Para Lula e Dilma, abril será o mais cruel dos meses (AUGUSTO NUNES)
A última semana do verão assombroso precipitou a tempestade perfeita:
para Lula e Dilma, abril será o mais cruel dos meses
É mais que uma pesquisa de opinião o que o Datafolha divulgou neste sábado. É o atestado de óbito do lulopetismo. É o boletim médico sobre um paciente em estado terminal. É o anúncio fúnebre da morte política de Lula. É também o retrato do novo país que se mira no exemplo da república de Curitiba. E é o convite para o carnaval temporão que festejará o fim da Era da Canalhice. Até a estatal da estatística se rendeu à realidade visível a olho nu.
O Datafolha já admite que, em cada dez brasileiros, sete acham ruim ou péssimo o governo Dilma Rousseff, apoiam o impeachment e sabem que Lula quer virar ministro para escapar da Lava Jato pelo atalho do foro privilegiado. O truque obsceno só serviu para engordar a impopularidade do farsante, hoje espraiada por todas as classes sócio-econômicas. Desde novembro, a taxa de rejeição a Lula subiu dez pontos porcentuais: já são quase 60% os que não votariam de jeito nenhum no embusteiro desmascarado pela Lava Jato.
Passam de 80% os que aplaudem a decisão do juiz Sérgio Moro que obrigou o dono do sítio que não é dele a depor na Polícia Federal. No ranking dos governos mais corruptos da história, a turma de Lula só perde para o bando de Dilma. Conjugados, os índices produzidos pelo levantamento estraçalharam a fantasia vendida aos devotos que se juntaram na Avenida Paulista neste 18 de março. Eles se imaginavam participantes de um ato político. Era um funeral.
A última semana deste verão foi a mais assombrosa semana do mais assombroso dos verões. A vertiginosa sucessão de espantos começou no domingo em que milhões de brasileiros protagonizaram a maior manifestação popular desde a chegada das caravelas. Na segunda-feira, ao convidar o padrinho em apuros para assumir o ministério que lhe aprouvesse, Dilma Rousseff confirmou que não perde nenhuma chance de enfiar o sorvete na testa.
Na terça-feira, mais revelações do senador Delcídio do Amaral mostraram Lula e Dilma afundados até o pescoço no lamaçal do Petrolão. No mesmo dia, uma conversa gravada provou que o ministro Aloizio Mercadante tentou comprar o silêncio de Delcídio e a Câmara dos Deputados desengavetou o fantasma do impeachment. Na quarta-feira, a nomeação para a chefia da Casa Civil de um caso de polícia fez a temperatura aproximar-se do ponto de ebulição.
Esse limite foi alcançado no mesmo dia pelo recrudescimento das manifestações de protesto — e amplamente ultrapassado pela divulgação de conversas gravadas pela Polícia Federal que escancaram a mente escura e a alma sórdida de Lula e parceiros. Na quinta-feira, Dilma ratificou a opção preferencial pela boçalidade com a intensificação de ataques frontais a Sérgio Moro.
Na sexta-feira, The New York Times dedicou à crise brasileira um editorial que qualificou de “ridículas” as explicações gaguejadas por Dilma para justificar a nomeação de Lula — suspensa pelo ministro Gilmar Mendes até que o plenário do Supremo Tribunal Federal delibere sobre o caso. Um dos tantos iludidos pelas tapeações do mágico de cabaré, o mais importante jornal do mundo descobriu que o pai dos pobres era a camuflagem de um meliante.
Na manhã de sábado, a capa de VEJA destacou uma das muitas afirmações de alto teor explosivo que emergem da entrevista exclusiva com Delcídio do Amaral: “Lula comandava o esquema”. O esquema a que se refere o ex-líder do governo no Senado envolve a presidente da República, ministros de Estado e outros figurões que, para se safarem do castigo reservado aos arquitetos do Petrolão, tentaram sabotar a Operação Lava Jato. No fim da tarde, o Datafolha publicou a pesquisa.
Os últimos sete dias do verão precipitaram a tempestade perfeita. O outono vai lavar a alma do país que presta. Lula e Dilma terão motivos de sobra para acreditar que abril é mesmo o mais cruel dos meses.
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J. R. Guzzo: Suelto
A seguir, algumas perguntas de possível interesse para os leitores. Nenhuma delas será respondida, nunca, mas perguntar a gente sempre pode:
• Quais e quantos juízes, em qualquer país democrático do mundo, já foram presos até hoje por “gravar” conversas de presidentes da República? Dilma Rousseff acaba de comunicar que no mundo civilizado esse tipo de juiz vai para a cadeia. Solicita-se, para o esclarecimento geral, uma lista de nomes de juízes presos por este delito – se possível, acompanhada de datas e dos países em que tais prisões foram feitas.
• O ex-presidente Lula disse, no comício de sexta-feira à noite em São Paulo, que os brasileiros que se manifestaram no dia 13 de março, e quem mais está contra o governo, fazem compras em Miami; como o dólar está caro, acabam comprando menos, e é por isso que ele, Dilma e o PT são tão criticados. Já “nós”, disse Lula, “compramos na 25 de Março”. Pergunta-se: “nós” quem? Lula poderia apontar, entre os objetos que tem no sítio de Atibaia, quantos foram comprados na Rua 25 de Março, no centro de São Paulo? Cozinha Kitchen’s, por exemplo: dá para comprar na 25?
• A linha de telefone celular contendo a conversa na qual Dilma diz a Lula que está enviando a ele o “termo de posse”, para usar “em caso de necessidade”, pertence a Dilma Rousseff? Pertence a Lula, que já informou que não tem nenhum aparelho celular? Pertence ao sistema de comunicações do Palácio do Planalto, a algum escritório do PT ou ao Instituto Lula? Pertence à sua empresa de palestras, a seus advogados, seus familiares, seus colegas de partido ou seus amigos?
• Qual artigo, parágrafo, alínea ou inciso de lei o juiz Sergio Moro desrespeitou nos dois anos inteiros de investigações da Operação Lava Jato? Por que durante esse tempo todo nenhum magistrado que está acima dele no sistema judiciário brasileiro considerou Moro culpado de alguma transgressão?
• O ex-presidente Lula afirmou que os mais altos tribunais da justiça nacional estão “totalmente acovardados” no presente momento. Dilma concorda com essa opinião?
• Em outra área de indagações, que poderia se estender ao infinito, o público pagador é informado que a ex-ministra Ideli Salvatti, amiga-símbolo dos governos de Lula e de Dilma, foi nomeada, por indicação da República Federativa do Brasil, para o cargo de “Assessora de Acessos a Direitos e Equidades” na Organização dos Estados Americanos, em Washington. O que faz, na sua jornada de trabalho, uma “assessora de acessos?” Pergunta-se ainda quais as qualificações técnicas de seu marido para exercer, também por indicação do governo do Brasil, o cargo de “Ajudante da Subsecretaria de Serviços Administrativos e de Conferências na Junta Interamericana de Defesa” da mesma OEA (seu salário é de 7400 dólares por mês).
Tags: Dilma Rousseff, Ideli Salvatti, interceptação telefônica, J.R. Guzzo, Lula,Sérgio Moro, Suelto
Recibos de obra em sítio de Atibaia estavam no apartamento de Lula
Os documentos datam dos primeiros meses de 2011, quando foram feitas as benfeitorias na propriedade que pertence a Jonas Suassuna e Fernando Bittar, sócios de um dos filhos de Lula. Os recibos estão em nome de Igenes Irigaray Neto, arquiteto que naquela época trabalhou para o pecuarista José Carlos Bumlai. O pecuarista é suspeito de ter arcado com os gastos de benfeitorias do sítio naquela época, junto com a Odebrecht e a OAS. Nos comprovantes, que em valores atualizados somam R$ 90,6 mil, também é citado o caseiro Élcio Vieira, conhecido como Maradona.
Os papéis foram expedidos pela loja Depósito Dias, cuja ex-proprietária disse à Folha em janeiro que a Odebrecht gastou, só em materiais, cerca de R$ 500 mil com a reforma do sítio. A nota fiscal da porta de correr de madeira, no valor de R$ 6.150, está em nome do engenheiro civil Paulo Henrique Kantovitz, empregado da Odebrecht. A empresa vendedora da porta é de São Paulo e fez a entrega no Depósito Dias, em Atibaia. A aquisição foi em fevereiro de 2011.
O Ministério Público Federal afirma que a Usina São Fernando, da família Bumlai, gastou R$ 747,4 mil na reforma do sítio naquela época e que a OAS pagou outros R$ 170 mil em mobília. Também diz que a Odebrecht deslocou uma equipe para a obra e que oengenheiro da empreiteira Frederico Barbosa procurou manter em segredo sob sua identidade, emitindo notas fiscais em nome de Irigaray Neto.
Todos os papéis foram recolhidos pela PF na ação de busca no apartamentodo ex-presidente, em São Bernardo do Campo (SP), no último dia 4, quando Lula também foi alvo de um mandado de condução coercitiva. As notas e recibos foram anexados em um inquérito que teve o sigilo levantado na semana passada por ordem do juiz federal Sergio Moro. Nos autos, não há nenhuma conclusão dos investigadores sobre esses documentos.
Além do conjunto de recibos emitidos pelo Depósito Dias, há ao menos duas notas fiscais em nome de Rogério Aurélio Pimentel, ex-assessor da Presidência. Uma delas é de uma capa de piscina, comprada na mesma época, por R$ 1.100. Um outro comprovante anexado, de gastos em uma vidraçaria, também está em nome de Irigaray. Ela se refere a uma compra de R$ 5.000.
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