Do lado de fora do Palácio, Lula era a cara da decadência (por REINALDO AZEVEDO)
Às portas do Palácio do Planalto, Lula parecia pra lá de Marrakesh. Estava aéreo, bateu palma poucas vezes, os olhos estavam injetados. Havia ansiolítico ali. Compreensível! Via desmoronar o poder petista, concebido para ser eterno.
Há muito o PT já é também poder, não apenas projeto. Na cabeça dos valentes, no entanto, a obra só se completaria com o extermínio dos adversários. E, no entanto, acontece isso que se vê.
Cumpre lembrar: o PT quebrou as pernas do DEM, emparedava o PSDB e já se preparava para se voltar contra o PMDB, o seu mais importante aliado adversário, e até contra os evangélicos, com os quais pretendia disputar “fiéis”.
Deu tudo errado. Antes que o PT desse consequência a seus delírios totalitários, que vinham consubstanciados numa proposta absurda de reforma política, a economia começou a desandar. Ou melhor: a fortuna bilionária de todos os erros começou a cobrar a sua fatura. E veio à luz, então, a Lava Jato. As crises econômica e política de conjugaram, e a real natureza do PT se revelou como nunca antes na história “destepaiz”.
Mais uma vez, os petistas resolveram usar a sua arma nada secreta: Lula. A presidente agora afastada teve o topete de nomear ministro o seu antecessor, que, dias antes, submetido a uma condução coercitiva, ameaçou a todos com a “vingança da jararaca”.
Antes mesmo do ato de nomeação, Lula procurou as autoridades de Brasília e manteve reuniões a portas fechadas, conspirando abertamente contra a Lava Jato e os fundamentos da República.
Tendo sido impedido de tomar posse pelo Supremo, Lula acoitou-se num quarto de hotel e passou a se comportar como o virtual dono da República. Cargos eram negociados no seu feirão.
Os petistas saíam aos quatro ventos: “Agora, sim, tudo vai mudar. Afinal, Lula está no comando”.
A verdade que se viu foi bem outra: a nomeação do chefão, pouco depois de conversas escabrosas terem ido ao ar, implicavam um claro desafio ao Ministério Público e à Polícia Federal. O termo de posse que Dilma antecipou àquele que seria seu ministro expôs, de maneira cabal, o que merece o nome de conspiração e se caracteriza como “obstrução da Justiça”.
Isso tudo explica aquela cara de Lula. Já houve um tempo em que todas as besteiras que dizia viravam lei. Desta feita, bateu no peito, disse que fazia e acontecia e deu com os burros n’água.
Aquela cara à porta do Palácio era a cara da decadência, de quem não entendeu até agora as regras da democracia.
Um discurso impecável na forma e no conteúdo: a “democracia da eficiência”
Se discursos antecipassem a qualidade do governo, o de Michel Temer (leia abaixo) será excelente. A fala que marcou a sua posse foi serena, segura, propositiva, apelando sempre a um conteúdo que tem feito falta ao Brasil dos últimos 13 anos e pouco: defesa das instituições.
Pela primeira vez neste tempo, não saíram da boca do chefe do Poder Executivo palavras que jogam brasileiros contra brasileiros, que opõem o “Nós” ao “Eles”. Ao contrário. Ao falar na necessidade de um governo de salvação nacional, afirmou:
“Reitero, como tenho dito ao longo do tempo, que é urgente pacificar a Nação e unificar o Brasil. É urgente fazermos um governo de salvação nacional. Partidos políticos, lideranças e entidades organizadas e o povo brasileiro hão de emprestar sua colaboração para tirar o país dessa grave crise em que nos encontramos. O diálogo é o primeiro passo para enfrentarmos os desafios para avançar e garantir a retomada do crescimento. Ninguém, absolutamente ninguém, individualmente, tem as melhores receitas para as reformas que precisamos realizar. Mas nós, governo, Parlamento e sociedade, juntos, vamos encontrá-las.”
Sei que parece óbvio, mas eis um valor do qual muitos se esqueceram: a função de um presidente da República é servir de catalisador das potencialidades do país.
Separo, assim, o seu discurso em duas categorias: a forma e o conteúdo. A forma foi impecável. Pela primeira vez em muito tempo, sentia-se a presença de uma autoridade que inspirava respeito não pela imposição de seus dons carismáticos ou por laivos de um agressividade sempre contida e presente. A autoridade em questão se fazia ouvir porque encarnava os bons e abstratos valores da institucionalidade. Sem gritos, sem atropelos à língua, sem suor, sem dedo em riste. Temer, com um risinho contido, recorreu até a uma mesóclise. Não espancar a inculta & bela não é critério de bom governo, mas é melhor do que espancá-la, o que também não faz a competência de ninguém
Conteúdo
No conteúdo, o discurso foi igualmente impecável, até porque o presidente não ignora as dificuldades. Tratou de questões que eu diria contingentes, ainda que perdurem: garantiu que não haverá interferência na Lava-Jato; falou da necessidade de estancar a queda livre da economia; pregou a pacificação da nação e assegurou o continuidade dos programas sociais.
Ao tratar dos temas que eu diria de fundo, expressou seu compromisso com as reformas, citando explicitamente a trabalhista, a previdenciária e a revisão do pacto federativo. E adiantou, apelando à mesóclise: “Mas eu quero fazer uma observação. É que nenhuma dessas reformas alterará os direitos adquiridos pelos cidadãos brasileiros. Quando menos fosse, sê-lo-ia pela minha formação democrática e pela minha formação jurídica. Quando me pedirem para fazer alguma coisa, eu farei como [presidente] Dutra: ‘O que é que diz o livrinho? O livrinho é a Constituição Federal.”
O presidente enfatizou ainda que as reformas serão feitas em consonância com o Congresso Nacional. Sim, meus caros: sei que é mais fácil falar do que de fazer. Mas, se o credo estiver correto, fica mais fácil ajustar a conduta, não é? Boa parte dos descaminhos dos governos Lula e Dilma decorreu de uma convicção torta.
Democracia da eficiência
Temer também cravou uma expressão pela qual deve, sim, ser cobrado: “democracia da eficiência”. Afirmou:
“Então, quando eu digo ‘é preciso dar eficiência aos gastos públicos’, coisa que não tem merecido maior preocupação do Estado brasileiro, nós todos estamos de acordo com isso. Nós precisamos atingir aquilo que eu chamo de ‘democracia da eficiência’. Porque, se, no passado, nós tivemos, por força da Constituição, um período da democracia liberal, quando os direitos liberais foram exercitados amplamente; se, ao depois, ainda ancorados na Constituição, nós tivemos o desfrute dos chamados direitos sociais, que são previstos na Constituição, num dado momento, aqueles que ascenderam ao primeiro patamar da classe média começaram a exigir eficiência, eficiência do serviço público e eficiência nos serviços privados. E é por isso que hoje nós estamos na fase da ‘democracia da eficiência’, com o que eu quero contar com o trabalho dos senhores ministros, do Parlamento e de todo o povo brasileiro.”
Concluo
O discurso foi impecável, reitero, na forma e no conteúdo. Que seja um bom auspício.
MINHA COLUNA NA FOLHA: “A luta continua”
Leiam trecho:
O PT está fora do poder. E, acreditem, é para sempre. “E você vai fazer depois disso o quê?”, perguntam-me os inconformados, como se a minha profissão fosse ser antipetista; como se eu me definisse pelo “não”.
Ocorre, para a eventual decepção dos desafetos, que eu me defino pela “coragem grande de dizer ‘sim'”, citando trecho de uma música de Caetano Veloso –que se deve escrever apenas “Caetano”. O que dizer nessa hora? Como Aquiles e Heitor, a despeito do confronto cruento, estou preparado para admirar meu adversário. Mas esse é eco de uma luta mais ancestral do que a “Ilíada”, de um tempo em que cada litigante reconhecia no outro grandeza e legitimidade para ser o que é.
Que coisa curiosa! Se os petistas não tivessem reduzido todas as divergências à luta entre a boa-fé, de que se querem monopolistas, e a má-fé –a vontade do outro–, então viveríamos no que um poeta chamou certa feita de “a cidade exata, aberta e clara”, em que as divergências não se fazem de virtudes que se negam.
A propósito: se o entendimento que os petistas têm do marxismo não fosse tão pedestre, a divergência seria uma etapa do aprimoramento do argumento. Mas não há chance, na terra petista, de o “Deus crucificado beijar uma vez mais o enforcado”. Os petistas são incapazes de reconhecer que o arcabouço legal que lhes conferiu quatro mandatos é o mesmo que afastou a presidente.
(…)
Íntegra aqui
Senadoras perdem vigor após placar (RADAR TVVEJA)
Quem esteve na reunião de líderes do Senado com o presidente do STF e do processo de impeachment, Ricardo Lewandowski, estranhou o comportamento manso das senadoras agora oposicionistas Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Vanessa Graziotin (PC do B-AM).
Combativas e cheias de energia vocal durante os debates do impeachment no plenário, as duas mal falaram na reunião e pareciam já conformadas com o destino de Dilma Rousseff, que não deve voltar ao governo após seu afastamento.
Cabeça avariada
Rui Falcão ficou grogue para sempre com o nocaute sofrido por Dilma
“Não descansaremos um só minuto até que a presidenta de todos os brasileiros, sufragada em eleições livres e diretas, retorne ao comando do Estado. Voltaremos!” (Rui Falcão, presidente do PT, na nota divulgada nesta sexta-feira, avisando que os devotos da seita lulopetista vão passar o resto da vida sem um só minuto de descanso)
Oliver: Honra ao mérito (no blog de AUGUSTO NUNES)
VLADY OLIVER
Como tantos aqui, comemoro a “tomada da pastilha”. A deposição do PT. A decomposição do PT. O fim da era da “prizidenta” e seus desdentados de turno. A prisão de Lula que se anuncia. A inscrição “ordem e progresso” na nova marca presidencial. Acho que democratas como Augusto Nunes – não por acaso meu irmão de pais e mães diferentes, que tantas vezes cedeu o seu banquinho democrático para o arremesso de meus impropérios – merecem alguns minutos de elogiosa reverência pelos serviços prestados à nação brasileira.
Foi daqui e de outras trincheiras igualmente comprometidas com a libertação de um país das garras de uma camorra que partiu a maior parte dos petardos que foram minando aos poucos a resistência dessa ditadura vagabunda e bolivariana, travestida em “governo de inclusão social” dos párias e malandros que infestam essa américa emborcada na latrina. Foi daqui que partimos dos quase poucos por cento para a quase unanimidade que derrubou aquela jamanta atravessada no Planalto.
De propósito, lembro aos leitores aqui presentes que são só alguns minutos de reverência. Ganhamos essa batalha, mas estamos longe de ganharmos a guerra. E a guerra se travará agora muito mais no campo da surdez ideológica que no calor das ruas. De volta às alcovas, o que políticos mais gostam de fazer é se multiplicar. Precisaremos agora, mais do que nunca, estarmos alertas e vigilantes para as portinholas já arrombadas de nossa consciência marreta.
Em que pese o fato de que estes petistas agora só falam para as paredes, bastam poucos exemplos – maus exemplos – da péssima política que insistimos em cultivar por aqui para tudo voltar à estaca zero e voltarmos a ouvir o inglório cacarejo: “por onde passa o Lula, a coisa se ilumina”.
Já estou com saudade do tempo em que éramos ingênuos, o dinheiro abundava e tudo era mais fácil de se conseguir. Para subirmos de volta dessa pirambeira moral em que nos meteram precisaremos de muito esforço, muita determinação e algum talento. Coisas que sobram por aqui, neste luminoso tatame onde treinamos o bom combate por todo esse tempo, sem descanso.
Valeu o curso de arremesso de palavrões, meu grande irmão touro sentado. Nós, da tribo dos taquaritingas, saudamos as nuvens que colhemos nessa incansável dança da chuva. Que ela seja generosa e nos permita uma colheita, senão farta, pelo menos justa.
Obrigado, mestre Augusto! Foi uma honra chegarmos até aqui. Amanhã tem mais!