O deputado vigarista que tentou deter o avanço do impeachment vai morrer daquela espécie de idiotia que induz seu portador a...
“Vossa Excelência está desrespeitando o presidente de outro poder!”, gritou a senadora Vanessa Grazziotin, do PCdoB do Amazonas. (Curioso: os parlamentares a serviço do governo agonizante jamais discursam, pedem apartes ou formulam questões de ordem em tom civilizado; as mulheres gritam, os homens berram. Mas isto é assunto para outro post. Voltemos à sessão desta segunda-feira e ao chilique da comunista do Brasil, dedicado ao presidente do Senado).
Motivo: Renan Calheiros acabara de sepultar a mais recente safadeza dos bucaneiros sob o comando do Planalto. Nesta manhã, o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão, decidiu anular a sessão que aprovou o julgamento do impeachment pelo Senado. Renan resolveu ignorar o ofício enviado pelo deputado maranhense e manter o andamento do caso que vai chegando ao clímax no Senado. A chefe de um governo devastado pela incompetência e pela corrupção, fora o resto, não tem cura.
Até virar vice de Eduardo Cunha, o veterinário maranhense que se elegeu deputado pelo PPS do Maranhão em 2006, e conseguiu mais dois mandatos pelo PP, era apenas mais um prontuário driblando o camburão. Submerso no baixo clero da Câmara, ele se contentava com barganhas de verbas, votos e empregos públicos. Até a primeira quinzena de abril, a tropa do Planalto enxergava em Waldir Maranhão só um vassalo de Cunha engajado no golpe tramado para derrubar a presidente.
Às vésperas da sessão que acelerou a demissão da presidente, conversas reservadas com o governador do seu Estado, Flávio Dino, convenceram Waldir Maranhão a mudar de rumo e de lado. Sem revelar as razões ou o preço da metamorfose, tornou-se admirador de Dilma desde criancinha e inimigo do impeachment desde a adolescência. Com o afastamento de Cunha, aumentou suficientemente o cacife para acertar a revisão do contrato de aluguel.
A julgar pela audaciosa decisão autocrática desta segunda-feira, foi um negócio de bom tamanho ─ que, de quebra, fez de Waldir Maranhão o caçula dos heróis da pátria lulopetista. No domingo, viajou de São Luiz para Brasília no jatinho da Câmara, com Flávio Dino no papel de carona. No mesmo dia, encontrou-se no Palácio do Planalto com José Eduardo Cardozo, advogado de Dilma disfarçado de advogado-geral da União.
Nesta tarde, depois de promovido por Vanessa Grazziotin a “presidente do Poder Legislativo”, tratamento negado a Eduardo Cunha pela tropa governista, o parlamentar do PP arrendado pelo Executivo foi reverenciado por Gleisi Hoffmann como o estadista que faltava ao Congresso. Lindberg Farias, que enxerga em Michel Temer um traidor golpista, berrou que vê em Maranhão um sucessor com mais legitimidade que Eduardo Cunha.
Passados os dez minutos de fama, o bandido juramentado não demorará a descobrir que o bando ainda no poder não desperdiça tempo nem afagos com parceiros que falharam no cumprimento da missão. Ficou combinado que Waldir Maranhão impediria (ou pelo menos retardaria) o avanço do impeachment. Como não entregou a mercadoria, o veterinário especializado em compras e vendas ilícitas será alojado no canto do porão reservado aos que subiram a bordo depois da colisão com o iceberg.
Os poucos botes disponíveis já estão reservados aos tripulantes graduados. Não há esperança de salvação para o vigarista maranhense que embarcou tardiamente e no navio errado. Oficialmente, vai morrer afogado. A realidade grita que lá se vai outra vítima daquela espécie de idiotia que induz seu portador a julgar-se esperto demais.
Neurônio inaceitável, Dilma é uma presidente sem recursos
“Um recurso foi aceitado”. (Dilma Rousseff, internada por Celso Arnaldo Araújo ao receber a notícia da decisão do presidente interino da Câmara Waldir Maranhão, enquanto discursava num evento em Brasília, comprovando que é uma presidente sem nenhum recurso em seus últimos dias).
Vídeos: três atos de uma manobra frustrada (JOSIAS DE SOUZA, UOL)
Dilma realizou nesta segunda-feira mais um de seus ‘golpemícios’ nas dependências do Planalto. Entusiasmou a plateia ao informar que o processo de impechment havia sido suspenso. A reação foi tão efusiva que Dilma pediu calma. Recordou que a política está sujeita a “manhas e artimanhas”…
Horas depois, o presidente do Senado, Renan Calheiros, informou aos senadores que decidira desconhecer o despacho que recebera do interino da Câmara. Acusou-o de brincar com a democracia. Ficou entendido que nem o protogovernista Renan está disposto a socorrer Dilma a qualquer custo…
Em breve comunicado aos jornalistas, Waldir Maranhão, o número dois do afastado Eduardo Cunha, tentou, sem sucesso, explicar o inexpicável. Negou que estivesse “brincando de fazer democracia''. E disse ter “o dever de levar aos lares brasileiros, mundo afora, que o nosso país tem salvação.” Ah, bom!
De volta ao Senado, Delcídio pede desculpas e diz: ‘Agi a mando’
Por João Pedroso de Campos, na VEJA.com:
O senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) voltou ao Senado nesta segunda-feira pela primeira vez depois de ser preso por obstruir as investigações da Operação Lava Jato. Delcídio foi ouvido na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Casa, que iria votar o relatório do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), favorável à cassação do ex-petista, e decidir pelo encaminhamento do processo ao plenário. Diante de seus pares, Delcídio reiterou o conteúdo de sua delação premiada e afirmou que agiu “a mando” ao negociar a compra do silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
“Admito meu erro e peço perdão por isso”, disse o ex-líder do governo no Senado, que argumenta não ter cometido faltas graves o bastante para perder o mandato. “Eu não roubei, não desviei dinheiro, não tenho conta no exterior. Estou sendo acusado de obstrução de Justiça”, lembrou Delcídio, que se emocionou ao citar a família e reclamou da velocidade com que o processo correu no Conselho de Ética do Senado. Apesar de ter citado o ex-presidente Lula como o mandante da negociação, em entrevista a VEJA, o senador não mencionou o petista em sua fala na CCJ nesta segunda-feira.
Embora não tenha comparecido às sessões do conselho em que poderia se defender – Delcídio apresentou cinco atestados médicos – ele afirmou que não teve acesso “nem ao processo inicial nem ao aditamento da denúncia”, feito pela Procuradoria-Geral da República na semana passada. Baseado na delação premiada de Delcídio, o aditamento trouxe denúncias do procurador-geral Rodrigo Janot contra Lula e o pecuarista José Carlos Bumlai. “Não sabemos sequer o que diz esse aditamento”, reclamou Delcídio.
Sobre a gravação feita pelo filho de Cerveró, Bernardo, que o levou à prisão, Delcídio afirmou que conhece o rapaz “desde pequeno” e classificou o mirabolante plano de fuga que traçou para o ex-diretor da Petrobras como uma “fala absurda e inconsequente”.
Delcídio antes de Dilma – Após a manifestação de Delcídio, os senadores não votaram o relatório de Ricardo Ferraço e passaram a discutir um requerimento do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) para que a PGR encaminhe à CCJ os autos do aditamento da denúncia contra o senador. “Não há como se votar o relatório sem votar o requerimento de acesso ao aditamento”, disse o advogado de Delcídio, Antonio Figueiredo Basto. Por “prudência”, Ferraço apoiou o requerimento de Nunes, que acabou aprovado.
Com a medida, o processo de cassação de Delcídio do Amaral fica suspenso e pode voltar à estaca zero com os novos elementos a serem remetidos pela PGR. Após o encerramento da sessão na CCJ, o relator do processo no Conselho de Ética, senador Telmário Mota (PDT-RR), contrário ao requerimento de Aloysio Nunes, levou ao plenário da Casa a discussão sobre a cassação do senador.
Também contrário à decisão da CCJ, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), alegou que não cabe à comissão produzir provas e afirmou que só colocará o impeachment da presidente Dilma Rousseff em votação no plenário da Casa depois de os senadores apreciarem a cassação de Delcídio.
Com manobra, governo pode perder apoio de Renan
A manobra do governo, capitaneada pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, de tentar anular o processo de impeachment de Dilma Rousseff, pode ter o condão de afastar um aliado até aqui importante para Dilma Rousseff: Renan Calheiros.
A tentativa de frear o processo coloca Renan na seguinte situação: tem de decidir entre a autonomia do Senado, que já recebeu o processo, ou abrir mão dela para atender o Planalto.
Aliados do peemedebista dizem que ele não pretende abrir mão de sua autoridade e da independência do Senado para ajudar Dilma, cujo destino já é considerado selado na Casa, que deve aprovar seu afastamento na quarta-feira.
“Histórias que o tempo não apaga” e outras seis notas de Carlos Brickmann
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
Quando nós o conhecemos, já era um cavalheiro de fina figura: bem vestido, de boa conversa, um verdadeiro sábio. Lia muito, em português, inglês, espanhol. Bilionário já nos primeiros anos de vida, discutia, contava os casos, emprestava os seus livros. E principalmente nos ensinava como é que os negócios funcionavam de verdade.
Dizia: “pois só essa tal de propina nos come boa parte dos rendimentos da empresa. Não há no mundo quem aguente tamanha despesa”.
Bem mais recentemente, e agora já bem mais idoso, contou-nos que a coisa mudara. Claro, para pior, para mais. “Antigamente, se pagava uma propina geral, no valor de parte dos lucros da empresa. Agora temos sido obrigados a pagar quatro”. Uma para levar a obra. Duas, para remunerar quem libera o início do trabalho. Três, o justo pagamento de quem autoriza os primeiros pagamentos. E a quarta, do sujeito que se aproveita das leis em vigor para segurar o cheque de pagamento.
Sem propina, rendimento zero.
E por que ele continuou todo o tempo nos negócios? Talvez por acreditar que das fartíssimas tetas da propina sempre haveria algum a mais para engordar-lhe os lucros.
Destino e futuro
E há também o príncipe da gorjetaria, que montou uma estrutura destinada a, digamos, negócios. Propinas, subornos, presentes de bom preço, passeios maravilhosos a ofertar aos aliados de hábito. Construiu seus castelos e teve o mesmo destino dos outros: despesas diversas, imensas, com contadores, advogados, com gente que também traía empresas concorrentes. Agora, amarga ainda outras.
Por que correu tanto risco? Por achar que dinheiro para resolver seus problemas jamais lhes faltaria.
Prática Brasil
Empresários menores entraram na luta e também acabaram moídos. Mas eles sabiam que o jogo era esse. Por que ficaram? Por que entraram? Por achar que as tetas eram tão fartas que o bom leite gordo jamais lhes faltaria.
Futuro e destino
Os exemplos acima demonstram porque temos a impressão que estávamos e estamos totalmente cercados pela corrupção em todos os níveis. Sempre foi o combustível para fazer andar as máquinas. Mas o combustível foi ficando cada dia mais caro. E inflamável.
Nomes aos bois
Como a coisa começou a ficar tão feia que precisou mudar, e o cinto aperta, começaram a ser abertas novas perspectivas de negócios. Por exemplo, grandes e médios fazendeiros do Norte eram obrigados a vender seus bois apenas a uma empresa. Vendia para uma, perdia a outra, entre as duas maiores do mercado.
Não é que agora podem vender aos dois?
Jogo dos 7 erros
Formação do governo Temer: Romero Jucá, Eliseu Padilha, Gilberto Kassab, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima, Renan Calheiros, integrantes do PP e base evangélica.
Para ser igual, o que ─ ou quem ─ mais falta?
Aos poucos, Brasil
Este colunista promete ir voltando aos poucos e agradece sensibilizado as inúmeras manifestações de solidariedade e estímulo que tem recebido. Permanece no hospital depois do acidente doméstico que sofreu, e de onde escreve, mas animado com o novo Brasil que mal ou bem pode até ser que sim pode ser que não, apareça agora.
Agora vai fazer igual ao Brasil, esperando também que melhore mais a partir desta próxima semana. O importante é não ficar parado. É andar para frente.