Na FOLHA: Odebrecht liga ex-ministros Mantega e Palocci à lista de propinas... "italiano" e "pós-itália"...

Publicado em 03/06/2016 18:56
Por BELA MEGALE e MARIO CESAR CARVALHO, da FOLHA DE SÃO PAULO

Quando descobriu que a Odebrecht tinha um departamento especializado em pagar propinas, a Polícia Federal encontrou uma mina de provas, materializadas em planilhas com valores, e alguns enigmas, já que os agraciados com suborno eram tratados por codinomes.

Um desses codinomes, "Italiano", foi interpretado pela PF como sendo o ex-ministro Antonio Palocci, mas quem seria um certo "Pós-Itália", citado também em anotações de Marcelo Odebrecht?

Executivos do grupo Odebrecht vão afirmar em acordo de delação que "Pós-Itália" é o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, segundo a Folha apurou.

Palocci e Mantega foram ministros da Fazenda nos governos de Lula e Dilma, respectivamente. Com Dilma, Palocci chegou a ocupar o segundo posto do governo, ao chefiar a Casa Civil.

Em um e-mail de um funcionário da empreiteira interceptado pela PF, o codinome "Italiano" aparece associado aos valor de R$ 6 milhões, enquanto o "Pós-Itália" teria recebido R$ 50 milhões para repassar ao PT.

O documento, intitulado "Posição Programa Especial Italiano", seria a indicação de propinas pagas ao partido entre 2008 e 2012, de acordo com interpretação da PF e dos procuradores. Em 31 de junho de 2012, os pagamentos supostamente ilícitos somavam R$ 200 milhões.

A PF não sabia quem era "Pós-Itália", segundo relatório de fevereiro deste ano: "ainda não logramos êxito na identificação do indivíduo designado por tal nome".

O advogado de Palocci e Mantega, José Roberto Batochio, diz que as delações não passam de ilações sem qualquer fundamento.

REPASSES AO PT

As planilhas foram elaboradas por Maria Lucia Tavares, secretária da Odebrecht que cuidava do controle do pagamento de propina, inclusive no exterior.

Depois de ser presa em fevereiro, ela firmou acordo de delação premiada com a Justiça passando a fornecer detalhes sobre o setor da empreiteira voltado para pagamento de propina. Os valores seriam repasses para campanhas do PT e também para o marqueteiro João Santana por meio de caixa dois.

A mulher de Santana, Mônica Moura, também negocia acordo de delação com procuradores da Lava Jato e confirmou a suspeita da PF de que "Italiano" é Palocci.

Ela disse, nas discussões para o acordo, que Mantega repassava recursos da Odebrecht para Santana, como noticiou o jornal "O Globo" em abril, mas não identificou-o como "Pós-Itália".

Santana atuou nas campanhas de reeleição de Lula em 2006, nas duas disputas de Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, e no pleito do prefeito de São Paulo Fernando Haddad em 2012, recebendo do PT R$ 229 milhões oficialmente.

A PF, porém, aponta que a empresa pagou o marqueteiro em eleições no exterior, como as de El Salvador e Angola. Só na disputa de Angola ele recebeu US$ 50 milhões, valor que é considerado absurdo por outros marqueteiros ouvidos pela Folha, já que a mesma pessoa preside o país há 36 anos.

A PF suspeita que os valores recebidos por Santana em Angola foram, de fato, pagamentos por campanhas que o marqueteiro fez no Brasil –o que a defesa de Santana nega com veemência.

Palocci já era investigado pela Lava Jato desde junho do ano passado, sob suspeita de ter pedido R$ 2 milhões para a campanha de Dilma em 2010, de acordo com a delação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Alberto Youssef, citado por Costa como o autor do pedido do pagamento, nega que tenha feito a solicitação.

Mantega já teve seu nome citado na Lava Jato e é investigado por outra operação da PF, a Zelotes, na qual é suspeito de ter indicado um conselheiro para um órgão da Receita que, por sua vez, beneficiou empresa da qual teria recebido propina.

Ambos afirmam que as acusações não têm qualquer fundamento.

OUTRO LADO

O advogado de Antonio Palocci e Guido Mantega, José Roberto Batochio, diz que a citação de seus clientes na delação de executivos da Odebrecht não passa de ilação sem qualquer fundamento.

Sobre Palocci, Batochio afirma que o ex-ministro nunca foi conhecido pelo apelido de "Italiano" que aparece na planilha encontrada pela Polícia Federal no anexo de e-mail de um executivo da empreiteira.

"Contesto com toda a ênfase que o Palocci tenha sido identificado por uma alcunha que nunca foi associada a ele. Havia um lobista italiano que circulava pelas empreiteiras em busca de projetos", disse.

Em relação a Mantega, ele diz que o valor citado ao lado do codinome que seria atribuído a ele dentro da Odebrecht, de R$ 50 milhões, "é completamente inverossímil". "São suposições gratuitas", afirma.

Batochio refuta também que Palocci tenha recebido R$ 2 milhões para a campanha de Dilma Rousseff em 2010, como afirmou o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em sua delação.

Costa diz que o valor foi pedido a ele pelo doleiro Alberto Youssef, que negou a versão do ex-diretor da estatal.

CAIXA DOIS

O advogado Fabio Tofic Simantob, que defende o marqueteiro João Santana, diz que as suspeitas de que ele tenha recebido propina da Odebrecht são completamente infundadas.

De acordo com Simantob, a única irregularidade que seu cliente cometeu foi ter recebido recursos de caixa dois no exterior.

A mulher de Santana, a publicitária Mônica Moura, confessou que recebeu US$ 3 milhões da Odebrecht em conta na Suíça. Os procuradores da Operação Lava Jato já têm provas de que Santana recebeu também US$ 4 milhões do lobista Zwi Skornicki, que representava os interesses de um estaleiro de Cingapura.

De acordo com o advogado de Santana, seu cliente recebeu por serviços que prestou, o que não configura os crimes de corrupção ou lavagem de dinheiro.

A única infração que o marqueteiro cometeu, segundo ele, foi não ter declarado os valores à Receita Federal.

O PT nega também que tenha recebido recursos ilícitos da Odebrecht.

Em nota, o partido diz: "O PT nega que tenha recebido os montantes citados na planilha. Todas as doações recebidas pelo partido aconteceram estritamente dentro da legalidade e foram posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral".

Medo de grampos leva políticos a esconder celulares e tirar ternos (na FOLHA)

Por DANIELA LIMA, da SUCURSAL DE BRASÍLIA DA FOLHA DE S. PAULO

O ministro abriu a porta do gabinete e, antes mesmo de dar bom dia, perguntou: "O que é que você quer ouvir?". Não esperou a resposta. Colocou jazz para tocar no aparelho de som. Mas a música não importava. Também ligou a TV e se certificou de que as cortinas estavam fechadas.

"Criminalizaram a conversa em Brasília. Agora, só recebo gente assim." A cena, presenciada pela reportagem da Folha, é um reflexo do estado permanente de tensão em que vivem autoridades de todas as esferas do poder de Brasília, do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.

  Diego Padgurschi - 13.abr.16/Folhapress  
Corredor dos plenários na Câmara dos Deputados, em Brasília

A situação se agravou nas últimas semanas, após gravações que o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado fez em conversas com caciques do PMDB virem à tona e causarem a primeira grande crise do governo interino de Michel Temer.

Telefones celulares, por sinal, ficam do lado de fora do gabinete presidencial. As visitas devem guardar os aparelhos em uma caixinha e só os recebem de volta na saída.

Na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), palco de algumas das mais rumorosas gravações feitas por Machado, o sentimento de vigilância permanente foi extravasado em forma de piada.

Reunido com aliados na última semana, Renan soltou um "bem-vindo ao Big Brother Brasil" quando um senador chegou. Amigos dizem que ele está mais desconfiado e opta pelo silêncio diante de questões polêmicas.

Machado era considerado um amigo por Renan e costumava ir à casa do senador de táxi para não chamar a atenção. Hoje visto como o "homem-bomba do PMDB", o ex-presidente da Transpetro era antes considerado como alguém "da família" pelo ex-presidente José Sarney.

Senadores comentavam que Sarney está abatido com a "traição" de Machado -ele o conhece desde a infância.

Segundo aliados, Sarney contou que o antigo afilhado chegava em sua casa dando lições de precaução e afirmando que os celulares, mesmo desligados, podiam ser usados como gravadores.
Recomendava ao ex-presidente que os aparelhos ficassem longe de onde aconteceriam as reuniões. Daí a surpresa de Sarney ao descobrir ter sido grampeado.

Agora, na casa de um senador peemedebista, os aparelhos são desligados logo na entrada e colocados dentro de uma almofada do sofá.

O "protocolo da Lava Jato" também indica que é de bom tom tirar o paletó sempre que possível em reuniões mais fechadas -resultado das especulações de que Machado teria usado um ponto no terno para fazer gravações.

Os telefones, aliás, têm sido cada vez mais evitados pelas autoridades. Amigos de um ministro do Superior Tribunal de Justiça relatam que ele chegou a pedir a um colega a quem daria carona a gentileza de guardar os celulares no porta-malas do carro.

O medo de gravações e monitoramento de atividades também mudou o conteúdo das conversas dos políticos.

Debate-se, por exemplo, se vale a pena desativar o sistema de GPS do celular para evitar o rastreamento das movimentações, além da existência de novos sistemas de escuta acionados à distância.

 

"Chantagistas" do impeachment são criticados nas rodinhas dos senadores

Antes da reunião da comissão do impeachment desta quinta-feira, uma rodinha com importantes senadores aliados de Michel Temer se perguntava o seguinte: como o presidente interino vai sobreviver com chantagens de Romário, Hélio José e Acir Gurcacz? 

Na opinião deles, esses senadores na verdade não estão balançados sobre o impeachment de Dilma, querem somente negociar mais alto o apoio a Temer.

Balançados?  ....

 

Questão não é mais se Dilma voltará ao governo, mas se – e quando – vai com Pimentel para a cadeia (por FELIPE MOURA BRASIL, em VEJA.COM)

Em 25 de fevereiro, nomesmo postem que comentei sobre o valor de 1,5 milhão de dólares do petrolão recebido pelo marqueteiro João Santana durante a campanha de reeleição de Dilma Rousseff, escrevi aqui:

“A reprovação das contas de campanha de Fernando Pimentel [PT-MG] pelo TSE por extrapolar em pelo menos 10 milhões de reais o valor previsto torna ainda mais ilegítima a reeleição de Dilma Rousseff, que explorou na campanha presidencial de 2014 o fracasso do senador Aécio Neves em emplacar o segundo sucessor tucano no governo de Minas Gerais.

Pimentel, cujo mandato de governador poderá ser cassado, venceu logo no primeiro turno Pimenta da Veiga por 52,98% a 41,89% dos votos, o que ainda deixou Aécio com muito menos palanque no estado para o segundo turno de sua campanha presidencial.

A vitória de Dilma sobre Aécio em Minas por 51,64% a 48,36% dos votos foi decisiva para a reeleição da petista na acirrada disputa nacional com o tucano.

Em suma: Dilma foi eleita, reeleita e mantida no poder à base de grandes, enormes e supremos golpes no país.”

Agora, a delação premiada do empresário e operador do PT Benedito de Oliveira Neto, o Bené, no âmbito da Operação Acrônimo, reforça ainda mais a minha tese.

Como se sabe, ele contou à Polícia Federal que teve de providenciar uma quitinete em Brasília para guardar o dinheiro arrecadado para o caixa dois da campanha de Pimentel em 2014, chegando a armazenar R$ 12 milhões em espécie no imóvel.

O Instituto Vox Populi – o favorito de petistas e blogs sujos do PT na hora de citar (e, mesmo assim, distorcer) dados de pesquisas de opinião* – lavou dinheiro de propina para Fernando Pimentel, segundo o depoimento de Bené reproduzido pela Época:

“Cerca de R$ 750 mil foram pagos mediante a quitação de despesas da campanha eleitoral de Pimentel junto ao Instituto Vox Populi. E, para viabilizar esse pagamento ao Instituto Vox Populi, o colaborador conversou com HUMBERTO e com um diretor comercial do instituto, MARCIO HIRAN, para que eles ajustassem a emissão da nota fiscal e a efetivação do pagamento. Os serviços declarados na nota fiscal não foram efetivamente prestados ao grupo JHSF, mas sim à campanha eleitoral de 2014 de FERNANDO PIMENTEL.”

O Radar de VEJA informa nesta sexta-feira: “Enquanto Fernando Pimentel tenta no STF impedir que o STJ aceite a denúncia que sobre ele pesa devido à operação Acrônimo, ministros do Superior Tribunal já discutem até mesmo a necessidade de se determinar o afastamento cautelar do governador do cargo”.

É mesmo espantoso que Pimentel ainda não tenha se unido a Dilma no time dos afastados, que inclui também Eduardo Cunha. A conexão Dilma-Pimentel é caso de polícia.

Bené ainda afirmou que Giles Azevedo, um dos mais próximos assessores de Dilma, usou um contrato de R$ 44,7 milhões da Secretaria de Comunicação da Presidência com a agência Click para pagar dívidas da campanha de Dilma com a agência Pepper. É a primeira denúncia sobre desvio de dinheiro do Planalto para a campanha presidencial e a enésima amostra do quão patética é a ideia de que Dilma foi eleita democraticamente.

Para completar, e-mails em posse da Procuradoria-Geral da República, de acordo com informações deMerval Pereira, mostram que “a ministra” Dilma sabia do arranjo de propina para políticos do PT na compra de Pasadena (a popular #PassaDilma) antes da aprovação do negócio – como Nestor Cerveró disse supor – e também que o esquema na Petrobras pagou despesas pessoais como seu cabelereiro Celso Kamura e até um teleprompter especial (adaptado à gramática da mulher sapiens).

Isto sem falar, claro, nas denúncias de Delcídio do Amaral confirmadas por Marcelo Odebrecht de que ela atuou para atrapalhar a Lava Jato no STJ e na gravação de sua conversa com Lula sobre o termo de posse para evitar a prisão do antecessor.

A questão não é mais se Dilma voltará ao governo, mas se – e quando – vai com Pimentel para a cadeia.

*******

* Recordar é viver:

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

Dilma escora defesa em delator e mídia golpista, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

 

Dilma Rousseff não respeita delator e despreza a ‘mídia golpista’, exceto em ocasiões excepcionais —como terremoto de amplitude pessoal, tsunami de âmbito partidário e risco de soterramento definitivo de uma presidência.

Na comissão do impeachment, esgotados todos os estratagemas que poderia invocar para atingir seus subterfúgios, Dilma escorou sua defesa nas gravações do delator do PMDB Sérgio Machado. Enquanto a delação permanece sob sigilo, Dilma fia-se nos trechos trazidos à luz por duas logomarcas que o petismo identifica como signos do golpismo midiático: Folha e TV Globo.

A esse ponto chegou Dilma: não admite que o apodrecimento do governo, evidenciado pela Lava Jato, seja invocado pelos partidários do impeachment. Mas recorre a um delator e à mídia, tudo o que mais abomina, para exigir que os áudios que expõem a putrefação do pedaço do PMDB que lhe dava suporte congressual sejam tomados como trampolim para o seu retorno.

No novo enredo de Dilma, o PMDB tramou o “golpe” com o deliberado propósito de paralisar a Lava Jato tão logo Michel Temer assumisse o poder. De fato, os cardeais Romero Jucá e José Sarney vocalizam esse sonho nas fitas de Sérgio Machado. Mas falta divulgar os trechos em que a dupla afirma acreditar em Papai Noel.

Relator do impeachment, o senador tucano Antonio Anastasia rejeitou o pedido da defesa de Dilma para incluir no processo a delação de Machado, um ex-presidente da Transpetro que Lula nomeou e que madame permitiu que apodrecesse no cargo. Negou também a oitiva de especialistas, uma perícia e uma auditoria contábil internacional nas mumunhas fiscais que serviram de mote para o afastamento de Dilma.

Minoritária na comissão, a bancada de Dilma esticou a sessão desta quinta-feira por quase dez horas. No final, os aliados da presidente afastada agarraram-se ao método de votação dos requerimentos —em bloco, não um por um— como pretexto para abandonar o campo de batalha, num gesto de protesto.

“Hoje, a situação chegou a um tal ponto que a defesa se retirou e senadores que não concordaram também”, disse o ex-ministro petista José Eduardo Cardozo, mantido na função de advogado de Dilma. “Nós fizemos isso porque a violência contra o direito de defesa é inominável.”

O líder tucano Cássio Cunha Lima ironizou: “Eles fizeram tudo para que o processo de impeachment não começasse. Agora, recorrem a todos os artifícios para tentar impedir que termine.”

Simultaneamente, o ministro Teori Zavaschi, relator da Lava Jato no STF, levantou o sigilo da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Num trecho, ele declara que Dilma mentiu sobre a compra da refinaria de Pasadena. E diz supor que ela sabia que políticos petistas embolsavam petropropinas.

Em nota, Dilma negou. Cerveró frequenta o rol de delatores que ela não respeita. Considerando-se que há outros silvérios que a acusam e que Marcelo Odebrecht ainda fará a mãe de todas as delações, Dilma talvez devesse considerar a hipótese de mudar de assunto. Falar de delação na comissão do impeachment é como brincar de corda em casa de enforcado.

Neurônia solitária (Dilma Rousseff parte em defesa da letra 'a')

“Acredito que a terminação ‘a’ tem grande importância para a primeira mulher presidenta da República. É lamentável que um governo sem voto e provisório tente apagar 54 milhões e meio de votos, retirando uma letra tão bonita, a primeira, do alfabeto”. (Dilma Rousseff, internada por Celso Arnaldo Araújo na conversa com internautas sobre políticas para mulheres, antes de saber que, ao ser reconduzido ao cargo, o presidente da EBC Ricardo Melo não só retomou o uso de presidenta em textos oficiais como mandou devolver a indispensável letra “a” ao alfabeto de Dilma).

 

Futuro de Aécio virou combinação de hipóteses, JOSIAS DE SOUZA (UOL)

A inclusão de Aécio Neves no rol dos políticos investigados faz do seu futuro uma combinação de hipóteses —das mais amplas até as mais específicas. Na pior das hipóteses, a carreira de Aécio será eletrocutada numa linha de transmissão de Furna$. Na melhor das hipóteses, a investigação desligará o delator Delcídio Amaral da tomada.

No caso do que espera por Aécio num inquérito dessa natureza, a escolha de hipóteses é enorme. A melhor das hipóteses é que a auto-imagem do senador sobreviva fora do espelho e leve os investigadores a concluir a apuração com a rapidez de um raio. A pior das hipóteses é que Aécio seja compelido a ostentar obutton de investigado, denunciado ou réu para além de 2018.

Mesmo um desfecho benigno, que leve à decretação da inocência de Aécio, comporta a análise de alternativas. Na melhor das hipóteses, a Polícia Federal desmoralizará Delcídio, o procurador-geral Rodrigo Janot solicitará o arquivamento do caso e o STF brindará Aécio com um atestado de idoneidade.

Na pior as hipóteses, a PF terá dificuldades para escarafunchar fatos ocorridos há mais de uma década, Janot encaminhará ao Supremo pedidos de prorrogação do inquérito, os advogados de Aécio reclamarão da demora e o STF arquivará o processo por falta de provas, condenando Aécio a ouvir risinhos perpétuos toda vez que esbravejar contra a corrupção ou cobrar moralidade dos seus rivais.

Ao saber que o ministro Gilmar Mendes, do STF, determinara finalmente a abertura do inquérito solicitado pela Procuradoria, Aécio declarou: “…É claro que ninguém gosta de ser injustamente acusado, como é o caso, mas eu tenho serenidade para compreender que esse é o papel do Ministério Público, investigar as citações e acusações que ali chegam, e o da Justiça, de dar prosseguimento a essas investigações.''

Aécio vai mesmo precisar de muita serenidade. Terá de combinar o papel de investigado ao de principal vítima do processo de impeachment depois de Dilma e Lula. Além de assistir à ascensão de Michel Temer ao trono que ambicionava, o grão-tucano foi deposto da condição de líder da oposição. Seu partido agora é linha auxiliar do governo.

São mesmo implacáveis os desígnios da política. Em outubro de 2014, seria internado como louco alguém que se arriscasse a prever a hipótese de que, em menos de dois anos, aquele Aécio que roçou a cadeira de presidente da República viraria um suspeito de corrupção e apoiador de um governo chefiado por Michel Temer, cercado de Lava Jato por todos os lados.

Fernando Gabeira: O impacto do asteroide

A reação de Lula e de José Sarney, dois homens que experimentaram o poder e ainda o detêm hoje, em escala menor, é de insegurança. Como se o mundo virasse de pernas para o ar e o eixo do poder perene subitamente fosse alterado: uma revolução (Publicado no Estadão)

As gravações vazadas ou divulgadas no Brasil são vistas, prioritariamente, sob a ótica da Operação Lava Jato. Até que ponto revelam uma trama para anular o trabalho policial, em que momento cruzam a linha do crime de obstrução da Justiça?

Como isso já foi discutido e, inclusive, levou à queda de dois ministros em apenas 20 dias, creio que é possível propor novas leituras das gravações, sobretudo a partir da experiência de muitos anos em Brasília.

Na vida cotidiana, a frase “sabe com que está falando?” já foi dissecada pelo antropólogo Roberto DaMatta e revela um aspecto autoritário da sociedade brasileira. Em Brasília, quando um problema depende de um juiz ou de um burocrata, os políticos fazem instintivamente outro tipo de pergunta: Quem fala com ele?

Essa pergunta é recorrente. Amigos, colegas de trabalho, familiares, todos são lembrados como uma possibilidade de influenciar.

Os políticos partem da correta presunção de que ninguém é um ser metafísico, completamente isolado da sociedade. E trabalham para convencê-lo pelos caminhos sentimentais do afeto e da gratidão.

Em alguns casos, a pergunta é mais ríspida e direta. Em vez do “quem fala com ele?”, surge o “quem o indicou para o cargo?”.

De todas as maneiras, é um processo permanente que envolve centenas de demandas, inclusive algumas pouco republicanas ou, francamente, fora da lei, como é o caso da obstrução de Justiça.

Num certo nível e com suas gradações, creio que é um processo comum a outros países. Essa incessante busca de um mensageiro adequado para seus pleitos é um dos atributos da política.

Juízes e autoridades sabem da existência desse processo. São treinados para conviver com ele e, dentro de suas possibilidades, resistir cordialmente.

A tarefa de neutralizar a Operação Lava Jato é talvez a mais complexa que alguns políticos brasileiros enfrentaram no caminho. Em certos momentos, houve uma ponta de desespero, como nas gravações de Lula nas quais ele pede que uma pessoa internada na UTI tire os tubos e fale ao telefone com a juíza Rosa Weber.

Possivelmente, não aconteceria nada de novo se o paciente em estado grave trocasse algumas palavras com a magistrada. Mas a simples expectativa mostra como é profunda a dependência da pergunta: Quem fala com quem?

No caso da Lava Jato, dois fatores complicaram o abundante fluxo das conversas que constituem o mecanismo cotidiano de Brasília.

O primeiro deles são as gravações feitas pelos investigadores. Elas foram realizadas para mostrar que os acusados tentavam escapar da Justiça e teciam suas tramas para evitar que caíssem nas mãos do juiz Sérgio Moro. Neste caso, entram as gravações que envolvem Lula e o governo Dilma.

Outro favor novo: as delações premiadas. Elas tornaram perigosas mesmo as ligações telefônicas entre amigos, as conversas que, teoricamente, estão fora do alcance da polícia. Neste conjunto estão as gravações realizadas por Sérgio Machado. As pessoas vão sendo capturadas na medida em que entram e falam no ambiente, como é o caso do ex-ministro da Transparência Fabiano Silveira.

Em ambos os casos, as gravações representam jatos de areia no mecanismo de poder de Brasília, antes tão fluido e vivenciado como natural.

A reação de Lula e de José Sarney, dois homens que experimentaram o poder e ainda o detêm hoje, em escala menor, é de insegurança. Como se o mundo virasse de pernas para o ar e o eixo do poder perene subitamente fosse alterado: uma revolução.

Lula revelou esse desgosto ao cunhar a expressão “República de Curitiba”. Sarney, nas gravações de Sérgio Machado, define o processo como uma “ditadura do Judiciário”.

Cada um reagiu à sua maneira. O PT, pelo confronto, que é a linguagem mais comum ao partido. Era preciso paralisar os adversários, denunciar a mídia golpista e toda essa história.

Ao que me parece, o PMDB compreendeu que o eixo do poder se deslocou e tratou de arrastá-lo de novo para sua posição original.

E recolocou, em outro nível, a pergunta tradicional: Quem fala com quem? Era preciso cativar os juízes do Supremo, seduzir os grandes órgãos da imprensa, só assim o poder se reinstalaria em Brasília e o país voltaria à normalidade. Tentativa também fracassada.

Um elemento interessante nessa luta permanente para recuperar o eixo do poder é a maneira como Lula, Sarney e o próprio Machado encaram o silêncio de alguns e o apoio popular à Lava Jato. Em vários momentos, usam a palavra covardia, lamentam que o avanço das forças de Curitiba não seja combatido por uma resistência nacional. Era como se os invasores fossem tomando o país e, ao invés de pedras e bomba, ganhassem aplausos e flores.

O velho Sarney sabe que nem tudo terminou e prevê um assalto final com a “metralhadora ponto 100”: a delação de Marcelo Odebrecht e dos executivos de sua empresa.

Quase nada ficará de pé. Neste momento, denunciar e punir talvez não tenham mais a urgência dos tempos que se encerram. Definidas as responsabilidades individuais, será possível explorar o campo do sistema político em que tudo aconteceu, e a fantástica reação humana diante de um mundo que desmorona.

Faltam ainda dezenas de gravações, depoimentos, acareações. Se o tempo permitir, voltarei a elas com uma curiosidade diferente. Não mais saber quem vai ou não ser preso.

O universo político brasileiro sofreu o impacto semelhante ao dos asteroides que destruíram os dinossauros. Mas como é diferente quando se trata da história humana. Os dinossauros não tiveram escolha, não buscaram o contato desesperado entre si, não delataram nem gravaram escondidos as conversas mais reservadas. Políticos são humanos. Muito humanos.

Balançados?

Antes da reunião da comissão do impeachment desta quinta-feira, uma rodinha com importantes senadores aliados de Michel Temer se perguntava o seguinte: como o presidente interino vai sobreviver com chantagens de Romário, Hélio José e Acir Gurcacz?

Na opinião deles, esses senadores na verdade não estão balançados sobre o impeachment de Dilma, querem somente negociar mais alto o apoio a Temer.

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Fonte: FOLHA + veja.com + UOL + ESTADÃO

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