Dilma, um corte (de cabelo) antes da guerra (na Veja.com)

Publicado em 15/04/2016 14:15
por VERA MAGALHÃES

DILMA, arrumando as madeixas

 

Nos últimos dias antes da votação da abertura do processo de impeachment contra ela, Dilma Rousseff abriu espaço na agenda para cortar o cabelo e retocar a tintura.

O cabeleireiro Celso Kamura, que cuida das madeixas de Dilma desde a campanha de 2010, desembarcou na manhã desta sexta-feira em Brasília.

Ele disse ao Radar que Dilma não corta o cabelo há dois meses. “Está muito armado!”, critica. A cor, com um louro mais claro, também não foi proposital: “Está desbotado mesmo”, disse, enquanto aguardava na esteira a mala com os acessórios de cabelo para retocar a imagem presidencial antes da batalha do impeachment.

Oposição teme que Dilma promova “terra arrasada” antes de Senado abrir processo

Oposição teme por “terra arrasada”

Um dos argumentos que serão usados pela oposição para convencer o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a encurtar os prazos de tramitação do impeachment na Casa será o risco de que Dilma Rousseff promova uma política de “terra arrasada” até ser afastada do cargo.

O temor é que a presidente afrouxe o controle de gastos e autorize medidas populistas nos dias entre a Câmara autorizar a abertura do processo e o Senado efetivamente iniciá-lo.

TCHAU, QUERIDA! Supremo humilha Cardozo e governistas com as leis e a Constituição (REINALDO AZEVEDO)

Numa sessão que avançou pela madrugada desta sexta, o Supremo rejeitou todas as ações que pediam mudança da ordem dos deputados na votação do impeachment, definida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com base no Regimento Interno da Câmara, e as que propunham a suspensão da sessão de domingo — uma delas movida pelo advogado-geral da União, o estupefaciente José Eduardo Cardozo.

Era a última cartada. Fim de papo. A partir de agora, ao dizer que “impeachment é golpe”, o Planalto estará acusando de golpistas também os ministros do STF. E Dilma ainda colheu derrotas em penca, o que certamente levará mais alguns deputados a mudar de lado ou a descer do muro.

Já escrevi aqui haver uma diferença nada ligeira entre recurso e chicana. Cardozo alegou que o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) usou em seu relatório elementos estranhos à denúncia, como a delação do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS), e atos cometidos pela presidente no mandato anterior.

 

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Sabem o que é mais impressionante? Isso não aconteceu. Ao contrário: o parlamentar fez questão de declarar que seu relatório estava excluindo, por exemplo, denúncias envolvendo a atuação de Dilma na presidência do Conselho da Petrobras e as pedaladas dadas em 2014.

Esses outros elementos foram, sim, debatidos na comissão — só faltava acontecer o contrário… Mas Arantes deixou claro que iria se ater os crimes cometidos no curso deste mandato. E foi o que fez. Logo, o Mandado de Segurança impetrado por Cardozo está assentado no nada.

Oito ministros perceberam isso, mas dois não! Quais? Acertou quem chutou Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski. A dupla teve, vênia máxima, a cara de pau de sustentar que houve cerceamento do direito de defesa. Nota: José Eduardo Cardozo falou na comissão duas vezes. Apresentou a defesa prévia e depois rebateu o relatório de Arantes.

Foi a vitória da lei sobre a empáfia. Nesta quarta, mal raiou o dia, Cardozo estava lá a dizer que o relatório de Arantes estava ferido de morte. Oito dos dez ministros do Supremo examinaram a questão e simplesmente não encontram no texto os motivos para as alegações do advogado-geral, que passa, assim, mais esse carão.

Ordem de votação
Ao definir a ordem de votação, Cunha optou pelo Regimento Interno, que prevê que se comece por deputados do Norte para o Sul, de forma intercalada. Marco Aurélio, com seu espírito de porco, houve por bem ignorar o parâmetro legal e sugeriu que a votação se desse por ordem alfabética.

A argumentação contra o procedimento adotado por Cunha é patética: ela serviria para criar uma avalanche de votos contra o governo. Vejam a ordem:
1. Roraima
2. Rio Grande do Sul
3. Santa Catarina
4. Amapá
5. Pará
6. Paraná
7. Mato Grosso do Sul
8. Amazonas
9. Rondônia
10. Goiás
11. Distrito Federal
12. Acre
13. Tocantins
14. Mato Grosso
15. São Paulo
16. Maranhão
17. Ceará
18. Rio de Janeiro
19. Espírito Santo
20. Piauí
21. R. Grande do Norte
22. Minas Gerais
23. Paraíba
24. Pernambuco
25. Bahia
26. Sergipe
27. Alagoas

As maiores bancadas do país são as de São Paulo, Rio e Minas. Elas estão, respectivamente, em 15º, 18º e 22º lugares na lista. Se houvesse parcialidade ali, seria a favor do governo. Mas só há Regimento Interno mesmo. Se vai haver uma avalanche de votos contra o governo, a culpa não é da lista, mas do… governo.

O governo colheu novas derrotas em penca — e olhem que nada disso era necessário. É bem provável que a sessão do Supremo tenha levado um monte de parlamentar a descer do muro. Agora é Dilma de um lado e eles do outro.

Andrade Gutierrez diz que pagou pesquisas para Dilma em 2014 sem declarar

Por Graciliano Rocha, Valdo Cruz e David Friedlander, na Folha:
A Andrade Gutierrez usou um contrato com o instituto Vox Populi para pagar pesquisas usadas e não declaradas pela equipe de comunicação da campanha da reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014.

Segundo a Folha apurou, a construtora tinha um contrato com o Vox Populi para realização de levantamentos de dados destinados à empresa, que acabou sendo usado para bancar pesquisas qualitativas encomendadas pela equipe de produção de programas da candidata petista à reeleição.

A prática configura caixa dois. Os pagamentos abrangidos pelo contrato ultrapassaram R$ 10 milhões, segundo a reportagem da Folha apurou.

Os repasses diretos da construtora ao instituto Vox Populi não constam da prestação de contas da campanha nem da do PT.

Em delação premiada, ex-executivos da empreiteira já haviam admitido um esquema semelhante na primeira campanha de Dilma à Presidência da República, em 2010.

Na época, a Andrade, por meio de um contrato com a Pepper Digital, pagou R$ 6,1 milhões de serviços prestados para a então candidata Dilma.

A informação sobre o contrato com o Vox Populi não consta dos primeiros depoimentos da delação.

A Folha revelou também que, na delação, o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo disse que parte dos R$ 20 milhões doados oficialmente pela construtora à campanha presidencial eram descontados de propinas devidas em contratos de obras realizadas na Petrobras e no sistema elétrico.

Torcida
Além destas pesquisas qualitativas bancadas pela Andrade, a campanha da presidente também contratou serviços diretamente ao instituto de pesquisas, declarando à Justiça Eleitoral ter pago R$ 11,286 milhões.

Foi R$ 1,48 milhão pago para a Vox Populi e R$ 9,8 milhões para a empresa Oma Assessoria de Pesquisa de Opinião.

As pesquisas contratadas eram detalhistas. Chegaram a identificar a tendência de voto de torcedores de futebol, que foi usada para orientar ações nas redes sociais e também confecção de programas eleitorais.

Azevedo e outros ex-executivos da Andrade já tinham concordado em relatar um suposto esquema de propinas na construção de estádios para a Copa do Mundo, realizada em 2014, e pagamento de suborno e superfaturamento nas obras da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, na usina nuclear de Angra 3, no Rio de Janeiro, e na ferrovia Norte-Sul.
(…)

 

 

Bolívar Lamounier: Crepúsculo de uma farsa

No tempo em que os animais falavam, os ideólogos esquerdistas já liam muito. Liam só marxismo, é claro, mas liam; não é dizer pouco. Com o tempo, o hábito desapareceu; os mais jovens, nem marxismo leem. Lula é da geração mais velha, mas, por razões diferentes, também nunca leu nada.

É por isso que as esquerdas atuais desconhecem um dos trechos mais valiosos, senão o mais valioso, da literatura marxista: o chamado “testemunho político” de Vladimir Ilyich Lenin, o grande líder da revolução russa de 1917. No fim de 1922, já muito doente, Lenin entregou a Krupskaia, sua mulher, uma carta manuscrita a ser levada ao conhecimento do PC-URSS em seu próximo Congresso. O objetivo era advertir a alta direção comunista contra os riscos representados pelo crescente poder de Stalin dentro do partido e na máquina do governo.

A importância histórica da mencionada carta deveu-se a diversas razões, mas o que aqui quero destacar é a singularidade do enfoque adotado por Lenin. Até então, nenhum teórico comunista se permitira enfatizar traços de personalidade ao analisar uma situação política; nem o húngaro Lukács, nem o alemão Karl Korsch, aparentemente mais flexíveis, ou menos aprisionados na camisa-de-força confeccionada por Marx e Engels tiveram tal ousadia – ou se deram conta do grau de sua própria obtusidade.

E eis que Lenin, ninguém menos que ele, escreve o seguinte: “A questão da personalidade poderia parecer secundária, ele acrescentou, mas era uma daquelas coisas secundárias que podem acabar adquirindo uma significação decisiva”. Preocupado com o futuro do Partido e da própria Revolução, Lenin optou pelo prisma psicológico para tentar descortinar a evolução dos acontecimentos. Havia se convencido – como escreve o grande historiador Richard Tucker – de que certos traços de caráter de Stalin – notadamente sua “rudeza” e sua tendência a se orientar de maneira “maliciosa” nas questões políticas – tornavam perigosa a continuação dele no poderoso cargo de secretário geral”.

Lenin recomendava, pois, a substituição de Stalin naquele cargo por alguém “mais tolerante, mais leal, mais cordial, que tenha mais consideração por seus camaradas, que não seja tão caprichoso, etc”. Krupskaia levou o documento aos principais dirigentes do Partido após a morte de Lenin em janeiro de 1924; estes, porém, não levaram em conta a recomendação de Lenin, decisão que muitos deles acabaram pagando com a vida.

Por que cargas d’água estarei eu a recordar os fatos acima neste 14 de abril de 2016, quando tudo no Brasil gira em torno do impeachment de Dilma Rousseff?

Por uma razão bem simples: a votação do próximo domingo no plenário da Câmara Federal deverá por fim a uma farsa cuidadosamente arquitetada, pela qual o Brasil está pagando e pagará ainda por alguns anos um preço altíssimo. Um retrocesso econômico terrível, responsável por um aumento brutal do desemprego e pelo empobrecimento de milhões de famílias que já antes sobrevivam com poucos meios.

A farsa a que me refiro vem de longe, mas pode ser flagrada em três momentos. Primeiro, lá atrás, quando Lula mandou Dilma Rousseff presidir o Conselho de Administração da Petrobras. Que avaliação e que objetivo o terão levado a fazer isso? Descarto liminarmente a hipótese de que avaliasse Dilma Rousseff como uma pessoa capaz de exercer tal função. Conheço e respeito muita gente que vê Lula como um político de grande inteligência; no que me toca, data vênia, vejo-o como o protótipo do populista latino-americano, aquele tipo que, inteligente ou não, pauta sua atuação na vida pública muito mais por uma malícia aprimorada nos meios sindicais ou estudantis que por uma concepção minimamente civil da vida política.

Acima de tudo, Lula é isso: um esperto. Penso que nomeou Dilma Rousseff para a Petrobras ou por considerá-la incapaz de descobrir a teia de assaltos que lá se montara, ou, ao contrário, por confiar em que ela a desvendaria, mas não se furtaria a dançar conforme a música.

O segundo momento é a eleição de 2010, à qual farei apenas uma referência sucinta. Lula tinha uma certeza e um objetivo. A certeza era a de que, com seus próprios recursos, Dilma não se elegeria nem para a Câmara Municipal de Porto Alegre, o município onde residia. Mas ele, Lula, com mais de 80% de popularidade, dinheiro jorrando da cornucópia da Petrobras e João Santana a tiracolo, a conduziria ao Planalto com um pé nas costas. Seu plano só falharia se ele tivesse escrúpulos, pois ofensa à lei não haveria nenhuma, e o candidato adversário não poderia resistir à ação combinada dos três fatores que venho de mencionar. Docemente constrangida, Dilma, com seu quê de farsante, aquiesceu em participar da farsa.

E, claro, havia um objetivo: evitar o surgimento de um rival de peso dentro do PT (ou do “campo popular”), como seria o caso de José Dirceu, por exemplo. Não, Lula precisava de alguém que combinasse as virtudes de um poste com as de um cão: a passividade do primeiro e a fidelidade do segundo. Dilma era a escolha perfeita. O plano só não funcionou como Lula esperava porque, ao chegar ao governo, Dilma quis mesmo acreditar que possuía conhecimentos econômicos.

O terceiro momento, é escusado lembrar, foi a eleição de 2014. Àquela altura, a catástrofe econômica já começava a comer solta. A questão central era (como continua a ser) a deterioração das contas públicas. Em qualquer país onde a democracia e processo eleitoral sejam levados um pouco mais a sério, Dilma teria que admitir na campanha a inexorabilidade de algum ajuste. Se optasse por fazê-lo, certamente iria “tergiversar” um pouco, isso é de sua natureza e em certa medida inevitável em campanhas eleitorais.

Mas não, no leme estavam Dilma, Lula e João Santana, um trio adepto não somente da malícia, mas também da prepotência como base do agir político. Eis porque a presidente, a celebrada gestora pública, a nunca assaz louvada economista, teve o desplante de se apresentar na TV como fiadora da normalidade econômica, da desnecessidade de sacrifícios, responsabilizando de antemão o seu adversário pela “descabida” proposta de ajustar as contas públicas, vale dizer, de perversamente suprimir direitos dos trabalhadores e do povo.

Esse o epílogo, que se encerrará, assim o queira Deus, no próximo domingo. E queira Deus que seja o fim dessa época de farsas e farsantes que o nosso país, organizado segundo as regras da democracia representativa, se viu obrigado a tolerar.

 

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Fonte: vEJA.COM

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