Jucá e as delinquências políticas do PT falso e do PT verdadeiro (REINALDO AZEVEDO)

Publicado em 23/05/2016 22:06
Um dos partidos fala em anular o impeachment; o outro diz haver uma grande conspiração. Tudo bobagem! E é claro que a delinquência política iria tentar se aproveitar da crise. Já está tentando (EM VEJA.COM)

O PT, que hoje é o PT falso, e o PSOL, que é o PT verdadeiro, afirmaram na manhã desta segunda que a conversa entre Jucá e Machado reforça a tese de que o impeachment de Dilma Rousseff foi viciado.

Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), a gravidade desses novos fatos deveria levar à anulação do impedimento. Ele criticou ainda a Procuradoria-Geral da República, que, segundo diz, deveria ter tornado público o áudio antes da votação do processo na Câmara (17 de abril) e no Senado (12 de maio).

Já a Executiva Nacional do PSOL anunciou ter apresentado uma representação à Procuradoria-Geral da República para que o órgão peça a prisão de Jucá por obstrução da Justiça. O partido diz não ter dúvida de que houve uma espécie de “operação-abafa” na Lava Jato em troca da abertura do processo contra Dilma.

Trata-se de uma patacoada. É evidente que, para que tal operação tivesse acontecido, teria sido necessária a colaboração da Procuradoria-Geral da República, dos procuradores, da Polícia Federal e do juiz Sergio Moro.

Defendo a saída de Jucá nesse caso não porque ache que ele tenha atuado para a obstruir a investigação. Eu a defendo por razões políticas. Acho que não há mais como ele encarnar a seriedade de que o governo precisa.

Eu sou favorável a que políticos caiam por razões… políticas!

PT quer usar caso Jucá para paralisar comissão do impeachment

O senador Lindbergh Farias (RJ) deu o tom de como o PT vai usar o episódio da gravação em que o ministro Romero Jucá (Planejamento) fala em tentar abafar a Lava-Jato.

 

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“Não adianta tirar o Jucá. Nosso foco é o [o presidente Michel] Temer. Vamos usar isso amanhã para paralisar a comissão do impeachment”, afirmou.

Para o petista, “a comissão não pode continuar enquanto isso não for esclarecido”. “Como sempre dissemos, o impeachment não eram pedaladas, era para barrar a Lava-Jato”, afirmou Lindbergh — ele próprio alvo de inquérito decorrente da operação.

Haveria diálogos também com Renan e Sarney

Brasília ferve. Consta que Sérgio Machado teria gravado conversas comprometedoras também com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e com José Sarney, ex-senador e ex-presidente da República.

A essa altura, quem quer que tenha recebido uma ligação de Machado está em pânico e puxando pela memória.

 

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Vai que…

Número dois de Jucá é ligado ao PT (COLUNA DO ESTADÃO)

Com o pedido de licença de Romero Jucá, quem deve assumir é o número dois do Ministério do Planejamento, o secretário-executivo Dyogo Oliveira, ligadíssimo ao PT. Antes de Temer assumir, ele trabalhava com o ministro da Fazenda de Dilma, Nelson Barbosa. (POR ANDREZA MATAIS E VERA ROSA)

Delação de Sérgio Machado deve ser homologada nos próximos dias

A delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado deve ser homologada nos próximos dias. Há quem diga que nas próximas horas. Os depoimentos já estão na mesa do ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato, no Supremo Tribunal Federal (STF). Além de Romero Jucá, Machado também gravou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-senador José Sarney.

Quem teve acesso, diz que com relação a Calheiros, os áudios são muito mais comprometedores do que os que derrubaram Jucá do Ministério do Planejamento. Seriam a materialidade que a PGR precisava para fechar o cerco contra Renan.

Próximos quatro meses serão cruciais para o governo Temer, diz Eurasia

Garman, da Eurasia: Risco da Lava-jato foi subestimado

Mesmo com a queda precoce de Romero Jucá, a Eurasia manteve as chances de o impeachment não passar pelo Senado em 20%. Caso o impedimento passe, o cálculo é que há 25% de probabilidade de Temer não terminar mandato, com o governo minado por denúncias da Lava-Jato.

À coluna, o chefe de análise de Brasil da consultoria de risco político, Christopher Garman, disse que o episódio de hoje traz um desgaste e pode mudar a narrativa. “Os próximos três ou quatro meses serão cruciais”, disse, acrescentando que a maior parte das delações deve acontecer neste período – inclusive, sem descartar a possibilidade de que até mesmo Eduardo Cunha recorra ao expediente, caso seja cassado.

“Se existiu um erro de cálculo por parte dos analistas foi subestimar o escopo e o alcance da Lava-Jato. Os acontecimentos de hoje validam nosso cenário”, disse.

 

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Por enquanto, a avaliação é que o episódio de Jucá, isolado, não tem poder para derrubar o governo e nem comprometer a agenda de reformas – temor expresso pelo mercado financeiro, com queda do Ibovespa e alta do dólar.

“Há uma base ampla no Congresso e rede de articulares, conduzindo os trabalhos. Tem como se recompor. Acho que as reformas econômicas devem acontecer, sem mudança radical, mas com medidas que podem dar certo alívio”, pondera.

Associação de delegados federais erra ao usar episódio Jucá para defender tese polêmica (REINALDO AZEVEDO)

Sei que muitos não vão gostar do que vai neste post, mas não posso fazer nada. Não escrevo para agradar A ou B. Escrevo o que considero certo.

A ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal) presta um desfavor à verdade quando emite uma nota sugerindo que a independência da Lava-Jato pode estar ameaçada.

Lê-se lá:
“A entidade já havia alertado para as repetidas tentativas de interferência política no trabalho da Polícia Federal e repudia qualquer ato no sentido de impedir a continuidade de uma das mais importantes investigações em curso no Brasil”.

 

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Ninguém põe em dúvida a importância da investigação. Aliás, os efeitos que ela tem produzido no meio político e empresarial evidenciam que a Operação Lava Jato está atuando sem nenhuma interferência externa, não é mesmo? A ADPF deveria dizer quando é que se tentou mudar o seu rumo.

E, claro!, a associação aproveitou o episódio Jucá para defender a eleição direta para a direção da PF. Está escrito na nota:
“Para proteger a Lava Jato e a atuação da PF no combate à corrupção, a ADPF reforça que é fundamental a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 412/2009, em tramitação no Congresso Nacional, que estabelece a autonomia para a Polícia Federal”.

Infelizmente, o nome disso é oportunismo. É preciso que a gente compreenda a democracia, que não é uma soma de corporações de ofício. A ADPF deveria dizer em que país democrático do mundo a escolha do chefe da Polícia Federal se dá em eleição direta.

Olhem aqui: atribuir ao presidente ou ao primeiro-ministro, por intermédio do ministro da Justiça, a indicação do chefe da polícia judiciária federal implica submeter o órgão ao controle democrático, ora bolas! Afinal de contas, um presidente ou um primeiro ministro são eleitos pelo povo. A Polícia Federal não pode ter a ambição de não se submeter ao controle democrático.

De resto, a autonomia funcional da instituição já está garantida. É bom que não se confunda democracia com corporações de ofício. São coisas bastante distintas. Daqui a pouco, cada órgão do Estado brasileiro vai querer gerir a si mesmo. Não é um bom caminho.

De resto, vamos fazer um exercício elementar de lógica: por que uma PF que gerisse a si mesma de forma absoluta estaria imune a pressões? Não poderia se dar exatamente o contrário? E sem que a sociedade pudesse interferir?

Ademais, independentemente da linha ideológica deste ou daquele grupos, um órgão de investigação não pode ficar subordinado a um ente de caráter sindical. Isso nega a natureza da democracia. É o defeito que vejo na eleição direta para Procurador Geral da República, por exemplo. O “sindicato” dos procuradores escolhe o chefe do Ministério Público da União!

Um sindicato não pode impor a sua vontade à sociedade em algo que a esta diz diretamente respeito. É uma questão de princípio. Se alguém tem um melhor, quero saber.

 

A desativação do homem-bomba instalado no ministério avisa que Temer não é Dilma (AUGUSTO NUNES)

O balanço da primeira semana de governo informa que o presidente Michel Temer acertou na escolha da equipe econômica, na mudança de rota da política externa e na recriação do Ministério da Cultura, que removeu um foco de chiliques malandramente explorado pelos que fingem enxergar um “golpe parlamentar” no impeachment de Dilma Rousseff. Os acertos compensaram amplamente escorregões políticos ─ por exemplo, o ministério sem mulheres e a promoção de um prontuário ambulante a líder do governo na Câmara.

O saldo assegurado pela nascimento de um plano econômico consistente e pela morte da diplomacia da canalhice estaria em frangalhos se Romero Jucá fosse dormir ainda ministro. Não porque a turma do quanto pior, melhor conseguiria fôlego para mais algumas horas de gritaria. Esses são um bando de derrotados sem horizontes (e, daqui a pouco, sem emprego nem mesada). Muito mais grave seria a decepção de milhões de brasileiros que já não suportam tanta roubalheira, tanto cinismo, tanta sem-vergonhice.

O Brasil decente não tem bandidos de estimação, e aprendeu que todo corrupto merece cadeia. O que já se sabia do senador por Roraima era suficiente para transformar sua presença no primeiro escalão uma aposta de altíssimo risco. O teor das conversas gravadas divulgadas pela Folha confirmou que Temer teve a seu lado, durante 10 dias, um homem-bomba pronto para explodir um governo recém-nascido. O afastamento de Jucá eliminou o perigo revelado. O presidente precisa agora desativar as minas subterrâneas espalhadas pela Praça dos Três Poderes.

 

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A saída de Jucá atesta que Temer não é Dilma nem Lula. Em episódios semelhantes, o padrinho e a afilhada sempre tentaram varrer para baixo do tapete a sujeira produzida por bandidos companheiros. Acabaram todos juntos no mesmo lixão.

 

Fernão Lara Mesquita: Sim, nós podemos! (ESTADÃO)

Parlamentarismo? Nova eleição? Chega de “mudar para que tudo fique igual”. As ferramentas consagradas do voto distrital, do recall, e do referendo que tornam os políticos totalmente dependentes de seus eleitores como devem ser estão aí para quem tiver a coragem de exigi-las (Publicado no Estadão)

O que muda de saída é que o objetivo da ação do Estado deixa de ser manter o PT sozinho na arena política do presente e do futuro do Brasil ao qual tudo o mais esteve subordinado nos últimos 13 anos. Mudanças de rumo no interesse da nação voltam a ser possíveis; o projeto de uma democracia brasileira retoma o seu lugar no horizonte da nação.

Desse ponto em diante massas imensas de entulho precisam ser removidas para que a marcha possa prosseguir. Nu como esteja, o Brasil do “quéromeu” (o com e o sem discurso “ideológico”) está longe de se render. Michel Temer sabe onde mora o perigo e tem feito concessões a cada passo para que não lhe cassem antes da primeira dose a licença para ministrar remédios à economia que estrebucha nas suas mãos.

O que põe dentes na acintosa desfaçatez dessa máfia é a figura do “direito adquirido” na formulação pervertida de exceção ao direito geral que nas democracias só vale se valer para todos que tem no Brasil. Ela torna a injustiça exigível nos tribunais, perpétuos os privilégios e, ao autorizar o Estado a outorgá-los à vontade, galopante a corrupção. Mais que o custo, é a subversão institucionalizada que esse instrumento instala que nos mata.

Os miseráveis do Brasil, que pagam Imposto de Renda a partir de pouco mais de dois salários mínimos, sustentam todos os “auxílios”, gratificações, adicionais, abonos, recessos e “vales”- tudo e mais alguma coisa livres de impostos mas incorporados às aposentadorias precocíssimas das “excelências” e demais empregados do Estado que, descontados todos esses extras, já paga salários duas vezes maiores que os do Brasil real. A medida do quanto valem esses penduricalhos todos é dada pelas aposentadorias do setor público 33 vezes maiores, em média, que as dos “manés”. Bancam também os partidos sem eleitores (35 na ativa, mais 29 no forno), os sindicatos sem trabalhadores em que eles se inspiraram (115 mil mais 280 novos por ano), os “advogados” (trabalhistas) que não advogam (exploram um sistema institucionalizado de achaque), os empreendedores sem risco (R$ 323 bi ou 13 anos de Bolsa Família por enquanto), os “movimentos sociais” sem cidadãos, as ONG’s sem voluntários (o PT fez convênios com mais de 100 mil), os artistas sem público e toda a vasta multidão que chora menos porque grita mais…

Os tais funcionários “comissionados” enfiados na máquina publica e nas 140 estatais expressamente para mamar, não são só os 23 mil da União. Nos estados há mais 115 mil. Nos municípios, meio milhão. 15.500 são criaturas recentes do Congresso; mais de 12 mil da Câmara dos Deputados onde são quatro vezes mais numerosos que os concursados. É deles o grosso dos “direitos adquiridos” mais aberrantes da teratológica coleção brasileira. São os tais garçons, motoristas, ascensoristas e amigos diletos e parentes “assessores” que ganham mais, muito mais, que médicos e professores com mestrado e doutorado concursados e efetivamente a serviço da população.

Nesse mundinho particular, só uma coisa é sagrada: entrou não sai mais. Ponha-se o câncer das favelas na fila de espera e os documentos históricos da Biblioteca Nacional sob a chuva e tudo bem. “Normal”. Até idade mínima para aposentadoria admite-se discutir de tão evidentemente razoável que é, sobretudo nesta hora de tanta pobreza sendo transformada em miséria. Mas ouse tocar nos “direitos adquiridos” mais graficamente obscenos e injustificáveis e as trombetas de Jericó atroarão os ares do Oiapoque ao Chuí, da Côte d’Azur ao Baixo Leblon.

Ao fim de um longo e tenebroso inverno temos um presidente da Republica permeável à realidade e capaz de conversar e um “dream team” de profissionais do mundo real nos postos-chave da Fazenda pública. Só que continua sendo contra a lei consertar a economia do Brasil e inconstitucional manter a equação fiscal no equilíbrio necessário para garantir o valor do resultado do trabalho dos brasileiros que vivem do que produzem.

Como obrigar congressistas fisiológicos articulados por um governo de transição que nasce pendurado no ar num país onde todo mundo – a começar pelo todo poderoso Judiciário que desfruta da maior de todas – tem pelo menos uma tetinha para chamar de sua e acha isso muito justo é o desafio que se apresenta.

Parece impossível mas não é. A necessidade é a maior força da natureza. Os números que decretam o fim desse sistema medieval de opressão falam por si. Se exibidos pelo governo com um mínimo de competência didática mudam completamente o jogo de forças. O Brasil que mama está morto e não sabe. Mas logo vai ficar claro que só sobreviverá quem sair da frente para passar a ajudar a empurrar. Vem dor demais por aí para que isto pare numa simples manobra de ressuscitação.

A imprensa é o fator decisivo para uma “virada” mais ampla. Se assumir a cruzada que há tanto tempo deve aos miseráveis do Brasil para esmiuçar cada parcela dessa conta sob a baliza da igualdade perante a lei liberta já o país. Modo de vida contra modo de vida, numero por numero, o escândalo desses privilégios posto ao lado da miséria que eles custam fará o milagre.

Como na Campanha Abolicionista que nos livrou daquela outra escravidão, vem das ruas, e não dos palácios, o “basta” que, desde 2013, empurra o Brasil para fora da Idade Média. Quem pôde o mais pode o menos. Lancetado o tumor da privilegiatura “adquirida” o caminho para tomarmos definitivamente o direito à ultima palavra sobre as decisões que afetam nossas vidas das mãos dessas mafiazinhas subornáveis estará aberto.

Parlamentarismo? Nova eleição? Chega de “mudar para que tudo fique igual”. As ferramentas consagradas do voto distrital, do recall, e do referendo que tornam os políticos totalmente dependentes de seus eleitores como devem ser estão aí para quem tiver a coragem de exigi-las. Com elas nas mãos, o resto das reformas a gente mesmo vai fazendo, na velocidade e na medida que a necessidade encomendar.

 

Valentina de Botas: Dilma é tão despreparada para ser presidente quanto para deixar de ser

A czarina patética legou um rombo de 170 bilhões de reais e foi gozar a agonia de um golpe imaginário em meio a 120 empregados no Alvorada (no blog de AUGUSTO NUNES, VEJA.COM)

Na primeira semana do Governo Temer, fruindo o silêncio melodioso que ecoava da boca fechada e da figura sumida do jeca, também silenciei um pouco. Uma pedra desvitalizou meu texto, aquela que Drummond viu no meio do caminho. Como todo sonho, essa coisa que abre caminho para a realidade, livrar a nação da escória que o desgraçou exige tempo até que se torne um fato.

Um fato não é de direita nem de esquerda: um fato é um fato. A lição básica de discernimento vem de Karl Marx, famoso desconhecido dos esquerdistas com menos de 50 anos. E o fato é que, entre a ternura e o abatimento, não sei se a pedra no meio do caminho apareceu ou reapareceu; se o caminho será retomado; se espero ou se leio outro Drummond.

Outro fato é que Dilma Rousseff, crescentemente detestável de dentro de um apego chulo ao poder, é tão despreparada para ser presidente quanto para deixar de ser. Apoiada por pessoas despreparadas para deixar de orbitar o poder, a mulherzinha faz dos restos de imperceptíveis racionalidade e honradez a saga ordinária de perene delírio que a consolará nos dias vazios e nas noites longas do resto de uma existência que volta à irrelevância da qual foi desgraçadamente desperta pelo jeca. Entre elas, os artistas fascistoides adoradores do PT e do PCdoB e, portanto, da estatização da cultura – como tudo o mais – num MINC aparelhado.

Pretendem-se comissários do povo sem saber do que ele é feito. Assim, pretextando a defesa da cultura e da memória, partem para a truculência na invasão de prédios do MINC apropriando-se de patrimônio que é de todo o povo. Esse ente idealizado entre a Vila Madalena e o Leblon, mas que não está nem lá nem muito menos entre a alucinação fascista de Marilena Chauí e a de Olavo de Carvalho: a maior parte dele está preocupado em ir trabalhar se ainda tiver emprego rezando para que não haja meliantes queimando pneus no meio da rua em defesa do gangsterismo de Estado cuja czarina patética legou um rombo de 170 bilhões de reais e foi gozar a agonia de um golpe imaginário em meio a 120 empregados no Alvorada.

 

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Em razão desse anseio do país por ordem para progredir, é que discordo da crítica de Marco Antonio Villa à escolha do lema da bandeira nacional como slogan de Michel Temer. Ora, ela foi o símbolo onipresente nas marchas pró-impeachment dilatando o sentimento de pertença a uma mesma nação no verdeamarelismo – que, atacado por Marilena Chauí em surto permanente, só pode ser coisa boa – farta do vermelhismo que a cindia para a esbulhar.

Quem é que liga para Augusto Comte e a doutrina positivista? Os brasileiros se reconheceram na bandeira nacional, só isso; e Temer fez bem ao acolher esse reconhecimento. Também por isso deve remover a inadmissível pedra no caminho: André Moura (PSC-SE). Acusado de homicídio e réu num processo no STF, não pode continuar líder do governo na Câmara ou Temer estará ignorando o clamor das manifestações que resultaram no afastamento de Dilma em favor de nossas retinas tão fatigadas de patifarias.

Voltando à discussão sobre o MINC, registre-se que foi ignorada a perspectiva do consumidor de cultura. A classe artística despreza o fato de que, num país com Estado demais onde ele é desnecessário e de menos onde é fundamental, não há ambiente cultural para a cultura – nem para a tal alta cultura enquanto os filhos da elite que estudam em universidades públicas não se lembrarem delas em seus testamentos (José Mindlin uma das poucas exceções) ou Machado de Assis for considerado um autor elitista; nem para a tal cultura popular enquanto o “povo” achar que pode jogar o sofá velho num rio: cultura é educação.

MINC? Que MINC? O povo nunca viu nem comeu e agora só ouve falar. Povo? Que povo? O MINC nunca viu, só o assaltou. Ótimo fundir a Pasta da Cultura ao MEC porque as estruturas são parecidas e, se a economia seria insignificante, a intermitente racionalidade nacional, extinta nos governos lulopetistas, ganharia espaço. O barulho serviu para nos darmos conta de uma coisa boa, só possível com o PT fora: o Brasil voltou a falar de si, mal ou bem; a bandidagem petista ficou em segundo plano até começar a gritaria autoritária em defesa da cultura das divinas tetas e boquinhas.

Mesmo considerando que Temer não deveria ceder a militantes da chantagem que sequer reconhecem a legitimidade do governo interino, não me junto aos que o acusam de “amarelar” recuando da fusão, afinal nem tudo é uma questão de ser contra ou a favor, mas de reflexão: Temer não disseminará a racionalidade por decreto num meio impermeável e, com apenas dois anos para evitar a colisão do país com uma catástrofe maior, deve se concentrar nos embates relevantes futuros em vez de se desgastar com gente a quem não faltam grana fácil e tempo.

Um MINC desaparelhado que resolva isso basta. Os progressistas agora revoltados com a nomeação de um evangélico para o ministério da Ciência e Tecnologia no novo governo nada disseram enquanto aberrações de Mercadante a Celso Pansera passaram pelo ministério deixando como marca a redução drástica de recursos para o CNPq e para a Capes. Os fascistoides-tipo-descolados que defendem o MINC foram incapazes de ajudar Niède Guidon na defesa da Serra da Capivara.

As militantes da representatividade de gênero – só de escrever uma coisa assim já me diverte – deveriam ter queimado todos os sutiãs da presidente quando ela escolheu umas vigaristas para o governo, mas guardaram o discurso patrulheiro contra Temer por não incluir mulheres no ministério. Dilma já o alertou: as mulheres não aceitam ser “fetiche decorativo”! Claro, ou ela não teria se cercado de adornos adequados somente à sala da Família Adams; não, Erenice Guerra, Miriam Belchior e Graça Foster não foram decorativas, mas muito ativas. E fetichista é a relação da mulherzinha com a presidenta, a tal ponto que deixou 50 mil famílias esperando a entrega de unidades prontas do Minha Casa Minha Vida porque não havia espaço na agenda oficial, segundo o novo Ministro das Cidades, Bruno Araújo: é o mesmo povo do MINC que só tem concretude no gozo fetichista de ser presidenta.

Tudo refletindo o fato de que a academia onde pensadores glorificam tiranos, a classe artística que celebra tiranos e a militância que serve a tiranos não enxergam o país imenso, real, heterogêneo e devastado justamente pelo que buscam manter ao rejeitarem o governo legítimo de Temer e, como pastores da tirania viciados nas benesses do Estado, farão o diabo para inviabilizá-lo. Isso é Dilma, a pedra no nosso caminho impedindo que nossas retinas tão fatigadas de cafajestice esqueçam que tinha uma Dilma no meio do caminho. Lembrarão nas próximas eleições, em toda elas. Pelo tamanho do texto, vê-se que decidi buscar outro Drummond: o silêncio não é o companheiro preferido das minhas emoções mais puras. Perdão se me excedi.

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Fonte: VEJA.COM

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