Não vai ter golpe! ...só não querem ser enganados novamente (por RICARDO NOBLAT, em O GLOBO)

Publicado em 21/03/2016 06:37
O Moro estava sendo bisbilhotado, e deu o troco (divulgou os grampos)... (por Ricardo Noblat)

Não vai ter golpe!

por Ricardo Noblat, em O GLOBO

Simples o que aconteceu na última quarta-feira em Brasília quando Dilma telefonou para Lula avisando-o de que um emissário lhe entregaria no hotel o termo de posse.

No melhor “estilo Dilma” de falar, ela disse, na tentativa desesperada de se fazer entender: "Seguinte, eu tô mandando o Messias junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!"

Subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil, Jorge Messias deu a Lula uma cópia assinada por Dilma do termo de posse dele como ministro-chefe da Casa Civil da presidência da República.

E pegou a assinatura de Lula em outra cópia do mesmo documento que ainda carecia da assinatura de Dilma. Mas como este parágrafo acabará na próxima linha, espere só um pouco para conhecer o resto da história. Adiante.

Dilma e Lula haviam sido informados de que o juiz Sérgio Moro estava pronto para decretar a prisão preventiva de Lula pedida pelo Ministério Público de São Paulo.

Se isso acontecesse, Lula correria o risco de ser preso antes da posse, indo assim a pique a operação montada para fazê-lo Ministro de Estado. Uma vez ministro, ele ficaria a salvo da “República de Curitiba” e aos cuidados do Supremo Tribunal Federal.

Do hotel em Brasília, Lula retornou a São Paulo.  Se agentes federais batessem à sua porta, ele assinaria a cópia do termo de posse já assinado por Dilma, uma espécie de habeas corpus administrativo.

Em Brasília, por sua vez, Dilma assinaria a cópia do termo de posse já assinado por Lula, mandando-o para publicação no Diário Oficial. E o ministro-chefe da Casa Civil assim “lavado”, escaparia à prisão.

Um plano perfeito? Está para ser inventado um. Bancado pela dupla Dilma-Lula para obstruir a Justiça, o plano começou a dar errado tão logo Moro, acostumado a bisbilhotar os outros, soube que estava sendo bisbilhotado.

Suspendeu a redação dos motivos que justificariam a prisão de Lula e divulgou de uma vez mais de 40 conversas dele ao telefone, grampeadas com a sua autorização. 

Para o país, foram horas eletrizantes, aquelas, transcorridas entre o anúncio de que Lula aceitara o convite de Dilma para ser ministro (pouco antes do meio-dia) e o momento em que se ouviu na Globo News (pouco antes das 19h) a voz de Dilma informando a Lula sobre o papel que só deveria ser usado “em caso de necessidade”.

Em cerca de sete horas, o governo foi da esperança e da euforia à frustração e ao medo.

É com pavor a uma queda rápida que o governo se prepara para enfrentar no Congresso o pedido de impeachment.

Desfalcado de Lula, que teve sua nomeação para ministro suspensa pela Justiça, e ameaçado por novos fatos a serem produzidos pela Lava-Jato, o governo parece dispor de uma única arma: os erros dos seus adversários.

Atuará em cima dos erros. E, no mais, seja o quer Deus quiser.

Deus, não sei, mas os brasileiros dão fortes sinais de que desejam ver Dilma, Lula e o PT pelas costas. Não estão divididos, como se diz. Podem não saber o que querem, mas sabem o que não querem.

Não querem ser enganados como foram por Dilma, reeleita com base em mentiras. Não querem devolver o que ganharam. E não querem corrupção - daí o esmagador apoio ao impeachment e a rejeição crescente a Lula.

Jamais a democracia por aqui deu tantas provas de solidez e de vitalidade.  Suportou a queda de um presidente eleito. Se for o caso, suportará outra.

Tranquilo: não vai ter golpe.

Manifestação contra o impeachment de Dilma (Foto: Ueslei Marcelino / Reuters)

 

 

Recesso do STF deixa Lula ao alcance de Moro, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Ao discursar para a multidão que foi à Avenida Paulista protestar contra o impeachment, Lula disse que, na próxima terça-feira, estaria na Casa Civil da Presidência “servindo à companheira Dilma”. Não estará. Ao suspender sua nomeação, o ministro Gilmar Mendes, do STF, colocou Lula ao alcance de Sérgio Moro pelo menos até o início de abril. Só o plenário do Supremo pode revogar a decisão de Gilmar, que tem caráter liminar. E os ministros da Suprema Corte se autoconcederam um recesso branco na Semana Santa.

Gilmar Mendes não pretende esperar por um recurso da Advocacia-Geral da União para levar o caso ao plenário do Supremo. Ele já prepara o voto que submeterá aos colegas no julgamento do mérito da causa. No entanto, o plenário do STF só voltará a funcionar em 30 de março. E ainda será necessário requisitar uma manifestação da Presidência e, provavelmente, da Procuradoria-Geral da República. Depois, será preciso encaixar a encrenca na pauta.

Ou seja, de nada adiantou a pressa do governo para prover a Lula o escudo do foro privilegiado. Em ritmo de toque de caixa, Dilma mandara rodar uma edição extraordinária do Diário Oficial para formalizar a nomeação do investigado. Programada inicialmente para a próxima terça-feira (22), a posse de Lula foi antecipada em cinco dias. Tudo para livrá-lo da caneta do juiz da Lava Jato.

Havia nos subterrâneos do petismo e do governo um receio de que Moro estivesse tramando a prisão de Lula. Com seu despacho, Gilmar Mendes como que condenou o novo “subordinado'' de Dilma a padecer de ‘morofobia’ por mais tempo do que gostaria.

 

Sítio e tríplex pertencem à família Lula, diz PF

O delegado da Polícia Federal Igor de Paula, coordenador da Operação Lava Jato, disse que os investigadores já não têm dúvidas quanto à propriedade do sítio de Atibaia e do tríplex do Guarujá. Afirmou que, embora estejam registrados em nome de outras pessoas, “a equipe de investigação tem 100% de certeza de que os dois imóveis pertencem à família do ex-presidente” Lula.

Em entrevista à revista Veja, o delegado acrescentou: “Na última perícia minuciosa que fizemos no sítio não encontramos um item sequer pertencente a alguém que não seja da família do ex-presidente. Tudo o que está lá é dele, incluindo camisetas e canecas com o escudo do Corinthians, além de uma série de fotografias de parentes. Está tudo filmado e fotografado.”

Segundo Igor de Paula, a colaboração do fisco foi vital: “A Receita Federal é parte fundamental nessa investigação. Na 24ª fase da Lava Jato, por exemplo, que apura a realização de benfeitorias no sítio de Atibaia e no tríplex do Guarujá, do ex-presidente Lula, os documentos fornecidos pela Receita foram decisivos para levantarmos quem fez as obras, quem encomendou e quem pagou. Hoje, tudo o que é investigado pela PF na Lava Jato é compartilhado com a Receita Federal.”

Em sua defesa, Lula afirma que não é dono de nenhum dos imóveis. Ironicamente, o delegado Igor de Paula disse concordar com a tese segundo a qual a PF foi fortalecida no governo Lula. “Do ponto de vista funcional, tivemos no governo do PT um avanço que hoje nos permite atuar com mais independência em determinados procedimentos, como o destino que se dá a um certo inquérito. Isso não deixa de ser paradoxal — o governo que nos deu mais autonomia para atuar é o mais atingido pelas investigações até agora.”

 

Lula vira página na Avenida Paulista. Para trás!

Quando Dilma aceitou levar Lula de volta para o Planalto, os brasileiros ficaram autorizados a concluir que ela se deu conta da sua própria ineficiência e decidiu devolver o poder a um verdadeiro chefe de Estado. O PT e seus satélites no sindicalismo e nos movimentos sociais viram a retomada da Presidência por Lula como as coisas finalmente voltando aos seus devidos lugares.

A presidência acidental de Lula ainda está sub judice. Mas o morubixaba do PT ofereceu na noite passada um gostinho do que será o Brasil se ele não for preso e se o STF autorizar o início do seu terceiro mandato. As coisas ficaram claras com o discurso feito por Lula na manifestação contra o impeachment, na Avenida Paulista.

“Eu não vou lá para brigar”, bradou Lula. Seu plano de governo consiste em ajudar a fazer as coisas que precisam ser feitas. “Não vou lá achando que aqueles que não gostam de nós são menos brasileiros do que nós”, afirmou, antes de realçar as características que fazem de “nós” algo bem melhor do que “eles”.

“Eles vestem roupa amarela e verde para dizer que são mais brasileiros do que nós. Corte uma veia deles para ver se o sangue deles é verde e amarelo. É vermelho que nem o nosso, é vermelho como se fosse o sangue de Jesus Cristo.”

Lula prosseguiu: “Eles não são mais brasileiros do que nós, porque, na verdade, eles são um tipo de brasileiro que gostaria de ir para Miami fazer compra todo dia. E nós compramos na 25 de Março. Nós compramos na cidade que a gente mora. E a gente compra fiado. A gente não reclama que o dólar suba, porque fica caro viajar para Miami. Eu viajo para Garanhuns, para o Rio Grande do Norte, para a Bahia…”

“Precisamos recuperar o humor desse país, precisamos recuperar o orgulho de ser brasileiro, precisamos recuperar a auto-estima”, disse Lula a alturas tantas. O orgulho e a auto-estima não serão recuperados facilmente. Mas o humor está de volta.

Deve-se louvar o esforço retórico que o sucessor de Dilma realiza para reaproximar o PT dos brasileiros mais humildes. Não é fácil para Lula esbravejar contra a elite endinheirada. Uma voz incômoda deve soar nos fundões de sua consciência: “Farsante”.

Palestrante milionário, amigo de poderosos que reformam à sua revelia os imóveis que frequenta, Lula deve se divertir sozinho ao verificar, na hora de escovar os dentes toda manhã, que a elite agora mora no espelho da cobertura de São Bernardo.

Uma das caractererísticas fundamentais da deficiência de julgamento de um povo é ter que ouvir uma pessoa durante vários anos para chegar à conclusão de que ela não tem nada dizer. Lula atingiu esse estágio. Seu discurso tornou-se um latifúndio improdutivo. Apenas os devotos que o seguem desejam compartilhar.

Lula já não exibe a pele de jararaca que vestira em 4 de março, quando a Polícia Federal o levou para prestar depoimento, sob vara. “Ao aceitar ir para o governo, veja o que aconteceu comigo: eu virei outra vez o Lulinha Paz e Amor”, disse ele, no miolo de um discurso recheado de ataques.

“Não quero que quem votou no Aécio vote em mim, não quero que ele exija que quem votou na Dilma vote nele. O que eu quero é que a gente aprenda a conviver de forma civilizada com as nossas diferenças.” Civilizadamente, Lula bateu nos rivais: “Faz um ano e três meses que eles estão atrapalhando a presidenta Dilma a governar esse país.”

Habituado a superestimar seus talentos, Lula subestima as deficiências de Dilma. Madame se desgovernou sozinha, sem o auxílio da oposição. Por sorte, Lula, que vinha sendo o poder de fato no Brasil desde que deixou a Presidência, em 2010, aceitou reassumir o trono.

O discurso de Lula na Paulista introduz no cenário político um clima de novidade burlesca. Percebe-se nas entrelinhas que Lula virou a página. Para trás

Falta de rumo da oposição é ainda mais surpreendente que a ruína do governo

O governo e seus símbolos estão submetidos a uma atmosfera apocalíptica. Além de reprovar Dilma (69%), a maioria dos brasileiros deseja o seu impeachment (68%) ou a sua renúncia (65%). Para piorar, mais da metade do eleitorado (57%) afirma que jamais votaria em Lula. Diante de um quadro assim, seria razoável que a oposição vivesse um momento áureo. Mas sucede o oposto. O Datafolha informa que Aécio Neves encolhe e Marina Silva não consegue crescer.

Alvo de quatro ações de cassação na Justiça Eleitoral, Dilma pode ter o mandato passado na lâmina pelo TSE. Se isso acontecer ainda neste ano de 2016, haverá nova eleição. Hoje, informa o Datafolha, Marina (21%), Aécio (19%) e Lula (17%) estão embolados nas três primeiras colocações. Em pesquisa realizada há 20 dias, Aécio ostentava 24%. Despencou cinco pontos. Marina ficou do mesmo tamanho.

Poder-se-ia repetir a velha cantilena segundo a qual a oposição não dispõe de projeto. Mas na verdade o problema é ainda mais grave. Em meio a um cenário de borrasca moral e desespero econômico, os antagonistas do governo não conseguem oferecer esperança.

Não é só: o grão-tucano Aécio, que esteve na bica de derrotar Dilma em 2014, prepara-se para escalar o monturo da Lava Jato na condição de investigado. O delator Delcídio Amaral acusou-o de receber verbas sujas desviadas da estatal elétrica Furnas, num caso mal investigado que se arrasta desde 2005. Aécio diz que a denúncia é “mentirosa” e “requentada.” A Procuradoria da República quer tirar a prova dos nove num inquérito.

Além da hipótese de cassação pela Justiça Eleitoral, Dilma corre o risco de ser impedida pelo Congresso. Nessa hipótese, assume o cargo o vice-presidente Michel Temer, também citado na delação de Delcídio como patrono da nomeação de um petrogatuno.

Pois bem, apenas 16% dos brasileiros acreditam na capacidade de Temer de entregar um governo ótimo ou bom. Na opinião de 35% dos entrevistados, um governo Temer seria ruim ou péssimo. A plateia tem fundadas razões para levar o pé atrás. Temer preside o PMDB, uma legenda que, entre outros azares, inclui o réu Eduardo Cunha e o investigado Renan Calheiros, alvo de meia dúzia de inquéritos no STF.

Ludibriada em 2014 pela marquetagem petista de João Santana, a plateia não parece disposta a fazer papel de boba novamente. Daí o receio de que Temer vire uma espécie de São Jorge que, enviado para salvar a donzela, acaba se casando com o dragão.

O Brasil não é novato em matéria de impeachment. Já arrancou da Presidência Fernando Collor, o notório. Naquela ocasião, todos os partidos políticos com alguma relevância juntaram-se ao redor do então vice-presidente Itamar Franco —todos, salvo o PT. Deu no Plano Real, que rendeu o fim da hiperinflação e dois mandatos presidenciais a Fernando Henrique Carodoso.

Hoje, vista de longe, Brasília parece mais uma comédia mal escrita, sem direção, com atores fora de suas marcas, escalados às pressas para substituir o espetáculo anterior, que talvez saia de cartaz porque o público já não suporta o elenco que está em cena. A política nunca esteve tão por baixo.

 

Por impeachment, PSDB se aproxima de Temer

Longe dos refletores, intensificaram-se nos últimos dias os contatos do PSDB com o vice-presidente da República Michel Temer. Em conversas realizadas abaixo da linha d’água, o tucanato tenta pavimentar com o substituto constitucional de Dilma o caminho que leva ao impeachment.

Avalia-se que, para chegar aos 342 votos necessários à aprovação do impedimento da presidente no plenário da Câmara, falta apenas a garantia de que o PMDB de Temer fala sério quando diz que romperá com o governo na reunião do diretório convocada para 29 de janeiro.

Os tucanos se achegaram a Temer antes que Lula tivesse a oportunidade de deflagrar a operação ‘fica, PMDB’. Fazem isso porque atingiram uma rara unidade interna. Estavam divididos.

Aécio preferia que Dilma fosse cassada pelo TSE, com a consequente convocação de nova eleição. Serra, com um pé no ministério do hipotético governo Temer, torcia pelo afastamento via Congresso. E Alckmin desejava manter a presidente petista sangrando no cargo até 2018.

O agravamento da crise empurrou a cúpula do PSDB para uma unidade a favor do impeachment, agora visto como melhor alternativa também por Fernando Henrique Cardoso. Há um consenso também em relação à inevitabilidade de participação num eventual governo de transição comandado por Temer.

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Fonte: Blog do Josias (UOL) + O GLOBO

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