PT orienta filiados a desembarcarem do governo, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Publicado em 13/05/2016 09:08
no blog do Josias (UOL)

Horas depois de Dilma Rousseff ter desocupado o Planalto para que Michel Temer o ocupasse, Rui Falcão, presidente do PT federal, emitiu um comunicado curto e espesso. Dirigindo-se aos petistas pendurados na máquina estatal, anotou: “O PT orienta seus filiados que ocupam cargos de confiança no governo federal a deixarem seus postos no governo ilegítimo do presidente interino.”

Conforme já noticiado aqui, há na engrenagem federal 107 mil cargos comissionados, cujos ocupantes recebem uma gratificação mensal além do salário. Os assentos mais cobiçados são os chamados ‘DAS’, sigla de ‘Direção e Assessoramento Superior’. Somam 22,3 mil vagas, das quais 6,5 mil foram preenchidas com gente estranha à carreira, enfiada pela janela.

Subtraindo-se os salários, as gratificações da turma do ‘DAS’ custam ao erário R$ 886 milhões por ano só na administração pública direta direta, sem as estatais. Em tempos de desemprego e cintos apertados, parece improvável que os petistas enfiados nessas boquinhas há mais de 13 anos atendam à orientação do companheiro Falcão. O governo pode ser ilegítimo. Mas o dinheiro é genuíno.

Se Dilma quiser, poderá ser ouvida no Senado

Responsável por presidir o julgamento de Dilma Rousseff agora que ela está afastada do cargo por até seis meses, o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, informou que a acusada “pode ser ouvida” pelos senadores. “Em querendo, ela é convidada”, declarou.

Nessa fase, explicou Lewandowski, o impeachment “se assemelha a um julgamento de júri.” Haverá oitiva de testemunhas, debates entre acusação e defesa e coleta de provas.

Resposável por dirimir dúvidas levantadas em eventuais recursos, o ministro disse acreditar que o trabalho fluirá “com naturalidade”, porque se baseia em procedimentos já adotados em 1992, durante o julgamento do pedido de impeachment de Fernando Collor.

Pela Constituição, o processo pode durar até seis meses. Mas o presidente da comissão processante, senador Raimundo Lira (PMDB-PB), já informou que não cogita utilizar todo esse tempo.

Faltou algo à chegada de Michel Temer: recato

Investido na condição de presidente em exercício, Michel Temer disse nopronunciamento inaugural de seu governo provisório mais ou menos tudo o que se esperava ouvir dele. Falou em diálogo e salvação nacional. Citou reformas. Elegeu como prioridade a interrupção da queda livre da economia. “Em letras garrafais”, jurou que manterá os programas sociais. Em letras mais miúdas, fez uma rápida referência elogiosa à Lava Jato. Mas faltou algo à primeira cerimônia do governo seminovo do PMDB: recato.

Os novos donos do poder foram recepcionados no Planalto sob o barulho de uma queima de fogos de artifício. Era como se a gestão peemedebista tivesse acaba de sair das urnas. Temer não cabia em si. Normalmente sisudo, sorria à larga. Ao discursar, engasgou um par de vezes. Pediu água e pastilhas. Chamados pelo nome, os ministros, em sua maioria deputados e senadores, assinaram o livro de posse sob aplausos efusivos dos colegas. Pareciam personagens de uma festa de formatura. A atmosfera de celebração juvenil não combinava com a gravidade do momento.

Para completar a cena, desfilaram pelo salão de cerimônicas do Planalto personagens como o deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que relatou na Câmara o processo de impeachment de Dilma, e o senador tucano Aécio Neves, presidente do PSDB, partido que migrou da oposição para dentro do governo-tampão de Temer.

Havia risos demais no Palácio do Planalto. E nada parece mais obsceno do que o riso em meio às tragédias econômica, ética e política. Todos vestiam terno na solenidade do Planalto. Mas estariam mais compostos nus, com uma folha de parreira no rosto.

 

Por que o dólar não caiu com Temer? (no EL PAÍS)

Desde as 11 horas o vice-presidente Michel Temer se tornou oficialmente o presidente interino do Brasil, depois que a presidenta Dilma Rousseff foi afastada por até 180 dias pelo Senado. Muita gente chegou a acreditar que a notícia da mudança de poder trouxesse uma forte queda do dólar. Em tom irônico no Twitter, por exemplo, a hashtag #R$ 1,00 se tornou um dos temas mais comentados, com usuários questionando por que o dólar não estava caindo após a decisão do Senado de afastar a presidente. 

No entanto, a verdade é que o mercado financeiro opera sem clima de euforia nesta quinta-feira. O dólar chegou a cair no começo do dia, mas inverteu a trajetória depois que o Banco Central (BC)  interveio para segurar a desvalorização. Às 12h09, moeda norte-americana subia 1,41%, cotada a 3,4837 reais na venda. Depois, o dólar continuou subindo sob influência da queda do preço do petróleo que reflete na depreciação das moedas de países emergentes, como o Brasil.

"Muitas pessoas pensavam que hoje teríamos um tombo no valor do dólar e uma forte alta na bolsa, mas o mercado já vinha antecipando, desde fevereiro, essa mudança de Governo. O otimismo dos investidores já tinha sido absorvido", explica a economista CamilaAbdelmalack da Capital Markets. Só neste ano, a bolsa subiu 40% em dólares e o real foi a moeda que mais se apreciou (14,86%).

 

O economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, concorda. A grande questão na opinião do especialista é como será precificada a chegada do novo presidente interino Michel Temer. "Ainda não está totalmente claro como será a gestão Temer. O que fizeram até agora é colocar as palavras na boca dele. Só saberemos isso ao longo dos próximos dias". O nome de Henrique Meirelles, ex-presidente do BC dos dois Governos de Lula, para a pasta da Fazenda já foi confirmado para deleite do mercado. No entanto, além dos nomes fortes os agentes financeiros querem conhecer o novo plano econômico do país que deve ser anunciado nesta sexta-feira.

Perfeito acredita que, nas próximas semanas, a relação do mercado com o presidente interino será de lua de mel, o que pode gerar uma depreciação do dólar, mas que tudo dependerá das reais sinalizações de Temer. A agência de classificação de risco Moody"s também afirmou, nesta quinta-feira, que a votação no Senado que levou ao afastamento de Dilma Rousseff não irá erradicar a incerteza política no país.

Os sete desafios de Michel Temer (por HELOISA MENDONÇA - EL PAÍS)

impeachment da presidenta Dilma Rousseff foi confirmado pelo Senado nesta quinta-feira, abrindo caminho para a chegada do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), seu ex-aliado por cinco anos e que rompeu com o Governo em março. Temer assume o poder com baixa popularidade (apenas 8% dos brasileiros reconhecem sua autoridade, segundo pesquisa recente do Ibope) e tem de organizar um país em convulsão após um processo de impedimento que se arrastou por quatro meses.

Com dois anos e meio de Governo pela frente, o novo presidente herda graves problemas econômicos que não foram solucionados na administração do PT. Entre eles, uma crescente dívida pública, uma recessão grave que deixou 2 milhões de pessoas sem emprego no último ano e uma inflação de 9,28%, acima da meta estabelecida pelo Banco Central (6,5%).


Temer também se vê diante do mesmo problema de todo o continente: as commodities estão em baixa e seu principal comprador, a China, cresce moderadamente. Isso afeta a demanda de produtos primários, como a soja, o minério e o petróleo, que figuram entre as principais exportações do Brasil.

O desafio do novo mandatário é encontrar o ponto de equilíbrio para reduzir os gastos públicos e, ao mesmo tempo, aumentar a arrecadação do Governo. Para isso, será necessário aprovar junto ao Congresso medidas impopulares que ajudem a recuperar as contas públicas, ante a previsão de um déficit de quase 2% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano.

Para enfrentar os desafios, Temer já preparou um plano econômico e tem nomes estratégicos para implantá-lo. Seu ministro da Fazenda será Henrique Meirelles, que foi presidente do Banco Central por oito anos durante os dois Governos de Lula (2003-2010). O nome de Meirelles é festejado pelo mercado financeiro, que o considera uma pessoa capaz de lidar com os graves problemas econômicos deixados com a saída de Dilma.

O EL PAÍS consultou especialistas sobre quais serão as maiores dificuldades que Temer deve enfrentar ao assumir a Presidência.

1- Reforma da Previdência Social

Para equilibrar as contas públicas, o Brasil precisa fazer reformas como as que os países europeus promoveram na crise de 2009. Uma política de austeridade que exigirá cortes de gastos e aumento dos impostos. Os especialistas consultados pelo EL PAÍS concordam que, para reduzir o gasto público e recuperar o dinamismo da economia brasileira – atualmente paralisada na maior recessão dos últimos anos –, uma das principais saídas será apostar na reforma da Previdência Social, que representa 12% do PIB. Hoje os brasileiros podem se aposentar com a idade mínima de 55 anos.

Desde o início do Governo de Rousseff discute-se aumentar essa média para 63 anos (60 mulher e 65 anos os homens, ou igualar a idade). “O mais urgente é fixar uma idade mínima para a aposentadoria para reduzir gastos”, explica Mansueto Almeida, especialista em contas públicas.

2- Reduzir a dívida pública

A dívida bruta do país já supera os 70% do PIB, o maior da América Latina, e que cresceu principalmente nos anos do Governo de Rousseff. Diante desse panorama, o ideal seria uma forte redução do gasto público em longo prazo e um limite legal para novos gastos. “Se o Brasil mantiver a trajetória atual de compromissos, o Governo não terá como pagar sua dívida dentro de cinco anos”, explica Bernard Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal. Essa realidade compromete, por exemplo, o Plano Nacional de Educação, que pretende aumentar o gasto atual em educação de 6% do PIB para 10%.

3- Aumentar impostos

Temer terá que aumentar a arrecadação para poder fazer frente aos gastos e traçar a recuperação da dívida pública. O Governo de Temer tem um plano econômico, batizado de “Uma ponte para o futuro”, em que afirma que “qualquer ajuste em longo prazo deveria, em princípio, evitar um aumento de imposto”. Esse desejo, no entanto, é impossível, segundo os especialistas. “Poderia subir por um tempo um imposto criado para garantir recursos para saúde e seguridade social, e baixá-lo de modo decrescente, todos os anos. Mas, evidentemente, não se pode ficar limitado aos impostos, há que fazer reformas estruturais”, explica Mansueto Almeida.

4- Taxa de desemprego de dois dígitos

O desemprego no Brasil alcançou o maior índice dos últimos anos e chegou a 10,9% no primeiro trimestre deste ano. Atualmente há 11,1 milhões de trabalhadores desempregados no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em um ano, o número de pessoas que procuram emprego subiu 3,2 milhões. Caberá a Michel Temer reforçar a necessidade de implantar reformas trabalhistas, como os contratos de trabalho flexíveis, para retomar o crescimento e, consequentemente, reduzir o desemprego.

5- Protestos de rua e o PT na oposição

Uma vez que esteja fora do Governo, o Partido dos Trabalhadores passará à oposição e voltará a suas origens, que é ao lado dos sindicatos e dos movimentos sociais. Com as perdas de benefícios, esperam-se manifestações nas ruas contra o novo presidente que ainda é mal visto porque teria abandonado Rousseff para facilitar o impeachment, e assim assumir o poder sem passar pelas eleições.

6- Agenda social

Nos 13 anos do PT no poder, foram criados vários programas sociais para os mais pobres, como o famoso Bolsa Família, que atende 45 milhões de brasileiros (25% da população do país) com uma ajuda equivalente a 19 euros (76 reais) mensais, o suficiente para que uma pessoa possa ter algo para comer. Michel Temer nega a intenção de acabar com os programas sociais, mas já deixou claro que pretende preservar e melhorar a ajuda aos “5% mais pobres”, segundo um documentos que trata da agenda social de seu Governo. O novo presidente promete ainda manter os programas de moradia subsidiada e os de ajuda ao ensino técnico, mas não se sabe se serão reformados ou reduzidos.

7- Apoio no Congresso

O vice-presidente Michel Temer precisa garantir o apoio do Congresso Nacional para aprovar as medidas de ajustes fiscais. “No Brasil é preciso um mínimo de liderança para conseguir negociar com os 25 partidos que estão ali representados no Congresso”, explica Sérgio Valle, da consultoria MB Associados. Diferentemente de Rousseff, Temer foi três vezes presidente da Câmara dos Deputados e tem em seu favor, segundo os especialistas, uma maior facilidade para dialogar e negociar.

No entanto, com a suspensão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) na semana passada, fica claro que a instabilidade continuará pelo menos no início do Governo Temer. Cunha foi sucedido por Waldir Maranhão, um político inexpressivo do conservador Partido Progressista, que armou uma confusão na segunda-feira passada, dia 9 de maio, quando suspendeu o processo de impeachment da presidenta. Maranhão anulou as sessões da Câmara que tinham admitido a destituição em plenário, por estar em desacordo com a forma como o processo foi conduzido.

Voltou atrás poucas horas depois e revogou sua própria decisão. Temer terá de contornar o novo presidente da Câmara, ou fazer alianças para garantir outro líder alinhado com seus projetos.

A democracia do Brasil, à prova

por JUAN ÁRIAS

A saída de Dilma Rousseff do palácio presidencial, provavelmente para não voltar, representa a interrupção dramática de seu mandato selado em 2014 por 54 milhões de eleitores que lhe deram sua confiança nas urnas, algo que não deixa de ser um rasgo no tecido social.

A dura ex-guerrilheira se despediu como vítima de um golpe de Estado e avisou que lutará para voltar. É sua legítima defesa.

Enquanto isso, o país tem um novo Governo sob o comando do vice-presidente da República, Michel Temer, que atuará até que se conclua o processo contra Rousseff, segundo prevê a Constituição.Os juristas prosseguirão, por sua vez, discutindo se o processo e o veredito do Congresso se ajustam ou não à Constituição, que prevê a perda do mandato presidencial por crime de responsabilidade administrativa. É possível que, no futuro, o Brasil tenha que revisar esse ponto complexo da Constituição.

O fato, excepcional, vai representar um teste importante para medir o pulso da jovem democracia brasileira.

Ninguém nega hoje que, apesar de todos as ramificações jurídicas, Rousseff não teria sido deposta se o país estivesse crescendo economicamente, se não estivesse sofrendo a angústia de ter 12 milhões de desempregados, uma inflação que come o salário dos trabalhadores e 60% da população endividada. E se Rousseff não tivesse perdido a confiança do Congresso.

O presidente em exercício, Temer, é o oposto de Dilma em tudo. Formou-se à sombra do Congresso, que já presidiu três vezes, conhece como poucos a complexa engrenagem dos Governos de coalizão e entra contando com uma forte maioria parlamentar, que foi o que faltou a Rousseff.

Em teoria, isso lhe permitiria aprovar algumas das reformas urgentes de que o Brasil necessita para aprumar sua economia, que vive a maior recessão de sua história republicana.

O grande mundo do trabalho e, sobretudo, a nova classe média baixa que saiu da miséria durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), e que começará a sentir as chicotadas da crise que ameaça devolvê-la a seu triste passado, vão medir Temer, mais do que por seu carisma, pelos resultados imediatos de seu novo governo.

O brasileiro é mais pragmático que ideológico. Por isso, talvez, entendeu-se sempre melhor com Lula que com Dilma.

Para essa massa de gente que sofre para concluir o mês e que vê a cada dia o seu dinheiro valer menos, o discurso jurídico do golpe tem menos eco que os preços do mercado ou a angústia de se ver a cada dia mais endividada.

Que a democracia do Brasil está demonstrando ser, apesar de tudo, mais sólida do que possa parecer fora de suas fronteiras, pode-se verificar no fato de que depois do trauma da deposição de Dilma as pessoas não foram para as ruas. Não há violência. O Exército dormiu tranquilo e o Supremo vigiou e controlou cada passo do doloroso rito do impeachment de Dilma.

Não é pouco nestas latitudes tropicais.


 

 
 
 

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Fonte: Blog do Josias (UOL) + EL PAÍS

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