"Sem mensalão nem petrolão, a aliança congressual do governo sofre apagão"

Publicado em 27/03/2016 05:57
NO BLOG DO JOSIAS (por Josias de Souza, do UOL)

Dilma escancara sua fragilidade cada vez que repete “jamais renunciarei”. Na verdade, a presidente se encontra numa situação desesperadora. A única coisa que não a abandona é o medo de ser abandonada. No momento, Dilma vive o pior tipo de solidão, que é a companhia dos áulicos.

Se perguntarem a qualquer congressista ou ministro quais são os três temas prioritários da agenda brasiliense, o sujeito dirá: impeachment, impeachment e impeachment. Chegou-se a essa conjuntura monotemática por uma razão singela: o risco de Dilma ser impedida de exercer o cargo cresceu enormemente.

O pedido de impeachment deve chegar ao plenário da Câmara antes do final de abril. Ali, madame precisaria de 172 votos para livrar-se da encrenca. E seus operadores políticos já admitem reservadamente que esse apoio mínimo pode faltar à presidente da República.

Repetindo: para sepultar o pedido de impeachment, Dilma teria de contar com irrisórios 33,5% dos votos dos 513 deputados com assento no plenário da Câmara. E ela receia que até esse apoio ínfimo pode lhe ser negado. Ninguém disse ainda, talvez por pena, mas a base congressual de Dilma sofre um grave apagão.

Herdada de Lula, a coligação partidária que supostamente dá suporte a Dilma é uma aliança baseada em interesse$ inconfessáveis. E quando um matrimônio é selado na base do interesse vira patrimônio. Sem mensalão nem petrolão, a lealdade dos governistas ficou, digamos, meio cansada.

O PMDB, em cujos quadros se abrigam alguns dos mais notórios investigados da Lava Jato, deve desembarcar nesta terça-feira (29). O PP, a legenda que mais se lambuzou na petrorroubalheira, ameaça fazer o mesmo. O PR, um cartório controlado pelo mensaleiro Valdemar Costa Neto viria a seguir…

Na democracia brasileira, um projeto político que saiu pelo ladrão, os partidos perderam a função. Antes, representavam grupos ou corporações. Hoje, representam apenas os próprios intresses. Sempre houve na política essa confusão entre público e privado. A diferença é que na era petista houve uma radicalização.

Se o mensalão e o petrolão serviram para alguma coisa foi para ecentuar a percepção de que há um quarto poder pairando sobre o Executivo, o Legislativo e o Judiciácio: o poder do dinheiro. A Lava Jato secou a fonte. E Dilma, que dispunha de maioria folgada na Câmara, tornou-se uma presidente minoritária.

Considerando-se que os partidos viraram paraísos fiscais, nos quais o governo investe todo o dinheiro que a corrupção é capaz de prover, Dilma conta com a perspectiva de extrair 100% de dividendos apenas do seu PT e do PCdoB. Juntas, essas “firmas” somam 71 votos na Câmara. Faltam 101 para brecar o impeachment.

Há dois dias, numa conversa com jornalistas estrangeiros, Dilma afirmou: “A oposição me pede que eu renuncie. Por quê? Por que sou uma mulher fraca? Não, não sou uma mulher fraca.” Se não consegue reunir 101 gatunos pingados sem o anabolizante da corrupção, para que diabos serve a força de Dilma?

Aos que imaginam que o impeachment significará o fim de todos os problemas, um aviso: vai à cadeira de presidente o vice Michel Temer, do mafioso PMDB. Quer dizer: a política continuará condicionada aos desdobramentos das investigações policiais.

 

Planalto teme que rompimento do PMDB provoque uma onda de novas deserções 

No instante em que mais precisa de apoio congressual, Dilma Rousseff descobre que mesmo os aliados que julgava leais estão presos ao seu governo por grilhões de barbante. O Planalto farejou um problema adicional além da perspectiva de desembarque do PMDB. Deputados de legendas de porte médio como PP, PR e PSD também pressionam as cúpulas partidárias para romper com o governo do PT.

No início do seu primeiro mandato, quando ainda fazia pose de faxineira ética e era uma governante popular, Dilma tratava os aliados a pontapés. Hoje, ao perceber que a presidente se esforça para acomodar o investigado Lula em sua equipe e amarga uma taxa de reprovação de 69%, os aliados é que cutucam Dilma com os pés para ver se ela ainda morde.

O risco de debandada em série empurra o governo para uma estratégia que pode ser definida como fisiologismo de guerrilha. Em vez de negociar com os dirigentes, o governo oferecerá cargos a grupos partidários. Com isso, imagina que conseguirá manter do seu lado pedaços dos partidos que eventualmente optarem pela deserção.

Essa tática já é empregada no PMDB. Dilma cogita manter os sete ministros da legenda mesmo que o rompimento ocorra na próxima terça-feira (29), como prometido. Exige, porém, que eles obtenham apoios para adicionar ao cesto de 172 votos necessários para enterrar o pedido de impeachment no plenário da Câmara.

Dilma luta para salvar o mandato e a biografia, ao mesmo tempo que tenta enxergar o que restou de bom na sua coligação, ainda que seja preciso procurar um pouco.

Deve doer em Dilma a ideia de que faz o papel de uma rainha inepta numa peça confusa em que o vilão é o Eduardo Cunha e o heroi da resistência é o Renan Calheiros, e cujo epílogo é o Michel Temer.

 

PMDB pró-rompimento se rebela contra permanência de ministros no governo 

Ministros do PMDB resistem à ideia de deixar as pastas caso o partido rompa com o governo

Depois de tornar-se majoritário, o grupo que articula o rompimento do PMDB com Dilma Rousseff se move para evitar uma manobra da ala que ainda resiste ao desembarque. Acertados com o Planalto, os sete ministros que representam o partido na Esplanada tentam obter uma espécie de salvo-conduto para permanecer no governo mesmo depois que a legenda se bandear para a oposição. Para evitar punições, esses ministros se licenciariam do PMDB.

Pioneiro da causa do rompimento, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) disse: “Não vamos aceitar esse tipo de coisa. Assim como não existe meia gravidez , também não pode existir meio rompimento. Não é razoável que, depois da decisão de romper, filiados do partido permaneçam no governo como ministros licenciados do PMDB. Isso seria a desmoralização.”

A decisão sobre o rompimento será tomada em reunião do diretório nacional do PMDB marcada para terça-feira (29). Os partidários da tese estimam que prevalecerão sobre a ala governista com mais de 75% dos votos. A despeito disso, amanheceram inquietos neste sábado. Deve-e a excitação a uma declaração feita na véspera pelo ex-ministro Moreira Franco. Fiel aliado do vice-presidente Michel Temer, Moreira levou o rosto ao 'Jornal Nacional' para informar que o partido não vai exigir a saída dos ministros a qualquer custo.

Eis o que disse Moreira ao telejornal da Globo: “O fato de o PMDB tomar essa decisão na terça-feira necessariamente não vai significar que os ministros saiam batendo porta e deixem os assuntos graves pendentes sem que haja um encaminhamento político-administrativo às questões. Evidentemente vai se discutir um mecanismo para isso, que pode ser um prazo, que pode ser até aqueles que quiserem ficar, que quiserem cumprir, eles devem se desfiliar, pedir uma licença do partido.”

A reação foi instantânea. Numa troca de telefonemas, os partidários do impeachment de Dilma fecharam questão contra a permanência dos ministros. O próprio Michel Temer foi avisado de que o grupo não aceitará o rompimento pela metade. Esse mesmo grupo impediu na semana passada outra manobra. Sob influência de Lula, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) tentou, sem sucesso, adiar a reunião desta terça para o dia 12 de abril.

 

PMDB já endereçou coroas de flores para Dilma

O cronista Nelson Rodrigues dizia que morrer significa, em última análise, um pouco de vocação. Jurada de morte, a gestão Dilma finge estar cheia de vida. Mas o governo é um vivo tão pouco militante que o PMDB decidiu enviar-lhe coroas de flores e atirar-lhe na cara a última pá de cal. Deve fazer isso na próxima terça-feira, quando seu diretório nacional planeja desligar da tomada o aparelho que mantém a respiração artificial do governo.

A situação da gestão Dilma é de uma simplicidade estarrecedora. Fraca, inepta e impopular, a presidente cavalga uma megacrise de três cabeças —ética, econômica e política. Sua administração encontra-se em estado terminal. Até o diretório do PMDB no Rio, que segurava a vela na porta da UTI, optou pelo desembarque. Considerando-se o faro aguçado da caciquia que controla o partido, se o PMDB decidiu tomar distância é porque o governo chegou à fase da decomposição. Outras legendas virão atrás.

Ah, o PMDB. Isso é que é partido eficiente! Ajuda eleger, vira cúmplice no assalto às arcas públicas, rompe fazendo cara de nojo e prepara, estalando de pureza moral, a transição que levará Michel Temer à poltrona de presidente da República com o apoio da oposição. Exausto de ajudar Dilma, o principal aliado do Planalto concluiu que chegou a hora de substitui-la. E não há Lula capaz de fazer ao PMDB oferta tão tentadora quanto a troca de sete cadeiras de ministro sob Dilma pela poltrona de presidente num cada vez menos hipotético governo-tampão de Temer. A essa altura, só há uma força em condições de deter os planos do PMDB: a Lava Jato.

– Charge do Duke, via O Tempo.

 

Impeachment não é golpe, diz o decano do STF

– Aqui, notícia sobre como o vídeo com o ministro Celso de Mello foi gravado.

 

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Fonte: Blog do Josias (UOL)

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