninguém fala disso; como essa é uma hipótese considerada por muito pouca gente; como seu nome não aparece nem nas simulações de pesquisas eleitorais; como, que se saiba, ele não tem nem filiação partidária, praticamente ninguém lida com essa possibilidade.
Ou por outra: ao negar, Janot se lança candidato à Presidência da República. Atenção! O Ministério Público Federal começou a se enrolar na sua própria onipotência.
Cadê a bronca?
Janot deveria ter aproveitado o seu momento de destampatório para dar uma bronca pública em Deltan Dallagnol, o jovem e buliçoso procurador que precisa envelhecer um pouco com urgência. O rapaz tem de saber que o diabo é diabo porque é velho, não porque é sábio. E ele foi um tolo na entrevista que concedeu à Folha desta sexta.
Dallagnol, na prática, justificou os vazamentos que Janot condenou e os chamou de “crimes”; deixou claro que só reconhece como legítima uma resposta do Supremo — dizer “sim” às prisões —, fez a defesa de um projeto de lei, deu-se a digressões sobre o papel do Congresso, chamou prerrogativas de parlamentares de ardil criminoso e, pior de tudo!, aderiu à tese petista de que um grupo de atuais governistas quer interferir na Lava-Jato, o que, até agora, não se verificou.
Com a vocação dos messiânicos, Dallagnol deixou claro que ninguém presta — nem o Supremo caso não faça o que ele quer — e que a única segurança dos brasileiros é o Ministério Público.
É evidente que é preciso repudiar tal postura. Já afirmei aqui e reitero: ela não desestabiliza o governo Temer, como apostam os petistas. Ela desestabiliza a democracia. Daqui a pouco, Dallagnol vai quer ser o único membro de um quarto Poder: o SPF (Supremo Procurador Federal).
Infelizmente, a entrevista de Janot diz uma coisa, e a de Dallagnol, o seu contrário. Um diz falar em nome do império da lei; o outro, claramente, flerta com atalhos. Aliás, a própria entrevista já é um desses atalhos lamentáveis.
Esse rapaz pode e deve trabalhar mais. Mas deveria fazer um silêncio obsequioso. O seu negócio é investigar e buscar provas. Ele pode abrir mão de sua vocação pastoral ou sacerdotal. Para ser um teórico da democracia, ainda tem de comer muito feijão.
Se der para não repetir as bobagens do PT, melhor!
Vá estudar, Dallagnol! As suas intenções são boas. A sua bibliografia pede mais dez anos de leitura
Cada um faça a análise que quiser do comportamento recente de membros do Ministério Público Federal. Tenho a minha e me atenho à objetividade dos fatos. Se Dilma e o PT anunciam que se deu “um golpe” no Brasil para controlar a Lava-Jato e se o procurador Deltan Dallagnol concede uma entrevista à Folha fazendo essa mesma acusação, é impossível não agrupá-los.
Mas sou prudente. Eu os agrupo com nuances. Cada um deles conta a história furada que serve a seu propósito; cada um deles adota a mentira por motivos específicos.
Ao PT interessa acusar um golpe para minguar a Lava-Jato porque, se essa história pega, é claro que a credibilidade do novo governo é atingida em cheio.
Ao MPF interessa acusar um golpe para minguar a Lava-Jato porque seus membros estão convencidos — e isso já me tinha sido assegurado há tempos por pessoas que convivem com os bravos — de que estão no meio de uma onda revolucionária. E, a exemplo de toda revolução, esta também teria de ir além dos limites meramente institucionais.
Assim, PT e Dallagnol — com Rodrigo Janot — se unem episodicamente, ainda que tenham horizontes distintos; ainda que os petistas também detestem a Lava-Jato. Acontece que esse ódio do partido aos procuradores provocou um estranho efeito nos homens de negro.
Conversas
Sei de fonte segura que alguns jovens procuradores estão insatisfeitos porque têm a consciência de que colaboraram, sim, para a desestabilização do (des)governo Dilma. Como? Expondo o que os petistas fizeram.
Só que alguns procuradores se dizem inconformados que a sua ação tenha resultado no governo Temer, que não representa seus anseios.
Olhem aqui: em primeiro lugar, os bravos rapazes não deveriam superestimar o seu papel. É claro que são personagens centrais deste momento, mas não são únicos.
Em segundo lugar, os senhores procuradores não estão numa missão privada ou pessoal. Eles são homens de estado. Dallagnol não é dono da investigação. Rodrigo Janot não é dono da investigação. Os outros membros do MPF não são. Eles não podem conduzir a operação segundo as avaliações que fazem do cenário político.
A mim não me interessa se os doutores gostam ou não do governo Temer; se acham que a posse definitiva do atual interino é ou não do seu gosto. Como cidadão, cada um pense o que quiser. O que não é possível é Dallagnol conceder uma entrevista em que faz proselitismo aberto de uma questão que está sob juízo do Supremo. O que não é possível é o agente que acusa ser também aquele que julga, apelando à opinião pública.
Novas eleições
Vamos ser claros? A tese das novas eleições contamina hoje boa parte dos membros da Lava-Jato. E é nesse ponto que a aliança desses setores com franjas do petismo vai além de um simples alinhamento objetivo. É claro que voltarei ao tema.