DATAFOLHA – Marina e Lula lideram, mas chefão petista segue sendo de longe o mais rejeitado

Publicado em 08/04/2016 19:14
Parece-me claro que esses números revelam certo fastio da política como um todo, e esse comportamento nunca é um bom conselheiro (por REINALDO AZEVEDO)

Como entender o resultado?

Seria preciso fazer uma competente pesquisa qualitativa para explicar esses números. Vou lidar, aqui, com algumas hipóteses que me parecem razoáveis, além de agregar algumas considerações que tenho ouvido por aí.

Comecemos por Lula: era fatal que subisse um pouco. Afinal, vive um período de exposição máxima e resolveu governar o Brasil. Deu um chega pra lá em Dilma e se tornou o presidente “de facto’, com ou sem ministério. Também passou a comandar a dita “resistência” ao que chama, de modo estúpido, de golpe. Desde que deixou a Presidência, em 2010, nunca aparece tanto, deu tanta entrevista, subiu em tanto palanque. Sempre demonizando a oposição. Notem, no entanto, que ele apenas recupera o que tinha em dezembro do ano passado. E já era muito pouco.

E os tucanos? Para responder a essa pergunta eu apelo aos números de um outro pré-candidato: Bolsonaro. A depender do cenário, pode dobrar o índice, sem nunca passar de 8%. Considerando a sua, digamos, “mensagem”, é de se supor que parte expressiva do eleitorado quer mais pancadaria — a retórica ao menos.

E isso pode explicar a queda dos tucanos de dezembro para cá. Não é raro eu ser abordado por pessoas que dizem: “Pô, mas o PSDB também não se mexe”. Nem acho a crítica justa. O partido está trabalhando ativamente em favor do impeachment, mas é provável que precise falar mais duro. Nessa reta final, por exemplo, o embate do PT no noticiário se dá mais com o PMDB.

Marina é outra que volta ao patamar de dezembro, mas, como se percebe, também não entusiasma a ponto de liderar. Está tecnicamente empatada com Lula.

Parece-me claro que esses números revelam certo fastio da política como um todo, e o dito-cujo nunca é um bom conselheiro. Dadas as coisas que pensa e diz, Bolsonaro com até 8% não é exatamente um boa notícia. Parte significativa desses pontos, não duvidem, foi tirado dos tucanos, de quem a população espera mais dureza.3

 

O Datafolha também fez simulações eleitorais. Em relação ao mês passado, os tucanos oscilaram para baixo, dentro da margem de erro. No cenário com Lula (23%), do PT, e Marina (19%), da Rede, Aécio Neves vai de 19% para 17%. Quando o nome do PSDB é Geraldo Alckmin, o candidato passa de 11% para 9%. Se é José Serra, de 13% para 11%. Na comparação com dezembro do ano passado, a queda dos candidatos do PSDB é significativa: de 27% para 17% (Aécio); de 14% para 9% (Alckmin) e de 15% (em fevereiro) para 11% (Serra).

Marina Silva se mantém estável desde dezembro, entre 19% e 23% a depender do cenário. E lidera numericamente a disputa, ao lado de Lula, que recuperou alguns pontinhos de prestígio. Em todos os cenários, há um pequeno salto em relação a março — de 17% para 21% ou de 17% para 22%. Jair Bolsonaro (PSC) teve uma evolução significativa na comparação com dezembro de 2015: passou de 4% ou 5% para 7% ou 8%.

Mas Lula não tem muito o que comemorar: segue sendo, de longe, o candidato mais rejeitado do país: dizem que não votariam nele de jeito nenhum 53% dos entrevistados. Em segundo lugar, mas muito atrás, está Aécio, com 33%, seguindo de Michel Temer (PMDB), com 27%; Serra, com 21%, e Marina, com 20%.

 

DATAFOLHA 2 – Pergunta sobre impeachment de Temer está errada e obtém resposta igualmente errada

A Folha deste domingo traz números de uma pesquisa Datafolha sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff e de deu vice, Michel Temer, e sobre as preferências dos brasileiros numa eleição presidencial. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

Petralhas os mais variados estão relinchando de satisfação de orelha a orelha, embora não haja razão para isso. Mas a gente aprende uma lição ao longo da vida: relinchar é um dado da natureza. Não peça a um burro que cante uma ária de “A Flauta Mágica”. Não vai acontecer.

O instituto fez a 2.779 eleitores, nos dias 7 e 8 de abril, a seguinte pergunta:
“Os deputados deveriam votar a favor ou contra o afastamento da presidente?”

Disseram que deveriam votar a favor 61% dos entrevistados. Há menos de um mês (17 e 18 de março), eram 68%. Afirmaram ser contra 33% — 27% no levantamento anterior. A diferença, hoje, é de gigantescos 28 pontos, mas era de 41 há três semanas, caindo 13.

Considerando que nada de muito espetacular aconteceu nessas três semanas, exceção feita ao conteúdo da delação da Andrade Gutierrez, que torna a situação de Dilma um pouco mais difícil, tendo a achar que o Datafolha errou antes ou agora. O percentual dos que acham que ela deveria renunciar caiu, em três semanas, de 65% para 60%.

Querem saber? Não tenho muita paciência para ficar brigando com números. Sempre fica parecendo chororô de quem não gostou do resultado. E este está a indicar que que os que cobram o afastamento de Dilma são quase o dobro dos que não o querem. Minha restrição à pesquisa não está aí. Parto do princípio de que a aferição de números é honesta — até porque uma ligeira queda nos pró-impeachment seria até explicável (ainda falarei a respeito). O busílis é outro.

Não faz sentido
Não faz sentido, a meu ver, o Datafolha indagar se as pessoas são favoráveis ao impeachment de Michel Temer. Trata-se de um erro brutal cometido pelo instituto, ao qual a Folha dá enorme destaque porque, suponho, encomendou o levantamento.

A propósito: disseram “sim” ao impeachment de Temer 58% dos entrevistados, e não, 28%. Dados esses números, a situação seria pior para ele do que para ela: o saldo negativo de Temer seria de 30 pontos; o de Dilma, de 28. Os mesmos 60% dizem que ele deveria renunciar.

Problemas os mais distintos se combinam. E trato deles:
1: impeachment de Temer por quê? O que há contra ele até agora, além de uma liminar destrambelhada, concedida por Marco Aurélio, obrigando a instalação da Comissão Especial, decisão que será certamente derrubada? Resposta: nada!

2: É quase certo que 100% dos brasileiros saibam quem é Dilma. Mas quantas pessoas, vocês avaliam, realmente sabem quem é Michel Temer? Sou capaz de apostar que seu índice de desconhecimento está bem acima de 50%. Logo, dizer-se a favor do seu impeachment nada mais traduz do que fastio à política e aos políticos, vistos como farinha do mesmo saco.

3: Há perguntas que não devem ser feitas porque o resultado está dado, e é bem possível que a gente, por bons motivos, não queira saber. Indague se a população é contra ou a favor a castração — a física mesmo, não a química — de molestadores. E quanto a cortar o braço de assassinos e traficantes? Na civilização, a gente evita fazer as perguntas erradas para não obter as respostas que serão, necessariamente, erradas.

4: Não estou comparado o vice a essas figuras execradas pela população, é claro! Só me parece que, dado o ambiente político, falar na “saída de todos” soa como uma posição simpática, embora irresponsável. Emprego exemplos extremos apenas para chamar atenção para o fato de que o “impeachment de Temer” — ou sua renúncia — é uma agenda cujas implicações só uma extrema minoria conhece. Ela só surge como maioria em pesquisa em razão do compreensível ódio à política.

5: “Ah, mas se você mesmo admite que a maioria desconhece Temer, como ele será presidente?” Porque é o que preconiza a Constituição. Vices costumam ser desconhecidos por natureza.

6: Vamos ver, então: praticamente 100% dos brasileiros conhecem Dilma. As lambanças em curso foram comandadas, obviamente, por seu partido. Temer não tem nada com isso. Delações premiadas ou a põem no centro do escândalo ou evidenciam que é relapsa. O vice, sabidamente, não participa da administração. Não há delações premiadas contra ele, mas há contra Dilma.

O vice também não pedalou, mas ela foi uma exímia bicicletista. A brutal incompetência do governo não deve nada a Temer e deve tudo a Dilma, Lula e aos petistas. Fica a pergunta: faz sentido que praticamente o mesmo número de pessoas peça o impeachment da presidente e do vice? Resposta: é claro que não!

Será mesmo que o impeachment de Dilma, agenda que levou no dia 13 de março mais de 3 milhões às ruas, tem uma taxa de adesão praticamente igual à do impeachment de Temer, que nunca mobilizou ninguém? Com a devida vênia, a resposta é “não!” Essa é uma realidade criada apenas pela pesquisa.

Também a avaliação do governo teria melhorado um pouquinho: há três semanas, 69% o achavam ruim ou péssimo; agora, 63%. Apenas 10% o viam como ótimo ou bom; agora, 13%. Os que dizem ser regular oscilaram de 21% para 24%.

Faz sentido
Faz sentido certa melhora dos índices do governo, ainda que os números sejam vexaminosos? Faz. Lula está em campanha eleitoral aberta, o governo partiu para a guerra, seus aparelhos estão assanhados, os militantes estão com sangue nos olhos…

O que realmente não faz sentido é a indagação sobre o impeachment ou renúncia de Michel Temer. A menos que seja para fortalecer uma tese ou uma agenda: a da realização de eleições.

Nota final
O Datafolha pergunta se o entrevistado é contra ou a favor da realização de novas eleições caso Dilma e Temer saiam. Dizem-se favoráveis 79%, e 16%, contrários. Também essa pergunta não procede, né? Não é questão de gosto. Se o duplo impedimento se der até 31 de dezembro de 2016, haverá eleições diretas. Se ele ocorrer em qualquer dia a partir de 1º de janeiro de 2017, seria o Congresso a escolher o comando.

No fim das contas, a pergunta real aí é outra, injustificável: “Você é a favor ou contra a que se cumpra o que está na Constituição?”.

Solução é fazer nova eleição ou trocar de povo, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Para pacificar sua gente e tentar contornar a crise, o Brasil precisa convocar novas eleições presidenciais. Esse é o desejo de 79% dos brasileiros, informa o Datafolha. Só há duas formas de satisfazer esse anseio coletivo sem brigar com a Constituição: ou Dilma e Temer pedem para sair ou o TSE enxerga tudo o que está na cara e manda a dupla para casa antes do fim do ano, disparando o gatilho constitucional da nova eleição.

Fora disso, só trocando de povo. Esse povo que está aí é muito exigente. Quer o impeachment de Dilma (61%). Mas também quer o impedimento de Temer (58%). A maioria (60%) se daria por satisfeita com a dupla renúncia. Cético, o povo parece brincar com a hipocrisia dos políticos como quem brinca de roleta russa, na certeza de que a sinceridade que eles manipulam está completamente descarregada.

Dilma fala da crise econômica como se lidasse com uma virose de causa desconhecida. Para evitar que os rivais obtenham na Câmara 342 votos pró-impeachment, ela virou uma grande compositora. Compõe com qualquer um. Como boneca do ventríloquo Lula, propõe diálogo a quem precisa de interrogatório —Ciros e Jáderes, Renans e Valdemares, Sarneys e outros azares. Triste ocaso.

Temer faz pose de futuro a bordo do PMDB, um transatlântico perfeitamente integrado ao Brasil do faturo. Distribui acenos no convés. E delega a operação da casa de máquinas a Romero Jucá e Eduardo Cunha. Articulam-se com os mesmos azares que tricotam com o governo. A Lava Jato informa que todos têm telhado de vidro, paletó de vidro, gravata de vidro, camisa de vidro, calça de vidro… Tudo é de vidro, exceto a cara, que é de pau.

A alternativa revela-se tão temerária (sem trocadilho), que consegue atenuar os temores em relação a Dilma. Há 23 dias, apoiavam o impeachment da presidente 68% dos brasileiros. O índice caiu sete pontos. Reprovavam o governo de madame 69% dos entrevistados pelo Datafolha. Hoje, a taxa de reprovação é de 63%. Uma queda de seis pontos.

Entre uma pesquisa e outra, o Brasil não mudou de rota. Continua a caminho do brejo. A única coisa que se ajustou foi o discurso de Dilma, Lula e Cia.. Grudaram em Temer a pecha de oportunista e a má fama de Eduardo Cunha. Trombetearam o fato de que, sob Temer, Eduardo Cunha passaria a ser o número 2 da República.

O povo, que já conhece bem o seu país, sabe como isso vai acabar. O Brasil deixou de ser imprevisível. Tornou-se um país tristemente previsível. Daí as três alternativas: ‘Fora, Dilma e Temer’, ‘TSE neles’ ou ‘Fora, povo’.

 

PROCURE O DEPUTADO DO SEU ESTADO: ESTES SÃO OS INDECISOS DO IMPEACHMENT (Reinaldo Azevedo)

Segue uma lista de deputados que ainda não tomaram uma decisão, mas que têm, sim, a chance de fazer a coisa certa

Os deputados que são listados abaixo se contam entre os “indecisos” do impeachment com chances de fazer a coisa certa.

Eles podem fazer a diferença entre a continuidade do caos e um esforço ao menos para começar a botar ordem na bagunça promovida pelo PT.

Enviem mensagens a eles demonstrando que podem dar uma contribuição decisiva ao Brasil e deixando claro que o povo está vigilante.

Sejam respeitosos. Não queremos ofender ninguém. Queremos convencê-los.

Nota: o maior número de indecisos, em votos absolutos, está na Bahia, onde Jaques Wagner fez carreira. Também é significativa quantidade em dois Estados sob influência de José Sarney: Amapá e Maranhão.

Alagoas
– Ronaldo Lessa (PDT)

Amazonas
– Alfredo Nascimento (PR)

– Hissa Abrahão (PDT)

Amapá
– André Abdon (PP)
– Cabuçu Borges (PMDB)
– Jozi Araújo (PTN)
– Marcos Reategui (PSD)
– Roberto Góes (PDT)

– Vinícius Gurgel (PR)

Bahia
– Félix Mendonça (PDT)

– João Carlos Bacelar (PR)
– José Carlos Araújo (PR)
– José Nunes (PSD)
– Sérgio Brito (PSD)
– Ronaldo Carletto (PP)

Ceará
– Macedo (PP)


Maranhão
– Alberto Filho (PMDB)

– Cleber Verde (PRB)
– Hildo Rocha (PMDB)
– Victor Mendes (PSD)
– Waldir Maranhão (PP)

Mato Grosso
– Carlos Bezerra (PMDB)

– Valtenir Pereira (PMDB)

Minas Gerais
– Aelton Freitas (PR)

– Brunny (PR)
– Toninho Pinheiro (PP)
– Weliton Prado (PMB)

Mato Grosso do Sul
– Dagoberto Nogueira (PDT)

Pará
– Elcione Barbalho (PMDB)

– José Priante (PMDB)
– Simone Morgado  (PMDB)

Rio de Janeiro
– Deputado Deley (PTB)

Rio Grande do Norte
– Beto Rosado (PP)

– Fábio Faria (PSD)

Rondônia
– Lindomar Garçon (PRB)

Roraima

– Remídio Monai (PR)

– Édio Lopes (PR)

Rio Grande do Sul
– Giovani Cherini (PDT)

– Pompeo de Matos (PDT)

Sergipe
– Adelson Barreto (PR)

– Fábio Mitidieri (PSD)

São Paulo
– Márcio Alvino (PR)

Tocantins
– Vicentinho Junior (PR)

Agora, os indecisos por partido

PR (11)
– Alfredo Nascimento (AM)

– Vinícius Gurgel (AP)
– João Carlos Bacelar (BA)
– José Carlos Araújo (BA)
– Aelton Freitas (MG)
– Brunny (MG)
– Édio Lopes (RR)
– Remídio Monai (RR)
– Adelson Barreto (SE)
– Márcio Alvino (SP)
– Vicentinho Junior (TO)

PMDB (8)
– Cabuçu Borges (AP)

– Alberto Filho (MA)
– Hildo Rocha (MA)
– Carlos Bezerra (MT)
– Valtenir Pereira (MT)
– Elcione Barbalho (PA)
– José Priante (PA)
– Simone Morgado (PA)

PDT (7)
– Ronaldo Lessa (AL)

– Hissa Abrahão (AM)
– Roberto Góes (AP)
– Félix Mendonça (BA)
– Dagoberto (MS)
– Giovani Cherini (RS)
– Pompeo de Matos (RS)

PP (6)
– André Abdon (AP)

– Ronaldo Carletto (BA)
– Macedo (CE)
– Waldir Maranhão (MA)
– Toninho Pinheiro (MG)
– Beto Rosado (RN)

PSD (6)
– Marcos Reategui (AP)

– José Nunes (BA)
– Sérgio Brito (BA)
– Victor Mendes (MA)
– Fábio Faria (RN)
– Fábio Mitidieri (SE)

PRB (2)
– Cleber Verde (MA)

– Lindomar Garçon (RO)

PTB (1)
– Deley (RJ)

PTN (1)
– Jozi Araújo (AP)

PMB (1)
– Weliton Prado (MG)

 

Datafolha diz que, hoje, 60% dos deputados votariam pelo impeachment. Por que acho o número pouco confiável

Foram ouvidos só 291 deputados. Num colégio de 513 votantes, o único levantamento confiável é o boca a boca

O Datafolha publicou uma nova pesquisa sobre a tendência dos deputados e senadores em relação ao impeachment de Dilma. Já critiquei o levantamento anterior, realizado em dezembro do ano passado, e volto a fazê-lo. Ainda que eu estivesse aplaudindo o resultado — e não o considero ruim —, estaria aqui a dizer o que digo: acho a metodologia tecnicamente insustentável. Vamos ver.

Segundo o instituto, hoje, 60% dos deputados tenderiam a votar em favor do impeachment. Se isso representasse o total, Dilma continuaria presidente, pois são necessários dois terços do total — 66,66% — para aprovar o impedimento.

E onde está a falha insanável? Num colégio de 513 pessoas, o único levantamento confiável é o feito voto a voto. Não existe tendência: é impossível colher uma amostra representativa. Tanto é assim que a pesquisa não tem nem margem de erro nem intervalo de confiança. Infelizmente, acho que se trata de uma forçada de mão técnica.

São 513 os deputados, e o instituto ouviu apenas 291 (56,72% do total). E como fez para chegar à conclusão de que seriam 60% (308) os pró-impeachment? Lembrem-se de que, para afastar Dilma, são necessários 342 votos.

O Datafolha explica: “Os resultados foram ponderados segundo as bancadas dos partidos, com o pressuposto de que a filiação é uma variável importante na definição do voto”.

Pois é. Aí está o problema insanável. Exceção feita, de um lado, aos partidos de oposição e, de outro, ao PT, PCdoB e PSOL, essa projeção é absolutamente injustificável. Quanto aos partidos citados, ela se faz desnecessária porque são posições de princípio.

As bancadas por afinidade — evangélicos, por exemplo — contam mais do que a filiação partidária. Com base na sua metodologia, o Datafolha aponta que, no PMDB, 59% dos deputados devem votar em favor do impeachment. Na minha conta, só 12 dos 67 peemedebistas se oporiam. Segundo o instituto, pois, o partido daria 40 votos em favor do impedimento. Há razões para acreditar que, hoje, seriam, no mínimo, 55.

De todo modo, mesmo com um método que me parece por demais impreciso, acho que os números são desanimadores para Dilma. Na amostra de 291 deputados, 60% se disseram a favor do impeachment; 21%, contra, e 18% não se posicionaram. Acho que é um indício importante de que a presidente marcha gritando “é golpe” para o abismo.

Nota: no Senado, foram ouvidos 68 dos 81 senadores — 83,9% do total. Eis um lugar em que os defensores do impeachment têm de atuar com mais afinco: o instituto aponta que 55% são favoráveis ao impeachment; 24% contra, e 21% não se posicionaram.

É bom não esquecer: é do Senado a palavra final. E também ali, no julgamento propriamente, são necessários, no mínimo, 66,66% dos votos para depor a presidente de vez

 

Miguel Reale Jr.: “Escolha é entre o bolso e a honra”

O jurista Miguel Reale Jr., coautor do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, falou nesta sexta sobre a votação do processo na Câmara. Segundo Reale, o impeachment “já não é mais uma questão de partido, é pessoal”, e os parlamentares escolherão, agora, “entre o bolso e a honra”.

Sobre a mobilização do governo, que está distribuindo cargos em troca de votos favoráveis, o jurista disse estar “assistindo a um filminho de faroeste em que se corta a nota no meio e entrega a outra metade depois da votação”.

Na entrevista, Miguel Reale Jr. comentou também a ideia de antecipar as eleições para outubro deste ano como forma de resolver a crise política. Para ele, isso seria uma “maluquice”.

 

Impeachment ganha força com delação da Andrade, parecer de Janot e pressão do PMDB contra dissidentes (por FELIPE MOURA BRASIL)

 

Complicou, querido

1) O parecer de Rodrigo Janot contra a posse de Lula frustrou os planos do petista de dar garantias a deputados na articulação contra o impeachment.

Segundo Andréia Sadi, da Globonews, o Planalto avalia que a posição do procurador-geral da República surpreendeu e terá peso no plenário do STF.

Lula e governo contavam com a derrota da decisão de Gilmar Mendes, que havia suspendido a posse, mas agora consideram incerto o resultado da votação na Corte, que só deverá ser discutida a partir do dia 20, quando o impeachment provavelmente já tiver sido votado (entre os dias 15 e 18, em princípio).

A delação da Andrade Gutierrez, cujos executivos admitiram o uso de dinheiro de propina no financiamento da campanha de 2014 de Dilma, também foi um banho de água fria para Lula e governo, que haviam começado a semana otimistas com os resultados parciais da compra de parlamentares.

Segundo Sadi, eles agora avaliam que as revelações (também) vão calibrar o processo de impeachment.

Para completar, o PMDB anunciou que vai fechar questão para suspender ou até expulsar parlamentares que votarem contra o afastamento de Dilma. A decisão foi costurada pela cúpula partidária, composta por Michel Temer, Romero Jucá, Moreira Franco e Eliseu Padilha.

O estatuto permite que o partido obrigue seus deputados a seguir uma posição se houver maioria na Executiva e nas bancadas, de modo que, para competir com o jogo sujo do PT, a medida contestada pela ala mortadela do PMDB se faz mais do que necessária.

“Governo repete a mesma prática do Mensalão para barrar o impeachment”, disparou Moreira Franco. “Deputados e senadores estão indo ao hotel falar com Lula e dividir o butim”.

Foi mais ou menos o que comentei no vídeo de 30 de março, “Atrás do impeachment só não vai quem se vendeu”.

2) Rodrigo Janot disse que mudou de posição sobre a posse de Lula porque analisou as provas em maior profundidade. Muito bem, Janot. Qualquer um que analise percebe a malandragem da manobra.

Como aliás comentei em primeira mão em 28 de março:

3) Sobre a votação do impeachment no plenário da Câmara, um líder governista disse na quinta-feira à repórter Andréia Sadi:

“Tem 90 votos numa zona cinzenta, que ninguém sabe”.

Ele tinha razão.

Helio Gurovitz, do G1, cruzou as sondagens do Vem Pra Rua, do Estadão e do Datafolha sobre os votos e chegou nesta sexta ao número de 91 indefinidos.

O jornalista ainda calculou as porcentagens de votos favoráveis ao impeachment em cada partido a partir dos votos declarados e as projetou para todos os votos, incluindo os indefinidos, a fim de obter uma estimativa do resultado final.

A projeção indicou mais 43 votos a favor do impeachment que, somados aos 292 declarados, resultaram em 335 votos.

“Se a votação fosse realizada hoje, portanto, faltariam 7 votos para a aprovação do impeachment. É um resultado bastante apertado, uma margem pouco acima de 1% do total de deputados.

A influência do clima do plenário durante a votação será decisiva para o resultado. Se o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, cumprir seu plano de chamar verbalmente os ausentes várias vezes e deixar para o final os deputados de Estados majoritariamente contrários ao impeachment, não será difícil chegar aos 342 votos.”

A delação da Andrade, o parecer de Janot, a expulsão de dissidentes do PMDB e a pressão das ruas ainda podem aumentar o placar.

4) Eduardo Cunha recorreu da decisão de Marco Aurélio Mello de mandar que ele abrisse processo de impeachment contra Michel Temer.

“Algum argumento político pode justificar esse comando judicial, mas jurídico não há nenhum”, escreveu o advogado da Câmara Renato Oliveira Ramos.

Ramos também citou a decisão de Celso de Mello que negou um novo pedido para desarquivar uma denúncia contra Temer na Casa, em defesa do princípio da separação dos poderes. Uma aula de democracia ao ministro 247, como escrevi aqui,

Cunha, de quebra, disse que será obrigado a acatar outros nove pedidos de impeachment contra Dilma caso seja mantida a decisão de Marco Aurélio.

Ótimo.

Queremos 10 impeachments de Dilma.

Queremos 10 a 1 no STF contra o ministro 247.

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Tuitadas recentes:

Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil

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Fonte: Blog Reinaldo Azevedo, veja.com

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