O Brasil acordou disposto a decretar o impeachment nas ruas. E foi dormir feliz
O Brasil acordou disposto a decretar o impeachment nas ruas. E foi dormir feliz
Nunca antes neste país tanta gente manifestou-se no mesmo dia nas ruas de tantas cidades para gritar as mesmas palavras de ordem. Neste 13 de Março de 2016, a maior mobilização política ocorrida desde a chegada das primeiras caravelas anunciou o fim da Era da Canalhice inaugurada há mais de 13 anos pela ascensão do cleptopopulismo.
O coro das multidões decidiu sepultar em cova rasa ─ e já ─ o governo que pariu e amamentou a maior conjunção de crises de todos os tempos. O impeachment da presidente da República, constatou o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, foi decretado nesta tarde. Resta ao Congresso descobrir que todo o poder emana do povo, e cumprir a ordem berrada em quase 500 pontos do território nacional:Fora Dilma! E chega de PT.
Respirando por instrumentos, Lula resolveu desafiar os descontentes a enfrentá-lo nas ruas. Péssima ideia. Enquanto uma plateia de circo mambembe se juntava diante do prédio onde mora em São Bernardo, mais de 3 mil pessoas protestavam em frente do edifício no Guarujá que abriga o triplex mais famoso e mais suspeito do planeta. E o campeão mundial de bravata & bazófia amargava em casa a derrota transmitida ao vivo pela TV.
Lula teve de engolir, entre outros golpes no queixo, o entusiasmado endosso aos condutores da Operação Lava Jato. A sórdida campanha difamatória movida contra Sergio Moro foi silenciada pelos rugidos de solidariedade ao juiz sem medo. Centenas de milhares de vozes recomendaram a Lula que se prepare para trocar discurseiras de comício por depoimentos em tribunais ─ e, pelo andar da carruagem, o palanque pela cadeia.
Nada mais será como antes. A contemplação da Avenida Paulista curou o estrabismo dos doutores em miudezas políticas, que subitamente começaram a ver as coisas como as coisas são. O Datafolha insiste em amputações que mantêm a contagem abaixo do milhão visível a olho nu, mas já ensaia o recuo: os cortadores de cabeças enfim admitiram superação do recorde que vinha desafiando o tempo desde a campanha das Diretas Já.
Se não demitiram a sensatez e o instinto de sobrevivência, os cardeais do Legislativo e do Judiciário farão com que tudo ande bem mais rapidamente. Neste domingo, as vítimas da corrupção e da incompetência acordaram decididas a fazer História. E o Brasil foi dormir feliz.
Tags: 1 minuto com Augusto Nunes, 13 de março, Dilma, impeachment, Lula,maior manifestação da História, ruas, Sérgio Moro
Valentina de Botas: Dilma é muito boa nessa coisa de ser Dilma
“Então, aqui que era o mundo?, ela gaguejou”. Acontecimentos quase banais rompem ou conectam algo dentro das personagens de Clarice Lispector, revelando-lhes o mundo e elas próprias, ou um outro sentido deles, sempre mais verdadeiro. Surpresas, chocadas, até eventualmente mais infelizes, mas sempre transformadas em donas de algo que suas almas apenas tateavam.
De verdade mesmo, talvez ninguém quer encarar a verdade. Só que ela não se importa com nossos queres. Dilma é muito boa nessa coisa de ser Dilma, coube a ela ser ela mesma no assombro de passar por experiências que se repetem – a série de gafes, de mentiras e paspalhices cotidianas, de vigarices como método na farsa que se exauriu – sem se transformar.
Uma declaração desonesta após outra, um vexame político após outro, uma imoralidade definitiva após outra e eis Dilma tão Dilma quanto antes, a farsante de sempre. Em Brasília, na coletiva desta sexta-feira, ao proclamar “um orgulho muito grande em ter o presidente Lula no governo”, outro embate com as palavras e a verdade expõe a criatura medíocre ao fato irrevogável: jamais deveria ser presidente de um país, qualquer um, quem reafirma a intenção de homiziar no governo alguém denunciado pelo Ministério Público.
A presidente de névoas afirmou também que a sugestão de renúncia prova que não há base para o impeachment, numa rota acidentada de fuga da verdade que a levou a gaguejar; a mostrar que não conhece direito o impeachment de Collor, evento tão marcante da história recente do país, em que o ex-presidente renunciou sem conseguir evitar a destituição; a quase (se) renunciar e a se resignar com o “absoluto desrespeito à Constituição”.
Ora, na posse como mandatária da nação, Dilma Rousseff não jurou se resignar ao descumprimento da lei maior, mas cumpri-la e defendê-la. Portanto, a presidente confessou mais um crime: a prevaricação. Em fala tão curta para tanto escândalo, a chefe do governo que já não há invocou de novo o passado de torturada pela ditadura, desrespeitando a si mesma na banalização de uma vivência como essa.
Além disso, alguém precisa dizer a Dilma que sofrer tortura não é currículo; que já sabemos que ela verga, mas não se envergonha; e que não, ela não foi torturada pelas convicções que tinha e tem, mas porque o Estado totalitário se deteriorara na ação à margem da lei, exatamente como o Estado chefiado por ela faz agora. Com as habituais rispidez e grosseria desse jeito dela meio estúpido de ser e de dizer coisas, quaisquer coisas, a governante de nada perguntou se tem cara de quem renunciaria.
Não sei. Olhando para a cara dela, vi certo abatimento e certa palidez, mas não a vergonha que uma presidente revelada no esplendor do gangsterismo de Estado deveria ter para demonstrar que não são fictícios a honradez que alardeia e o respeito ao povo brasileiro: resignar-se ao fato de que o Brasil renunciou à louca despótica que, alheada em imbecilidade e vigarice, não se transforma nem pela farsa nem pela verdade.
Tags: Clarice Lispector, Collor, Lula, renúncia, Valentina de Botas
J. R. Guzzo: Um prodígio inédito
Publicado na revista EXAME
Não é possível, pela lógica comum, esperar nada de bom no futuro próximo de um país que caminha para completar 15 meses sem governo. Dá para esperar menos ainda quando se considera que, por exigência da lei, alguém tem obrigatoriamente de ocupar o cargo de presidente da República — o que lhe dá a oportunidade diária de tomar decisões erradas, sem que haja a menor chance de fazer alguma coisa certa, mesmo sem querer. Não dá: para profundo azar do Brasil como um todo, quem está na presidência é uma pessoa que erra com obsessão inédita há cinco anos seguidos, não consegue dizer nada que faça o menor nexo quando fala em público e perdeu, claramente, o equilíbrio mental mais rudimentar que se exige para a tarefa de governar seja lá o que for. Ainda pior, enfim, sempre pela mesma lógica, o comandante político que a colocou na cadeira mais elevada do poder público nacional, e sem o qual a atual presidente da República continuaria sendo uma cidadã perfeitamente desconhecida e provavelmente inofensiva, está, ele próprio, destruído moralmente. Enrolado de corpo, alma e cabeça com a Justiça penal, o ex-presidente Lula torna-se a cada dia um sério candidato a acabar sendo considerado o responsável pelo governo mais corrupto que o Brasil sofreu em toda a sua história. Muito bem, deu a lógica: está oficialmente confirmado que o país teve uma queda de 3,8% no PIB de 2015, a pior desde 1990. Mais que isso, com a recessão já contratada de 2016, os governos Lula, Dilma Rousseff e PT terão dado ao Brasil a mais longa série anual de retrocesso econômico de toda a sua existência como nação independente.
Dilma, por si só, é a responsável por um prodígio sem precedentes nos registros da economia mundial: sua passagem pela presidência da República já custou 1,6 trilhão de reais de prejuízo ao patrimônio geral do Brasil e dos brasileiros. É isso mesmo. O número chegou e passou a casa do trilhão, um tipo de cifra que só se consegue imaginar nas abstrações da matemática. Trata-se do que os economistas chamam de “prejuízo bruto”, ou a perda pura, simples e direta de riqueza e renda. A conta é simples. O PIB real do país no fim de 2015 deveria estar acima de 7 trilhões de reais, se tivesse havido um crescimento modestíssimo da economia nos cinco anos Dilma. Ficou abaixo do que era no final de 2013, às vésperas de sua segunda vitória na disputa pelo Palácio do Planalto. O Brasil está caminhando para inteirar oito trimestres seguidos de recessão, limite a partir do qual o vocabulário econômico começa a utilizar a palavra “depressão”. Nunca antes, na história deste país, alguém conseguiu algo parecido. A dívida pública criada por Lula e Dilma é a maior de todos os tempos, e está aumentando. Em 2015 o governo tirou dos impostos pagos pelos brasileiros mais de 500 bilhões de reais para pagar juros de sua dívida — e pagar aos “rentistas” tão odiados no palavrório oficial. Chama o que está devendo de “programa social”; na vida prática é apenas a mais espetacular transferência de renda que o Brasil já conheceu. A inflação chegou perto dos 11% ao ano. O desemprego, pelas contas de janeiro, estava rolando na base dos 100.000 demitidos por mês. Aí já é extermínio — ou, talvez, mais corretamente, anarquia, como mencionado no início da página. Dobramos a meta.
Os últimos acontecimentos políticos tornam tudo isso ainda mais funesto. O ex-presidente Lula, depois de ser levado pela polícia para um interrogatório, parece ter desistido de enfrentar seus atuais e crescentes infortúnios valendo-se da lei, como têm feito todos os acusados de corrupção pela Operação Lava Jato. Resolveu, pelo menos de boca, declarar guerra à democracia ao se recusar a obedecer as decisões da Justiça brasileira, chamar suas milícias para a violência na rua e ofender, com o linguajar de sarjeta mais agressivo que jamais tinha utilizado em público até hoje, autoridades legais, adversários e qualquer brasileiro que não se submeta a ele. A lógica disso tudo é muito ruim.
Tags: 1, 6 trilhão, Dilma Rousseff, J.R. Guzzo, Lula, prejuízo, Um prodígio inédito