STF mantém Lula nas trevas do quarto de hotel (por JOSIAS DE SOUZA)
Ao adiar o julgamento sobre a legalidade da nomeação de Lula para a chefia da Casa Civil, o Supremo Tribunal Federal adicionou humilhação ao drama do cacique do PT. Na prática, Lula foi, por assim dizer, aprisionado na condição de ministro-chefe do quarto de hotel. Permanecerá como articulador das trevas por tempo indeterminado.
Dilma estava esperançosa de ter o criador, finalmente, despachando no gabinete do andar de cima. Mas, por mal dos pecados, o STF sinalizou que a esperança às vezes é a última que mata. Enviado à UTI pelo voto dos 367 deputados que deflagraram o processo de impeachment, o governo pode morrer antes que Lula tenha a oportunidade de assumir a Casa Civil.
Num dos grampos telefônicos que o juiz Sérgio Moro jogou no ventilador do PT, Lula disse para Dilma: “Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado. […] Nós temos um presidente da Câmara fodido, um presidente do Senado fodido. Não sei quantos parlamentares ameaçados. E fica todo mundo no compasso de que vai acontecer um milagre e vai todo mundo se salvar. Sinceramente, eu tô assustado com a República de Curitiba.”
Hoje, a covardia do Supremo estica o calvário, o Parlamento acovardado administra o funeral, o fodido presidente da Câmara toca a marcha fúnebre, o comandante fodido do Senado cava a sepultura e “os parlamentares ameaçados” na Lava Jato levam as mãos à última pá de cal.
Se quisesse, Lula poderia abandonar facilmente a condição de articulador aprisionado. Bastaria que renunciasse ao cargo que a liminar do ministro Gilmar Mendes o impediu de assumir. Nessa hipótese, porém, ele voltaria a ficar ao alcance da caneta do doutor Moro. Talvez prefira ficar preso no escurinho dos fundões do hotel brasiliense a ter de enfrentar os rigores da República de Curitiba.
E o Babalorixá de Banânia continuará ministro de quarto de hotel (por REINALDO AZEVEDO)
E Lula continuará presidente “de facto” do Brasil, mas como um clandestino. O país seguirá governado de um quarto de hotel, como se fosse um prostíbulo.
O STF adiou, por 10 votos a 1, o julgamento que vai decidir se o Babalorixá de Banânia pode ou não ser ministro. Gilmar Mendes concedeu uma liminar contra a posse, que seria julgada hoje.
Teori Zavascki pediu o adiamento porque ele próprio havia negado a suspensão provisória da nomeação em outras ações, movidas pelo PSDB e PPS. Como os partidos recorreram, o ministro solicitou, então, que seus pares analisassem tudo em conjunto. Os outros ministros concordaram. Não há prazo para retomar.
Ganha 10 centavos — já que aposta de resultado óbvio paga pouco — quem adivinhar o autor do voto divergente: sim, Marco Aurélio. Para ele, “há uma pendência que deve ser afastada pela voz do STF, e essa voz tarda. Ela precisa vir à tona, para tentar pacificar-se o quadro”.
Parece que Marco Aurélio decidiu, definitivamente, abandonar a sua postura histórica de se ater à lei para ser um administrador de ânimos.
A ser assim, ainda envereda para o ramo de autoajuda…
É evidente que a postura de Teori é a mais sensata. Melhor que se examinem ao mesmo tempo todas as ações que acabam pedindo, na prática, a mesma coisa, ainda que por meio de diferentes instrumentos.
Tudo indica que Lula não vai ter tempo de esquentar a cadeira. Ainda mais agora, quando decidiu se comportar como um fora da lei.
Executivos reafirmam “bênção” de Lula a empréstimo fraudulento e contrato bilionário com a Petrobras
Por João Pedroso de Campos, na VEJA.com:
Em depoimentos prestados hoje ao juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba, Milton Schahin, um dos donos do Grupo Schahin, e seu filho, Fernando Schahin, ex-executivo da empresa, relataram ao magistrado como se deu a quitação do empréstimo de 12 milhões de reais concedido pelo Banco Schahin a José Carlos Bumlai. Em prisão domiciliar na Lava Jato, o pecuarista confessou ter destinado o dinheiro ao pagamento de dívidas de campanha do PT. Segundo a Operação Lava Jato apurou, no entanto, parte do valor teve como destino o bolso do empresário Ronan Maria Pinto, preso na 27ª fase da Lava Jato, a Carbono 14, e supostamente envolvido no caso do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em 2002.
Embora ressalte não ser responsável pela parte financeira do grupo, que engloba o banco, Milton Schahin contou a Moro que em 2006, dois anos depois do empréstimo a Bumlai, procurou o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto para pedir apoio político ao interesse da empresa em um contrato de operação de navio-sonda com a Petrobras.
Segundo o empresário, Vaccari foi evasivo em um primeiro momento, mas, depois de consultar petistas, voltou com uma proposta: o partido, padrinho político do diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, a quem caberia assinar o contrato de 1,6 bilhão de dólares, apoiaria o pleito da Schahin se o acerto com a petrolífera quitasse o empréstimo contraído pelo pecuarista.
Milton Schahin não soube especificar ao magistrado quais petistas avalizaram a proposta de Vaccari, mas seu filho deu a Moro uma pista. Segundo Fernando Schahin, Bumlai o abordou em um evento de um banco internacional, em 2007, e, alegando ter “relações com a Schahin”, perguntou sobre as negociações com a Petrobras pela operação do navio Vitória 10.000. Fernando afirma ter respondido que “estavam em andamento” e, antes de se despedirem, ouvido do pecuarista e grande amigo de Lula que “o presidente está abençoando o negócio”.
A versão de Fernando Schahin confirma a delação premiada de seu tio, Salim Schahin, sócio do grupo a quem cabe a administração do banco. Segundo Salim, “Bumlai chegou a dizer a Fernando que o negócio estava ‘abençoado’ pelo presidente Lula” e “o depoente e seu irmão Milton também receberam de Vaccari a informação de que o presidente estava a par do negócio”. Fernando nega ter participado da operação fraudulenta que compensou o empréstimo com o contrato bilionário.
Apesar da bênção presidencial e do fim da dívida milionária de Bumlai, os Schahin dizem não ter se livrado de pagamento de propinas a diretores da Petrobras e operadores do petrolão. Milton Schahin contou a Moro ter sido procurado em 2006 pelo lobista Jorge Luz, ligado a peemedebistas graúdos, que o teria alertado de que, sem pagar propina a Cerveró, ao então gerente Eduardo Musa e ao lobista Fernando Baiano, a empresa enfrentaria dificuldades para fechar o contrato bilionário de operação do navio-sonda.
Com a voz embargada, Milton Schahin garantiu a Moro “nunca ter dado prejuízo à Petrobras”, mas reconheceu ter pago 2,5 milhões de dólares em propinas no exterior por meio de offshores às empresas Pentagram e DBase, indicadas por Luz para repasses à cúpula da Petrobras.
A cobrança de Zelada
Segundo o empresário, com a Schahin em meio a dificuldades financeiras em 2011, ele buscou um encontro com o sucessor de Cerveró na diretoria Internacional da Petrobras, Jorge Zelada, para renegociar condições de pagamento de leasing à petrolífera.
Recebido no mezanino de um bar no centro do Rio de Janeiro, próximo à sede da estatal, Schahin teria ouvido de Zelada, como condição à negociação, que “eu preciso que você entenda que eu estou trabalhando pelo seu projeto, sempre trabalhei pelo seu projeto, e nunca recebi nada. Agora você vem com esse pedido, não sei se é possível, mas quero dizer que quero 5 milhões de dólares para seguir em frente com o assunto”. Schahin afirma ter negado o pagamento ao diretor da Petrobras, que, preso na Lava Jato, também deporia hoje, mas permaneceu calado diante de Sergio Moro.
A algema que ameaça o braço direito complica a viagem tramada por Dilma para denunciar na ONU o golpe que não derruba o golpeado nem confisca seu passaporte
O desembarque de Giles Azevedo no noticiário político-policial informa: a taxa de bandidagem alcançada pelo círculo íntimo de Dilma Rousseff já rivaliza com a de qualquer bando de brothers de um chefão do PCC. O índice tornou a subir na segunda semana de março, quando a melhor amiga (secreta, por imposição do prontuário) Erenice Guerra apareceu boiando no pântano drenado pela delação premiada de Delcídio Amaral. Segundo o senador, a mulher que transformou a Casa Civil num esconderijo de parentes larápios andou fazendo o diabo nas catacumbas da usina de Belo Monte. Promovida a operadora do esquema de propinas, irrigou a campanha de 2014 com R$ 45 milhões.
Dias depois, a devassa das bandalheiras protagonizadas pelo governador mineiro Fernando Pimentel revelou que o mais antigo amigo de Dilma pode perder o mandato bem antes do prazo previsto ─ já estará no lucro se mantiver o direito de ir e vir. Na semana passada chegou a vez de Gim Argello, conselheiro, confidente e parceiro de caminhadas de Dilma. A Polícia Federal descobriu que o ex-senador do PTB embolsou mais alguns milhões para excluir empreiteiros assustados da lista de depoentes da CPI da Petrobras. A presidente tentou infiltrar no Tribunal de Contas da União. O protegido acabou instalado na traseira de um camburão.
Nesta quarta-feira, informações fornecidas à Operação Lava Jato pela publicitária Danielle Fonteles, dona da agência Pepper, elevaram a lama que inunda o Planalto à linha de cintura de Giles Azevedo, assessor especialíssimo e especializado em missões ultrassecretas. Segundo a revista Isto É, trechos da delação premiada de Danielle detalharam o esquema comandado pelo braço direito presidencial (que nada faz sem a expressa concordância do esquerdo e em obediência ao mesmo neurônio). A usina de dinheiro sujo permitiu à agência receber recursos ilegais que vitaminaram com R$ 58 milhões as campanhas de 2010 e 2014. “Quando o Giles fala, ouço a voz da presidenta”, diz um veterano dirigente do PT.
A poucas horas da decolagem rumo a Nova York, Dilma viu engordar a mala de complicações a resolver. Não será fácil explicar, diante dos integrantes da ONU, o que faz por lá a mulher alvejada por um golpe liderado por um vice que, graças à viagem da golpeada, está governando como interino o país representado no exterior pela titular itinerante. Que tipo de golpe é esse que nem sequer derruba o golpeado? Que golpistas são esses que nem se dão ao trabalho de confiscar o passaporte da vítima da violência inconstitucional?
Caso algum jornalista pergunte por Giles, também terá de esclarecer como consegue resistir a tantas tentações sem um único amigo honesto a apoiá-la. Deve ser muito mais difícil que passar a vida inteira num bordel sem perder a virgindade.
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