CNA convoca produtores rurais para manifestação em Brasília no domingo
Na Folha:
A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) prepara manifestação a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff no domingo (17), em Brasília. Em nota, a entidade afirma promover a mobilização de “milhares de agricultores e pecuaristas em todo o país” para que estejam em Brasília no dia em que o plenário da Câmara votará o processo de impeachment.
Segundo a CNA, a manifestação contará com um trator inflável com dez metros de altura, 35 metros de comprimento e 15 metros de largura, nas cores da bandeira do Brasil. O trator estará fixo, a partir deste sábado (16), próximo ao Congresso Nacional.
Para o vice-presidente da CNA e coordenador do movimento, José Mario Schreiner, o setor participa do movimento “pela gravidade das crises política e econômica que exigem medidas efetivas que não podem mais ser adotadas pela atual presidente”.
Kátia Abreu
Entre 2008 e 2014, a senadora e agora ministra da Agricultura, Katia Abreu, foi a presidente da CNA. A ministra tem recebido críticas da entidade e da bancada ruralista devido à sua atuação na pasta e à relação de amizade que mantém com a presidente Dilma Rousseff. Na semana passada, a presidente Dilma se irritou com a decisão da CNA de apoiar o processo de impeachment. Segundo relatos, a petista considerou uma “ingratidão” o fato da entidade defender o seu afastamento diante das políticas implementadas pelo governo federal para o desenvolvimento do agronegócio nacional.
Sempre que perde o rumo, Dilma prega o pacto (por JOSIAS DE SOUZA, do UOL)
Prestes a enfrentar a votação do pedido de impeachment na Câmara, Dilma Rousseff voltou a falar em “diálogo” e “pacto”. Não dá nome aos interlocutores nem explica o que deseja pactuar. Já virou rotina. Sempre que não sabe o que fazer, Dilma torna-se uma conciliadora insuspeitada.
Em 2013, ao ouvir o ronco do meio-fio, madame convocou governadores e prefeitos para propor cinco pactos. Ganha um mandato presidencial de quatro anos, com direito a reeleição, quem for capaz de dizer o que foi feito deles.
Em 2014, quando as urnas confirmaram que acabara de ser reeleita por um placar apertado, Dilma anunciou que seu primeiro compromisso seria com o “diálogo”. Transformaria o “calor da disputa” em “energia criativa”. O tempo passou. E ela só entregou vapor.
Dias antes de ser empossada no segundo mandato, Dilma discursou no TSE. Com o hálito da Lava Jato a roçar-lhe a nuca, disse que convidaria “todos os poderes da República” e as “forças vivas” do país para firmar um pacto contra a corrupção. Nada.
Em julho do ano passado, com as contas públicas em petição de miséria, Dilma chamou novamente os governadores a Brasília. Expôs uma receita de bolo que tinha como cereja a CPMF. E sugeriu novos “pactos” e “parcerias”—para reduzir os homicídios, qualificar os jovens, dar segurança ao trânsito, defender a vida…
Já está entendido: os pactos de Dilma são entendimentos firmados entre cegos que não vêem o que se passa à sua volta e surdos que cansaram de dar ouvidos a lorotas. Tudo acertado na gruta úmida do impasse. Um impasse que desaguou no pedido de impeachment.
Sobe para 90% a chance do processo de impeachment passar na Câmara (fora o efeito "manada")
Na Folha:
A chance do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff passar na Câmara subiu para 90%, de acordo com análise estatística do professor de economia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Regis Ely.
Se a votação fosse hoje, 73% dos deputados votariam a favor do afastamento. A análise foi feita a partir de levantamento feito pela reportagem com 509 deputados até às 18h30 desta terça-feira (12).
Para que o processo seja aprovado, são necessários votos de 342 parlamentares, ou 67% do total. A Câmara tem 513 deputados e a decisão está prevista para ocorrer no domingo (17).
A estatística considera que todos os deputados estarão presentes na votação. Cada falta implica um voto a menos a favor do processo. A partir da ausência de mais de 5% (27 deputados), cairia o número de votos favoráveis à saída de Dilma e o resultado da votação se inverteria.
Os dados indicam crescimento da chance de impeachment em relação alevantamento anterior, que contou 71,9% de votos favoráveis ao afastamento de Dilma.
O algoritmo construído pelo professor parte do princípio de que a decisão dos deputados sofre influência do partido e do Estado pelo qual foram eleitos. Com base nisso, ele infere qual será a posição dos que ainda não declararam seu voto (detalhes da metodologia podem ser vistos emregisely.com/blog/impeachment/ ).
Ely atua nas áreas de previsão, análise de dados, séries temporais e finanças.
EFEITO MANADA
A ordem de votação deve provocar um “efeito manada” entre os deputados, já que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), determinou que a votação começara pelos Estados do Sul. A estimativa indica que, registradas as posições do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, o percentual de votos favoráveis ao impeachment já terá atingido cerca de 78%.
Se em algum momento a votação estiver decidida, os deputados podem mudar de opinião ou se abster.
O algoritmo foi construído como exercício de previsão com fins didáticos e de demonstração do uso de técnicas de análise de dados em problemas práticos, afirma o professor da UFPel. Contribuíram com o projeto os professores Cláudio Shikida (UFPel) e Bruno Speck (USP).
COMISSÃO
Na segunda-feira (11), a comissão do impeachment na Câmara aprovou o relatório favorável à saída de Dilma, por 38 votos a 27.
“Do zero ao infinito” e outras cinco notas de Carlos Brickmann
Publicado na coluna de Carlos Brickmann
Há quem prefira esta Dilma que se elegeu aliada a Temer ao Michel Temer que se elegeu ao lado de Dilma. Há quem lute contra Renan, ministro de Fernando Henrique, para derrubar Renan, homem-forte de Lula. Ou faça questão do Lula que combateu Collor, repudiando o Lula que se uniu a Collor.
Outros preferem o governo Dilma da “faxina ética” à administração Dilma que comprou a tal refinaria, aquela. Há quem mate e morra para desmoralizar o Delcídio delator, que se atreve a contar o que sabe sobre seus antigos aliados e, digamos, colegas de trabalhos no Parlamento. Existe até quem seja favorável à demissão de Kátia Abreu, só porque era ruralista, virou ministra de Dilma e hoje é sua amiga de infância. Outros exigem a queda de Nelson Barbosa, substituto de Guido Mantega e seu eterno reserva no Ministério da Fazenda, porque preferem, surpreendam-se, o titular.
E os que querem a pele da Marina Silva que foi ministra de Lula para evitar que a Marina Silva que sugeriu o voto em Serra chegue forte às eleições?
Isso não quer dizer que tanto faz escolher um lado ou outro do impeachment. Não, nada disso: a queda do governo que paralisou a economia e dividiu o país em “Nós” e “Eles” é essencial para a retomada do diálogo entre os adversários e a volta ao desenvolvimento. Ou não, desde que o governo, se vitorioso, retome as boas negociações. Não será fácil, mas é essencial.
É preciso fazer com que até políticos hoje nocivos voltem a trabalhar pelo país.
Cuidado com os Magos
Michel Temer é um homem educadíssimo, de uma cultura impressionante, grande conhecedor de política. Mas sempre que foi testado, digamos, não mostrou grandes resultados. Em São Paulo, Orestes Quércia mandou no PMDB à vontade sem lhe dar a menor atenção. Temer chegou a ser o deputado eleito menos votado do estado.
É claro que uma pessoa educada, habituada ao diálogo, é muito melhor que uma grosseira que trata os subordinados a palavrões. Mas não esperem milagres de Temer. Ele é sem dúvida melhor do que a maioria dos que existem por aí.
Mas vamos combinar que isto não é grande vantagem.
Não fui eu
Michel Temer garante que a mensagem que mandou ao PMDB, e que é uma mensagem de presidente da República, vazou por causa de alguém sem cuidados.
Michel Temer é um sujeito que não fala nem boa noite para alguém sem antes pensar três vezes e aí se decidir que é muito perigoso, e não fala – o sujeito mais precavido do mundo.
De repente, as coisas vazam e aparecem com essa facilidade toda. Coisas que ele queria dizer para o público que faria como presidente, mas sem dizer diretamente que era isso que estava fazendo.
Ele garante que foi mesmo sem querer. Então, tá.
Honra e verdade
Como na obra de Júlio César, Temer é um homem honrado, tão honrado quanto Brutus que era praticamente filho de César, mas foi quem lhe deu a primeira facada – em defesa, claro, das instituições republicanas e contra o golpe..
Temer disse que não é candidato a presidente da República. Se ele, que é um homem honrado, diz que não é candidato, é porque não é. Não é assim que as coisas ocorrem na política?
Unha e carne
Um detalhe do ex-senador Gim Argello, que foi preso na nova fase da Operação Lava Jato, acusado de receber propinas das obras da Petrobras, está passando despercebido. É preciso lembrar que até a muito pouco tempo ele era o homem forte da Dilma Rousseff no Senado Federal, com privilégios que quase o levaram até ao Tribunal de Contas da União.
Argello foi um dos homens mais fortes da presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Ele a defendia com todo o vigor e atacava quem tomasse qualquer medida contra ela, com todo o furor, com a violência de quem busca um prato de dinheiro.
Observando à distância
Alguém terá visto a UGT, União Geral dos Trabalhadores, ligadíssima ao ministro Gilberto Kassab, nas manifestações pró-Dilma?
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Valentina de Botas: Dentro do ataúde, a mulher grita
Para quem uma mulher se veste? Para si mesma, o que inclui os homens e as outras mulheres. Mas evitemos generalizações: isso não se aplica a todas as mulheres, claro, somente àquelas que veem alguma graça na vida, que catam uma felicidade mínima aqui, outra ali, em instantes do cotidiano.
As mulheres e os homens mais próximos da presidente têm problemas com a lei: Erenice Guerra é investigada na Zelotes, Lula e Mercadante serão presos, Gim Argello acaba de ser preso, José Eduardo Cardozo será processado, Fernando Pimentel será cassado e ela mesma não se sente muito bem com os últimos gestos de Rodrigo Janot que finalmente descobriu que Eduardo Cunha não é o único nem o mais grave de todos os gravíssimos casos de polícia debaixo do nariz do Procurador-Geral. Entretanto, isso nem é o pior para a governante durona diluída em crimes que vê pelas costas os partidos governistas se afastando de certo caixão que carregaram até a beirada da sepultura.
Dentro do ataúde, a mulher grita. Grita denunciando o vice-presidente por exercer as funções políticas e institucionais dele; acusando talvez mais de 2/3 dos brasileiros de golpistas que ela vitimou; queixando-se de um golpe do Congresso obediente ao rito que o próprio governo encomendou no Supremo Tribunal Federal ao custo de uma interpretação malandra da Constituição e da fraude ao regimento interno da Câmara resultando no prolongamento inútil do transe do país.
Ainda se debatendo em delinquências diárias no interior do esquife, repete, sempre aos gritos a lhe deformar as feições desgraciosas e os modos democráticos ausentes, que foi eleita-pelo-voto-popular como se não soubéssemos que só conseguiu isso fazendo o diabo: com fraudes, extorsão, propinas. E como se o voto que não imunizou Collor quando sofreu impeachment e que não impediu o PT de pedir o afastamento de Itamar Franco e FHC, pudesse imunizá-la contra a lei.
A escalada de crimes para preservar o poder mantém o governo nessa putrefação pública que poderia ser evitada se – e aqui, creio, reside a desgraça de Dilma Rousseff do ponto de vista pessoal – um dos homens ou das mulheres próximas da presidente tivesse, não digo honestidade que já é demais, mas alguma temperança para fazê-la saber que há limites para a falta de limites. Mas a insanidade mal calculada e a parvoíce eficiente não a fazem burra: Dilma sabe que sabemos que ela sabe que termina – domingo no Congresso (detestado pela mulherzinha de alma tirana na crença de que poderia e mesmo tinha o direito de governar sozinha) e, mais tarde, na cadeia – a mais sórdida mentira já havida num Brasil que terá visto de tudo quando os poderosos mentores e patronos dela ainda livres forem para cadeia porque, ricos ou pobres de origem, não são nem elite nem povo, mas escória.
No próximo domingo, a irascível czarina da roubalheira vestirá a mortalha do impeachment. Para quem? Será obrigada legalmente a fazê-lo por e para homens e mulheres indignados num país destruído que terá dado o primeiro passo para se refazer, ainda zonzo com a nova ordem que ele mesmo inaugura.
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