Dilma, a rampa e a porta dos fundos, por REINALDO AZEVEDO

Publicado em 07/05/2016 04:52
EM VEJA.COM.BR

tro, infelizmente, aceitam se comportar como esbirros de partido.

Vivemos sob a vigência de uma Constituição democrática, oriunda de um processo constituinte que não criou vetos a nenhuma força política. Todas as correntes de opinião disputaram o mercado de ideias no país, mesmo aquelas que refutam a democracia por princípio.

Então cabe a pergunta: onde está o regime de exceção? Que a presidente atentou contra a Lei Fiscal, isso resta cristalino. Ao governo, sobra uma saída: “Ah, não foi por dolo”. A questão é saber se houve cálculo ou não; se ela tinha consciência do que estava fazendo. E tinha! A própria Dilma já disse em palanque que recorreu a tais instrumentos para garantir programas sociais. Nem é exatamente verdade. Mas a confissão também está feita.

Um grupo de deputados pretende acionar a presidente na Justiça em razão da sua permanente acusação de que está em curso um golpe no Brasil. Sim, é o caso. Não se pode permitir ao chefe do Executivo que faça pouco caso das instituições e que chame de golpe o funcionamento regular das leis e dos Poderes da República. Trata-se, obviamente, de uma agressão.

Mais: o golpe é um crime, não é mesmo?, que prevê punição. A presidente está ao menos obrigada a nominar os que estão sendo caluniados. Seriam, por exemplo, golpistas os 367 deputados que votaram em favor do envio do processo ao Senado? São golpistas os 15 senadores que disseram “sim” ao relatório?

Dilma diz que pretende descer a rampa do Palácio quando for apeada. Cada com a sua pantomima. A história prova que está saindo pela porta dos fundos.

J. R. Guzzo: Com Temer, a situação vai parar de piorar

Qualquer cidadão de bom senso sabe que nada vai ser fácil num hipotético governo Temer. Mas, diante das dificuldades que temos hoje com Dilma no poder, o simples fato de interromper a hemorragia já vai ajudar muito (Publicado na revista EXAME)

Nada vai ser fácil neste governo de Michel Temer, que em breve estará aí, caso a Constituição brasileira seja cumprida e a presidente Dilma Rousseff se transforme, como ela mesma disse, em carta fora do baralho. Se existe um superávit indiscutível no Brasil de hoje, é o dos prognósticos de dificuldades para os novos gerentes — eis aí algo que temos em plena abundância, ao contrário de produção, crescimento, emprego, arrecadação, investimento e tudo o mais que deveria haver e não há. Isso dito, a pergunta é: e as dificuldades de hoje, apontadas na frase anterior? Por acaso seriam menores? Nada vai ser fácil, claro, e qualquer cidadão de razoável bom senso sabe muito bem disso, mas nada está sendo fácil com Dilma e o sistema integral de calamidades criado por ela na vida econômica e política do Brasil. E aí está, justamente, a primeira vantagem de um novo governo: vai parar de piorar. É pouco, pensam os mais exigentes ou os mais cansados da obsessão da presidente em governar mal. Mas a verdade, na esfera das realidades práticas, é que o simples fato de interromper a hemorragia já ajuda muito. É mais ou menos como na clássica providência que tem de ser tomada, antes de qualquer outra, com o jogador que perdeu o controle e está se arruinando cada vez mais depressa na mesa da roleta: a primeira coisa a fazer é tirar o sujeito dali, pois assim fica garantido que ele vai parar de perder. Depois se vê como fica — mas ninguém discute que perder 100 é melhor do que perder 200. Eis aí, precisamente, o nosso caso.

O potencial destrutivo da presidente Dilma, como comprovam todos os fatos à disposição do público, vai gerar efeitos até seu derradeiro minuto de permanência no Palácio do Planalto. Basta ver as ações de que foi capaz ao longo dos últimos dias, como se não bastasse a imensidão de desatinos dos últimos anos. Parar com isso, portanto, é um ganho real — e quanto mais cedo melhor. Para entender a coisa de maneira mais clara, é só lembrar que o próprio ex-presidente Lula e o próprio PT já deixaram suficientemente definido que Dilma teria de renunciar ao exercício efetivo da presidência se por acaso conseguisse escapar do impeachment — ficaria no Palácio do Planalto, pois é necessário haver um presidente oficial, mas deixaria de governar. É mais do que compreensível: nem Lula nem o partido iriam se conformar em ficar simplesmente olhando a paisagem, durante os próximos dois anos e meio, e aceitar que Dilma destruísse o futuro político de todos. O ex-presidente, com certeza, tem outros problemas sérios para resolver, a começar pelas investigações da Operação Lava Jato — que, a propósito, não vão parar, com Dilma ou sem Dilma. Mas também sabe perfeitamente, com ou sem Lava Jato, que sua carreira estaria morta se ela continuasse governando o país.

Quanto à atuação concreta, em si, do anunciado governo de Michel Temer, a experiência aconselha o mais eloquente silêncio em matéria de previsões. Prognóstico, aí, só depois dos fatos — e, ainda assim, com prudência. Algumas realidades, em todo caso, já estão desenhadas; o mercado tem tomado nota delas, e os sinais que emite são positivos. É pouco provável, por exemplo, que a política externa insana dos governos Lula-Dilma continue como está, prejudicando diretamente os interesses nacionais do Brasil em favor das Venezuelas e Bolívias da vida. Há possibilidades de que o governo consiga investir sem gastar o dinheiro que o Tesouro não tem, gerando atividade econômica, empregos e arrecadação com concessões de obras públicas — algo que é simplesmente impossível enquanto Dilma e o PT estiverem mandando. É de esperar, por um mínimo de lógica, que Michel Temer e seus ministros não queiram nem ouvir falar a palavra “pedalada”. Pode haver ministros ruins, mas é preciso um esforço sobre-humano de imaginação para achar que o novo presidente tenha a capaci­dade de montar um ministério de nulidades tão excepcionais como todos esses que Dilma arrumou.

É o que temos no momento.

Fernando Gabeira: Passeio em campo minado

Gastamos um bom tempo da nossa vida pensando numa saída para a crise. Creio que Michel Temer também. Sua trajetória, no entanto, terá mais repercussão na crise do que qualquer um de nós. Daí a importância de monitorá-lo.

Os jornais falam de um Ministério em formação. É difícil analisar algo que ainda não existe. Mas a julgar pelas notícias, o projeto contém uma primeira contradição. Temer, diretamente e por intermédio de Moreira Franco, afirmou apoiar a Lava Jato.

O provável Ministério, todavia, tem vários nomes de investigados. Se forem confirmados, não há avanço em relação ao PT, que, por sua vez, é um retrocesso em relação ao governo Itamar. Neste os investigados não entravam. E se estivessem no governo, deixavam o cargo para se defenderem.

Essa é uma trama ainda secundária, porque o foco estará na reconstrução econômica. Temer parece escolher uma equipe com a visão clara de que é preciso reconquistar a credibilidade como primeiro passo para que se volte a investir.

Quanto mais leio e ouço sobre o rombo financeiro, não apenas sinto a dimensão da tarefa de levar o Brasil até 2018, mas percebo como faltam dados sobre a verdadeira situação que o PT e seus aliados, PMDB incluído, nos legam. Mexidas no tamanho do Estado, discussão sobre nosso sistema de Previdência, tudo isso só se fará de forma menos emocional se houver uma verdadeira revelação de nossos problemas financeiros.

Não se faz apenas com um discurso, ou mesmo um documento. É algo que tem de ser bem difundido, com quadros comparativos, animações e um trabalho de divulgação que consigam atenuar o peso do tema. Será preciso dizer, por exemplo, se o governo vai pôr dinheiro e quanto na Petrobras, na Caixa Econômica, suas grandes empresas que vivem em dificuldade.

Leio também nos jornais que Temer vai trazer de volta uma velha guarda de políticos. Em princípio, nada contra. Mas é necessário lembrar que alguns problemas decisivos dependem de sensibilidade para a revolução digital.

Na quebra do monopólio das teles, além de pensar no avanço que isso traria para o Brasil, sabíamos também que havia regiões que não interessavam às empresas. Criou-se um fundo para universalizar a conexão telefônica e modernizar a infraestrutura de comunicações. Esse dinheiro jamais foi usado em sua plenitude, como manda a lei. Uma visão de retomada do crescimento tem de passar por um novo enfoque do mundo virtual e seu potencial econômico. Se nos fixarmos só no crescimento do universo material, corremos o risco de um novo engarrafamento adiante, se já não estamos de alguma forma engarrafados perante outros povos, como os coreanos, que trafegam com muito mais rapidez do que nós.

Temer disse que não é candidato. Isso é positivo não apenas porque ficou mais leve para atrair partidos com projetos para 2018. Mas, principalmente, porque ele pode tomar medidas que horrorizam um candidato.

Claro que as medidas serão debatidas, que em caso de divulgação ampla haverá uma consciência maior do buraco econômico. Ainda assim, os economistas preveem que em 2018 chegaremos ao poder aquisitivo de 2011. Certamente haverá uma aspiração de maior rapidez no processo de retomada. E Temer não pode andar tão rápido quanto a velocidade das expectativas.

Além disso, terá de navegar num mundo político desgastado, que dependeu da sociedade para chegar ao impeachment e dependerá dela para realizar a transição. Os temas da reconstrução mexem com diferentes interesses, dificilmente vão mobilizar da mesma forma que o impeachment.

Há, no entanto, um desejo de mudança.

Os rombos no Brasil sempre foram cobertos com aumentos de impostos, os contribuintes pagam o delírio dos governantes. Se Temer usar o caminho tradicional, vai romper com o desejo de mudança e adiar para as calendas um ajuste pelo qual o governo passe a gastar de acordo com seus recursos.

Todos gastaram muito. Há uma grande pendência sobre a dívida dos estados com a União. Juros simples ou compostos? Na verdade, a discussão mesmo é sobre quem vai pagar a conta, que pode resultar num prejuízo federal de R$ 340 bilhões.

Finanças dos estados parecem um tema muito chato. No entanto, quando você vive no Rio de Janeiro, vê hospitais decadentes, funcionários sem receber, escolas ocupadas, percebe claramente que, quando o governo entra em colapso, isso fatalmente influencia a sua vida cotidiana.

Um tema dessa envergadura acabou no Supremo Tribunal, quando, na verdade, teria de ser decidido no universo político, governadores e presidente. É uma demonstração de incapacidade que obriga o próprio Supremo a se desdobrar, estudar todo o mecanismo financeiro, ouvir as partes, estimular acordos que eles próprios já deveriam ter celebrado.

Com esses corredores e os obstáculos na pista será difícil chegar a 2018 se não houver um esforço de reconstrução que transcenda o mundo político. Esse esforço se torna mais viável com os dados na mesa: o estrago da corrupção e os equívocos da gestão econômica.

Algumas coisas já podem mudar nas próximas semanas. Por que tantos cargos comissionados? Por que reduzir investimentos, e não o custeio da máquina do governo? Incentivos para quê e para quem? Aumentos salariais do funcionalismo agora?

Quando Dilma entrou, na esteira de suas mentiras, lembrei que não teria lua de mel. Vinha de uma vitória eleitoral. Temer, por tudo de errado que Dilma fez, talvez ganhe um curto período. O problema é que a crise mexeu com a nossa noção de tempo, mais encurtado, desdobrando-se com imprevisíveis solavancos.

Mesmo ainda sem a caneta na mão, é preciso uma ideia na cabeça. A partir da semana que vem termina um capítulo da nossa História recente. O país precisa se reconstruir como se tivesse seus alicerces abalados por um bombardeio.

“Perdoaremos o crime do traficante porque ele é o benfeitor da favela?”, pergunta Magno Malta

O senador Magno Malta (PR-ES) encerrou sua participação memorável na comissão do impeachment nesta sexta-feira (6) com mais um discurso para a posteridade.

Transcrevo abaixo do vídeo o trecho mais marcante.

Assista:

” (…) Nós estamos no antepenúltimo capítulo do fim do Foro de São Paulo.

Todos nós brasileiros sonhamos o sonho que eles nos conduziram a sonhar. E por alguns momentos milhares – milhares e milhares – acharam que deixaram de ser pobres e ingressaram na classe de pobres emergentes. De repente, o sonho acabou.

Eu acordei um pouco antes, mas a nação perplexa (está) acordada agora: desempregada, contas a pagar, nome na Serasa. [Do] Minha Casa Minha Vida, os mais simples não têm como – desempregados – pagar sua prestação. Ainda que ínfima, não têm como pagar. A nação (está) desmoralizada.

Não podemos evocar o conjunto da obra (de Dilma) porque as pedaladas simplesmente se revestem de um caráter: a gota d’água. Eles acreditaram na impunidade. Para tanto, mentiram no processo eleitoral e, agora, ninguém pode evocar [o conjunto da obra], mas eles podem.

‘Porque essa mulher fez tanto! O Lula também. O Bolsa-Família. Olhem aí as escolas técnicas… Quem é que pode desmerecer isso? Ninguém pode.’

Mas: perdoaremos o crime do traficante porque ele é o benfeitor da favela?

O traficante por acaso não deve ser preso e votaremos aqui uma mudança na lei para isentar qualquer traficante de droga porque ele dá cesta básica, porque compra bujão e paga o enterro das pessoas? E muitas vezes enterro (em decorrência) de matanças que eles mesmos mandaram fazer.

Porque paga a festa do Dia das Mães? Porque ele é o benfeitor onde o Estado é ausente? Perdoaríamos, pois, o traficante por isso?

O que se pede neste momento é que se tenha misericórdia, aliás uma palavra que ela (Dilma) não conhece, nunca pediu e jamais pedirá porque eles são incapazes de reconhecer que cometeram um erro sequer. Eles só acertaram. A arrogância! Só acertaram!

Então perdoaremos aqueles que cometeram um crime, exatamente porque ele é a presença onde há ausência do Estado?

Minha mãe não está mais aqui. Se estivesse me vendo na televisão, eu diria: mamãe, me acorde. Eu sófalto ver chover pra cima porque o resto tudo eu já vi. ‘Golpista’? O sonho acabou. Esse é o capítulo antepenúltimo do fim do Foro de São Paulo (…).”

* Saiba mais sobre o Foro de São Paulo no vídeo deste blog: “Lula e José Dirceu – Uma longa história de cumplicidade“.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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